segunda-feira, julho 29, 2019

BAUDRILLARD, AGLAJA VETERANYI, ZSÓFIA BOROS, MACLAU DE MELLO & SEBRUÍNO


UM PARALELEPÍPEDO NO PEITO, OU ERA UMA VEZ UM GRANDE AMOR - Ninguém consegue entender o motivo daquela belezura de mulher achar de se enganchar logo com o Sebruíno, aquele mesmo, vulgo Cezão. Logo ele, um ocrídio socó todo malabanhado, quase um fora da lei de tanta embustice insuportável, cheio das caretas, uma halitose braba, uma inhaca de sovaqueira e chulé, catingoso todo, uma praga! O semiscarúnfio solerte tinha mais cabaço nas costas do que praga de formiga atacando dentro de casa, e mantinha as descabaçadas - e as por serem vitimadas - num reduto de saia perdida, harém ampliado todo dia, bastando qualquer jeitosa cruzar o seu caminho, para passar o rodo e findar todo boquirroto contando vitória. Oxe, bastou uma beldade ricaça dar mole para ele, o laido cabeça de vento se assanhou todo e mandou ver, sonhando futuro espalhado a gozar do bom e do melhor. Inacreditável mesmo. Logo ela que endoidou uma tuia de marmanjo tudo acometido de uma paixonite incurável, de vistoso a boa praça, tudo arreado na claque dos gamados nela. A mulher era um espetáculo, bote calilogia: toda elegante e pra frente, libertária e resolvida, fogosa e empiriquitada, aonde chegasse, via-se só o alvoroço de tão letífica e pasmosa. E os dois lá no maior amasso, juras e acochos. O tetro libertino dava no couro e na medida, já se via o roliúde de tão amoquecado. Danou-se na buraqueira e já se adiantava dando ordens pros empregados, botando os cães para fora, tomando os birinaites da melhor qualidade, nunca tinha visto aquilo, ora. Só se preocupava com os dentes mal-acostumados que eram com as requintadas iguarias na mesa abastada: Nunca viram isso, será que não vão cair? Ele antes só se servia de lavagem ou do que sobrasse das cozinhadas frias fora de hora. Agora, no maior repasto, regalava-se: tinha comida, roupa lavada, teto e luxo. Chega impava e era cuidado, tratado, um dengo infeliz quando ela mencionava: Meu brucutuzinho, venha cá, meu grande amorzinho! Por conta disso, passeavam pelos jardins, praças e ruas no maior idílio. Ele peidando contra o vento só pra sentir se a sua fedorência havia melhorado. E perguntava para si mesmo por não ter o quê fazer: Como é que pode, hem? Ou essa mulher é doida, ou está cega da silva. Ele se sabia franchão enjeitado, destituído de qualquer valor social, um desastre de gente. E aquela boniteza toda, do lado dele, apaixonada por ele? Não pode, só em sonho. Tanto que se beliscava para ver se era verdade. Eita! Essa doeu. E lá ia ele todo ancho, mãos dadas, enamorados. Aí ele resolveu sua vida: saiu de casa, dispensou todo mundo do seu plantel feminino, mudava de calçada quando via as pariceiras de seu convívio anterior, fiel exclusivo, todo na linha, o último-abencerrage. Bastou a lealdade para tudo virar de um tempo pro outro: ao chegar no palacete, a diva estava virada. Botou-lhe para fora no maior esculacho. Que foi que eu fiz? Ainda pergunta, salafrário? Saiu com uma mão na frente e outra atrás, uma dor de corno da peste, roendo que só. Enfiou o dente na cachaça a prantear larvado e palheirão por uns quinze dias encarreados. Sofria que só de relar a venta no meio fio e findar na sarjeta. Virou poeta de água doce de uma hora para outra, cometendo versos bregas que dilaceravam os cotovelos. Lá ia todo macambúzio biritado, perdido altas horas, errando à toa. Cadê-lo? Oxe, ontem mesmo foi encontrado estendido com um paralelepípedo enfiado no seu coração esmagado. Eita, suicidou-se... Hem, hem, era uma vez um grande amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Nem bem amanhece, minha mãe se levanta e começa a cozinhar, depena a galinha e segura-a sobre a chama do bico de gás. Minha mãe prefere comprar a galinha viva, pois a carne é mais fresca. No hotel, ela mata a galinha no banheiro. Na hora do abate, o cacarejo das galinhas é internacional, entendemos, não importa o lugar. É proibido abater animais nos hotéis, ligamos o rádio, abrimos as janelas e fazemos barulho. Não gosto de ver a galinha antes, senão, quero que ela fique viva. O que não vai dar para a sopa acaba no vaso sanitário. Eu fico com medo do vaso sanitário, de noite faço xixi na pia, dali eu sei que não vai sair nenhuma galinha morta. [...] Em cada nova cidade, cavo um buraco na terra em frente ao nosso trailer, coloco a mão lá dentro, depois a cabeça, e escuto Deus, respirar e mastigar debaixo da terra. Às vezes, tenho vontade de cavar até encontrá-lo, apesar de ter medo de que ele me morda. Deus está sempre com muita fome. [...].
Trechos da obra Por que a criança cozinha na polenta (DBA, 2004), da escritora romena Aglaja Veteranyi (1962-2002). Veja mais aqui.

A MÚSICA ZSÓFIA BOROS
A música está transportando energia e estou seguindo meu coração dependente da história que quero contar. A liberdade começa para mim depois que eu inalo a música, do que posso exalá-lo.
Curtindo os álbuns Evocacion (Preiser Records, 2005), Musibox (Preiser, 2008), Em outra parte (ECM, 2013) e Objetos locais (ECM, 2016), da violonista tcheca Zsófia Boros. Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Pintar murais eleva minh'alma para as estrelas lá de fora. Pintura mural me expõe e compõe-me com outros.
A arte da artista plástica Maclau de Mello. Veja mais aquiaqui.

A OBRA DE JEAN BAUDRILLARD
Nós somos apenas episodicamente condutores de sentido, no essencial e em profundidade nós nos comportamos como massa, vivendo a maior parte do tempo num modo pânico ou aleatório, aquém ou além do sentido.
A obra do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard (1929-2007) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


YANICK LAHENS, VENEZIA MAY, SOPHIA KIANNI & FACILITA GONZAGA!

    Imagem: Acervo ArtLAM . Chegou a hora de nos adorarmos, de dizermos isso em voz alta, chegou a hora de criarmos memórias... O amor, co...