A CANÇÃO DO
POEMA QUE NÃO FIZ - Imagem: The lute player (1917-1918), da pintora
espanhola Maria Blanchard (1881-1932).
- O poema que não fiz era só uma canção que se perdeu, nada mais. Eu queria
cantá-lo voz em eco das tripas coração, alma na boca. Só não fiz e se perdera,
mudo e só, no meio da madrugada, o poema que eu não fiz se fez silêncio e não
foi feito quando deveria ser, passou e não mais. O poema que não fiz deu sinal
de vida, brotou por um triz e não se fez, desceu pelo ralo e se perdeu. Hoje
sinto falta como se fosse uma lembrança que se esquece e quase nem sei porquê,
ora bolas, de sentir que não escrevi o que deveria ter dito e feito. Pra quê
mesmo? Ora, ora. Sei lá, só sei que o poema que não fiz fugiu entre os dedos, escorreu
peito abaixo e esqueci cantar na voz rouca, o peso dos anos nas costas e mais que
inventei pra cantar. O poema que não fiz era uma canção só feita de sóis e de
lás sustenidos do que eu tinha esquecido por tantos bemóis, pedaços de
infância, segredos adolescidos, adulteza incerta e se foi vento como aquela que
ama e partiu pra não voltar. O poema que não fiz era um verso só na agonia das
entranhas, atravessado na angústia e o perdi na ladeira, quando eu ia pro céu sem
saber que ela se foi pra não mais voltar, me deixando sozinho na esquina do
escuro e sem saber nada mais nada, alma penada que perdeu rumo e viés. O poema
que não fiz era a canção que deixei de fazer com um verso que teimava em poema na
flor do pensamento e quase não dizia de nada nem de mim, nem de nada, era
sussurro do dia se valendo da noite, a tarde desfeita em quimeras que sequer sonhei,
quando ela foi embora e não mais voltou para eu perder a noção da estrada, dos
quadrantes, pontos cardeais, até os acordes da canção se foram com ela pra mim
que perdera a posse no erro da veia como quem não tem nem onde cair morto. A
canção que eu não fiz doía muito e sangrou no caminho até me nocautear e quase
morrer de tão grande em mim de não caber na voz e nenhum tom, apenas solada por
melodia que me encantava pronto pra solfejar e dizer o que era de alma e
coração, e perder os sentidos de mais nada saber. A canção que não fiz era o
poema incompleto e aos trapos, enviezado no peito com o aceno dela de que não
mais voltaria e a me engasgar o adeus na garganta e a voz que se rasga e se
espanta pra não mais cantar, tão tarde a canção que eu fiz e perdi no poema
esquecido do verso dissolvido no adeus de quem ama pra sempre amar porque tudo
fizera o amor o poema em canção. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o saudoso arranjador, maestro, compositor e
multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006): Ouro negro & Coisas; com a multifacetada
cantora, guitarrista, compositora, atriz & performer argentina Érica
Garcia: Amorama & El
Cerebro; do compositor holandês Jacob de Haan: Concerto d’ Amore, Ross Roy, Utopia & Pacifi Dream; e
do grupo vocal e instrumental de pesquisa e recriação muscial Mawaca: Canto da Floresta & Gayatri Mantra. Para conferir é só ligar o som e
curtir.
PENSAMENTO DO DIA - [...] Meu amigo,
já faz alguns séculos que as escolas têm estado a envenenar-vos a sensibilidade
e a asfixiar-vos a inteligência [...], pensamento do poeta e dramaturgo
francês Rémy de Gourmont
(1858-1915), que também expressou: [...] a
volúpia é uma criação do homem, uma arte delicada que só uns poucos dominam com
perfeição, como a música ou a pintura. [...] o homem associa suas ideias, não de acordo com a lógica, ou com
exatidão comprovável, mas de acordo com seus desejos e interesses. [...]. Veja mais aqui.
SÃO BENEDITO DO SUL – O distrito de São Benedito do Sul foi criado pela Lei
municipal 24, datada de 20 de outubro de 1899, com a denominação de São
Benedito, integrando território do município de Quipapá. O Decreto-Lei estadual
952, de 31 de dezembro de 1943, mudou a denominação para Iraci. A Lei estadual
4980, de 29 de dezmebro de 1963 – data de criação do município -, elevou o
distrito à categoria de município autônomo, com a denominação de São Benedito
do Sul, com sua instalação ocorendo em 13 de maio de 1964. Administrativamente
o município está formado pelos distritos sede e Igarapeba e pelos povoados da
Usina Periperi e do Engenho Soberana. Anualmente, no dia 13 de maio, o
município comemora sua emancipação política, conforme a Enciclopédia dos
Municípios do Interior de Pernambuco (FIAM/DI, 1986). Veja mais aqui.
O TAO E OS OPOSTOS - [...] porque as
coisas do mundo interior estão sempre a influenciar-nos poderosamente rumo à
inconsciência, é essencial a qualquer pessoa que tenha a intenção de fazer
progressos na autocultura objetivar os efeitos da anima e, depois, tentar
compreender quais são os conteúdos subjacentes a eles. É dessa maneira que o
individuo se adapta e adquire proteção contra o invisível. Não haverá adaptação
sem que se façam concessões aos dois mundos. Da ponderação entre os reclamos
dos mundos interior e exterior, ou melhor, dos conflitos existentes entre eles,
surge o possível e o necessário. Nossa mente ocidental, infelizmente, carente
que é de qualquer espécie de cultura a esse respeito, ainda não conseguiu idear
um conceito, nem mesmo um nome, para a “união dos opostos em um caminho
mediano”, esse item mais fundamental da experiência interior que bem pode, com
todo o respeito, ser justaposto ao conceito chinês do Tao. [...]. Trecho
extraído das Obras completas (Colected
works – Vozes, 2000), do psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung
(1875-1961). Veja mais aqui e aqui.
MEDO DE VOAR – [...] mas o
grande problema era como fazer com que o feminismo se harmonizasse com a fome
insaciável de corpos masculinos. Não era fácil. Ademais, ao passar do tempo
mais claro se fornava que os homens, na essência, tinham pavor às mulheres.
Alguns em segredo, outros abertamente. O que podia ser mais lancinante do que
uma mulher libertada, de olho em cacete murcho? As maiores questões da história
empalidecem, em comparação com esses dois objetos quintessenciais, a mulher
eterna e o cacete murcho. [...]. Trecho extraído da obra Medo de voar (Artenova, 1975),da
escritora e educadora estadunidense Erica
Jong. Veja mais aqui.
PALMARES
Terra dos poetas
Que nas manhãs de
agosto
Encobre-se por uma
cortina branca
De névoa e garoa
Cortada pelo
imponente Rio Una
Impávido e colossal
Terra das belas
praças
Árvores belas
E clima interiorano
Com tantos motivos
Dá-me vontade
rimar:
Com meus
pensamentos estranhos
Deito em bancos da
Praça Paulo Paranhos
Deleza que
incendeia na Praça Ismael Gouveia
Em rimas que se
estendem
Longo seria o poema
Pois infinita é sua
beleza.
Poema extraído do livro Eu-poesias em vias (Rascunhos, 2015), de
Adriano Sales, Veja mais aqui.
Veja mais:
A arte de Almeida Junior aqui.
A literatura de Robert Louis Stevenson
aqui.
A arte de Camille Pissarro aqui.
A arte de Ludovico Carracci aqui.
&
A ARTE DE
JOHANNES ITTEN
A arte do pintor,
escritor e professor suíço Johannes
Itten (1888-1967).