segunda-feira, setembro 16, 2024

ESTHER PINEDA, SANU SHARMA, NIVIAQ KORNELIUSSEN & CABOCLINHOS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Paris, mon amour (Sony, 2015), Renascimento (Sony, 2021) e The Courtesan (SY11, 2023), da soprano operística búlgara Sonya Yoncheva.

 

Cantiga de curumim no meio da tarde... – Um dia menino, à sombra benfazeja de um cajueiro frondoso, a vida sorria e eu conversava sozinho coisas que saltavam das sensações. Interrompia minhas pensagens com a alegria de longe de um galo peralta, todo amostrado no terreiro, desde que o dia acontecera: uma felicidade que me contagiava todas manhãs desde sempre. Já era de tarde e o galo lá cocoricava como se fosse domingo de festa. E ficava ali entretido com todo aquele alvoroço, o que me fazia sentir toda a boniteza das paragens. Logo desaparecera, não se sabe pra onde e eu fiquei no ora, ora: Cadê-lo? Ousei levantar pra buscá-lo e uma voz diferente interrompeu minha saída arremedando: - Curumin, que é que há? Ali espantado, um convite: - Chega! Quem era? Do cajueiro ouvi: - Senta, vamos prosear! A tarde está tão linda... Era dele aquela estranheza. Até então ele e todas as árvores só me ouviam; agora era minha vez de escutá-lo. E me agachei atencioso: - Diga lá! Era como se fosse um oráculo e me contou dos segredos mais íntimos das coisas, o que saía e entrava pelos sete buracos da cabeça de gente. Como assim? E me falou da maior profundeza das coisas escondidas: que a Terra é a nossa Mãe, nosso abrigo; e a nossa família, todos ao nosso redor, assim como tudo e todas as coisas. Mais disse para que eu sentisse o cheiro de Sol por todos os lugares inundados pelo perfume das flores e delas o aceno alegre nos galhos: o ar era a vida que nos fazia existir, soprando a raiz de todos os ventos, o prazer das aragens que levavam e traziam o gosto mais maravilhoso de viver. Sopravam o fogo ensinando tudo o que passou e o que virá, como se vingassem nas labaredas das fogueiras e lambiam as estrelas maduradas na noite pela viagem de outro dia, que depois viria, quando menos se esperasse. Inspiravam o rio na metáfora do espelho e mexiam as correntes das águas regando o chão, como sobem as marés – o encontro do rio ao mar era a vida da gente, porque há um lugar e um tempo, pedaços de hestórias de semear e de colher, de fazer e sonhar. Conduziam as nuvens que choravam de alegria lavando a alma grata pela comida, pelo abrigo, pela claridade, pelo trabalho e pela dança dos espíritos invisíveis – os guardiões da herança de todas as estações e o respeito recíproco na benzedura da boa-fé de coração puro. As palavras pareciam soltas e soavam de dentro pro íntimo e era preciso silêncio para senti-las, sim: era o milagre da revelação do Grande Espírito. De repente o galo reapareceu e, pela primeira vez, entendi seu cocoricó: convocava o coro de todas as pedras e alturas, todos os troncos e plantas, todos os morros e estradas, todas as grutas e lonjuras, todos rastejadores e avoantes, o coro da celebração vital. Sim. Cantavam que todos temos uma missão: proteger a Mãe Terra e tudo que nela há! E eu felizardo cantei bebendo da chuva, como se aprendesse devoto das águas a gratidão dos nascidos e com todas as graças do coração a segui-las sempre adiante horizonte afora. Assim sou e estou, até mais ver.

 

Niviaq Korneliussen: Os devaneios são acompanhados de emoções proibidas... Veja mais aqui.

Rita Rudner: Eu nunca entro em pânico quando me perco. Eu apenas mudo para onde quero ir... Veja mais aqui.

Jodi Picoult: O dano era permanente; sempre haveria cicatrizes. Mas mesmo as cicatrizes mais raivosas sumiam com o tempo até que era difícil vê-las escritas na pele, e a única coisa que permanecia era a lembrança de quão doloroso tinha sido... Depois de juntar os pedaços, mesmo que pareça intacto, você nunca mais será o mesmo de antes da queda... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

DESEJO – Quão distante você reside \ dos confins do meu, \ não me preocupo. \ Quando as memórias, de \ dias passados ressurgem; \ com reflexão e reminiscência da \ minha infantilidade casual, \ que seus olhos umedeçam, \ que seus lábios se transformem em um sorriso \ revelado, mas oculto. \ Isso é tudo \ o que eu desejo.

POSSO TE CONHECER ALGUM DIA ASSIM – Que eu possa te encontrar um dia assim que \ não haja pressa em dizer adeus \ que não haja medo de interrupções \ que todas as emoções sejam derramadas, \ e cada canto e fenda do meu coração seja esvaziado. \ que eu não guarde arrependimentos dentro de mim \ que as memórias não nos assombrem mais tarde. \ Que eu nunca me canse de me expressar \ que eu possa encontrar contentamento em ouvir você \ que não haja restrições de tempo \ e que possamos estar unidos como um único nó \ você, o tempo e eu. \ Que eu possa te agarrar e cair em um sono profundo \ que não haja pressa em acordar \ que não haja medo de perder um momento \ que eu possa derreter em seu abraço, e \ me fundir em sua totalidade  \ assim como a alma se funde com o Ser Supremo \ Que não haja sonhos não realizados como este \ que haja realidades que me satisfaçam. \ Algum dia, que eu possa te encontrar \ assim.

Poemas da escritora, letrista e poeta nepalesa Sanu Sharma.

 

ONTEM À NOITE - [...] Os devaneios são acompanhados de emoções proibidas. [...] Foi uma honra segurar seu coração, mas minhas mãos estão todas ensanguentadas, então é melhor você pegá-lo ou eu vou ter que largar esse seu coração pegajoso. [...] A vida é tão maravilhosa que não vou ficar triste por não poder ter tudo. [...]. Trechos extraídos da obra Last Night in Nuuk (Grove Press, 2019), da escritora groenlandesa Niviaq Korneliussen. Veja mais aqui.

 

RACISMO & RESISTÊNCIA - [...] não basta erradicar o racismo e a desigualdade. por razões de género com reconhecimento nominal e iconográfico, a exposição e exibição grosseira dessas pessoas e mulheres historicamente invisibilizado, sem modificar a estrutura organizacional da sociedade em favor do reconhecimento e inclusão participativa; a diferença deve necessariamente traduzir se transformar em oportunidade, visibilidade, participação, e só isso pode ser alcançado através da descolonização, da despatriarcalização, descapitalização e desracialização das relações sociais. [...]. Trecho extraído da obra Racismo, endorracismo y resistência (Perro y la Rana, 2017), da poeta e socióloga venezuelana Esther Pineda G., que ainda se expressa: Sou negra e afirmo meu direito à existência. Afirmo o meu direito ao entrelaçamento dos meus cabelos encaracolados, à escuridão dos meus lábios, à escuridão implacável dos meus cotovelos, à escuridão visível da ponta dos meus dedos... A violência estética se baseia em 4 premissas: sexismo, gerontofobia, racismo e gordofobia, por isso exigirá sempre das mulheres feminilidade, juventude, branquitude e magreza. A violência estética faz com que as mulheres acreditem que elas e seus corpos são os que estão errados, fazendo-as sentirem-se culpadas, fazendo-as sentir vergonha, dizendo-lhes que só existem corpos válidos e bonitos e que para se aproximarem dessa beleza e valorização social devem modificar seus corpos; caso contrário terão que viver as consequências da desvalorização pessoal e social por não satisfazerem essa expectativa de beleza. Ela também é autora dos livros Roles de género y sexismo en seis discursos sobre la familia nuclear (2011) e Machismo y vindicación. La mujer en el pensamiento sociofilosófico (2017).

 

CABOCLINHOS

[...] a proteção e continuidade das manifestações culturais, cujos protagonistas, mesmo diante da identidade multifacetada, ecoam um grito contido de libertação e emancipação idealizada do seu lamentável equívoco do passado ancestral. [...]. Trecho do prefácio Okê caboclo! Calços, percalços e mais aprendizados em favor da memória cultural, da pianista, percussionista, compositora e etnomusicóloga Alice Lumi Satomi, extraído da obra Caboclinhos: subsídios para a salvaguarda e pesquisa (Appris, 2023), organizada por Sandro Guimarães de Salles, Washington Guedes de Souza, Climério de Oliveira Santos e Lucas Oliveira de Moura Arruda. Veja mais aqui, aqui e aqui.

 

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quarta-feira, setembro 11, 2024

AXEL HONNETH, VIRGINIA FINOZZI, LYNN PAINTER & MARCUS ACCIOLY

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns I Am Not (New Amsterdam, 2010), The World is (Y)ours (Arcantus, 2019), Dance (Avie, 2020) e The Kreutzer Project (AVIE, 2022), da compositora inglesa Anna Clyne.

 

Passos de Belerofon... - A campainha tocou naquela noite insone. Abri a porta e quem era no limiar da surpresa: pareceu-me Anticleia, a que jamais poderia ser recusada. De longe o seu olhar me dizia que era ela e, pareceu-me, ao mesmo tempo, que nela havia uma outra: a inevitável que tanto se rejeita – como se fosse Estenebea que me acusou falsamente e expôs minha cabeça às armadilhas de Ióbates. Ali, àquela distância, me fez crer que se não fosse Polido, jamais poderia superar às cuspidas de fogo de Kimera, nem domar Pégaso na Fonte dos Pirinéus com a rédea dourada que me deu Athena e findar no exílio em Tirinto. Não fosse mesmo isso nem teria êxito diante dos Solimos, nem com as Amazonas, muito menos me livraria das emboscados dos guerreiros lídios. Num átimo previra: aqueles olhos eram a pedra âmbar desvelando o segredo da Betelgeuse no turismo do fim do mundo - nada mais que um tolo adivinhando bulhufas. Enquanto descia a escadaria viajava pelas névoas das ideias de todas as cenas em que a vira, como se tivesse sido tomado pelo espasmo das vaguidades incompreensíveis, das afecções vitimizadoras e da carta oculta das intermitências, das ambíguas lembranças trazidas do nada e os timoratos fanatizados pela enfatuação dos de execrável memória. Assim descia como se me sentisse o cerne das insignificâncias, rachaduras e craqueados difusos, uma lástima: quantos degraus ainda por descer na miséria - fazia-me sentir mesmo odiado pelos deuses. Quedei-me porque em seus olhos vi-me o quanto fui de Hipponous e o que jamais teria sido de Leofontes: o peso de sucessivos malogros, uma vida toda de banalidades e incuráveis parvoíces – como se não bastasse viver com os próprios erros, nem fosse o suficiente. E o que não tinha o menor cabimento era o que vigia daí por diante. Ela entrou passeando pelos degraus escada acima, como se um rastilho do sórdido invadisse casa adentro. Aboletou-se confortavelmente como se me dissesse quase zero depois de vírgulas, pontos e quantas reticências, aspas, parêntesis e parágrafos inauditos. E me deixou a sensação de que teríamos tempo, sabia-se lá como. Olhou-me ternamente como se fosse a hora do ajuste de contas e eu tivesse que descer ao núcleo do mais profundo ventre da terra e lá ardesse até incinerar-me no reino das excrescências. Cada qual a sua própria morte: pressurosas ilusões, lisonjeiras cumplicidades, interminável pesadelo. Premiou-me com um leve sorriso, como se me dissesse que poderia ser pior e fez parar o tempo para que eu sentisse o eco das palavras ainda não ditas. Inquieto ruminava com a sua presença de bem-vinda naquele instante, porque todos os meus passos teimavam viver e sentia-me como um suspeito sob alvo de voyeurs ou de paparazzi: pego em flagrante delito - porque não é palavra vã a simples queda de um mendigo no vazio. Viu-me desolado e não me disse mais nada, ofereceu-me os lábios entreabertos e mais uma vez e outra: seus beijos eram a fonte de Pìrene para que tomasse sedento das águas fartas da poesia. E ficou em mim para que acontecesse o que já havia escrito. Até mais ver.

 

Anna Kingsford: Há homens e mulheres demais; há muito pouca Humanidade. ... Há uma carência de entendimento, de nudez de espírito. Todos nós estamos vestidos demais; nenhum homem sabe que coração bate no peito do seu vizinho... Veja mais aqui.

Ailton Krenak: É preciso ter poesia em nossa experiência de luta... Veja mais aqui e aqui.

Sidarta Ribeiro: Durante o sonho lúcido, a pessoa se torna consciente dos sonhos e é capaz de moldá-los... Se quisermos ficar por aqui, é vital entender o que são os sonhos para o bem comum e reaprender a arte de compartilhá-los com nossa família, amigos e vizinhos planetários... Veja mais aqui.

 

CORPOS COMO METÁFORAS APUNHALADAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

Está mais fácil do que pensei \ há uma ideia cristalinamente genial \ batendo a cabeça nas paredes de minha mente \ eu lhe acenderia a luz \ porém não alcanço o interruptor \ e não consigo parar \ por os pés na terra \ não vou articulá-la em palavras \ ou torna-la discurso com ou sem lógica \ porque ninguém vai mesmo escutar \ é tão duramente abstrata \ e não se pode tocar \ eu vou lhe atar uma corda no tornozelo \ e fazer com que realize \ ideias concretas fáceis transmissíveis \ envolventes como corpos \ os gestos das pessoas quando se entendem \ e se reconciliam e se abraçam \ e a pele também compreende \ e se torna tangível \ às vezes.

Poema da poeta uruguaia María Virginia Finozzi, que ainda expressa: Somos todos os testemunhos silenciosos que irrompem contra a parede dos olhos que não são interlocutores...

 

MELHOR QUE OS FILMES... - [...] Você fica melhor quando é você mesmo. [...] Às vezes ficamos tão presos à ideia do que achamos que queremos que perdemos a oportunidade de ver a maravilha que realmente poderíamos ter. [...] Eu fiz o que tinha que fazer. Tudo é justo no amor e no estacionamento. [...] O amor é paciente, o amor é gentil, o amor significa perder lentamente a cabeça. [...] A música tornou tudo melhor. [...]. Trechos extraídos da obra Better than the Movies (Simon & Schuster, 2021), da escritora estadunidense Lynn Painter.

 

O SOCIAL & A SOCIEDADE - Somente se todos os membros da sociedade puderem satisfazer as necessidades que compartilham com todos os outros – intimidade física e emocional, independência econômica e autodeterminação política – confiando na simpatia e no apoio de seus parceiros na interação, nossa sociedade se tornará social no sentido pleno do termo... Pensamento do filósofo e sociólogo alemão Axel Honneth, autor de obras tais como: Die Armut unserer Freiheit. Aufsätze 2012–2019 (Suhrkamp, 2020), entre tantas outras.

 

ÉRATO, DE MARCUS ACCIOLY

Quando se deita o amor o tempo é nulo \ e somente há espaço neste espaço \ onde só tu existes e eu me anulo \ (ah cego nó do amor) ah cego laço \ de braços e de abraços (cego pulo\ para o fundo do abismo)...

Trecho do poema extraído da obra Érato: 69 poemas eróticos e uma ode ao vinho (Cepe, 2023), do poeta Marcus Accioly (1943-2017). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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segunda-feira, setembro 02, 2024

LARISSA BOMBARDI, UDA KIYOKO, MIA SOSA & IMPRÓPRIO POÉTICO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Ressemântica (2022), da violeira, violonista, arranjadora, pesquisadora e arteducadora Laís de Assis.

 

PERDI A VEZ DO ÚLTIMO PEDIDO... - Estava à procura de um amigo para fazer meu último pedido, muito embora soubesse de antemão que não os tenho desde o tempo em que todos estavam vivos. Hoje em dia é coisa mais rara. Escrevi a carta e, como ainda não o encontrei, perambulei pelo mundo afora e voltei: onde nasci não mais existe. A casa demolida, o rio escondido e desconheço todos que moram por ali. Sinto que foi naquele lugar, sim, sigo pela rua revivendo tudo. Da minha casa ao rio bastavam passadas. Até ouço agora a voz de outrora da minha mãe desesperada, às carreiras, para me afastar da beira do rio - para ela a minha maldição. É que prestes a dar à luz, uma enchente repentina. Quase nasci afogado, não fosse a prestimosa ação da minha avó materna: nasci entre um rio e um sorriso de mulher... Todas as minhas fugidas não dava outra: era para a beira do rio. Tinha um pavor atormentado com coração de Jesus pendurado na viga da casa na sala e não entendia o fato de nascer já condenado carregando o pecado original e, por isso, deveria reverenciá-lo por salvar a mim e toda humanidade. Era a única forma de me manter vivo e em paz: cultuando a sua imagem – diziam, reiteravam. Desobedecia, claro, razão pela qual as tramas da vida pros meus desvios, o perdedor, sujeito apenas à subalternidade que tanto negara. Liberto, não mais e por aqui estou: procurando amigos e só encontrava dissimuladas que fingiam ajuda, quando não mais atrapalhavam o meu já tão tortuoso caminho e sem que pudesse jamais chegar a lugar algum, mudando de casa, fugindo do não sei o quê - hestórias que foram exaustivamente contadas. Acho mesmo que estou sonhando e não consigo sair dessa. Devo mesmo ter enlouquecido no abandono. Tanto pior, a apetência e a avareza entre devotos e ímpios, sempre tangenciando o apático e os desatentos, sem vínculos afetivos, muito menos conectividade social. Mergulhei no medo de ficar só e a rua é outra, não mais aquela. Talvez tenha morrido e nem me dera conta ainda transitando insone errante pelos lugares mais estranhos que me dão a sensação da mais íntima familiaridade. Talvez estes sejam os meus fracassos em ser livre, independente pelos labirintos das armadilhas. Resta-me apenas uma lápide sem nome nem epitáfio, completamente esquecido – e com a recomendação de que se alguém ousasse lembrar, fosse ali incontinenti rechaçado imediatamente. Quero apenas morrer em paz, porque sou ontem e amanhã agora. Até mais ver.

 


Kafka: Eu preciso da solidão para a minha escrita; não como a de um ermitão — isso não seria o suficiente — mas como a de um homem morto... Sim, o homem é de afligir de tristeza, porque em meio à subida constante das massas ele fica cada vez mais solitário, de minuto em minuto... Veja mais aqui.

Alina Paim: Não corte voltas quando não forem como você queira, nem tudo está de acordo com a nossa vontade. Às vezes a vida inteira corre à revelia de nosso desejo, e por isso não deixamos de enxergar as coisas como são em toda sua intensidade e em toda sua significação... Veja mais aqui.

Ione Skye: Qualquer coisa menos que extraordinária é uma perda de tempo... Veja mais aqui.

 

HAIKU

Imagem: Acervo ArtLAM.

Estou meio \ sonhando, meio \ na neve\ Metade do meu corpo está sonhando e metade do meu corpo está na neve\ coelho de verão \ morrendo de fome \ e sonhando\ Coelho de verão morrendo de fome e sonhando\ ainda viva \ a libélula secando \ em uma pedra\ Uma libélula seca ainda viva na pedra\ borboleta de outono \ eu poderia matá-la \ com um dedo\ Borboleta de outono \ O que pode ser morto com um único dedo \ matar é feio, \ borboleta de inverno\ Uma borboleta de inverno feia demais para matar\ caixões na neve \ empilhados como blocos de construção\ Coloque-os um em cima do outro como blocos de caixão na neve\ decepção \ pela manhã à noite \ na noite dos insetos\ Decepção pela manhã, à tarde, à noite dos insetos\ sob nuvens brancas \ com um caranguejo sombrio\ Há um caranguejo da depressão sob as nuvens brancas.\ Minha febre alta é um feijão vermelho \ roxo profundo\ A febre alta tende a ser flores de feijão roxo\ queda de neve \ nos olhos de um pássaro \ é um milagre\ Neve caindo nos olhos de um pássaro é um milagre\ minha alma \ meus seios e outono \ em meus braços.\ O outono está em meus braços, tanto na minha alma quanto nos meus seios\ campo nevado \ a onisciência do corvo \ em roxo\ Para o onisciente Murasaki do corvo do campo nevado\ uma mariposa-falcão de asas prateadas \ esvoaçando e girando \ completamente apaixonada! \ Eu me apaixonei pela mariposa celestial prateada.\ Gaguejando em \ uma árvore na colina \ corvo de verão \ Um corvo de verão gaguejando entre as árvores da colina\ antes que você perceba, \ até as mudas \ crescem orelhas, línguas\ Antes que você perceba, há muitas orelhas e línguas nas mudas.\ Como a lua de verão dos cabelos brancos do imperador \ A lua de verão está nos cabelos grisalhos do imperador \ trazendo para casa \ um crisântemo selvagem \ para cada um dos meus inimigos\ Traga de volta tantos crisântemos selvagens quantos inimigos \ Buracos do cosmos do jardim \ perfurados em suas gargantas \ Eu me pergunto se Akizakura está morrendo de emoção com um buraco na garganta. \ caindo em um poço profundo \ enquanto ainda dormia \ asas de borboleta\ A asa de uma borboleta cai em Fukai enquanto ele dorme.\ subindo em palafitas, \ esqueço \ o nome do primeiro-ministro\ O nome do primeiro-ministro esquecido ao subir em palafitas\ O lago japonês cheirava \ vivo ou morto, \ dobrando seus corpos \ O cheiro dobra seu corpo tanto na vida quanto na morte.\ por causa de seus olhos negros, \ ratos são mortos\ O rato é morto por causa de seus olhos roxos.\ enquanto espero por alguém \ eu chamo o gatinho\ Dê um nome a um gatinho enquanto espera por alguém\ açafrão– \ o filme de ontem \ matando alguém \ Açafrão e filmes matam pessoas de ontem \ suspenso no ar \ minha luva \ e um cisne\ Minhas luvas e um rato pairando no ar\ o interior do caixão \ mesmo que eu esteja morto aqui \ cheira bem\ Cheira como se eu pudesse morrer aqui no caixão.\ Me sinto tão só \ quando escrevo meu nome \ na madrugada de verão ! \ Quando escrevo meu nome, me sinto sozinho no início do verão.

Poema da premiada escritora e editora japonesa Uda Kiyoko.

 

O PIOR PADRINHO - […] Há espaço para diferentes tipos de grandeza. Mesmo que você chore fazendo isso. Caramba, especialmente se você chorar fazendo isso. [...] Mas eu quero companheirismo, a segurança de saber que alguém está me apoiando, a habilidade de confortar e ser confortado. Amizade. Férias. Talvez até filhos um dia. Alguém sólido. Previsível. Uma pessoa que não precisa de paixão e faíscas para construir um relacionamento duradouro. Não sei se algum dia encontrarei esse indivíduo — e isso me deixa extraordinariamente triste. [...] Olha, há diferentes maneiras de se chegar a um desfecho, e uma delas pode ser deixar alguém infeliz só para satisfazer sua alma mesquinha. [...]. Trechos extraídos da obra The Worst Best Man (Avon, 2020), da escritora estadunidense Mia Sosa, que na sua obra The Wedding Crasher (Avon, 2022), expressa que: […] Sabe, eu acho que quanto mais algo é importante para nós, mais sentimos que perderemos se não der certo. Então nos convencemos a não querer a coisa [...] Meu instinto não é olhar para ele e dizer "meu, meu, meu". Tudo o que consigo pensar é: "Querido, eu sou sua, sua, sua. [...] Algumas pessoas plantam raízes; outras espalham sementes e deixam que outros cuidem do crescimento. [...]. Veja mais aqui.

 

AGROTÓXICOS & COLONIALISMO QUÍMICO – [...] Estamos sendo contaminados em uma grande medida. O Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos e o maior importador mundial de agrotóxicos. Dos dez agrotóxicos mais vendidos no Brasil, três são proibidos na União Europeia (UE) porque são cancerígenos, ou porque são teratogênicos, quer dizer, provocam malformação fetal, ou porque provocam infertilidade, ou desregulação hormonal, ou mal de Parkinson [...] Trecho extraído da obra Agrotóxicos e colonialismo químico (Elefante, 2023), da geógrafa Larissa Bombardi. Veja mais aqui.

 

IMPRÓPRIO POÉTICO

Onde começa inverno de que poema se ceva? \ Enxames de chaminés... ou de galáxias? \ Quantas gotas de fôlego náufrago gasta... até que último sopro afogue? \ Pássaro de pedra no vácuo voa? \ Tudo para delírio ou trabalho dos lírios. \ Nada ao vão e a seus fundos desvãos. \ Num lapso de ética, futuro solapa. \ Num ípsilon de ótica, tudo expia ou sublima. \ Tanta pelúcia me alucina.

Ecos cônicos patéticos – monósticos quase absolutos, poema extraído da obra Impróprio poético (CriaArt, 2024), do poeta e advogado Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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MÃE DA TERRA

Arte do bibliotecário e artista visual João Paulo de Araújo, co-autor da obra Tungando a vida (CriaArt, 2024). Veja mais abaixo e também aqui.

 

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