quinta-feira, novembro 30, 2017

DERRIDA, YES, MÓNICA CRAGNOLINI, ANA LIRA, ORLANDO VILLAS-BÔAS, VALTER HUGO MÃE, MARÍLIA GARCIA, DAVID ROWE & GAMELEIRA

CONVERSA MOLE DE FABOS – Imagem: arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira. - E aí, como é que vai? Morno, insosso. O que é que há? Ué, o cabra dá um golpe e há mais de ano ele veio, todo jeitoso, vai mas num vai, piscando o olho, botou uma e a gente ciscou, deu brabo e cedeu; botou duas, a gente esperneou, reclamou e rendeu; botou três, a gente deu com a peste, maior gritaria e no amansado ele botou a gente de quatro, porque daí em diante, vicia, vai achando gostoso o fungado no cangote e o pau no furico vira consolo, chega fica no bem-bom. Vôte, comigo não, Salomão! Oxe, menino, tudinho, tá todo brasileiro enrabado e nem-nem, tudo fazendo cara feia, mas no pega-pra-capá, quebra a munheca na posição do vencido pra levar mondrongo raçudo no procto e seja lá o que Deus quiser! Tô fora, doido! Tá nada, você tá fudido e mal pago feito ei e todo mundo, quer ver? Diga. Por acaso você tem onde buscar quando falta? Você tem caixa dois pra se socorrer na hora do aperto? Tem sobra de campanha, tem emendas parlamentares pra se aviar de conluios perdulários ou recebe propina por debaixo dos panos? Por acaso você tem quem lhe defenda quando você é pego com a boca na botija, todo esparramado na bosta fedida e com a mão na massa sem ter como se livrar? Hômi, seu menino, num sou nem vereador e nem botei nem quero botar a mãe na zona do baixo meretrício pra querer ser, Deus me livre, não tenho coragem pra assumir uma de fdp, mas uma coisa eu lhe digo que comigo é assim: tô no meu serviço, no batente todo santo dia, se num molhar minha mão com algum extraordinário que seja, a coisa não anda não, emperra de ficar parado que nem bosta n’água. Tá vendo, eu num disse? Disse o quê, homem de Deus? Tal como os caboetas lá de Brasília é a gente aqui embaixo, a gente não tem mesmo vergonha na cara. Como assim? Veja só: se a gente vende o voto, os caras eleitos por aí vendem o dele e o da gente, se ajeitam, se arrumam e, no final das contas, quem paga o pato mesmo? A gente! Isso mesmo, a gente paga duas vezes e não tem razão se for reclamar porque já fez a merda antes, a segunda já é meladeiro que, se quiser limpar, vai ter que botar a coragem em dia e botar a coisa pra moer ao contrário, tem coragem? Rapaz, coragem tenho sim, mas na horagá dá umas fraquezas, uns apertos que é melhor deixar pra amanhã, a gente não tem uma coisa melhorzinha pra fazer não? Ah, tem sim: assistir televisão, reclamar de tudo com o dedo enfiado no cu e ficar por isso mesmo, que é que você acha? Hômi, isso é a coisa mais maior de bom, por acaso tem jeito? Ter jeito tem, a coisa não nasceu assim pra morrer troncha e enfiada; além do mais, quem quer faz, quem não quer manda ou passa procuração; então, quem quer ver o barco virar pra salvar todo mundo tem que se arriscar a ter sarna pra se coçar, encara? Ih, já tenho bronca demais, conta no fim do mês, encheção de saco pra todo lado, oxe, mais uma eu emborco e o barco afunda de eu quebrar na tora, além do mais não tenho vocação nenhuma pra virar Jesus e ficar apregado por mais de dois mil anos na cruz, melhor eu me aquietar, né não? É, já que tu não vai, também não vou mexer em vespeiro que não sou doido pra sair por aí levando ferroada de maribondo azoado, vamos tomar uma? Vira, vira! Desce uma meota aí que tô injuriado, cuspindo a do santo pra findar tudo na santa paz de Deus. E vamos que vamos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais 

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a banda britânica de rock progressivo Yes, formada por Jon Anderson (vocal), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarra), Alan White (bateria), Rick Wakeman (teclados), Tony Kaye (teclados), Peter Banks (guitarra) e Bill Bryford (bateria), com apresentações de concertos e shows ao vivo. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PERNSAMENTO DO DIADevemos pensar continuamente no problema do outro e nas figuras de alteridade por excelência que são, na minha opinião, o imigrante, a mulher, a criança e o animal. Pensamento da filósofa argentina, Mónica Beatriz Cragnolini, autora da obra Moradas nietzscheanas: del sí mismo, del otro y del entre (La Cebra, 2006), tratando sobre a possibilidade de aproveitar o pensamento nietzscheano para pensar a alteridade sob uma radical diferença, aproximando a problemas xenofobia e intolerância, à problemática da constituição da subjetividade e da alteridade.

GAMELEIRA – O município de Gameleira é formado pelo distrito sede e pelos povoados de Cuiambuca, José da Costa e Cachoeira Lisa. O distrito foi criado pela Lei provincial n° 763, de 11 de julho de 1867, integrando o território do município de Sirinhaém. A vila foi criada pela Lei provincial n° 1.057, de 7 de junho de 1872 e sua instalação ocorreu em 13 de dezembro de 1873. A denominação da localidade deve-se a um engenho homônimo, e pelo fato do grande número de árvores com o nome de Gameleira, que existiam na época. Em 1867 a Lei provincial n° 763 deu-lhe a categoria de freguesia. Os rios Sirinhaém e Amaraji se encontram no distrito de Cachoeira Lisa. Veja mais aqui.

OS ÍNDIOS - [...] A problemática indígena é muito complexa e, atualmente, não encotramos uma política devidamente estrutura que permita lidar com essa situação. Não há ruimo na política indigenista. He grupos com propostas variadas que não chegam a um consenso, enquanto o índio é deixado à mercê da própria sorte. Há aqueles que querem extinguir a Finau. Há aqueles que querem substituí-la por ONGS. Já mesmo alguns que, surpreendentemente, como o Hélio Jaguaribe, propõe extinguir o índio! (Até parece que estamos nos tempos de Bandeira de Mello e do Rangel Reis!). No Brasil, temos hoje tantos índios isolados, que nunca tiveram contato com o “civilizado”, quanto índios destribalizados (não diríamos integradois, porque na realidade eles não estão participando de nossa sociedade), que são completamente marginalizados. A Funai precisa estar atenta a isso. É preciso assistir os indícios de Parelheiros e do Jaraguá, ao mesmo tempo em que não se pode deixar que fazendeiros e madeireiros acabem com os índios isolados que estão no meio da mata. [...]. Por isso, a implementação de uma política indigenista séria deve estar na agenda política do nosso país. Os grupos indígenas não podem continuar sendo vistos como simples apêndice da nação; como uma parcela de nossa sociedade que não dvee esparar um reconhecimento pleno. Contaria a tudo isso, a política que meus irmãos e eu defendemos sempre visou que os índios brasileiros fossem reconhecimentos e respeitados em sua cultura, pois deles tivemos lições surpreendentes. Convivemos com uma sociedade estável e harmônica, na qual ninguém manda em ninghuém. Continuo absolutamente convencido de que nada há que justifique sua integração apressada à nossa sociedade, pois somos nós, os ditos “civilizados”, que ainda não estamos preparados. O Xingu nos mostrou que toda a nossa luta valeu a pena. [...]. Trechos do livro Orlando Villas Bôas: história e causos (FTD, 2006), autobiografia do sertanista Orlando Villas-Bôas (1914 – 2002). Veja mais aqui.

A DESCONTRUÇÃO: AVENTURA E DIFERENÇA - [...] O que me interessava naquele momento [da escrita de La dissemination, La double séance e La mythologie blanche], o que tento continuar agora sob outras vias, é, a par de uma “economia geral”, uma espécie de estratégia geral da desconstrução. [...] É, pois necessário antecipar um duplo gesto, segundo uma unidade simultaneamente sistemática e como que afastada de si mesma, uma escrita desdobrada, isto é multiplicada por si própria, aquilo a que chamei em “La double séance, uma dupla ciência: por um lado, atravessar uma fase de derrubamento. [...] aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos domina o outro (axiologicamente, logicamente, etc.), ocupa o cimo. Desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia. [...] A partir daí, para marcar este desvio [isto é, a prática da desconstrução seguindo o momento de inversão das hierarquias] [...] foi preciso analisar, fazer trabalhar algumas marcas, tanto no texto da história da filosofia como no texto “literário” [...], marcas essas [...] a que chamei por analogia (sublinho-o) indefiníveis, isto é, unidades de simulacro, “falsas” propriedades verbais, nominais ou semânticas, que já não se deixam compreender na oposição filosófica (binária) e que, todavia a habitam, lhe resistem, a desorganizam, mas sem nunca constituírem um terceiro termo, sem nunca darem uma solução na forma dialéctica especulativa [...]. De facto, é contra a reapropriação incessante desse trabalho de simulacro numa dialéctica de tipo hegeliano (que chega a idealizar e a “semantizar” este valor de trabalho) que me esforço por levar a operação crítica, já que o idealismo hegeliano consiste justamente em superar as oposições binárias do idealismo clássico, em resolver sua contradição num terceiro termo que vem “aufheben”, negar superando, idealizando, sublimando numa interioridade anamnésica (Errrinerung), internando a diferença numa presença-a-si [...]. Trechos da obra A escritura e a diferença (Perspectiva, 1971), do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Veja mais 

A DESUMANIZAÇÃO – [...] Por viver a infância, decide com muito erro, agressiva e exuberantemente. Não te aproximes demasiado das águas, podem ter braços que te puxem para que morras afogada. Não subas demasiado alto, podem vir pés no vento que te queiram fazer cair. Não cobices demasiado o sol de verão, pode haver fogo na luz que te queime os olhos. Não te enganes com toda a neve, podem ser ursos deitados à espera de comer. [...] O meu pai escrevia os seus poemas e fervia de se pôr no papel. Inventava poemas como se não fosse o seu autor. Pasmava diante deles, incrédulo, com dificuldade em entender de onde surgiam as palavras, como era possível que o explicassem. E eu achava que não explicavam nada. Eu queria olhar para as folhas e ver a Sigridur a correr, a molhar-se nos tanques de água quente. Não queria ver a caligrafia aprumada do meu pai e as suas rimas fracas, esforçadas. Queria que as folhas fossem um barco que nos tirasse a todos dali, ou que abrissem uma estrada segura até ao outro lado do mundo e tivessem rodas velozes e janelas a mostrar as vistas. Trechos da obra Desumanização (Cosac Naify, 2014), do escritor português Valter Hugo Mãe.

UMA MULHER QUE SE AFOGA - coloco a mão sobre o seu joelho / e você me olha de frente / mas depois vira de lado ajeitando o / retrovisor por causa da chuva e eu quero dizer que aquela / frase era de uma canção, a mesma que você tinha usado / em outro lugar, então de novo você me olha / de frente / e sorri interrogando / minha expressão sempre confusa / e eu queria dizer que na viagem fraquejei / que tenho medo de enlouquecer / que tenho medo do que está / por vir mas acabo contando a história / do homem que perguntava / você me ama? / depois de anos casado com a mesma mulher / e ela dizia / não / e ele com aquela música repetindo na cabeça / aquela música sem parar tocando / ao fundo ecoando / e ela / não / e ele perguntava / será que eu sou louco? / perguntava depois que o barco na enseada / ela indo embora, fugindo / eu sou louco? / perguntava depois do acidente, do barco apagando / bajo la lluvia, 24 vezes a mesma carta enviada com o nome dela / e o telefone chamando / na bolsa / hoje ela me viu na rua e veio contar / o que tinha acontecido: vontade de gritar / vai embora daqui /       não quero mais ouvir essa voz / e ela falando sem parar e eu / coloco a mão sobre seu joelho e você / me olha na hora e ela dizendo na rua que / não tinha me reconhecido / antes /             por que então veio falar comigo? / mas não digo só penso e aquele silêncio / e ela dizendo que foi / por acaso / tudo bem / de agora em diante / e eu pensando não me lembro o que dizer / nessas horas, não suporto, será que um dia?, / e você coloca a mão sobre o meu joelho e eu / olho para você de frente, ainda ouvindo canção / pergunta gritos de / afogamento /será que eu sou louco?/ e digo que você é uma das poucas / pessoas que quero que fiquem aqui / e você me responde / nunca sonhei em conhecer alguém / como você / e eu olho de volta e digo / você sabe que ninguém nunca / segurou minha mão assim? / você vira de lado ajeitando / o retrovisor e se projeta pra ultrapassar / o carro da frente. Poema da poeta e tradutora Marília Garcia.

A ARTE DE ANA LIRA.
A arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira.

Veja mais:

Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

A ARTE DE DAVID ROWE
A arte do cartunista, ilustrador e caricaturista australiano David Rowe.

 

quarta-feira, novembro 29, 2017

AMOS OZ, ANTONIO CÂNDIDO, LUZILÁ GONÇALVES FERREIRA, JOSELY VIANNA BAPTISTA, MARIO CESARINY, PAULO BUSS, CAMILA MORITA, BARRA DE GUABIRABA, GLOBALIZAÇÃO & POBREZA

O CHÃO NA ALMA – Imagem: Batedor de caminhos (1968), do poeta e poeta e pintor surrealista português Mario Cesariny (1923- 2006). Os tempos são outros, eu que o diga e sem nostalgia. Sempre tive comigo que o melhor momento da vida era este, o presente – em todos os sentidos! E digo era porque sempre passa, zás, já foi, agora é outro. E quase não me dou conta, nem ninguém, avalie. Passou e como passou, vai se ver segundos, minutos, horas, só lembranças enchendo o baú da memória ou do esquecimento – tem quem sequer saiba que passou e como passou. Devo dizer, sem rigor e nem pedir licença, que a cada dia, em todo momento aprendo e como. Diga-se lá, como de sempre, a gente sempre aprende pelo modo mais difícil, quer queira, quer não, uma bofetada, um escorregão, um paradoxo. Mas, se aprende, mesmo que seja com amargas redescobertas, nenhuma frustração. Mesmo que seja no descompasso, eis a lição. O que dói não é ter perdido a oportunidade, não é ver que podia ter feito melhor, nada disso. Possivelmente o meu epitáfio não seria em cima de uma revista com meus fracassos, creio que não, possivelmente. Seria, acho que pelo menos seria, com o resultado dos meus aprendizados. É certo que o equívoco esteja pra lá de exorbitante, monstruoso – incluindo os meus que são tantos e nem sei -, constatação desagradável, quem não se engana na cor da chita em cima da bucha, oh, mediocridade, veleidade de sabichão. De minha parte, sempre me pego com uma ou outra implicância, coisa de engasgar e que poderia deixar correr, na maciota, ora, engolindo sem esforço nem polemizar, pois corre o risco de esbarrar em irredutíveis conduções sectárias, ou mesmo defesa do indefençável, quando não na inexorável incompreensão. Cá pra nós, falando sério: tudo muito embaraçado. Nem é fácil de entender. Que coisa! E a pretexto de nada nem convite de ninguém, presencio esse caleidoscópio como um arredio dissidente, sou arisco com ondas e modas, sempre um pé atrás. O que me entristece é sentir a cidade refém de interesses no açodamento de soluções escusas. Por onde passo, a cidade é só um cenário, pra mim não, é a casa em que habito e convivo na guarida de quem sabe bem o que é o abandono de insepulto, é a mulher amada, no dia a dia, lado a lado e que nem se dá conta à-toa no destino das ruas, no estresse dos semáforos, na tragédia invisível, nos fedores ultrajantes, na gente entediante, ela quase morta, é o meu país despedaçado ao rés do chão pisado e sambado. Só se vê que é linda na foto do cartão postal: a ingratidão assiste a tudo, justiça se faça. Corre para acodir, valha-me! De bombeiro e alheio, todos temos um bocado. A sensação que fica é que no ventre da noite não restou uma só estrela no céu, abominável escuridão no pino do meio dia. É isso que incomoda. Sinto a cidade na medula, saudade sem lágrima, afeto sem afago, encabulado e triste, porque sou coabitante em estado de graça até o último fôlego, porque ela está em mim como sempre esteve desde que nasci: chão que me acolheu, Terra que é mãe. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com o guitarrista, cantor, compositor e produtor musical inglês George Harrison (1943-2011): Anthologu & Livin in The Alternate World; da cantora, escritora e doutora em Filosofia pela USP, Eliete Negreiros: Outros sons & Canções de tamanha ingenuidade; do guitarrista Heitor Pereira: Dueling guitars August Rush & Chucho Merchan Live Montreaux; e da cantora e compositora Livia Nery: Vulcanidades & Acasas. Para conferir é só ligar o som e curtir. 

PENSAMENTO DO DIA – [...] Porque há para todos nós um problema sério... este problema é o medo.[...] Pensamento extraído de Plataforma de uma geração (34, 2002), do poeta, ensaísta, professor universitário e crítico literário Antonio Cândido, extraído da obra Textos de intervenção, organizado por V. Dantas. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

BARRA DE GUABIRABA – O município de Barra de Guabiraba é formado administrativamente pelo distrito sede, o qual suas terras pertenciam ao sítio Guabiraba. O seu povoamento se deu pela produção da cultura canavieira, sendo inicialmente denominado de São João da Barra, distrito criado pela Lei municipal nº 59, de 25 de julho de 1915, passando a se denominar de Itapecó pelo Decreto-lei estadual nº 235, de 9 de dezembro de 1938, passando-se a denominar Guabiraba pelo Decreto-lei estadual nº 952, de 31 de dezembro de 1943. Pertencia ao município de Bonito e foi elevado à categoria de município com a denominação Barra de Guabiraba, pela Lei estadual nº 3340, de 31 de Dezembro de 1958. O topônimo atual se deve por uma frondosa guabiraba a confluência dos rios Sirinhaém e Bonito Grande, razão pela qual passou a denominar o local de Barra de Guabiraba, fazendo parte das superfícies retrabalhadas que antecede o Planalto da Borborema, inserido nos domínios da bacia hidrográfica do Rio Sirinhaém, tendo como principais tributários são o Rio Sirinhaém e os riachos Seco e Tanque de Piabas, todos de regime intermitente. Veja mais aqui.

A MULHER ABOLICIONISTA - [...] Condenada à reclusão no seio da família, na qual ela é ao mesmo tempo rainha e escrava, a mulher inreioriza, frquentemente, essa noção de minoridade, e assume as representações que se fazem dela: a ciência afirma que possui uma constituição menos resistente do que a do homem, que os fenômenos que ocorrem no seu corpo ao longo da existência – menstruação, gravidez, amamentação, menopausa – fragilizam-na e a tornam um ser perpetuamente enfermo. A religião lembra que ela deve ser amparada, vigiada, orientada, para não cair em tentação nem induzir outros à queda. E a lei, já o vimos, torna-a incapaz de decidir de sua vida. Com toda essa carga ideológica que lhes atribuía a sociedade e lhes conferia um estatuto de eternas menores, é de admirar que tantas mulheres tenham ousado romper as barreiras do silêncio, da apatia, e se lançar à luta, abraçando causas como a da Abolição, criando jornais, organizando-se em aasociações que promoviam conferencias e desfiles de protesto, escondendo escravos e propiciando sua fuga. [...]. Trecho de À guisa de introdução, da escritora e professora Luzilá Gonçalves Ferreira, na obra Suaves amazonas: mulheres e abolição da escravatura no Nordeste (EdUFPE, 1999), organizado por Luzilá Gonçalves Ferreira, Ivia Alves, Nancy Rita Fontes, Luciana Salgues, Iris Vasconcelos e Silvana Vieira de Souza. Veja mais aqui & aqui.

GLOBALIZAÇÃO, POBREZA & SAÚDE - [...] Um paradoxo da globalização contemporânea é que, numa fase da história da humanidade em que as tecnologias agrícolas disponíveis poderiam propiciar farta produção de alimentos, o fenômeno da fome esteja tão disseminado no mundo e açoite partes do planeta na forma de verdadeiro genocídio. [...] Trecho de Globalização, pobreza e saúde (Ciência & Saúde Coletiva, 2007), do pediatra e sanitarista Paulo Buss. Veja mais aqui, aqui & aqui.

POBREZA NO BRASIL – [...] A heterogeneidade da pobreza no Brasil decorre da dimensão territorial e demográfica do país, dos grandes desequilíbrios regionais e do modo como se foi historicamente configurando o complexo mosaico social brasileiro. [...]. Trecho de Geografia da pobreza extrema e vulnerabilidade à fome (José Olympio, 2004), de Sonia Rocha e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, extraído da obra A nova geografia da fome e da pobreza, organizada por J. Vellozo e R. Albuquerque. Veja mais aqui & aqui.

UMA CERTA PAZ – [...] Para que visão? Para que ideais? Passei toda a vida aqui ao som de uma marcha entusiástica. Como se não houvesse mar e montanhas, nem estrelas no céu. Como se a morte já tivesse sido abolida e a velhice extirpada do mundo de uma vez [...]. Trecho extraído da obra Uma certa paz (Companhia das Letras, 2010), do escritor e pacifista israelense Amos Oz, contando as difíceis relações familiares com suas contradições e dificuldades políticas que o Estado de Israel enfrentava nos anos 1960, às vésperas da Guerra dos Seis Dias, revelando uma meditação sobre o poder, a decepção e os relacionamentos amorosos. Veja mais aqui.

RESTIS - Um vento anima os panos e as cortinas oscilam, / fronhas de linho (sono) áspero quebradiço; o sol passeia / a casa (o rosto adormecido), e em velatura a luz / vai desenhando as coisas: tranças brancas no espelho, / relógios deslustrados, cascas apodrecendo em seus volteios / curvos, vidros ao rés do chão reverberando, réstias. / Filamentos dourados unem o alto e o baixo / – horizonte invisível, abraço em leito alvo: / velame de outros corpos na memória amorosa. Poema extraído do livro Ar (Iluminuras/Fundação Cultural de Curitiba, 1991), da poeta, tradutora e editora Josely Vianna Baptista.

TODO DIA É DIA DE DIREITOS DA MULHER
Veja mais aqui & aqui.
.
Veja mais:
A arte de Eliete Negreiros aqui.
A literatura de Jonathan Swift aqui.
A literatura de Mark Twain aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
A arte de Oscar Wilde aqui, aqui & aqui.
A poesia de Fernando Pessoa aqui, aqui & aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

A ARTE DE CAMILA MORITA
A arte Quando durmo, da artista plástica Camila Morita.

 

terça-feira, novembro 28, 2017

BASHÔ, LÚCIO CARDOSO, CANETTI, CHAUÍ, MARCUS VIANA, BRUNA BEBER, ROCCO FORGIONE & IBIRAJUBA

BATICUM & TEIBEI - Imagem do artista italiano Rocco Forgione. - A coisa não está para brinquedo. Soludão de mesmo, só na vez do açodamento ou no calor da iminência. Maior teitei na lapada. Pronto, parece resolvido. Será? E quando vai ver: um labirinto de broncas. Dabou-se! Aí é a hora de ajeitar aqui, espichar ali, remendar acolá, e o que era pra sair bonito dá num monstrengo cada vez mais desfigurado. E agora vai ver a merda feita. Por conta disso, tomei uma atitude: não leio mais jornais, há tempos que as notícias são as mesmas, muda, apenas e, às vezes no muito, só os nomes, mas a situação é a mesma desde que nasci: a corda só arrebenta do lado desprevenido. E quem tem tempo pra se defender do imprevisível, hem? Também não assisto mais tevê: a programação parece a mesma de décadas, há sempre uma onda pra gente boiar, isto desde que inventaram um tal do zeitgeist, paradigmas para serem seguidos à risca, na boa. E como nem todo mundo anda na linha - que ninguém é besta, tá doido? -, há sempre aquela de um olho na missa e outro no padre. Esfrega pra enxergar: a desconfiança é geral. Também, pudera. Em quê acreditar, são outros quinhentos. Ah, sempre me disseram sob o signo da maior persuasão que quando chegasse aos cinqüenta, eu ia ver direitinho como é que é a cor da chita. Resultado: já passei disso e não vejo mais nada. Quando muito finjo que nem vejo, melhor. Vai que de repente topa com uma revolta no ar: vende-se este estrupício, pague qualquer coisa e leve essa desgraça pra você! Ora, faça-me um favor. Todo mundo só oferece o que não quer mais, filantropia com o imprestável. Quando não é isso, o despropósito no primeiro poste: corno é foda, tudo que vê quer ler. Sacou? Vamos e convenhamos: quando a emoção fala mais alto – ou melhor, quando a cabeça do cipó é quem manda no riscado, a gramática vai pro calão e se lasca toda! Isso se você não se ferrar junto, no maior desmantelo. E haja revertério. No meio disso é só meter o sarrafo! Maior esporro! De pensante vira asno e os disparates só fabricam teréns rocambolescos. Melhor brincar de palíndromo: a torre da derrota! Quem encara? É de sair arrolando a doação de órgãos pra quando bater as botas: os olhos quando nada, mistura as coisas com tudo duplo, córnea pra quê te quero: já era oftalmologista recorrente; cheirar que é bom dói no pulmão; músculos, tudo entrevado; coração batendo biela; fígado em petição de miséria; o prazer é ter de saber eficiente gestão de dores pra todo lado; afinal, no frigir dos ovos, o que é que presta mesmo pra serventia, hem? Nossa, a certidão de que já morreu e ninguém avisou. Resta apenas ficar brincando de bem ou malmequer com as lembranças, memórias fugidias, momentos felizes, decepções, vexames e quejandos. Fazer o quê? Melhor respirar fundo, olhar pros lados, se precaver e seguir adiante refugiado num dia qualquer do passado – remembranças e das muitas, essas ainda não apagaram. Aprendeu? Baticum & teibei. E boa sorte. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais 

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com Pantanal, a suíte orquestral Olga, A música dos 4 elementos, Sete Vidas amores & guerras, Raio & Trovão, entre outras, do violinista, tecladista e compositor Marcus Viana. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui, aqui & aqui.

PENSAMENTO DO DIA -  [...] O soberbo, no orgulho desmedido, considera que tudo lhe é permitido; abjeto, na humilhação desmedida, considera que nada lhe é permitido. O primeiro se torna dominador insolente; o outro, servo adulador, invejoso e ressentido. Ambos, submissos às suas paixões, são fonte de novas servidões, pois o soberbo julga-se livre porque domina e despreza os outros, enquanto o abjeto adulador imagina-se dependente dos favores do soberbo que, por deninção, nunca hão de vir. [...]. Trecho da obra Política em Espinoza (Companhia das Letras, 2003), da filósofa e educadora brasileira Marilena Chauí. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

MASSA & PODER – [...] Aqui, tudo se baseia na total ausencia de perturbações. Qualquer movimento é indesejável, todos os ruídos são execráveis.  [...] Apesar de tudo conservou-se nos nossos concertos uma pequena dose de descarga física. O aplauso representa a gratidão aos interpretes; trata-se de intercambio de um ruído breve e caótico por outro prolongando e bem organizado. [...] Os espectadores podem permanecer sentados; a paciência coletiva se torna visível em toda sua clareza. Todos têm a liberdade de sapatear, mas não se movem de seus lugares. Têm a liberdade de aplaudir com as mãos. Está prevista uma determinada duração para o espetáculo, e normalmente não há motivos para reduzi-la; pelo menos durante este tempo as pessoas permanecem juntas. E, durante este tempo, uma série de acontecimentos podem ocorrer. Não é possível saber de antemão de que lado e quando será marcado o gol, além disso, à margem destes acontecimentos centrais, muitos outros podem acopntecer que provocam manifestações ruidosas. A voz é ouvida com freqüência e em ocasiões distintas. [...]. Trecho da obra Massa e poder (EdUnB, 1983), do escritor e ensaísta búlgaro e Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Elias Canetti (1905-1994). Veja mais aqui e aqui.

IBIRAJUBA – O municio de Ibirajuba é formando administrativa pelo distrito sede e pelo povoado do Alto de São Francisco, possuindo cachoeiras, além de cavernas com pinturas rupestres. Trata-se de vocábulo indígena que significa "árvore amarela", do tupi ybirá: árvore, tronco, madeira; e yuba: amarelo, louro. Originou-se do povoado de Gameleira, árvore comum na localidade. Pertencia ao município de Altinho, sendo criado pela Lei estadual nº 4.943, de 20 de dezembro de 1963 e instalado em 19 de junho de 1964. Possui muitas pedras em seu território, as mais famosas são as duas pedras de Delmiro, um comerciante da região. Localizada em plena Serra da Mandioca, no centro da cidade, existe um açude, que antes de sua escavação, aquela área abrigava a grande e frondosa gameleira, que nomeou a cidade. Veja mais aqui.

DIÁRIO DE ANDRÉ - [...] Que é o para sempre senão o existir continuo e líquido de tudo aquilo que é liberto da contingência, que se transforma, evolui e deságua sem cessar em praias de sensações também mutáveis? Inútil esconder: o para sempre ali se achava diante dos meus olhos. Um minuto ainda, apenas um minuto – e também este escorregaria longe do meu esforço para captiá-lo, enquanto eu mesmo, também para sempre, escorreria e passaria – e comigo, como uma carga de detritos sem sentidos e sem chama, também escoaria para sempre meu amor, meu tormento e até mesmo minha própria fidelidade. Sim, que é o para sempre senão a última imagem deste mundo – não esxclusivamente deste, mas de qualquer mundo que se enovele numa arquitetura de sonho e de permanência – a figuração de nossos jogos e prazeres, de nosos achaques e medos, de nossos amores e de nossas traições – a força enfim que modela não esse que somos diariamente, mas o possível, o constantemente inatingido, que perseguimos como se acompanha o rastro de um amor que não se consegue, e que afinal é apenas a lembrança de um bem perdido – quando? – num lugar que ignoramos, mas cuja perda nos punge, e nos arrebata, totais, a esse nada ou a esse tudo inflamado, injusto ou justo, onde para sempre nos confundimos ao geral, ao absoluto, ao perfeito de quie tanto carecemos. [...]. Trecho extraído da obra Crônica da casa assassinada (Cibilização Brasileira, 2009), do escritor, jornalista, dramaturgo e pintor Lúcio Cardoso (1912-1968). Veja mais aqui.

LADAINHA POEMAS 29, 79 & 97 – 29 – Laura me leva para a água / Não é só assim que somos felizes / Mas aqui somos mais / É bom passar minúsculos / Olhando para uma coisa só / Como se nunca tivéssemos inventado / Uma imagem sequer do futuro / E então ficamos cerca de um minúsculo / Olhando para o mar e fingindo / Que o movimento das ondas / Era parecido com estender lençóis / E quem as estendia éramos nós / Você sabe, a água não para de ser água / E nós não parávamos de tentar ] Arrumar o mar, que não nos incomoda / Ele é um peixe amando outro peixe / Laura gosta de arrumar a cama / Todos os dias, eu desligo o ventilador / Porque a cama é um tipo de mochila / De encosta, de bandeja, de sola de pé / Para os morcegos; prisma ao que gosta / de dormir, balcão ao que gosta de acordar / Não sei explicar mas é como chegar na água / E saber nadar, muito mais ainda assim e por tudo / É sobre conseguir chegar naquilo que eu sou / E cada vez mais perto daquilo que sou com alegria / É uma camisa de força do avesso / Muito boa para mergulho - 79 - Poder é perigo / e hoje acordei / rindo / Dom é tom / e hoje acordei / rindo / Querer é criatura / e hoje acordei / rindo / Na cara a boca / na pia o prato / sujos de feijão. 97. - Escrever é irmão / do andar e primo / do voltar, substitua / No inverno é bom / Escrever com calma / e inventar um cinzeiro flutuante / chegar e sair descalço do poema / No verão bombom / Escrever é sempre / o tempo é uma mula elástica em fuga / e se conselho fosse bom / Sair na rua de moletom. Poemas recolhidos da obra Ladainha (Record, 2017), da poeta e tradutora Bruna Beber.

4 HAICAIS DE BASHÔ
 
O sol de inverno:
a cavalo congela
 a minha sombra.

Chuva de verão
perna de garça
então se torna curta.

Que lua, que flor
nada, bebo umas doses
aqui sozinho.

Quero ainda ver
nas flores no amanhecer
 a face de um deus.
Extraídos do livro Complete Basho Haiku in Japanese (State University of New York Press, 2004), do poeta japonês Matsuo Bashô (1644-1694).

Veja mais:

A poesia de William Blake aqui, aqui, aqui & aqui.
A literatura de Stefan Zweig aqui e aqui.
O pensamento de Claude Lévi-Strauss aqui e aqui.
A literatura de Érico Veríssimo aqui, aqui e aqui.
A psicanálise de Erich Fromm aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

A ARTE DE ROCCO FORGIONE
A arte do artista italiano Rocco Forgione.

 

segunda-feira, novembro 27, 2017

RADUAN NASSAR, CAMILO CELA, EUGENE O’NEILL, BOURDIEU, KEYNES, CORAL BRACHO, ESTHER GRACIA MARQUES, VERA FISCHER & JUPI.

CERTO, ERRADO? – Damiãodito andava meio atrapalhado, quase zoró. Pudera, mão havia dado certo e procurava a todo custo se arrumar na vida. De tantas tentativas e erros, chegou entre disparates à triste constatação de que nada se criava mais, só se copiava. E tanto fizeram no reino dos simulacros, que importaram até a solidão. Pois é, conversava sozinho, um Robinson Crusoé no meio da multidão de indiferentes apressados. Será que tem jeito? Pelo menos aprendera a se meter no calor da refrega pra chamar atenção. Um desastre; incendiário rebelde protestando de tudo. Todo mundo estava errado e ele sozinho. Não pode ser! Teve que dá um jeito, amenizou na pancada e já se dava por um bombeiro voluntário: melhor apaziguar que tocar fogo! Quando limpou a vista percebeu que a situação estava infestada por uma praga de gente, patuléia de retirantes no reino das espeluncas: tempo de preta fraude! Que coisa! A ordem era andar na moda, arrotando ar de prosperidade, na verdade, ataque impulsivo de não se enxergar o holocausto sem precedentes. Vai na onda, meu! Mais perdido que desencontrado, deu de cara com Hypatya, uma professorinha com ar de demiurga, incisiva na pontaria de que tudo estava reduzido às falácias, tudo dicto simpliciter, quando não generalizações apressadas, ao menos post hoc adoidado, senão premissas contraditórias, invocações ad misericordiam, possíveis falsas analogias ou hipóteses contrárias ao fato, ou quando muito envvenenando o poço. É com essa que vou! E foi, de cabeça. Lá pras tantas embolou o meio de campo: ouvia e não entendia nada, parecia que antes ele é que estava com razão e certificou-se: não estava. Ué, pronde vou? A professorinha deu sinal de que ele devia seguir a linha de raciocínio: preste atenção e aprenda a remar. Ligado nas sapientes palavras dela, não arredava e foi tomando pé da situação: quanto argumento falacioso! Pra todo lado só via papo áulico, chegava dava náuseas, ah, esses os cheleléus que aprenderam a pender pros lados conforme a situação: uma tuia de bestuntos que só conseguiam conversar pra arengas ou humilhações. Como não se tem o que falar, todos cospem chistes descabidos, ofensas, soberbas, aconselhamentos até. Não desistia e prestava ele atenção a tudo, encantado com a professorinha. Apaixonou-se e na primeira investida: sai pra lá, lambaio! Que é que é isso? Tanto aprumou no bote e, na horagá, o negócio gorava pra sua banda. Investigou e logo sacou a presença de Valdevinicius – um cara com um nome desse parecia imbatível -, na simpatia de Hypatya: um bon vivant metido em coisas escusas, endinheirado e cheio das pregas. Páreo duro. Mas e o que ela dizia e ensinava não era pra ter com um cara desses, diferente da inteligência e modo de pensar dela, não combinavam. Insistiu na paixonite e depois de tantas, viu-se mais sozinho que antes. No mais, cada um padece mesmo de sua solidão, seu isolamento: muro alto, tevê, redes sociais, celulares, suas dívidas, decepções, temores, invejas, dissimulações. E ele liso de não ter um tostão furado no bolso, apaixonado e completamente imobilizado. E agora, meu? O que valia de mesmo era ter estratagemas para ganhar dinheiro, isso é que fazia a diferença. Aprendeu no cara ou coroa e se meteu com o que pôde: canivetes, xaropes, vigarices, prestidigitações. Tentava por zis ardis persuadir e ser convincente com sua loquacidade. Tanto fez, nada deu certo. De orelha em pé, cérebro feito um dínamo, medição de balança e precisão de bisturi, o cara encervejou além da conta, aprumou o juízo trocando as bolas e falando alto como quem aprendera o beabá todinho e encarou de quase botar os bofes todo pra fora com a dita sobrecarregada de hostilidades: Professora Hypatya, a senhora quer ou não quer namorar comigo? Ah, meu preclaro, tenho compromissos com Valdevinicius! Aí ele caprichou no recado: Ora, professora, mas esse cara é um ré-pra-trás, não há menor compatibilidade com seus grandiosos conhecimentos, sua pujante inteligência, sua magnitude de ser, ora, ora! Ah, rapaz, ele tem uma coisa que você não tem! O quê? Dindim pra me levar pros queimas das lojas todas! Ah, a fala e o certo, ação no errado. Tá. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com com o cantor, compositor, arranjador e instrumentista Edu Lobo: Camaleão & Limite das águas; da compositora, pianista e maestrina Chiquinha Gonzaga (1847-1935), interpretada pelos pianistas Leandro Braga & Clara Sverner; do músico instrumentista e acordeonista Renato Borghetti; e da cantora e compositora Zélia Duncan: Pelo sabor do gesto em cena & Tudo esclarecido. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIAA dificuldade reside não tanto em ter novas ideias, mas em escapar das antigas. Pensamento do economista britânico John Keynes (1883-1946). Veja mais aqui e aqui.

JUPI – O município de Jupi tem essa denominação por conta de um espinho, chamado pelos nativos e yupi, sugnificando espinho agudo. O povoado pertenceu a Brejo da Madre de Deus, na categoria de distrito, passando a pertecer posteriormente a São Bento do Una, Canhotinho, Palmeirina e Angelim. Passou a município por força da Lei 3331, de dezembro de 1958. Registra-se na história que o português Antonio Vieira de Melo, desterrado de Portigal em meados do século XVI, instalando-se ao ao sopé de uma serra onde havia abundante água boa e bastante caça, ao lado da tribo de origem que fizeram uma aldeia nas proximidades de uma fonte por eles denominada "Olho D'água de Yu-py". As malocas desta aldeia foram feitas e cobertas com folhas das palmeiras nativas do local que os índios denominaram de Ouricury. O município encontra-se inserido no Planalto da Borborema, inserido nos domínios das nacias hidrográficas dos rio Mundaú e Una, tendo como principais tributários os rios da Chata e do Retiro e os riachos do Estreito e Volta do Rio. A sua emancipação política é comemorada em 11 de março. Veja mais aqui.

O ESPAÇO SOCIAL - [...] o espaço social tende a se retraduzir, de maneira mais ou menos rigorosa, no espaço físico sob a forma de um determinado arranjo distributivo dos agentes e das propriedades. Consequentemente, todas as distinções propostas em relação ao espaço físico residem no espaço social reificado (ou, o que dá no mesmo, no espaço físico apropriado), que é definido – para falar como Leibniz – pela correspondência entre uma determinada ordem de coexistência dos agentes e uma determinada ordem de coexistência das propriedades. [...] A estrutura do espaço social se manifesta assim, nos mais diversos contextos, sob a forma de oposições espaciais, o espaço habitado (ou apropriado) funcionando como uma espécie de metáfora espontânea do espaço social. Em uma sociedade hierarquizada, não existe espaço que não seja hierarquizado e que não exprima as hierarquias e as diferenças sociais de um modo deformado (mais ou menos) e, sobretudo, mascarado pelo efeito de naturalização acarretado pela inscrição durável das realidades sociais no mundo físico: diferenças produzidas pela lógica social podem, assim, parecer emergidas da natureza das coisas (basta pensar na ideia de “fronteira natural”). [...]. Trechos de Meditações pascalianas (Bertrand Brasil, 2001), do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Veja mais aqui e aqui.

A COLMEIA - [...] O coração do Café bate com arritmia, como o deu um cardíaco. a atmosfera vira mais cinzenta, mais espessa.  Às vezes, porém, entra um golpe de ar fresco, ninguém sabe de onde veio. É o vento de uma esperança desesperada que, por uns poucos instantes abriu uma pequena janela em cada uma dessas almas fechadas. [...] Trecho de A colméia (Bertrand Brasil, 1992), do escritor e jornalista espanhol vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, Camilo José Cela (1916-2002), enfocando a vida em Madri, sem conformismo e outros disfarces, a qual serviu de ponte entre o realismo pós-guerra e as novas tendências dos anos sessenta. Veja mais aqui.

LAVOURA ARCAICA - Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou pra me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo, as pontas dos meus dedos tocavam cheias de veneno a penugem incipiente do meu peito ainda quente; minha cabeça rolava entorpecida enquanto meus cabelos se deslocavam em grossas ondas sobre a curva úmida da fronte; deitei uma das faces contra o chão, mas meus olhos pouco apreenderam, sequer perderam a imobilidade ante o voo fugaz dos cílios; o ruído das batidas na porta vinha macio, aconchegava-se despojado de sentido, o floco de paina insinuava-se entre as curvas sinuosas da orelha onde por instantes adormecia; e o ruído se repetindo, sempre macio e manso, não me perturbava a doce embriaguez, nem minha sonolência, nem o disperso e esparso torvelinho sem acolhimento; meus olhos depois viram a maçaneta que girava, mas ela em movimento se esquecia na retina como um objeto sem vida, um som sem vibração, ou um sopro escuro no porão da memória; foram pancadas num momento que puseram em sobressalto e desespero as coisas letárgicas do meu quarto; num salto leve e silencioso, me pus de pé, me curvando pra pegar a toalha estendida no chão; apertei os olhos enquanto enxugava a mão, agitei em seguida a cabeça pra agitar meus olhos, apanhei a camisa jogada na cadeira, escondi na calça meu sexo roxo e obscuro, dei logo uns passos e abri uma das folhas me recuando atrás dela: era meu irmão mais velho que estava na porta; assim que ele entrou, ficamos de frente um para o outro, nossos olhos parados, era um espaço de terra seca que nos separava, tinha susto e espanto nesse pó, mas não era uma descoberta, nem sei o que era, e não nos dizíamos nada, até que ele estendeu os braços e fechou em silêncio as mãos fortes nos meus ombros e nós nos olhamos e num momento preciso nossas memórias nos assaltaram os olhos em atropelo, e eu vi de repente seus olhos se molharem, e foi então que ele me abraçou, e eu senti nos seus braços o peso dos braços encharcados da família inteira; voltamos a nos olhar e eu disse "não te esperava" foi o que eu disse confuso com o desajeito do que dizia e cheio de receio de me deixar escapar não importava com o que eu fosse lá dizer, mesmo assim eu repeti "não te esperava" foi isso o que eu disse mais uma vez e eu senti a força poderosa da família desabando sobre mim como um aguaceiro pesado enquanto ele dizia "nós te amamos muito, nós te amamos muito" e era tudo o que ele dizia enquanto me abraçava mais uma vez; ainda confuso, aturdido, mostrei-lhe a cadeira do canto, mas ele nem se mexeu e tirando o lenço do bolso ele disse "abotoe a camisa, André". [...]. Trecho da obra Lavoura arcaica (Companhia das Letras, 1999), do escritor Raduan Nassar. Veja mais aqui.

NA UMIDADE CIFRADA - Ouço teu corpo com a avidez saciada e tranqüila / de quem se impregna (de quem / emerge, / de quem se estende saturado, / percorrido / de esperma) na umidade / cifrada (suave oráculo espesso; templo) / nos limos, açudes tíbios, deltas, / de sua origem; bebo / (tuas raízes abertas e penetráveis; em tuas costas / lascivas — lodo fervente — landas) / os desígnios musgosos, tuas seivas densas / (rol de lianas ébrias) Aspiro / em tuas margens profundas, expectantes, as brasas, / em tuas selvas untuosas, / as vertentes. Ouço (teu sêmen táctil) as fontes, as larvas; / (abside fértil) Toco / em teus vivos lodaçais, em tuas lamas: os rastros em tua frágua / envolvente: os indícios / (Abro / tuas coxas ungidas, ressudantes; escanceadas de luz) Ouço / em teus ásperos barros, a tua borda: os palpos**, os augúrios / — siglas imersas; blastos —. Em teus átrios: / as trilhas vítreas, as libações (glebas fecundas), / os fervedouros. Poema da poeta e tradutora mexicana Coral Bracho, extraído da obra: Jardim de camaleões: a poesia neobarroca na América Latina, organizada por Claudio Manoel.

ANTES DO CAFÉ, DE EUGENE O’NEILL
[...] Estou cheia dessa vida. Vontade de voltar para casa, bem que eu tenho, não fosse esse meu orgulho de não querer que eles saibam do fracasso que você é. Você, filho único do milionário Rowland, formado em Harvard, poeta, o melhor partido da cidade ‑ ha! (AMARGA) Hoje ninguém ia invejar a minha conquista. Que que foi o nosso casamento, diz aí? Mesmo antes do “milionário” do seu pai morrer, devendo dinheiro a Deus e ao mundo, você nunca dedicou um minuto do seu tempo à sua mulher. Talvez achasse que eu devia estar muito contente em você ser bastante “honrado” a ponto de se casar comigo, depois de me meter naquela fria. Tinha era vergonha de mim com os seus amigos gra-finos porque o meu pai e só um quitandeiro, isso sim. Pelo menos o meu pai é honesto, coisa que ninguém pode dizer do seu.(COM FIRMEZA, ELA VARRE EM DIREÇÃO À PORTA. APOIA‑SE NA VASSOURA POR UM INSTANTE.) Você esperava que todo mundo fosse achar que se casou obrigado e que todo mundo ia ter pena de você, não foi? Foi logo dizendo que me amava, me fazendo acreditar nas suas mentiras, antes da coisa acontecer, foi ou não foi? Me fez acreditar que não queria que o seu pai me pagasse para eu sumir, como ele tentou fazer. Hoje eu sei. Não foi à toa que eu vivi com você esse tempo todo. (SOMBRIA) Ainda bem que o pobrezinho nasceu morto. Que pai que você seria! (ELA FICA QUIETA E TACITURNA POR UM TEMPO. E CONTINUA, NUMA ESPÉCIE DE ALEGRIA SELVAGEM.) Só que eu não sou a única a te agradecer por ser infeliz, não. Tem pelo menos uma outra e esperança de se casar contigo agora, ela não pode ter. [...].
Trecho da peça teatral Antes do café (Before breakfast – Literary Classiscs, 1988), do escritor e dramaturgo estadunidense Eugene O’Neill (1888-1053), Prêmio Nóbel de 1936, com tradução de Flávio de Campos. A peça trata sobre a Senhora Rowland, que, numa manhã, descobre que o marido tem uma amante que está grávida. Ela expõe sua relação enquanto prepara o desjejum, mas será surpreendida novamente antes do café esfriar.

Veja mais:
A psicanálise de Carl Gustav Jung aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
O teatro de Eugène Ionesco aqui e aqui.
A literatura de Manuel Scorza aqui e aqui.
A poesia de Horácio aqui, aqui e aqui.
A literatura de Alexandre Dumas aqui, aqui e aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

A ARTE DE VERA FISCHER
A arte da atriz Vera Fischer. Veja mais aqui.

A ARTE ESTHER GRACIA MARQUES
A arte de Esther Gracia Marques.


LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Fruto (2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da pianista, compositora e pe...