quinta-feira, abril 30, 2020

HELEN LEVITT, AIREN WORMHOUDT, BARBARA HELIODORA, IZABEL LIVISKI & LEIDSON FERRAZ


PRECISO FICAR ZEN DIANTE DE TANTO PIPOCO, GENTE! - UMA: E DAÍ, QUAL QUE É, HEM? – Só escuto notícia do povo enchendo a rua de pernas, fofocas e pacutias, mangação de pirangueiros e intrusos, afora muito blábláblá. Ô povo converseiro! Ouvi dizer que ninguém aguenta mais devotar diante das imagens dos padroeiros, nem só conversar com as paredes, rádio e tevês ligadas, motores roncando e nenhum pé de gente por perto para peiticar ou se estranhar, como de costume. Isso é sinal de vida, o silêncio é um túmulo enlouquecedor. Com isso o termômetro da mortandade sobe todo dia e o Coisonário quer a todos feito um formigueiro no consumo, assim morre logo tudo duma vez por todas, porque a coisa está feia! A cara-de-pau de santarrão cospe o desdém: E daí? Digo eu: Deus te guie, zelação! Comigo os meus sentimentos são pelas palavras de Matilde Camus: A todos os meus compatriotas, do presente e do futuro com a felicidade de ter nascido nesta bela terra que é apaixonadamente amada... À vida que faz parte do tempo e a todos os meus, aqueles que a formam e aqueles que formaram o tempo da minha vida. É assim, sujeito paisano feito eu, asa quebrada, nordestino da gema embaixo de insolação, fadiga e mormaço meridional da entressafra canavieira falida, só minha afeição e ternura solidária por todos que sofrem enfermos e os que temem pelo pior neste meu imenso Brasilzão! Vamos sempre juntos! DOIS: EU CÁ COM MEUS BOTÕES - Na clausura, faço o que posso: converso com o papel em branco, livro aberto, revistas escancaradas, arquivos no computador, violão mudo, cadernos, resmas, canetas e guardanapos. Pura doidice! Tento até ressuscitar os amigos invisíveis da infância que esqueci e na maior interlocução com a tuia de personagem que inventei para as minhas lorotas. Bote aluamento no pedaço. Na verdade estou naquela do Carlos Scliar: Antes de mais nada, eu queria deixar bem claro que estou biruta. A-há! Desde nascença que não bato bem da bola, gente! E como bom estúpido amalucado, valho-me de Aristóteles: Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura. Háháháhá! É demais para mim, menos. Sou mais iconoclasta, parelha com a genial Marguerite Yourcenar: Creio que quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino. Rir da própria desgraça também faz um bem danado, visse? TRÊS: NUNCA CURTIRAM JAZZ, MAS IMPROVISAM NA GAMBIARRA – Do noticiário só sobra uma constatação: estão batendo cabeça e não sabem o que fazer porque não entendem patavina do riscado! De mesmo, só sobra bulhufas! Se o país vai pela contramão de tudo, é que o piloto dirige pessimamente na sua grossura com a patetada zonza, ao que parece, só para ver a gente com o coração na mão ou bater as botas de vez num colapso! Puft! Ainda bem que existe esperança, jazz e Ernesto Sábato: A esperança não será a prova de um sentido oculto da existência, uma coisa que merece que se lute por ela? Aí ele conversa comigo em tom de maior intimidade: Minha cabeça é um labirinto escuro. Às vezes, há relâmpagos que iluminam alguns corredores. Eu nunca termino de saber por que faço certas coisas. Viver consiste em construir memórias futuras. Num estou dizendo, ora, pensei que era só eu com esse endoidecimento labiríntico de perder a razão por excesso de emoção. Ainda bem que o Miles Davis me absolve: Ninguém é obrigado a ter colhido algodão para tocar jazz. Só escuto, tocar não sei: o hábito não faz o Miles. Vou escapulir por ali para ver se pego ainda a lindeza do nascer do Sol, visse? Até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Não me vingo, aproveito a deixa. Não sofro, improviso. Não fico solteira, entro em temporada. Não vivo, ensaio. Não morro, fecho a cortina. Pensamento da ensaísta, tradutora e crítica de teatro Barbara Heliodora (1923-2015), que escreveu críticas nos mais importantes veículos de comunicação, dirigiu o Serviço Nacional de Teatro (SNT), foi professora de História do Teatro no Conservatório Nacional de Teatro e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela inspirou a comédia Barbara não lhe adora (1999), de Henrique Tavares. Em uma entrevista, ela assinalou: [...] É porque eles não sabem o que eu penso. Na maioria das vezes é exatamente o que eu penso, mas muitas coisas eu procuro dizer sem chegar ao delírio, porque a minha vontade era dizer assim: “Mas isso é uma estupidez, uma coisa horrorosa.” Algumas coisas me irritam, aí eu paro e só escrevo no dia seguinte. Não escrevo com raiva. Talvez eu faça um pouco menos de cerimônia. Se uma pessoa faz uma coisa que está toda errada e você, para ser bonzinho, diz que é ótimo, ela vai piorar cada vez mais. O ideal seria se todos tivessem um amigo que dissesse: “Isso está um horror, não está pronto, está uma porcaria.” Há muita autoindulgência. É preciso que se diga a verdade, mas a minha verdade não é de papa. [...]. Veja mais aqui.

A ARTE TEATRAL DE AIREN WORMHOUDT
Vivermos encarcerados nos nossos apartamentos e casas e entre grades criadas pelos nossos próprios medos, parece ser condição "natural" da contemporaneidade, sobretudo nas grandes metrópoles [...] questionadas sobre o fenômeno da violência, as pessoas recorreram aos estereótipos enquanto estratégia heurística. Assim é que, enquanto avaros mentais, dentre as informações pedidas pelo instrumento, os indivíduos informaram os sinais considerados relevantes para ambos os perfis (agressor e vítima). De fato, o "Monstro Cognitivo" tornou-se uma opção para um julgamento social, de sorte a justificar as relações intergrupais. Ou seja, para defender a identidade positiva do seu grupo (vítimas), as pessoas construíram uma imagem mais positiva desse mesmo grupo em contraposição ao grupo dos agressores. Portanto, a análise dos resultados indicou algumas questões: • A opção pelo sexo feminino enquanto vítima estaria pautada nas crenças de que as mulheres são mais frágeis e, portanto, mais vulneráveis a esses tipos de delito? • A exposição à violência levaria as pessoas a acreditarem que eventos violentos podem acontecer em qualquer horário? • O que estaria influenciando as pessoas quando estas optam pelo Sequestro e pelo Furto como crimes mais frequentes? [...].
AIREN WORMHOUDT - Trechos do artigo Violência urbana: estereótipo do agressor e da vítima (Psicólogo Informação, 2006), da atriz, psicóloga, dramaturga, roteirista, mímica, arte terapeuta e pós-graduando em dramaturgia, Airen Wormhoudt, fundadora Cia. Ellas En(Cena), criou o projeto MimeWeb e é autora de peças teatrais e dos livros Cena Hum Dramaturgia (Inverso, 2014) e coautora na obra Diz(Amor) com Zédú Neves. Ela realiza workshops e consultorias artísticas para coletivos de artes, bem como, escreve roteiros para audiovisual, desenvolve pesquisas unindo a mímica e a dramaturgia como instrumento na formação de plateias e democratização artística. Veja mais aqui.

A FOTOGRAFIA DE HELEN LEVITT
Apenas o que você vê. Se fosse fácil falar sobre isso, eu seria um escritor. Como sou inarticulada, me expresso com imagens.
HELEN LEVITT - A arte da fotógrafa estadunidense Helen Levitt (1913-2009), a mais célebre e menos conhecida de seu tempo.
&
A ARTE DE IZABEL LIVISKI
A arte da fotógrafa, fotojornalista, professorae socióloga Izabel Liviski, editora da coluna InContros e coeditora da Revista ContemporArtes, articulista que, atualmente, pesquisa questões ligadas a temas sociais, como presídios, comunidades socialmente vulneráveis, direitos humanos e inclusão visual. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Pernambuco tem uma história forte no teatro nacional e não se colocou de maneira subserviente às demandas estéticas e temáticas que vinham de fora. Foi, antes de tudo, um processo de trocas, de disputas, e fazemos parte do momento de consolidação da Modernidade nos palcos nacionais.
A arte do jornalista e pesquisador da história do teatro pernambucano, Leidson Ferraz, autor das obras O Teatro no Recife dos Anos 50 – Tentativas de Reafirmação da Modernidade, O teatro para crianças no Recife: 60 anos de história no século XX e Um teatro quase esquecido: painel das décadas de 193 e 1940.
A música de Quinteto Violado aqui, aqui & aqui.
A poesia de Janice Japiassu aqui.
Sindicalismo X repressão – a história de Zé Eduardo, o líder do maior sindicato de camponeses do Brasil, de Paulo Profeta aqui.
Festival de Arte do Engenho Paul aqui & aqui.
A beleza de Dudinha – Eduarda Garcia Viana Menezes aqui.
&
Cordel na Escola aqui.


quarta-feira, abril 29, 2020

ALEJANDRA PIZARNIK, MARIETTA BLAU, MARIKA GIDALI, ADRIANA CARNEIRO & NEM CARNE, NEM PEIXE


NO REINO DAS INTERJEIÇÕES & ONOMATOPÉIAS – UM OH – Nesse caso, não é uma interjeição! Oh! Que será? Somente um asteroide raçudo que está passando numa baguela pelas proximidades da Terra. Ooooooh! É; a Nasa diz que é besteira, o 1998 OR2, apelidado de OH, tem cerca de 4Km de diâmetro, passará longe, perto duns 6 milhões e lá vai tampão de lonjura e numa velocidade arretada duns 30 mil por hora, quer dizer, foderoso mesmo! (E ainda chamam isso de sobrevoo, quando se trata de um objeto potencialmente perigoso pela sua grandeza!). Ooooooh! É verdade. E passará aqui perto lá pelas 19hs de Brasília (que pelo jeito, pode ser qualquer hora, basta o Coisonário querer, né?). Não é o maior, acalme-se. Porém, se aproxima de outro já conhecido, o 3122 Florence, que tirou um fino por aqui um dia desses lá de 2017. Oooooh! Dizem mais: se ele tiver de abalroar com a Terra, só acontecerá em 2079. Ah, tá. Entretanto, frisam que o tal é uma lapada razoavelmente grande e está razoavelmente perto. Vixe! Ou seja, sejamos razoáveis: tem mais outros 22 deles e que são maiores e estão mais próximos da Terra. Hem? É, isso segundo o Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra (CNEOS). PQP, meu! Nada, a chance de colisão, para eles, é zero. Ufa! Mas, vem cá: pra quem vive no Brasil em que tudo é manipulado e a gente não sabe de nada de tão subnotificado que a coisa ficou, melhor nem pensar, né? Contudo, e pensando bem, o que é que a gente pode mesmo fazer, hem? Isso dá a noção do tamanho da nossa insignificância perante o Universo e outras coisitas miudinhas mais, né não? Não bastaria só a Covid-19 fodendo meio mundo de gente por aí; ainda por cima, tem a ameaça da SARS-CoV-2 na concorrência, seria o cúmulo da ficção catastrófica (isso pra gente, ser humano, sacou?). Isso, pelo menos, dá para considerar que a gente não é tão desgraçado assim, mesmo porque já temos flagelos demais, como a de ser submisso a outro energúmeno no comando e sua equipe apatetada que mais dá com murros n’água do que qualquer outra coisa e sempre em favor só dos deles, toda população ao deus dará e o que mais for (por exemplo, isenta agropecuaristas de pagamento das multas do Ibama; porém, para renegociar a dívida dos estados da Federação, os pleiteantes têm que congelar o salário dos servidores por pelo menos perto de dois anos). Cada uma. Se isso não seria exploração escravocrata eu não sei mais o que diga. Vou de Alejandra Pizarnik: A verdade: trabalhar para viver é mais idiota do que viver. Eu me pergunto quem inventou a expressão ‘ganhar a vida’ como sinônimo de trabalhar. Me pergunto: onde está esse idiota. O que tem a ver uma coisa com outra? Ora, vá trabalhar por dois anos com a mesma merreca de salário que se ganha no serviço público estadual brasileiro e que não chega nunca ao final do mês e diga se não é uma forma de vampiricamente puxar o restinho de sangue que o sujeito possa ter, ora! Se bem que no Brasil já viu, né? É tudo para sucatear o serviço público e entregá-lo para o mercado encher a pança, aí sim é que são outros quinhentos, né? Basta de fatídicos, oxe! AH, DUAS - Sei não, não sei mesmo. Tenho a impressão de que o pior está por vir (lá vou eu de novo retomando o papo, puxa!). Revendo um século atrás sobre a Gripe Espanhola (aquela mesma que nasceu nos USA e foi cunhada diante da neutralidade que havia acometido o rei Afonso XIII e, por tabela, o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves), e a censura vigente durante a Primeira Guerra Mundial que minimizava a mortalidade na Alemanha, Reino Unido, França e os USA, o filme parece o mesmo, como um vaticínio da Peste de Camus. E num é que é mesmo? Sei mesmo não, Kaváfis dá o tom: Do que está por vir, o sábio percebe que as coisas estão para acontecer. Ah, tá. Mas como não tenho habilitação para sábio e como procuro ser sempre um estúpido a menos nessa zona toda, valho-me sempre da intuição, sempre procurando algo a favor, tentando me salvar do que diz George Orwell: Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros. Isso eu sei, por isso ele arremata ameaçante: O Grande Irmão está de olho em você! Vôte! A minha orelha já vive na frente da pulga há muito tempo, meu! TRÊS: PLOFT! - Ah, mas ao invés de ficar digerindo miolo de pote, melhor seria mesmo eu arranjar uma lavagem de roupa que fosse para ocupação de verdade, que esse negócio de ficar redigindo leseiras e compondo musiquinhas chunfrins não dão para sustento jeito nenhum! Preciso sair desse liseu todo, ora! Não dá mais só assar e comer, se bem que acostumado com aquela de fim de mês na penúria e catando moedas nas algibeiras para ver o que dá como dicomer. Os bolsos vazios e a angústia correndo no peito não encara bem Voltaire: O trabalho nos livra de três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza. Isso porque eu trabalho que só e nunca me livrei de nenhum desses grandes males que ele fala. Talvez Luís Fernando Veríssimo esteja certo: Só consigo trabalhar tanto porque não sou organizado. Teibei! Acho que é isso, aliás, deve ser isso mesmo: um inútil desqualificado que não faz nada que preste, só sendo! Tá. Vou ali ver qual cometa de plantão está passando na área para dar uma voltinha e até amanhã. Fui! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Estou tomando a liberdade de chamar sua atenção para um caso próximo ao meu coração. Há três anos, minha colega, a médica Dra. Marietta Blau, mora na Cidade do México... Conheço a senhorita Blau como uma física experimental muito capaz que poderia prestar um serviço valioso ao seu país. Ela é uma investigadora experimental no campo da radioatividade e dos raios cósmicos. [...]. Trecho de escrito do físico teórico alemão Albert Einstein (1879-1955), para o Ministério da Educação do México, em 1941, a respeito das atividades da física austríaca Marietta Blau (1894-1970), a quem foi creditada a invenção da emulsão nuclear (emulsão fotográfica destinada à fixação e observação da trajetória individual das partículas ionizantes e os eventos decorrentes destas atividades). Foi ela quem estabeleceu um método acurado de estudo das reações causadas por raios cósmicos e a primeira a usar emulsões nucleares para detectar nêutrons - observando prótons de recuo. Além disso, ela trabalhou por diversos anos sem vencimentos, contando ora com o suporte da família para viver, ora remuneração vinda da Associação Austríaca de Mulheres Universitárias. Por ser de família judaica, Marietta precisou sair da Áustria em 1938, o que causou um grande hiato em sua carreira científica. Foi por meio de uma intervenção de Einstein que ela conseguiu um cargo de docente no Instituto Politécnico na Cidade do México. Seus artigos científicos mais importantes foram confiscados por oficiais alemães nessa época, afora as condições de pesquisa no México muito difíceis. Daí, ela mudou-se para os Estados Unidos, em 1944 e lá trabalhou na indústria até 1948. Em seguida, trabalhou para diversas universidades, retornando à Áustria para trabalhar com pesquisa, mais uma vez, sem ser remunerada por isso. Por essa razão, morreu na miséria e vítima de câncer em 1970, devido o manejo sem proteção de substâncias radiativas, bem como o hábito de fumar durante muitos anos. Ela é o caso do que se pode chamar de Efeito Matilda, preconceito frequente contra reconhecer as contribuições de mulheres cientistas em pesquisas, cujo trabalho é frequentemente atribuído aos seus colegas homens. Sua vida é destacada na publicação Marietta Blau: Stars of Disintegration (Ariadne, 2006), de Brigitte Strhmaier, descrevendo o quanto ela foi considerada extraordinariamente talentosa por Albert Einstein e foi nomeada três vezes para o Prêmio Nobel de Física, duas vezes por Erwin Schrodinger. Por outro lado, nenhum obituário foi publicado a respeito de sua morte. Veja mais aqui.

NEM CARNE, NEM PEIXE
Não sou carne, nem sou peixe. / Ainda que nascido do peixe, ou carne. / Não sinto o mal que me faz a gente, / Porem os que de mim nascem, / O bem, e o mal como a gente sentem.
RAFAEL BLUTEAU - Esses versos constam do início de uma velha adivinhação que versa sobre o ovo, que trata sobre as pessoas amorfas, despersonalizadas, que não têm opinião, recolhida da Prosa Simbólica - Prosas portuguezas recitadas em differentes congressos academicos (Officina Joseph Antonio da Sylva, 1727-8), do religioso teatino e lexicógrafo francês Rafael Bluteau (1638-1734), autor de 8 tomos do monumental Vocabulário Português e Latino (1712-1721) e dos tomos do Suplemento (1727-1728). Recolhi dele na dissertação de doutoramento à Universidade do Porto, Hum fio de voz, naõ quebra silencio: Retórica e pedagogia do silêncio em Rafael Bluteau (2013), de Ana Isabel Araújo Marques Rafael, o poema Silêncio: Sou mais antigo que o Mundo, / E antes que Deos falasse, eu sou. / Desde a eternidade, o nada foy meu irmaõ. / Ainda hoje no Mundo reyno, / E o meu reynado he de noite. / Sou o que na agonia / Ao ultimo arranco se segue; / Sou o Benjamim de S. Bruno, / Sem pronunciar palavra, / Nas suas casas impero. / Sou a causa de naõ ser / Tudo o que se pódera dizer. / Naõ chego aos ouvidos, / Os olhos me naõ enxergaõ; / Nas praticas naõ deixo de servir, / Por mi logo se conhece / O que vay do discreto ao tolo. / Naõ persuado, nem dissuado; / Senaõ dou bons conselhos, / Nunca dey conselhos maos. / Sou a alma do segredo. / E sem recorrer a Galeno. / Para dores de cabeça sou bom. / Tomara dizer claramente / O que na realidade sou, / Mas sem deixar de ser o que sou, / Naõ he possivel que o diga. Veja mais aqui.

MARIKA GIDALI & O DIA INTERNACIONAL DA DANÇA
Não podemos esquecer que não somos nós que escolhemos a dança, é ela que nos escolhe.
MARIKA GIDALI – A arte da bailarina húngara radicada no Brasil, Marika Gidali, no Dia Internacional da Dança, instituído pelo Comitê Internacional da Dança (CID-UNESCO), no ano de 1982, em homenagem ao mestre francês Jean-Georges Noverre (1727-1810), que ultrapassou os princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo para enfrentar problemas relativos à execução da obra. Da mesma forma o papel da bailarina na nova maneira de se fazer e apreciar dança no Brasil, fundando com Décio Otero, uma das mais importantes companhias do país, o Ballet Stagium, em 1971, em São Paulo. Veja mais dela aqui e aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
O corpo a corpo, o corpo sistema, o sistema que agrega corpos e que se move em uma constante leva, às vezes circular, às vezes linear e, assim, cria a dança do indivíduo. Aquele que cria o seu próprio Umwelt, aceitando seu corpo como parte integrante de um sistema e que não existiria se não fosse a presença dos homens, dos corpos e das coisas.
A arte da bailarina Adriana Carneiro, que é formada em dança contemporânea na Áustria e encenou o premiado solo de dança Mundo ao Redor (2012), intperprete-criadora associada à teoria de Umwelt, do biólogo e filósofo estoniano Jacob Von Uexkül, que indica que a mente é quem interpreta o mundo e cria o seu ambiente.
O coronel de macambira: bumba-meu-boi em dois quadros, do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978) aqui.
A música de Naná Vasconcelos (1944-2016) aqui e aqui.
A guerra dos cabanos, do advogado, geógrafo e historiador Manuel Correia de Andrade (1922-2007) aqui.
A poesia de Manoel Bentevi aqui.
Justiça X Injustiça aqui.
O Recife aqui, aqui & aqui
&
Vale do Una, Valuna & Unadia aqui, aqui & aqui.


terça-feira, abril 28, 2020

HARPER LEE, NICOLE GARCIA, MARIANNE PERETTI & WANDA STANG


O TERMÔMETRO DA DESGRAÇA SUBINDO E A GENTE SÓ DE MUTUCA – DE PRIMEIRA: Ih, algo deu errado (Grande novidade no Brasil de hoje, hem). Mas, aí é só sacar a tuia de palavra, palavrinha e palavrão e pronto! Resolvido. Não? Ora, qualquer que seja o aperto, o sopapo ou topada, derrapagem na maionese ou ingresiento trinca-colhão, bug ou desconfiguração geral, camisa de força que seja, não dá outra, meu. Nessa hora a Eneida de Moraes dá o exemplo e solta o verbo: Eu só sei quatro palavrões, e quando vem a dor eu emprego esses quatro palavrões o dia todo. Já pedi aos meus amigos para me ensinarem outros, mas eles não me ensinam, então eu uso os quatro. Ninguém vai me dizer que o palavrão não alivia, porque alivia sim. Ora, ora. Qualquer um pode se valer do Grito de Munch ou os Uivos de Ginsberg, do esparro na cena de Plinio ou a sacanagem de Lucinda, Shout de Tears for Fears ou o Fuck you da Lily Allen, um soneto de Mattoso ou Comer o coração de Mantero, os grafites de Bansky ou os murais de Kate DeCiccio, seja o que for, dá tudo no mesmo! Quer melhor ajuda que a do D.H. Lawrence: Para o puritano tudo é impuro. Principalmente nesses tempos em que a mentira é repetida e motorizada massivamente só para acobertar a hipocrisia. Como não faço distinções, digo logo: quando não dá mais para segurar o insuportável, não adianta maquear nem dar um banho de loja. Simplesmente, desça do tamanco e aperte o pitoco, nada mais aliviante que um foda-se bem dado. Ufa! Estava mais do que na hora! DE SEGUNDA, SÓ QUE HOJE JÁ É TERÇA – Ah, claro, tem quem viva às mil maravilhas, oxe! Conheço gente do bem (e muitas, por sinal) que está sempre com um riso largo acima de qualquer circunstância, encaram tudo com naturalidade, compreensivas, amáveis, afetuosas. Tive a sorte de ter por parte da minha mãe, gente dessa natureza. Esses familiares me deram a compreensão do olhar para sacar a do Yves Klein: O mundo é azul. E o melhor dele foi poetizar: O espaço está esperando nosso amor, como eu estou desejando por você; vá comigo, viajando pelo espaço... Vou nessa sempre, vamos? DE TERCEIRA PORQUE TERIA MAIS, MAS JÁ ESTÁ BOM DEMAIS - É com o tempo que a gente aprende a agir do melhor modo e maneira. Pode não ser de primeira, mas da segunda em diante, tirante o que ronda de fortuito, leva-se na maior. Experiência calejada prevê um bocado de coisa. Já dizia Ralph Waldo Emerson: Os anos ensinam muitas coisas que os dias desconhecem. Mas, em cima da bucha, ele adverte: O bom senso é tão raro quanto o gênio. Aí, sim. Isso porque têm uns poucos que se banham com a sabedoria, outros não possuem a mesma sorte: quanto mais envelhecem, mais ranzinzas e retrógrados. Eu mesmo pensava que depois de 1988, o Brasil havia evoluído. Ledo engano, menos de 20 anos depois isso foi por terra e jogou na cara o que dizia Maquiavel: Um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la. Sou forçado, mesmo que a contragosto, a ter que considerar isso nesse tempo de estupidez coisonária. Vamos aprumar a conversa, gente! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela. [...] – Se não era, deve ter ficado. Nunca sabemos como realmente vivem as pessoas. O que acontece por trás das portas fechadas, os segredos. [...] mas às vezes temos que encarar as coisas da melhor maneira possível e saber como nos comportar quando as coisas vão mal… [...] Queria que você a conhecesse um pouco, soubesse o que é a verdadeira coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão. Coragem é fazer uma coisa mesmo estando derrotado antes de começar [...] E mesmo assim ir até o fim, apesar de tudo. Você raramente vai vencer, mas às vezes vai conseguir. [...] a gente pode escolher os amigos, mas não nossa família, que nossos parentes continuam sendo parentes, quer a gente queira reconhecê-los quer não. E que não aceitar isso nos faz parecer todos. [...] Se só existe um tipo de gente, por que as pessoas não se entendem? Se são todos iguais, por que se esforçam para desprezar uns aos outros? [...]. Trechos extraídos da obra O sol é para todos (José Olympio, 2006), da premiada escritora estadunidense Harper Lee (1926-2016), reunindo as memórias familiares e que, transformado para o cinema, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962.

O CINEMA DE NICOLE GARCIA
Não sou romântica, gosto é do romanesco, não é a mesma coisa. É que o romanesco pode ser áspero, violento e duro.
NICOLE GARCIA – A arte da cineasta, atriz, roteirista e diretora francesa Nicole Garcia, diretora de filmes como Mal de Pierres (2016) Un Beau Dimanche (2013), Selon Charlie (2006), L’Adversaire (2002), Place Vendôme (1998), Le Fils préféré (1994), Um week-end sur deux (1990) e 15 août (1986), entre outros em que atuou como atriz ou roteirista. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE WANDA STANG
Sonhos e desejos caracterizar o humano. Todo mundo tem uma força motriz dentro. É preciso reconhecer e entender que é capaz de seguir seu próprio caminho.
WANDA STANG - A arte da artista visual e escultora alemã Wanda Stang, cuja obra reflete suas ideias, seja no desenho, seja na escultura ou na pintura, experimentando uma diversidade de sensações, explorações e invenção, ao abordar questões de observação, distância, compartilhamento e as fronteiras entre as esferas pública e privada. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Minha mãe pensava que eu ia todo dia ao liceu, mas, na verdade, eu ia desenhar num lugar chamado La Grande-Chaumière. Ficava o dia inteiro lá. Depois de um momento, naturalmente, ela percebeu e achou que eu fosse repetir o ano… Uns amigos diziam, ‘deixa ela desenhar, fazer como ela quer’. Eles me salvaram.
A arte da artista Marianne Peretti, a mais importante vitralista do Brasil e a única mulher a integrar a equipe de artistas da construção de Brasília.
A literatura de Raimundo Carrero aqui & aqui.
A música de Luiz Bandeira aqui.
A poesia de Telma Brilhante aqui.
Quadrinhos: a nona arte aqui.
Os índios caetés aqui, aqui & aqui.
Das quedas, perdas e danos aqui.


segunda-feira, abril 27, 2020

BAUMAN, KRISTEVA, BISHOP, ETHEL SMYTH, KÄTHE KOLLWITZ, CORETTA KING, MÔNICA FEIJÓ, REGINA CARVALHO & BELL PUÃ


NÃO SEI COMO, MAS A GENTE VAI! – UMA: AB JOVE PRINCIPIUM – Aí o dedo mindinho do pé esquerdo falou pro do pé direito: Tamofu! Rapaz, que é que é isso? Abyssus abyssum invocat! Lascou, deixa de pantim, desenrola a língua, vai! Osmose de golpes dentro da cilada do espichado embuste dos ardis que quem souber morre inturido - coisa deles encasacados da gente só boiando sem ter em que se agarrar! Assim não dá. Esclarece Livia Garcia-Roza: A cada encontro, um desencontro; e continuamos a nos lançar na falta que nos rodeia. Ora, esse papo está tão qualquer coisa que parece mais Mário de Sá-Carneiro: Eu não sou eu nem sou outro, sou qualquer coisa de intermédio. Perdi-me dentro de mim, porque eu era labirinto. Tamofu! Dá para ser mais claro aí, ó meu? Morri tantas vezes, bandido de faroeste: mocinho chega, nem se dá ao trabalho de armar pontaria, atira de olho fechado e a bala me pega no toitiço, eu na lona, assim desde sempre. Ah, tenho mais que fazer do que ficar remoendo filosofias, carburando ideias, sai-te! O galo cego sempre morre de cauda vazada! Birutou, só sendo! Até, até. DUAS: DOIS BIRITADOS NA QUARENTENA – Já louvei o santo, ligaí. Duzentos. Quanto tá? Quatrocentos? Peraí, ou um ou outro, ora! Oitocentos. Que conta é essa, meu? Tá subindo. Olha direito. Dez mil e... Quanto? Cinquenta mil. Danou-se! Quanto mesmo é que está, hem? Ora, vamos tomar logo essa senão, pelo jeito, pega a gente também. Nada, isso é lá pelas capitais, pelo mundo, aqui tenho o corpo fechado. Meu irmão disse que evangélico não pega! Sei não. Num era só sexagenários? Teve fraqueza, pega até no peido, isso menino, mulher, gente, bicho que for! Eita, assim não dá! Parece que o negócio é sério mesmo. será? Vamos dormir, já estou para lá de cheio dos quequeos! Não arregue! Estou todo estropiado, trocando as pernas. Segura a onda, meu! Já dizia Torquato Tasso: O sono é o doce consolador dos homens. Dá-lhes repouso e o esquecimento de seus pesares. Qual é, meu? Vamos lá, é melhor, assim se chegar perto nem vai dá pra sentir. Estou fora! É dormindo é melhor que acordado, sofre menos. Vambora. Acorda! Que foi? O Coiso tá fazendo pronunciamento. Que nada... vamos dormir que é melhor. Vôte! TRÊS: A OBSCENIDADE DO COISO NA CAVERNA DE PLATÃOObscenidade, de novo? Sim, a patetada do Planalto toda reunida e engalanada (!?!): lá vem bomba! Nada, só piadas de mau gosto. Vai lá. Ora, parece mais aquela do Nelson Rodrigues: Nunca o brasileiro foi tão obsceno. Vivemos numa fase ginecológica. Como assim? Explico com Herbert Marcuse: Obscena não é a foto de uma mulher nua com seus pelos púbicos à mostra, mas a de um general fardado exibindo suas medalhas ganhas numa guerra agressora. Vixe! A casa está caindo. Nada, o que ele tá falando? Em cadeia nacional, dor de corno pela traição mútua deles mesmos, umbigo de desgoverno, empáfia do poder de imbróglios, suntuosidade sobre as ruínas da democracia. Em memória aos mortos desassistidos e os que se encontram internados e outros que esperam internação agonizando noitedia, sou poeta pela primeira vez na vida: Somos todos nós! Vou ali buscar um tantinho de paciência que a minha já foi pro beleleu! Beijabrações & até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: A homofobia é como racismo, anti-semitismo e outras formas de fanatismo, na medida em que busca desumanizar um grande grupo de pessoas, negar sua humanidade, sua dignidade e personalidade. Isso prepara o terreno para mais repressão e violência que se espalham com muita facilidade para vitimar o próximo grupo minoritário. Acredito que todos que acreditam em liberdade, tolerância e direitos humanos têm a responsabilidade de se opor ao fanatismo e ao preconceito. Pensamento da escritora e ativista Coretta King (1927-2006), que atuou na defesa das mulheres e dos negros em todo mundo, viuva do ativista Martin Luther King Júnior. Ela fundou o Centro King, em 1968, para promover a igualdade racial, desempenhando proeminente papel após o assassinato do seu marido, tornando-se ativa no Movimento das Mulheres e nos direitos LGBT.

 

OUTROS DITOS

Ser poeta é um dos empregos mais insalubres: não há horários regulares e muitas tentações!...

Pensamento da poeta estadunidense Elizabeth Bishop (1911-1979). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

PODERES DO HORROR, DE JULIA KRISTEVA

[...] Junto com a tontura que turva a vista, a náusea me faz hesitar diante daquele creme de leite, me separa da mãe e do pai que o oferecem. "Eu" não quero nada daquele elemento, sinal do seu desejo; "Eu" não quero ouvir, "Eu" não o assimilo. "Eu" o expulso. Mas como a comida não é um "outro" para "mim", que sou apenas no desejo deles, eu me expulso, eu me cuspo, eu me abjeto com o mesmo movimento pelo qual "eu" pretendo me estabelecer. Esse detalhe, talvez insignificante, mas que eles descobrem, enfatizam, avaliam, essa ninharia me vira do avesso, as entranhas se espalhando; é assim que eles veem o "eu" em processo de se tornar um outro às custas da minha própria morte. Durante esse curso eu sou que "eu" me torno, eu dou à luz a mim mesmo em meio à violência dos soluços, do vômito. Protesto mudo do sintoma, estilhaçando a violência de uma convulsão que, certamente, se inscreve num sistema simbólico, mas no qual, sem querer nem poder integrar-se para lhe responder, abjeta. Abjeta. [...] O fóbico não tem outro objeto senão o abjeto. Mas essa palavra, "medo" — uma névoa fluida, uma viscosidade elusiva —, mal surge, se esvai como uma miragem e permeia todas as palavras da língua com a inexistência, com um brilho alucinatório e fantasmagórico. Assim, o medo tendo sido colocado entre parênteses, o discurso só parecerá sustentável se confrontar incessantemente essa alteridade, um fardo ao mesmo tempo repulsivo e repelido, um poço profundo de memória inacessível e íntimo: o abjeto. [...] A abjeção está acima de toda ambiguidade. Porque, ao mesmo tempo em que libera um domínio, não isola radicalmente o sujeito daquilo que o ameaça — pelo contrário, a abjeção o reconhece em perigo perpétuo. [...] Quando o céu estrelado, uma vista de mar aberto ou um vitral que lança raios púrpura me fascinam, há um conjunto de significados, de cores, de palavras, de carícias; há toques leves, aromas, suspiros, cadências que surgem, me envolvem, me transportam e me arrastam para além das coisas que vejo, ouço ou penso. O objeto "sublime" se dissolve nos êxtases de uma memória sem fundo. É uma tal memória que, de ponto de parada em ponto de parada, de lembrança em lembrança, de amor em amor, transfere esse objeto para o ponto refulgente do deslumbramento em que me perco para ser. [...] O limpo e apropriado (no sentido de incorporado e incorporável) torna-se imundo, o desejado transforma-se em banido, o fascínio em vergonha. Então, o tempo esquecido surge de repente e condensa num relâmpago, uma operação que, se pensada, envolveria a aproximação dos dois termos opostos, mas que, por conta desse relâmpago, é descarregada como um trovão. O tempo da abjeção é duplo: um tempo de esquecimento e trovão, de infinito velado e o momento em que a revelação irrompe. [...].

Trechos extraídos da obra Powers of Horror: An Essay on Abjection - European Perspectives: a Series in Social Thought & Cultural Ctiticism (Columbia University Press,1982), da escritora, professora e psicanalista búlgara Julia Kristeva. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A RIQUEZA DE POUCOS BENEFICIA TODOS NÓS?

[...] o aumento da “riqueza total” caminha com um aprofundamento da desigualdade social [...] compromisso, aceitação de riscos, presteza para o autossacrifício; representa escolher um caminho incerto e não mapeado, árduo e acidentado, à espera de -e determinado a -partilhar a vida do outro. O amor pode ou não caminhar com a felicidade serena, mas quase nunca caminha com o conforto e a conveniência; ele jamais espera isso com confiança e menos ainda com certeza. [...] pode nosso desejo de desfrutar os prazeres da convivialidade, por mais “natural”, “endêmico” e “espontâneo” que ele seja, ser buscado dentro do tipo de sociedade hoje predominante, contornando-se a mediação do mercado e sem cair, consequentemente, na armadilha do utilitarismo? [...] Pessoas que são ricas estão ficando mais ricas apenas porque já são ricas. Pessoas que são pobres estão ficando mais pobres apenas porque já são pobres. Hoje a desigualdade continua a aprofundar-se pela ação de sua própria lógica e de seu momento. Ela não carece de nenhum auxílio ou estímulo a partir de fora – nenhum incentivo, pressão ou choque. A desigualdade social parece agora estar mais perto do que nunca de se transformar no primeiro moto-perpétuo da história – o qual seres humanos, depois de inumeráveis tentativas fracassadas, afinal conseguiram inventar e pôr em movimento [...].

Trechos extraídos da obra A riqueza de poucos beneficia todos nós? (Zahar, 2015), do sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), no qual analisa as premissas que sustentam a convicção de que a riqueza de poucos beneficia todos nós, desvendando as falácias que se ocultam por trás dela, mostrando o individualismo do mundo de consumo é a ideologia que justifica o enriquecimento sem freios dos já muito ricos, apresentando como estratégia de vida o modelo das celebridades. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A MÚSICA DE ETHEL SMYTH
A loucura é aterradora, posso assegurar-te isto, e vale a pena tê-la em conta; na sua lava encontro ainda a maior parte das coisas acerca das quais escrevo.
ETHEL SMYTH - Trecho da correspondência enviada pela escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) para a escritora, compositora e sufragista britânica Ethel Smyth (1858-1944) que, apesar da oposição de seus pais, determinou-se em se tornar compositora frequentando o Conservatório de Leipzip. Ao longo da sua trajetória ela compôs cânticos, obras para piano, música de câmara, de orquestra e concertante, coros e óperas, dedicando-se, em seguida, à causa do sufrágio feminino. Ela é a autora da March of the Women, que se tornou no hino do movimento sufragista. Também publicou cerca de dez livros, a maioria de teor autobiográfico, teve diversos casos amorosos e, apesar do renome e talento, ela foi condenada a dois de prisão por engajar-se no movimento de emancipação feminina.
&
A MÚSICA DE MÔNICA FEIJÓ
Meus trabalhos são distintos, porque canto como me sinto no momento, e sigo cantando a simplicidade e o cotidiano com minha personalidade. Eu digo que trabalho com world music, faço música do mundo, porque já visitei o eletrônico, o samba, o pop, o frevo, e não acho que essas mudanças possam me prejudicar, é a minha marca, a minha verdade.
MÔNICA FEIJÓ – A música da cantora, compositora, bailarina e atriz Mônica Feijó, que é formada em Artes Cênicas e estudou no Centro de Artes de Laranjeira (CAL), trabalhando em cinema, televisão e teatro. Reúne na sua carreira os álbuns Faces do Subúrbio (1998) Aurora 5365 (2000), Matalanamão (2001), Sambasala (2005), À vista (2011) e Frevo para ouvir deitado (2018), entre outros em que participou. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE KÄTHE KOLLWITZ
Eu pensei que era uma revolucionária e era apenas uma evolucionária. Passei por uma revolução e estou convencida de que não sou revolucionária. O artista geralmente é filho de seu tempo, principalmente se seus anos de formação caírem no período do socialismo inicial. Está tudo bem comigo que meu trabalho serve a um propósito. Quero ter um efeito no meu tempo, no qual os seres humanos estão tão confusos e precisam de ajuda.
KÄTHE KOLLWITZ - A arte da pintora, desenhista, gravurista e escultora alemã Käthe Kollwitz (1867-1945), que reflete em sua obra a eloquente visão das condições humanas da primeira metade do século XX, com traços do Naturalismo e do Expressionista, trazendo a classe operária, a fome, a guerra e a pobreza como temas recorrentes. Veja mais aqui.
&
A ARTE DE REGINA CARVALHO
Meus pés / E seus sapatos vermelhos / Vão em frente / Mesmo sem saída / Porque na nossa estrada / Não há volta / Só há ida.
REGINA CARVALHO - A arte da artista visual, poeta, professora e ilustradora Regina Carvalho, que é forma em Artes Plásticas pela UFPE, com especialidade em Arte Contemporânea e já participou de salões e de várias exposições individuais e coletivas. Ela foi integrante da Brigada Henfil, é autora de seis livros de poemas publicados, alguns livros de artista e um de desenho. Ela também participa do laboratório de Morfotaxonomia da UFPE e do grupo de gravura Gráfica Lenta no atelier Mau Mau. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
tua carne arde / e já sinto o sabor lunar dos atravessamentos / o tempero dos ventos de ontem / quilômetros de desejos
A arte da premiada poeta slammer Bell Puã, que é graduada e tem mestrado em História pela UFPE e é autora das obras É que dei o perdido na razão (Castanha Mecânica, 2018), Lutar é crime (Letramento, 2019), No entanto: dissonâncias (Antologia - Castanha Mecânica, 2019), do Ninguém solta a mão de ninguém - manifesto afetivo de resistência e pelas liberdades (Antologia – Claraboia, 2019) e Querem nos calar - poemas para serem lidos em voz alta (Antologia – Planeta, 2019).
A literatura de Xico Sá aqui, aqui & aqui.
A música de Nando Lauria aqui.
A arte do Mestre Vitalino aqui.
Pernambuco nos séculos XVI ao XIX aqui e aqui.
A arte de Rollandry Silvério aqui, aqui, aqui & aqui.
O lamentável expediente da guerra aqui.



DIAGNE MBENGUÉ. SARAH HALL. NATALIA LITVINOVA & MARCELA BARROS

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Standard Stoppages (Cedille, 2025), Montgomery: Rhapsody nº 1 (Rubicon, 2024), Contemporar...