

OUTROS
DITOS
Os livros são finitos,
os encontros sexuais são finitos, mas o desejo de ler e foder é infinito; ele
supera nossas próprias mortes, nossos medos, nossas esperanças de paz... Que
pessoas distorcidas somos! Como parecemos simples, ou pelo menos fingimos ser
diante dos outros, e como somos distorcidos lá no fundo. Como somos
insignificantes e como nos contorcemos espetacularmente diante dos nossos
próprios olhos e dos olhos dos outros... E tudo para quê? Para esconder o quê?
Para fazer as pessoas acreditarem em quê?... A história secreta é aquela que nunca
conheceremos, embora a vivamos dia após dia, pensando que estamos vivos,
pensando que temos tudo sob controle e que as coisas que ignoramos não
importam... Você tem que saber olhar mesmo que não saiba o que está procurando...
Pensamento do escritor chileno Roberto Bolaño Ávalos (1953-2003). Veja mais aqui & aqui.
ENSINANDO
A TRANSGREDIR, DE BELL HOOKS
[...]
Também existem momentos em que a experiência
pessoal nos impede de alcançar o topo da montanha, e então a deixamos de lado, pois
seu peso é muito grande. E às vezes é difícil alcançar o topo da montanha com
todos os nossos recursos factuais e confessionais; então estamos todos juntos
ali, tateando, sentindo as limitações do conhecimento, ansiando juntos,
procurando um meio de chegar àquele ponto mais alto. Até esse anseio é um modo
de conhecimento [...] Achar a própria voz não é somente o
ato de contar as próprias experiências. É usar estrategicamente esse ato de
contar – achar a própria voz para também poder falar livremente sobre outros
assuntos. É disso que muitos professores universitários têm medo. Tive um
momento difícil no semestre passado no City College, no meu seminário sobre
Escritoras Negras. Na última aula, falei com os alunos sobre a contribuição que
cada um deles havia dado à sala; mas, quando falaram, eles me mostraram que
nosso curso os tinha deixado com medo de fazer outros cursos. Confessaram:
“Você nos ensinou a pensar criticamente, a desafiar e a confrontar, e nos
encorajou a ter voz. Mas como podemos fazer outros cursos? Nesses cursos,
ninguém quer que nós tenhamos voz!”. Essa é a tragédia de uma educação que não
promove a liberdade [...].
Trechos extraídos da obra Ensinando a
transgredir: a educação como prática da liberdade (Martins Fontes,
2013), da escritora, artista professora e ativista feminista e antirracista
estadunidense Bell Hooks (Gloria Jean Watkins – 1952-2021). Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
OS
MÍMICOS, DE NAIPAUL
[...]
À medida que
escrevo, modifica-se minha atitude em relação a meus próprios atos. [...] Normalmente eu os encarava como abstrações,
caprichos, atos arbitrários que por algum motivo haviam escapado de meu
controle. Mas agora, com a consciência do tempo perdido, lamentando as
oportunidades desperdiçadas, começo a questionar esta atitude. Duvido que
qualquer ato, acima de um certo nível, seja inteiramente arbitrário, caprichoso
ou desonesto. Agora questiono a ideia de que a personalidade seja fabricada
pela visão dos outros. A personalidade é um todo íntegro. É una e indivisível. [...] Fui eu que criei este isolamento, esta mágoa
complexa, esta excitação específica. [...].
Trechos da obra Os
mímicos (Companhia das Letras, 2001), do escritor britânico nascido em
Trinidad e Tobago, Prêmio Nobel de 2001, Vidiadhar Surajprasad Naipaul
(1932-2018). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.