A arte da artista alemã Eka
Peradze

DITOS & DESDITOS – [...] Não só a faculdade de
reflexão funda a teoria. Pensar, sentir e contemplar constituem uma coisa só.
[...]. Trecho extraído da obra Gérmenes e
fragmentos (Renascimento, 2006), do poeta alemão Novalis (Georg
Philipp Friedrich von Hardenberg – 1772-1801). Veja mais aqui.
RACISMO & PRECONCEITO – [...] Reconhecer
que esse racismo resultar decorrente de práticas ou da omissão de instituições
ainda não faz parte do conceito das agências do sistema de justiça, por exemplo. [...] O racismo institucional é revelado através
de mecanismos e estratégias presentes nas instituições públicas, explícitos ou
não, que dificultam a presença dos negros nesses espaços. O acesso é
dificultado, não por normas e regras escritas e visíveis, mas por obstáculos
formais presentes nas relações sociais que se reproduzem nos espaços
institucionais e públicos. A ação é sempre violenta, na medida em que atinge a
dignidade humana. O conceito foi incorporado pelos movimentos negros na América
Latina, em especial no Brasil, o que ajuda a explicar a permanência dos negros em
uma situação de inferioridade por mecanismos não percebidos socialmente.
[...] Há racismo institucional quando um
órgão, entidade, organização ou estrutura social cria um fato social
hierárquico – estigma visível, espaços sociais reservados -, mas não reconhece
as implicações raciais do processo. [...] A discriminação pode ser sistêmica em vez de pessoal e, por
conseguinte, mais difícil de identificar e de compreender, quando está
internalizada e naturalizada por discursos de que se vive em um país
miscigenado. Algumas vítimas negam que estejam oprimidas ou então aceitam sua
condição, como se fosse um destino que a vida lhes proporcionou. Outras reagem
oprimindo aqueles que estão “abaixo” delas. [...] O racismo institucional gera hierarquias através de práticas
profissionais rotineiras, ditas “neutras” e universalistas, dentro de
instituições públicas ou privadas que controlam espaços públicos, serviços ou
imagens (lojas, bancos, supermercados, shoppings, empresas de segurança
privada). [...] A terminologia
utilizada nos crimes raciais para designar o conjunto de comportamentos criminosos,
descritos na Lei n°7.716, de 1989, e o rigor técnico recomendariam a expressão
“crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional”. Recorrendo à Constituição Federal de 1988, poderia
ser utilizada a expressão crimes raciais, uma vez que o artigo 5°, inciso XLII,
preceitua que a prática do racismo constitui crime. [...] Entretanto, o racismo recebe diversas
interpretações e as dificuldades de mostrar como ele se manifesta persistiram,
uma vez que o racismo não é simplesmente um incidente. Em cada momento da
infração os atores têm consciência dos direitos de cada um, o que torna um
eufemismo chamar a discriminação racial de disfarçada ou cordial, em um país em
que hierarquia social é tão forte que acaba precedendo os direitos, e onde as
ideias racistas convivem com essa hierarquia e a alimentam quotidianamente.
[...] Trechos extraídos da obra Direitos
Humanos e as práticas de racismo (Câmara, 2013), de Ivair Augusto Alves dos Santos. Veja mais aqui.
SILÊNCIO, LINGUAGEM & AÇÃO – [...] Muitas vezes penso que preciso dizer as
coisas que me parecem mais importantes, verbalizá-las, compartilhá-las, mesmo
correndo o risco de que sejam rejeitadas ou mal-entendidas. Mais além do que
qualquer outro efeito, o fato de dizê-las me faz bem. [...] Ao tomar
forçadamente consciência de minha própria mortalidade, do que desejava e queria
de minha vida, durasse o que durasse, as prioridades e as omissões brilharam
sob uma luz impiedosa, e do que mais me arrependi foi de meus silêncios. O que
me dava tanto medo? Questionar e dizer o que pensava podia provocar dor, ou a
morte. Mas, todas sofremos de tantas maneiras todo o tempo, sem que por isso a
dor diminua ou desapareça. A morte não é mais do que o silêncio final. [...]
Só havia traído a mim mesma nesses
pequenos silêncios, pensando que algum dia ia falar, ou esperando que outras
falassem. [...]. Meus silêncios não
tinham me protegido. Tampouco protegerá a vocês. Mas cada palavra que tinha
dito, cada tentativa que tinha feito de falar as verdades que ainda persigo, me
aproximou de outras mulheres, e juntas examinamos as palavras adequadas para o
mundo em que acreditamos, nos sobrepondo a nossas diferenças. E foi a
preocupação e o cuidado de todas essas mulheres que me deu forças e me permitiu
analisar a essência de minha vida. As mulheres que me ajudaram durante essa
etapa foram Negras e brancas, velhas e jovens, lésbicas, bissexuais e
heterossexuais, mas todas compartilhamos a luta da tirania do silêncio.
[...]. Que palavras ainda lhes faltam? O
que necessitam dizer? Que tiranias vocês engolem cada dia e tentam torná-las
suas, até asfixiar-se e morrer por elas, sempre em silêncio? [...] E quando as palavras das mulheres clamam por
serem ouvidas, cada uma de nós deve reconhecer sua responsabilidade de tirar
essas palavras para fora, lê-las, compartilhá-las e examiná-las em sua
pertinência à vida. Não nos escondamos detrás das falsas separações que nos
impuseram e que tão seguidamente as aceitamos como nossas. [...]. Trechos
extraídos da obra A transformação do silêncio
em linguagem e ação (Difusão Herética, 2017), da escritora e ativista caribenha-americana
Audre Lorde (1934-1992).
TRÊS POEMAS - LEMBRANÇA AFETUOSA - Houve um grande riso triste / O pêndulo
parou / Um bicho do mato salvava seus filhotes. / Risos opacos em quadros de
agonia / Tantas nudezes transformando em irrisão a sua palidez / Transformando
em irrisão / Os olhos virtuosos do farol dos náufragos. A PERDER DE VISTA - Todas as árvores com todos os ramos com todas
as folhas / A erva na base dos rochedos e as casas amontoadas / Ao longe o mar
que os teus olhos banham / Estas imagens de um dia e de outro dia / Os vícios
as virtudes tão imperfeitos / A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
/ E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas obstinadas / As tuas ideias fixas
no coração de chumbo nos lábios virgens / Os vícios as virtudes tão imperfeitos
/ A semelhança dos olhares consentidos com os olhares conquistados / A confusão
dos corpos das fadigas doa ardores / A imitação das palavras das atitudes das
ideias / Os vícios as virtudes tão imperfeitos. / O amor é o homem inacabado. A NÃO PERDER DE VISTA - Dissipa o dia, / Mostra aos
homens as leves imagens da aparência, / Retira aos homens a possibilidade de se
distraírem. / É duro como a pedra, / A pedra informe, / A pedra do movimento e
da vista, / E o seu brilho é tal que todas as armaduras, todas as máscaras, / se
tornam falsas. / O que a mão tomou desdenha tomar a forma da mão, / O que foi
compreendido já não existe, / A ave confundiu-se com o vento, / O céu com a sua
verdade, / O homem com a sua realidade. Poemas do poeta francês Paul Éluard (1895-1952). Veja mais aqui
e aqui.
A arte da artista alemã Eka
Peradze
Bob Motta
Cum tristêza e cum véigonha,
no verso, relato eu,
na sessão do S.T.F,
o quiprocó qui se deu.
O Brazí intêro viu,
quando a impanada caiu,
ixpondo aos zóio da gente;
invéigonhando a Nação,
a briga de dois grandão,
Ministro cum Presidente.
A verdade é qui nóis sente,
puro acuntecimento.
Tenho qui dizê no verso,
sinceramente, eu lamento.
Uis dois prá lá de letrado,
num inzempro rim danado,
ixtrapolaro tombém;
e eu digo, in meu dialeto:
Lula é simi anaifabeto,
mais nunca agridiu ninguém.
A nutiça foi além,
dais frontêra do país.
A atitude duis dois lado,
foi munto triste e infeliz.
Foi bate bôca duis feio,
qui deu inté aperreio,
in nóis, de fora, assistindo;
um distempêro totá,
e o mais arto Tribuná,
in briga, se cunsumindo.
Parece inté tá caindo,
naquela instituição,
uma praga miseráve,
ô intonce uma mardição.
Duvido qui a isparréla,
num venha dêxá seqüela,
eu juro, sem brincadêra;
qui tanto do tréque tréque,
num vá incolocá in xeque,
a justiça brasilêra.
Da patrôa à cunzinhêra,
do aluno ao professô,
do inleitô ao deputado,
da quenga ao gigolô.
Tôda a Nação brasilêra,
lamenta aquela zonzêra,
totaimente istarrecida;
cum a tristeza da verdade,
qui a credibilidade,
da Justiça, tá ferida.
O ministro dixe arto,
qui na matéra in questão,
o seu Presidente tava,
sunegando infóimação.
O Presidente falô,
quando se manifestô,
quage batendo nuis peito;
qui o Ministro in questão,
tinha fartado à sessão,
e qui ixigia respeito.
O Ministro ainda dixe,
sem arquejá, sem isfôrço,
qui num era, do Presidente,
capanga de Mato Grosso.
O Presidente ingrossô,
chega ais suas vêia inchô,
de ira, se acumeteu;
na troca de disafôro,
uis dois quebraro o decôro,
foi triste o qui acunteceu.
Só sei qui o fato passado,
cum efeito de furacão,
no dia seguinte à briga,
foi adiada a sessão.
Na Câmara duis Deputado,
o Presidente indagado,
dixe pudê afirmá;
qui aquela cunfusão,
num afeta a reputação,
do mais arto Tribuná...
Cum tristêza e cum véigonha,
no verso, relato eu,
na sessão do S.T.F,
o quiprocó qui se deu.
O Brazí intêro viu,
quando a impanada caiu,
ixpondo aos zóio da gente;
invéigonhando a Nação,
a briga de dois grandão,
Ministro cum Presidente.
A verdade é qui nóis sente,
puro acuntecimento.
Tenho qui dizê no verso,
sinceramente, eu lamento.
Uis dois prá lá de letrado,
num inzempro rim danado,
ixtrapolaro tombém;
e eu digo, in meu dialeto:
Lula é simi anaifabeto,
mais nunca agridiu ninguém.
A nutiça foi além,
dais frontêra do país.
A atitude duis dois lado,
foi munto triste e infeliz.
Foi bate bôca duis feio,
qui deu inté aperreio,
in nóis, de fora, assistindo;
um distempêro totá,
e o mais arto Tribuná,
in briga, se cunsumindo.
Parece inté tá caindo,
naquela instituição,
uma praga miseráve,
ô intonce uma mardição.
Duvido qui a isparréla,
num venha dêxá seqüela,
eu juro, sem brincadêra;
qui tanto do tréque tréque,
num vá incolocá in xeque,
a justiça brasilêra.
Da patrôa à cunzinhêra,
do aluno ao professô,
do inleitô ao deputado,
da quenga ao gigolô.
Tôda a Nação brasilêra,
lamenta aquela zonzêra,
totaimente istarrecida;
cum a tristeza da verdade,
qui a credibilidade,
da Justiça, tá ferida.
O ministro dixe arto,
qui na matéra in questão,
o seu Presidente tava,
sunegando infóimação.
O Presidente falô,
quando se manifestô,
quage batendo nuis peito;
qui o Ministro in questão,
tinha fartado à sessão,
e qui ixigia respeito.
O Ministro ainda dixe,
sem arquejá, sem isfôrço,
qui num era, do Presidente,
capanga de Mato Grosso.
O Presidente ingrossô,
chega ais suas vêia inchô,
de ira, se acumeteu;
na troca de disafôro,
uis dois quebraro o decôro,
foi triste o qui acunteceu.
Só sei qui o fato passado,
cum efeito de furacão,
no dia seguinte à briga,
foi adiada a sessão.
Na Câmara duis Deputado,
o Presidente indagado,
dixe pudê afirmá;
qui aquela cunfusão,
num afeta a reputação,
do mais arto Tribuná...
BOB MOTTA - Roberto Coutinho da Motta, é membro da Academia de Trovas do RN, da União Brás. de Trovadores-UBT-RN, do Inst. Hist. e Geog. do RN, da Com. Norte-Riog. de Folclore, da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN, da Associação dos Poetas Populares do RN-AEPP e do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.
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