CONFISSÃO DE CAGLIOSTRO – Escrevo esta carta, a minha confissão. Escrevo
com o coração, a quem interessar possa. Deram-me muitos nomes e denúncias, fui alvo de todos os ataques, caluniado, perseguido. Segui em silêncio. De
tudo fui tratado: charlatão de todas as imposturas, curandeiro prodigioso de
todas as enfermidades e mistificações, hipnotizador aventureiro de todas as
trapaças, falsificador trapaceiro que adorava o diabo e bruxarias,
criminoso siciliano de fortunas e infortúnios, mágico herético que blasfemava
contra Deus, scammer de não sei
quantas traições e de ficar invisível para feitos e maldades que nunca cometi. Uma coalizão de juízes em conluio com um corpo de jurados e advogados
desonestos, trapacearam em meu nome e me chantagearam por intrigas: fui implicado
no Caso do Colar de Diamantes da Rainha, razão pela qual fiquei recluso na
Bastilha e expulso, obrigado a emigrar
constantemente, carregando não sei quantos boatos de que fui um noviço expulso
da ordem católica de São João de Deus; que eu sabia o grande truque dos ciganos
e da variação do hokkani boro; que era
farmacêutico que vendia amuletos egípcios e falsas obras de arte; que praticava
o jogo do texugo, que encenava shows de mágica e sessões de truques com
escritos espirituais; que eu detinha a pedra filosofal que transformava tudo em
ouro e o elixir da juventude, até que eu testemunhei a crucificação de Jesus,
santo Deus! Que era um falsário e vigarista forjador de cartas, diplomas e
documentos oficiais; que fui preso muitas vezes e que escapei da prisão
estrangulando o padre que me confessava e fugi com suas vestes, até que, enfim,
fui capturado pela Inquisição, prisioneiro
torturado: queriam que confessasse crimes que nunca cometi. Fui
obrigado a abjurar meus erros e vestir roupas de penitentes diante da igreja,
não fui perdoado. Fui acusado de herege, mago e pedreiro livre, condenado à
morte. A sentença papal: a morte na fogueira. Minha obra e posses foram queimadas
na Piazza della Minerva, diante da multidão eufórica. Preferiram, depois,
comutar minha pena para prisão perpétua, encerrado no castelo de San Leo. Durante
tudo isso, tive ao meu lado, apenas, a inocência dúbia de
Lorenza, aquela a quem amei e foi corrompida pela policia papal e pela família
para depor contra mim. Ah, minha pequena Lorenza, nossa união
conturbada, cheia de cumplicidade. Diziam-me dela aparente ingenuidade quando
dissimulação, a sua capacidade de sedução, tratada como uma alma perturbada que
até hoje perambula na escuridão sem que ninguém saiba o túmulo. Ah, Lorenza,
agora só no meu coração. Também deram-me por
desaparecido misteriosamente de uma cela inacessível na prisão do Vaticano,
enquanto inspirado pelo poder da Chama Violeta, cumpro a minha Obra, porque o
Templo está em toda parte. Retiro-me em meditação e adquiro o conhecimento no
meu coração e mente: quem conhece a morte possui a arte de dominá-la. O meu
trabalho sempre foi e será para toda humanidade, indistintamente, a minha
recompensa é o prazer de ser útil e cultuar a Luz e a esfera do infinito.
Sofrerei ao pé da tartaruga e a serpente morderá a sua própria cauda. Não tenho nome porque sou livre; meu país é onde eu estiver. Ninguém
sabe como nem quando nasci, muito menos se morri ou não. Não sou de lugar
nenhum, nem pertenço a este ou qualquer tempo. Não nasci da vontade humana,
todos os povos são meus em mim, todos os países. Quando a
rosa florescer na cruz, então, eu serei, com tudo e todos, a paz perpétua entre os povos e meu ser viverá a existência eterna. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] em qualquer
trabalho físico
[...] existe um mínimo de qualificação
técnica, isto é, um mínimo de atividade intelectual criadora. [...] todos os homens são intelectuais, mas nem
todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais (assim, o fato de que
alguém possa, em determinado momento, fritar dois ovos ou costurar um rasgão no
paletó não significa que todos sejam cozinheiros ou alfaiates). Formam-se
assim, historicamente, categorias especializadas para o exercício da função
intelectual; formam-se em conexão com todos os grupos sociais, mas sobretudo em
conexão com os grupos sociais mais importantes, e sofrem elaborações mais
amplas e complexas em ligação com o grupo social dominante. [...] Uma
filosofia da práxis só pode apresentar-se, inicialmente, em atitude polêmica e
crítica, como superação da maneira de pensar precedente e do pensamento
concreto existente (ou mundo cultural existente). E, portanto, antes de tudo,
como crítica do “senso comum” (e isto após basear-se sobre o senso comum para
demonstrar que “todos” são filósofos e que não se trata de introduzir ex novo
uma ciência na vida individual de “todos”, mas de inovar e tornar “crítica” uma
atividade já existente); e, posteriormente, como crítica da filosofia dos
intelectuais, que deu origem à história da filosofia e que, enquanto individual
(e, de fato, ela se desenvolve essencialmente na atividade de indivíduos
singulares particularmente dotados), pode ser considerada como “culminâncias”
de progresso do senso comum, pelo menos do senso comum dos estratos mais cultos
da sociedade e, através desses, também do senso comum popular [...] conduzi-los a uma concepção de vida superior.
[...]. Trechos extraídos da obra Escritos políticos
(Civilização Brasileira, 2004), do filósofo e cientista
político italiano, Antonio Gramsci (1891-1937). Veja mais aqui, aqui
& aqui.
CAGLIOSTRO – O ocultista,
alquimista, místico e maçon italiano Alessando, Conde Cagliostro
(1743-1795), durante sua vida, apaixonou-se por uma jovem romana de olhos
azuis, cabelos dourados, feições delicadas, corpo delgado e esguio, Lorenza
Seraphina Feliciani (1751-1810), com quem se casou e teve uma vida
atribulada. Embora ela fosse a dona do seu amor e devoção pelo resto de suas
vidas, ela nunca foi capaz de totalmente romper com a Igreja e seria usada como
“a ferramenta dos Jesuítas”. Sobre sua vida e trajetória, encontrei
publicações, tais como: Alessandro
Cagliostro (AMORC, 1996), dois volumes de Ana Rimoli de Faria Dória;
Memórias de um médico: Joseph Balsamo (Fitipaldi, 1959), de Alexandre Dumas; Cagliostro:
o grande mestre do oculto
(Madras, 2005), do estudioso Marc Haven; Cagliostro
(Shearsman, 1931), do poeta chileno Vicente Huidobro; Cagliostro ou le
dernier des alchemistes (The Last Alchemist, Count Cagliostro - Master
of Magic in the Age of Reason), do historiador australiano Iain
McCalman; Il romanzo di Cagliostro (Rubbettino, 2012), de Giuseppe Quatriglio; Count
Cagliostro: In Two Flights (1833), do historiador e filósofo escocês Thomas
Carlyle; Cagliostro - O Mestre Desconhecido (Nova Acrópole, 2016), de
Marc Haven, O Grande Cagliostro (1905), de Carlos Malheiro Dias. Veja
mais aqui & aqui.
CEUCI
Certo dia, Ceuci descansava à sombra da árvore do bem e do mal, cujo
consumo de seus frutos era proibido às moças no dia que estivessem em período
fértil. Ao avistar seus frutos grandes e maduros, não se conteve e apanhou um
deles para comer. Ao morder o caldo do fruto escorreu pelo seu corpo nu e
alcançou o meio de suas coxas. Meses após, revelou-se uma gravidez que encheu
de indignação toda a comunidade de sua aldeia. O Conselho de anciões, achou por
bem, puni-la com o exílio. Longe de sua aldeia, Ceuci deu a luz á seu filho
Jurupari, "o filho do sol". Jurupari foi enviado a terra pelo próprio
Sol para que pudesse reformar os costumes da terra e também encontrar a mulher
perfeita para que ele pudesse se casar. Com apenas sete dias de vida, Jurupari
já aparentava ter 10 anos, e sua sabedoria atraiu a atenção de todos, que
passaram a ouvir suas palavras e ensinamentos de novos costumes, que colocavam
um fim na sociedade matriarcal e instituíam o patriarcado. Jurupari instituiu
grandes festas cerimoniais, as quais somente os homens podiam tomar parte, e
onde ele aproveitava para passar seus ensinamentos. Isso acabou afastando-o de
sua mãe. Inconformada com essas novas leis e também com saudades de seu filho,
Ceuci resolveu uma noite ir espiar o cerimonial dos homens, uma infração que
era punida com pena de morte. Furtivamente, ela entrou no território onde os
homens estavam reunidos, mas antes do término do cerimonial, Ceuci foi
fulminada por um raio enviado por Tupã (outras versões afirmam que o proprio
Jurupari conjurou o raio, sem reconhecer que era sua própria mãe). Jurupari foi
imediatamente chamado para ressuscitar Ceuci, mas nada fez, posi não podia
abrir precedentes em suas leis. Jurupari então diz: "Morreste mãe, porque
desobedeceste à lei de Tupã. É a lei que eu vivo a ensinar. Não vou te
ressuscitar, mas te recomendo: Sobe, bela, raidante e pura para um mundo
melhor. Cumpriste a verdadeira missão de mãe, que é cheia de amor, renúncia,
desenganos e sofrimento. Meu pai vai recebê-la de braços abertos lá no
céu". O corpo da deusa, então, cheio de luminosidade, começou a subir. Ele
atravessou o espaço e transformou-se na estrela mais resplandecente da
constelação das Plêiades. Ela permanece lá até hoje, para lembrar aos selvagens
o respeito às leis de Jurupari, o Filho do Sol.
CEUCI – Ceuci é uma deusa virginal tupi-guarani, protetora
das lavrouras e das moradias, filha do deus Tupã e mãe de Jurupari, sendo uma
virgem e sem nenhum consorte, sua gravidez se deu de forma miraculosa, conforme
extraído do Vocabulário
português-nheengatu, nheengatu-português (Ateliê, 2014), do folclorista,
explorador, fotógrafo e etnógrafo ítalo-brasileiro Ermanno Stradelli
(1852-1926), que tendo vivido e trabalhado na região amazônica, onde morreu,
sendo fluente na língua geral, recolheu um vocabulário vivencial da língua
nheengatu como língua dinâmica, o que explica sua vitalidade até os dias de
hoje em várias regiões do Brasil, como o Alto Rio Negro, onde é língua oficial.
Veja mais aqui.
A ARTE DE HELOÍSA MILLET
Sou pequena, baixa, e quando fiz aquela abertura, virei um mulherão de
dois metros de altura. Então, acabaram-se os meus complexos.
HELOÍSA MILLET - A arte da bailarina
clássica e atriz Heloísa Millet (1948-2013), que estreou em 1974 no teatro
musical Pippin, descoberta por Ziembinski, e participou, em 1976, do corpo de
dança da abertura do programa Fantástico, da Rede Globo. Atuou em novela e
humorísticos da televisão, bem como no cinema, como As tranças de Maria (2003)
e O rei e os Trapalhões (1979). No teatro, atuou nas peças A Chorus Line (1983)
e Pippin (1973). Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A arte do
artista plástico, professor, poeta, escultor, gravurista e ceramista
pernambucano Abelardo da Hora (1924-2014)
aqui e aqui.
Cinema Pernambucano: Eles voltam,
do diretor Marcelo Lordello aqui.
O teatro pernambucano aqui.
Memórias de um senhor de engenho, do jornalista Julio Belo (1873-1951) aqui.
A música
de Nado Rodrigues aqui.
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