segunda-feira, março 18, 2024

JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito distante. Como um processo contínuo que nunca se rompeu completamente... Toquem, gravem e divulguem obras de compositoras, de compositores, de grupos étnicos não privilegiados pela mídia...

Ao som de O porto e outros portos (2020), Pêndulo (2021) e Canção de outono (USP-Filarmônica, 2023), da compositora Silvia Berg, que também é regente, professora e pesquisadora da USP.

 

SALVE A MÚTUA LOQUACIDADE DOS ENTROCAMENTOS ESCATOLÓGICOS... - Um passo, tal uma jogada: não atravessará impune o tabuleiro, ninguém. Uma tuia de imprevisibilidades no ar e por um triz. Livre-se ou passe bem. Pode-se, de qualquer forma, a tentativa de burlar pelo ileísmo e levar como se fosse fulano escapando de gaslighting, síndrome de juvenoia e outras sindêmicas calamidades dessa doida pós-modernidade. Lá ou cá, há quem sofra de abstinência financeira e do paradoxo de Salomão, quando menos mal: se o terraço caiu, logo logo não sobrará nada além do quintal devastado. Isso poderia ser o caos, para dizer o mínimo. O que não é nada para quem nunca teve moderação com gastos e cois&tal. Na vera, melhor seguir Ariana Harwicz: Devemos parecer entusiasmados, devemos mostrar aos outros que aproveitamos a vida... Mesmo que saiba que ninguém está isento de lapadas tidas por injustificáveis na vida, dizer asneiras ou blasfêmias será sempre como se aliviando na privada. Ato falho que seja é sempre ofensa e todo mundo vive de véspera: quando chega o grande dia já não tem a menor graça. E se não tiver uma panelinha agitando todo coreto, o resto é tudo do contra: todos são cúmplices até que se prove qualquer inocência. Vale o que disse Olive Schriner: Sem sonhos e fantasmas o homem não pode existir... Então, mãos à obra! Faz tempo que a estupidez chegou aqui pra ficar e isso há uns 500 anos... hoje quem não é estúpido na entrada, deixa o rastro fedorento na saída. Nem ligue se tudo parecia com as risadagens aos peidos de festa do Mozart - no cânone em si bemol maior, Leck mich im Arsch, para seis vozes em uma rodada de três partes, K231 (K.382c). Maior alarido. Acha pouco? Na verdade, a insegurança já faz parte do pacote! Não esquenta! Se o fim está próximo na ebulição global, com o negacionismo geral do alpinismo social das cantilenas daqueloutros tribalistas qua andam feito carros blindados nas nonsenses pirotécnicas espalhafatosas de sua Planolância: ars moriend! Já dizia Carla Porta Musa: O que conta, digo a mim mesmo, é o minuto claro... O outro pertence ao passado... Sim, porque o melhor mesmo seria ficar de bocaberta e papo pro ar diante duma Anjana da Cantábria, querendo fazer de mim o seu báculo. Seria uma cosmovisão viandante, maior regalo! Resta somente começar, recomeçar e de novo tudo outra vez e novamente. Do zero e, daí, sobreviver: luto e luta. Salvemo-nos, terrabolistas! Até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

INVERNO NO LESTE - o inverno respira pela janela mais uma vez, \ telhados vazam e seu nariz pinga,\ já vem pontificando:\ e aí, inverno, o fim de todos é igual:\ austero, frio e escuro como neblina.\ algumas terras não estão cobertas por um manto de neve, \ mas uma mortalha funerária genuína.\ a luz desenha sulcos e a água congela nos canos.\ Fevereiro se estende como um sorriso amargo.\ mas na adega, como maçãs de inverno\ (nem tão rosado),\ as pessoas se guardam\ então eles podem durar até a primavera.\ alguém mais os está preservando?

AULAS DE DANÇA COM GRAVIDADE - eles dançam com você, gravidade, todo mundo. \ mas só os corajosos sabem os passos que devem tomar. \ você tem aquela característica cruel, mas equalizadora: \ tanto a pedra quanto a pena são atraídas por você.\ usando sua coroa que desce em direção ao chão, \ eu caminho obedientemente para onde você me guia. \ Eu te amo muito, querida gravidade, \ e não trocaria você, nem por asas.

Poemas da poeta, diplomata e tradutora estoniana Eda Ahi, autora de obras como Maskiball (2012), Sadam (2018) e Sõda ja rahutus (2019).

 

O SILÊNCIO DA CIDADE BRANCA - [...] Às vezes, a memória enfia tachinhas em momentos triviais do passado e os fixa para sempre, mesmo que “para sempre” pareça muito tempo. [...] Entendi que a dor também une as pessoas, talvez mais do que as alegrias, porque, como as pessoas boas e ingratas que todos somos, logo nos esquecemos delas. [...] Pessoas feridas são perigosas porque sabem que podem sobreviver. [...] Às vezes o tempo no calendário não tem nada a ver com o tempo mental ou emocional que cada pessoa vive dentro de si. [...] Tem gente que sabe receber golpes, aprende a recebê-los de novo e de novo, essa é a sua força. Mas não sabem fugir, a mera ideia de um mundo desconhecido os paralisa. [...] Estou cansado de esperar que as circunstâncias sejam perfeitas, elas nunca são. [...] Ele não precisava de palavras para estar certo, geralmente estava. A razão do sensato. [...]. Trechos extraídos da obra El silencio de la ciudad blanca: Trilogia de la Ciudad Blanca (Planeta, 2016), da escritora espanhola Eva García Sáenz de Urturi. Veja mais aqui.

 

A FORÇA DA NÃO-VIOLÊNCIA - [...] O fato de os esforços políticos de dissidência e crítica serem frequentemente rotulados como “violentos” pelas próprias autoridades estatais que são ameaçadas por esses esforços não é motivo para desesperar no uso da linguagem. Significa apenas que temos de expandir e refinar o vocabulário político para pensar sobre a violência e a resistência à violência, tendo em conta como esse vocabulário é distorcido e utilizado para proteger as autoridades violentas contra a crítica e a oposição. Quando as críticas à continuação da violência colonial são consideradas violentas (Palestina), quando uma petição pela paz é reformulada como um acto de guerra (Turquia), quando as lutas pela igualdade e pela liberdade são construídas como ameaças violentas à segurança do Estado (Black Lives Matter), ou quando o “género” é retratado como um arsenal nuclear dirigido contra a família (ideologia anti-género), então estamos a operar no meio de formas de fantasmagoria com consequências políticas. [...] Por que uma petição pela paz é chamada de ato “violento”? Por que uma barricada humana que impede a polícia é chamada de ato de agressão “violenta”? Em que condições e em que enquadramentos ocorre a inversão da violência e da não-violência? Não há como praticar a não-violência sem primeiro interpretar a violência e a não-violência, especialmente num mundo em que a violência é cada vez mais justificada em nome da segurança, do nacionalismo e do neofascismo. O Estado monopoliza a violência ao chamar os seus críticos de “violentos”: sabemos disso através de Max Weber, Antonio Gramsci e de Benjamin. Portanto, devemos ser cautelosos com aqueles que afirmam que a violência é necessária para conter ou controlar a violência; aqueles que elogiam as forças da lei, incluindo a polícia e as prisões, como árbitros finais. Opor-se à violência é compreender que a violência nem sempre assume a forma do golpe [...] Não há como nomear algo como violência ou não-violência sem invocar imediatamente o quadro em que essa designação faz sentido. Isto pode parecer uma forma de relativismo – o que vocês chamam de violência, eu não chamo de violência, e assim por diante – mas é algo bem diferente. Na opinião de Benjamin, a violência legal renomeia regularmente o seu próprio carácter violento como coerção justificável ou força legítima, higienizando assim a violência em jogo. Benjamin documenta o que acontece com termos como “violência” e “não-violência”, uma vez que compreendemos que os quadros dentro dos quais estas definições são asseguradas estão oscilando. Ele observa que um regime jurídico que procura monopolizar a violência deve chamar cada ameaça ou desafio a esse regime de “violento”. Portanto, pode renomear a sua própria violência como força necessária ou obrigatória, até mesmo como coerção justificável, e porque funciona através da lei, como a lei, é legal e, portanto, justificada. [...] Embora eu não siga inteiramente Benjamin até à sua conclusão anarquista, concordo com a sua afirmação de que não podemos simplesmente assumir uma definição de violência e depois começar os nossos debates morais sobre a justificação sem primeiro examinar criticamente como a violência foi circunscrita e qual a versão que se presume. no debate em questão. Um procedimento crítico perguntaria também sobre o próprio esquema justificativo em funcionamento num tal debate, as suas origens históricas, os seus pressupostos e execuções. A razão pela qual não podemos começar por afirmar que tipo de violência é justificada e o que não o é é que a “violência” é desde o início definida dentro de certos enquadramentos e chega até nós sempre já interpretada, “elaborada” pelo seu enquadramento. Dificilmente podemos ser a favor ou contra algo cuja própria definição nos escapa, ou que aparece de formas contraditórias que não temos explicação. [...] A tarefa passa, assim, a ser rastrear as formas padronizadas que a violência procura nomear como violento aquilo que lhe resiste, e como o carácter violento de um regime jurídico é exposto à medida que reprime à força a dissidência, pune os trabalhadores que recusam os termos exploratórios dos contratos, sequestra minorias , aprisiona seus críticos e expulsa seus potenciais rivais [...] Se a proibição de matar permanecer na presunção de que todas as vidas são valiosas – que têm valor como vidas, em seu estatuto como seres vivos – então a universalidade da afirmação só se mantém na condição de que o valor se estenda igualmente a todos os seres vivos. Isto significa que temos que pensar não apenas nas pessoas, mas também nos animais; e não apenas sobre criaturas vivas, mas sobre processos vivos, sistemas e formas de vida. [...] A questão seria repensar a relacionalidade da vida regularmente coberta por tipologias que distinguem formas de vida. Nessa relacionalidade, eu incluiria conceitos de interdependência, e não apenas aqueles entre criaturas humanas vivas – pois as criaturas humanas que vivem em algum lugar, necessitando de solo e água para a continuação da vida, também vivem num mundo onde as reivindicações das criaturas não-humanas à vida se sobrepõe claramente à reivindicação humana, e onde os não-humanos e os humanos são também, por vezes, bastante dependentes uns dos outros para a vida. Essas zonas de vida (ou vivência) sobrepostas devem ser pensadas como relacionais e processuais, mas também, cada uma delas, como exigindo condições para a salvaguarda da vida. [...]. Trechos extraídos da obra The Force of Nonviolence: An Ethico-Political Bind (Penguin Random House, 2020), da filósofa pós-estruturalista estadunidense Judith Butler. Veja mais aqui.

 

A DAMA DO TEATRO GENINHA DA ROSA BORGES

[...] É preciso sonhar, ousar e trabalhar. Assim os sonhos se realizam. [...]

Pra matar fome de vida \ só sendo atriz como sou: \ já fui pobre, já fui rica \ já fui freire e fui mendiga \ já fui branca e já fui negra \ casada, solteira, amante \ cadela gritando sexo \ e mão também extremosa \ mas o que nunca pensei \ nessa carreira enfrentar \ foi viver a personagem \ Putain de Taperoá.

Pensamento e versos da premiadíssima atriz Geninha da Rosa Borges (1922-2022) – a Grande Dama do Teatro Pernambucano, num volume organizado por Márcia Botto. Veja mais aqui e aqui.

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EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

[...] propor a criticidade na educação básica deve vir acompanhada do ensino da língua pela língua, o que nos levara a trabalhar de novas formas, com novas propostas, que não as estabelecidas normativamente. Isso pode querer dizer, por exemplo, fazer uso da língua materna em determinados momentos. [...]

Trecho do estudo Educação linguística, pós-memória e mudança: repensando aulas de língua inglesa na escola e na formação docente, desenvolvido e publicado pelos professores João Paulo de Souza Araújo e Samara Braga Jorge, extraído da obra Discussões sobre educação linguística e formação docente do e com o GEELLE – Grupo de Estudos sobre Educação Linguística em Línguas Estrangeiras - Serie GEELLE USP, Volume 1 (Pimenta Cultural, 2024), organizado por Daniel de Mello Ferraz e Luciana Carvalho Fonseca. Veja mais aqui e aqui.

 

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terça-feira, março 12, 2024

ILARIA GASPARI, CÉCILE COULON, CAROLINA DE JESUS, ISABEL NORONHA & TERRA DE CARUARU

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do álbum Abstracta - para cuarteto de cuerdas (2015), da compositora, saxofonista, professora, pesquisadora e performer argentina, Eva García Fernandez.

 

TRAVESSIA DAS ROTAS ARRUINADAS, MAKE IT NEW... – A vida não tem pé nem cabeça: a gente nasce, entra na roda, as coisas acontecem, morre-se e, depois, não se sabe nada – tal como antes de abrir a porteira do mundo e tudo suceder à revelia – ou de propósito, sei lá! Sim, tudo se prolonga e a gente come vento, poeira, distâncias, toma gosto na peleja, sobe-desce no meio da trepidação, frio na barriga, se rela todo, sal na moleira, sol nos costados, goela seca, beiço rachado – é a vida ou o que a gente faz dela. E quando dá fé: o que parecia anteontem foi já não sei quantas décadas atrás. E foi? Como passa ligeiro... Pois é. Ainda ontem a surpresa assaltava... E teve gente - como ainda tem - que fez da vida via pública depois da descarga na privada. Entre um ponto e outro foi como pegar bigú na parada do bonde, sem saber nada onde ia dar – e um dia o fim da linha. É como diz Arina Tanemura: É preciso viver cada dia para que não haja arrependimentos... E lá ia eu com todas as raízes arrancadas, despregado do mundo e das coisas, pelo mesmo chão da infância que nunca foi meu. Minhas mãos cheias do ambulante amor ousavam por todas as armadilhas do catamênio cerebrino alheio, e todas as trajetórias turvas que nasceram mudas e tortas. O meu nome à dor de nenhum dia e a noite desabada desse noutra, o estranho ardendo uma canção sequer ensaiada. Vasto escuro, débil aspecto e o caminho mais que dividido. Foi Mandy Hale que disse: Duas coisas que você nunca terá que perseguir: amigos verdadeiros e amor verdadeiro... E o que fazer de traições, pactos desfeitos, tormentos de triunfo cruel: não há preço justo. Pelo jeito, nunca haverá. No fim das contas a impressão de culpado por inventar o oitavo e mais outros tantos pecados capitais. A sanção? Refém do custo de vida: quanto você vale? E com um céu acusador de vertiginosos escombros pelo tempespaço. Sabia: a fé jamais bastou para quem singra e sangra o que mal se respira e a se precipitar pelo açoite asfixiante de todas as rotas arruinadas. Precisava entender Selena Kitt: Seja você mesmo não há ninguém melhor... E ainda tinha que passar nos testes, mesmo sem saber quais eram nem porquê. Sabia que nunca seria de bom alvitre fazer dos outros emissários submarinos, nem deixar a onça com fome, muito menos o cabrito morrer à míngua. Nada foi lá tão diferente de chupar o dedo e mijar na cana, a coisa vai além do longe demais. E a ameaça mordedora no calcanhar pelas ilhas que nunca foram minhas e um outro maio expandido quase inverno por um mar tempestuoso e sem fundo. Aí aprendia: se você sorrir, todos gargalharão; se ficar sério, será sempre um chato de galocha com um monstro na cabeça. E mais: deve-se ser sempre simpático com os outros na subida; pois, com certeza, cruzará com todos nas inevitáveis e abissais catábases - aí você verá o que são elas e quantos outros muitos quinhentos! Seria muito bom se a gente pudesse juntar toda besteirada cometida e pudesse abater integralmente no Imposto de Renda ou contar no mesmo tanto pro tempo de aposentadoria. Mas não é, né? Que eu morra em paz com o meu tempo e a minha terra, contando com meu epitáfio derretido em cinzas. Assim estarei mais que redimido e pronto pra outra – se é que haverá essa chance! Até mais ver.

 

EU GOSTARIA DE PAGAR POR SUAS FICHAS...

Imagem: Acervo ArtLAM.

Tudo começou naquela hora tão particular da noite \ em que o fim de um dia esbarra no início de outro; \ Saí na chuva, estava com fome. \ A tempestade soltava o seu granizo quente nas venezianas que batiam, \ ninguém mais andava pelas ruas \ escorregadias que desciam até a praça do fundo \ onde transbordava a fonte. \ Normalmente cães ossudos tomavam banho lá \ mas agora não há latidos nem assobios. \ A noite, a chuva, o calor. \ Atravessei a estrada. Um cara acenou do outro lado: \ dois dedos e a boca entreaberta para perguntar \ se eu tinha algo para fumar, levantei a mão aberta \ batendo, como as venezianas, para mostrar a ele que não, \ e continuei, com o rosto enterrado no meu moletom com capuz grande demais, \ cabelo cheio do cheiro de um dia \ que ainda não havia terminado. \ Junto à placa, uma jovem de saia rosa e um rapaz \ com um corte de cabelo que lembrava os melhores momentos \ de Agnés Varda, aguardavam a sua vez de pedir um kebab \ com queijo extra. \ A garota olhou para a tela plana montada \ na parede mostrando clipes de pop americano, \ o cara jogou e pegou uma garrafa de plástico atrás dele \ virando-a habilmente. \ Depois de pagarem, o dono disse \ “Desculpe pela espera”. \ Eu tinha acabado de chegar, então isso me fez sorrir; \ “Uma caixa de batatas fritas, com ketchup, \ tudo bem \ você pode esperar \ lá dentro.” \ Então esperei, de pé, encostado na geladeira \ em frente às bandejas de salada vazias. \ Foi então que entrou um homem encharcado até os ossos. \ Afastei-me para deixá-lo passar: \ suas roupas exalavam cheiro de cimento \ e álcool barato, seu cabelo curto, grisalho, \ retinha água \ como a superfície de um campo às quatro da manhã. \ Ele pediu. \ No momento em que fui pagar minhas fichas, ele fixou os olhos, \ olhos mais redondos que o bico de uma rosa flamenga, \ a boca fraca daqueles homens cansados que bebem \ um pouco demais e com aceitação – \ ele me olhou por um momento, \ e gaguejou: \ “Não sei o que dizer para você”. \ No começo pensei que ele estava me enganando, mas mesmo assim,\ seus olhos, seus olhos! \ “Como é isso?” \ Ele respirou fundo, como se cada palavra \ lhe arrancasse meio pulmão: \ “Não sei o que dizer para você, senhorita”. \ O cara atrás do balcão escutava com um ouvido \ enchendo as bandejas de salgadinhos industriais. \ “Você não precisa me dizer nada”, \ respondi, sacudindo meu suéter. \ “Não sei o que dizer a você porque sei quem você é.” \ A chuva deixou sulcos levemente brilhantes, caindo \ do crânio até a parte inferior do nariz. \ Eu também não sabia o que dizer: \ meia-noite não estava longe, eu viria até de manhã para saber o que esperar, \ e esse cara, perfeitamente bêbado e são, parecia \ prestes a desabar. \ “Eu sei quem você é, você escreve livros. \ Como você faz isso?" \ "Bem, como eu puder." \ Deu-se um tapinha nos joelhos e, \ de uma só vez, \ lágrimas, suor \ da chuva que vem de dentro, \ algo úmido e sincero tomou conta de seu olhar, \ já afogado na solidão e na noite bizarra. \ Ele se virou para o cara \ que dobrava \ as bandejas laranja \ com a precisão de um cirurgião-dentista. \ “Posso te dizer que não fiquei encharcado esta noite por nada, de jeito nenhum!” \ Nas minhas costas, a geladeira zumbia. \ Um leve sorriso se instalou naturalmente \ entre minhas covinhas. \ No balcão, minhas fichas estavam prontas, bem embaladas. \ Tirei minha moeda \ de dois euros e o afogado me disse: \ “Gostaria de pagar suas fichas, se não se importa”. \ Suspirei e deixei minha moeda entre ele e eu, então estendi minha mão. \ Ele apertou. \ “Obrigado, senhor” \ e saí com meu pacote de batatas fritas no pulso. \ Na volta, o cheiro característico de gordura de salgadinho \ invadiu minhas narinas, meus cabelos, minhas roupas. \ Provavelmente nunca mais verei aquele homem, ou pelo menos não assim. \ Desde ontem tenho vontade de escrever sobre ele, porque me pergunto \ qual de nós daqui a alguns meses, daqui a alguns anos, seremos traídos \ pela imagem que construíram \ do mundo exterior? \ Será para outros apertarem as mãos\ àquela hora da noite \ por uma caixa de batatas fritas mornas e um refrigerante sem gelo? \ Gostaria que a poesia fosse tão natural para quem \ me rodeia quanto a emoção \ que brotou naquela noite, antes daquela quadratura \ com a improvável facilidade de momentos que poderiam não ter acontecido, \ mas que aconteceram mesmo assim, mal pensados e \ transbordando de graça e palavras impossíveis.

Poema da premiada escritora francesa Cécile Coulon.

 

DIÁRIO DE BITITA – [...] Quando havia um conflito, quem ia preso era o negro. E muitas vezes o negro estava apenas olhando. Os soldados não podiam prender os brancos, então prendiam os pretos. Ter uma pele branca era um escudo, um salvo-conduto. [...] Compreendo que o sonho de pobre é sonhar, apenas sonhar. [...] Será que o Brasil vai ser sempre bom como dizem eles? Por que será que o estrangeiro chega pobre aqui e fica rico? E nós, os naturais, aqui nascemos, aqui nós vivemos e morremos pobres? [...] O homem só dá valor ao homem depois que morre. Se os homens governam o mundo, ele nunca está bom para o povo viver, por que não deixar as mulheres governarem? As mulheres não fariam guerras, porque elas são as mães dos homens. Mas os homens são os pais dos homens, fazem guerras, e matam-se. [...]. Trechos extraídos da obra Diário de Bitita (SESI-SP, 2014), da escritora brasileira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), autora da frase: A vida para uns são cheias de curvas que dá impressão que êles seguem para o calvário conduzindo uma cruz que se chama "Custo de Vida”. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

DITOS & DESDITOS - Os movimentos nunca são homogêneos... Fomos formados na ideia de que não existimos como indivíduo, temos que ser úteis ao país... Pensamento da cineasta moçambicana Isabel Noronha. Veja mais aqui e aqui.

 

LIÇÕES DE FELICIDADE - [...] Caminhar, quando se está triste, até que os sapatos incomodem, é uma daquelas iniciativas que a levam à força para fora de você, no mundo; que freiam a espiral dos pensamentos e fazem você se sentir antes de tudo livre, depois exausta. Dois antídotos para tristeza, não infalíveis, mas úteis, são o sentimento da liberdade e o da exaustão; a tristeza, para se sustentar e durar, requer espaços fechados, sufocantes, e energia. Como os vampiros, ela também teme a luz do sol. [...] Concentro-me em uma pergunta: como criar uma disciplina, um ambiente, em que se trabalha para obter um resultado previsível e concreto, sem o perigo de se aventurar guiado apenas por esperanças vagas e irrealistas? Percebo que essa poderia ser uma pergunta válida, em certa medida, para todas as artes humanas, da yoga à música: mas no que se refere aos resultados, no âmbito da inspiração e da criatividade, a gama dos resultados possíveis e imprevistos é vasta demais para não tornar aposta exageradamente ampla. [...] Certamente não tenho uma multidão de amigos, mas tenho tantas casas, tantas vidas atrás de mim – tantas quantas minhas mudanças, os trabalhos que fiz, os erros que cometi e as enrascadas em que entrei, as ruminações e as inquietações, as hesitações e os perdões que não soube conceder e deixei cair no esquecimento. [...] Tenho medo dos desejos, mas é claro que não os respeito, mesmo que eu saiba o quanto podem ser fortes: em vez de dobrá-los, de domá-los com essa firmeza não natural, por que não parei para ouvi-los? Eu deveria ter percebido que essa febre de ascetismo, não muito diferente da impetuosidade a que se opõe, se voltaria contra mim. Não é fácil aprender a moderação: creio ser mesmo impossível, pelo menos enquanto eu olhar para ela com esta camada a mais de moralismo, esta mania de conferir um sentido aos mínimos gestos. Quis me impor uma postura austera, mas toda alheia, falsa. Não é verdade que me entusiasma fazer uma sopa, não é verdade que me basta uma maçã. Eu só queria me deixar absorver pelas pequenas coisas: mas o problema é outro. Em pé na frente de um armário semivazio, que se assemelha apenas ao meu lado mais severo – bani as cores, pois não me pareciam necessárias –, percebo estar diante de um bom problema: ao me concentrar em mim mesma, obcecada em aproveitar todo o meu arrebatamento, esqueci a amizade. Não posso pensar só no prazer: nem para tentar torná-lo demasiado sofisticado e essencial (com resultados que depois, como aconteceu comigo, desaparecem), nem para usá-lo como refúgio. Por nos enrodilharmos no interior de nossa vida secreta, a fim de nos consolar e nos proteger do mundo, acabamos nos transformando em pequenos caracóis confinados em suas conchas. Acendemos velas e luzinhas, buscamos serenidade ou minimalismos, abrimos a boca para palavras nórdicas intraduzíveis como hygge, concentramo-nos na simplicidade de pequenos prazeres idiossincráticos e indescritíveis – o primeiro gole de cerveja gelada. Mas, por favor, só o primeiro – porque, no fim das contas, duvidamos do prazer. Mas é tão chato, depois de um tempo, viver enfurnado nos próprios sentimentos! [...]. Trechos extraídos da obra Lezioni di felicità: Esercizi filosofici per il buon uso della vita (Einaudi, 2019), da filósofa e escritora italiana Ilaria Gaspari.

 

DOSE DUPLA DE JOSÉ CONDÉ

[...] Seguiram-se dias de chuva, prenunciando bom inverno. Mas, passados os aguaceiros, limpavam-se as tardes novamente, com o céu de um azul lavado e translúcido, tanajuras voando, cheiro de mato soprado pelo vento [...].

Trecho extraído da obra Terra de Caruaru (Civilização Brasileira, 1977), do escritor e jornalista José Condé (1917-1971), também autor do volume Obras Escolhidas V: Vento do amanhecer em Macambira \ Tempo, vida, solidão \ As chuvas (Civilização Brasileira, 1978). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

 

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terça-feira, março 05, 2024

BIRGITTA JÓNSDÓTTIR, TERRY EAGLETON, JASON STANLEY & O CORONEL DE MACAMBIRA

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som do show Brasilidades, do grupo Octeto Feminino do Brasil, criado em 2020, por iniciativa da trompista Paula Graziele Guimarães, e formado por trompistas de quatro estados brasileiros: Paula de Campos, Tayanne Sepulveda, Amanda Vieira, Tamires Kamisaka e Jessica Alves (SP), Isabelle Menegasse (RJ), Paula Guimarães (BA) e Jaqueline Louzada (PA).

 

HOJE DE TANTOS ONTENS & QUASE NENHUM AGORAMANHÃ... - Era terça-feira e Jajá saíra para trabalhar. No trajeto, ao cruzar com a algazarra da criançada escolar, lembrou-se dos tempos das travessuras infantis pelo Jaraguá, das timbungadas nas ondas da Jatiúca, das traquinagens juvenis na Ponta Verde, das bebericagens na Pajuçara, ah, ali era o paraíso, o melhor lugar do mundo. Madurava encantado até o dia em que já taludo, quase homem feito, leu Dora Marsden: A vida é festa e conflito: esse é o seu entusiasmo... Firmou seu jeito e não endureceu o coração diante das coisas desagradáveis que testemunhou. Tomou partido pelo que achava certo e, de certa forma, reiterava Miriam Makeba: Eu apenas digo ao mundo a verdade. E se a minha verdade então se torna política, não posso fazer nada sobre isso... Ah, santa Mama África! Assim o fez e era assim mesmo que militava no expediente d’A Voz do Povo, enfrentando oligarquias e prisões, atentados, retaliações e humilhações. Segurou firme e não se dobrou. Destemido, cassado, peregrinou na clandestinidade. E virou coisa que muita gente esqueceu ou prefere não lembrar, se escondendo atrás do medo e emulando chacotas, quando, na verdade é o que é de memória para uso diário. Na vera, ele teve a coragem da vida para viver, como se repetisse Nelly Arcan: Eu nunca consenti com este corpo que fui acusado de arrastar até minha morte... Não fosse isso, sim, Jajá teria reaparecido. Sim, porque era mesmo terça-feira, saiu do Catumbi e nunca chegou ao trabalho, nem jamais foi visto. Ouviu-se que ele foi capturado por estranhos e lançado ao mar a 200 milhas da costa. Como assim? Outros corrigiam que ele fora incinerado numa caldeira duma usina de cana-de-açúcar. Não pode! Engrossando a confusão teve quem asseverasse mesmo que foi morto, esquartejado e jogado num rio de Avaré. Que confusão! Ninguém sabia, qualquer um estava sujeito às emboscadas, chacinas, restos nas valas de Perus para familiares contarem os mortos, como ainda hoje. O fato é que ele saiu de casa para trabalhar e desapareceu – documentos queimados para quem foi destruído e sabia lá mais quem era, já havia perdido tudo de si e sem ninguém. Ao ouvir a conversa, uma jovem curiosa: Afinal, quem é Jajá? Jayme Amorim Miranda (1926-1975). Ah, pensei que fosse algum conhecido! E saiu com o desdém de quem teimava olvidar das lições deontem e de hoje. Tortura nunca mais! Até mais ver.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

O CAMALEÃO - Sou uma bruxa do destino \ sem roca. \ Sou um soldado com um coração mole. \ Sou uma senhora vagabunda\ com uma casa de caracol nas costas. \ Sou um piloto sem asas. \ Eu sou um elfo espacial no planeta Terra. \ Eu sou a prostituta dos seus pensamentos. \ Eu sou a deusa que surge do oceano espumante\ na concha dos seus sonhos. \ Eu sou o camaleão,\ derreto-me na imagem\ com a mesma facilidade com que uma gota de água doce\ se mistura com água salgada.\

O POEMA DA AVENTURA - Nas profundezas da montanha \ as aventuras se escondem. \ Eles são de todas as formas e feitios. \ Todos têm um final excelente,\ pois quem vive a vida em aventura\ vê o mundo de uma forma extraordinariamente especial. \ Para atrair as aventuras para os padrões do hábito\ basta fechar os olhos\ e pedir que te abracem. \ Você também pode imaginar que é transparente\ e sente o vento fluindo através de você\ em vez de ir contra você. \ Ou imagine que há pequenas asas nas suas costas\ e cada vez que você dá um novo passo você salta um pouco. \ Talvez a própria vida seja uma grande aventura\ se você usar os óculos de sol corretos.

Poemas da escritora, artista, editora e ativista islandesa Birgitta Jónsdóttir.

 

COMO LER LITERATURA - [...] Vivemos em um mundo em que não há nada que não possa ser narrado, mas também nada que precise ser narrado. [...] Gostamos de pensar nos indivíduos como únicos. No entanto, se isto for verdade para todos, então todos partilhamos a mesma qualidade, nomeadamente a nossa singularidade. O que temos em comum é o fato de sermos todos incomuns. Todo mundo é especial, o que significa que ninguém é. A verdade, porém, é que os seres humanos são incomuns apenas até certo ponto. Não existem qualidades que sejam peculiares a uma pessoa sozinha. Lamentavelmente, não poderia haver um mundo em que apenas um indivíduo fosse irascível, vingativo ou letalmente agressivo. Isto ocorre porque os seres humanos não são fundamentalmente tão diferentes uns dos outros, uma verdade que os pós-modernistas relutam em admitir. Temos muitas coisas em comum simplesmente pelo fato de sermos humanos, e isso é revelado pelos vocabulários que temos para discutir o caráter humano. Compartilhamos até mesmo os processos sociais pelos quais nos individualizamos. [...] O prazer é mais subjetivo do que a avaliação. Se você prefere pêssegos a peras é uma questão de gosto, o que não é verdade se você considera Dostoiévski um romancista mais talentoso do que John Grisham. Dostoiévski é melhor que Grisham no sentido de que Tiger Woods é um jogador de golfe melhor que Lady Gaga. [...] O teatro pode nos ensinar alguma verdade, mas é a verdade da natureza ilusória da nossa existência. Pode alertar-nos para a qualidade onírica das nossas vidas, a sua brevidade, mutabilidade e falta de bases sólidas. Como tal, ao lembrar-nos da nossa mortalidade, pode fomentar em nós a virtude da humildade. [...] O artístico está, portanto, muito próximo do ético. Se ao menos pudéssemos compreender o mundo do ponto de vista de outra pessoa, teríamos uma noção mais completa de como e por que ela age daquela maneira. Estaríamos, portanto, menos inclinados a censurá-los de algum ponto de vista externo altivo. Compreender é perdoar. [...] As obras literárias são peças de retórica e também de relatórios. Eles exigem um tipo de leitura peculiarmente vigilante, que esteja alerta ao tom, ao humor, ao ritmo, ao gênero, à sintaxe, à gramática, à textura, ao ritmo, à estrutura narrativa, à pontuação, à ambiguidade – na verdade, a tudo o que está sob o título de “forma”. [...] O erro mais comum que os estudantes de literatura cometem é ir direto ao que diz o poema ou romance, deixando de lado a forma como o diz. Ler assim é deixar de lado a “literariedade” da obra – o fato de ser um poema, uma peça ou um romance, em vez de um relato da incidência da erosão do solo em Nebraska [...] Se nos inspirarmos apenas na literatura que reflete os nossos próprios interesses, toda leitura se torna uma forma de narcisismo. [...] Arranhe um estudante e você encontrará um selvagem. [...]. Trechos extraídos da obra How to Read Literature (Yale University Press, 2014), do filósofo e crítico literário britânico Terry Eagleton. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

COMO FUNCIONA O FASCISMO – [...] A política fascista invoca um passado mítico puro, tragicamente destruído. Dependendo de como a nação é definida, o passado mítico pode ser religiosamente puro, racialmente puro, culturalmente puro ou todas as opções acima. [...] A política fascista pode desumanizar grupos minoritários mesmo quando não surge um estado explicitamente fascista. [...] Na política fascista, as mulheres que não se enquadram nos papéis tradicionais de gênero, os não-brancos, os homossexuais, os imigrantes, os “cosmopolitas decadentes”, aqueles que não têm a religião dominante, são, na sua própria existência, violações da lei e da ordem. Ao descrever os negros americanos como uma ameaça à lei e à ordem, os demagogos nos Estados Unidos conseguiram criar um forte sentido de identidade nacional branca que requer protecção contra a “ameaça” dos não-brancos. [...] Os perigos da política fascista advêm da forma particular como desumaniza segmentos da população. Ao excluir estes grupos, limita a capacidade de empatia entre outros cidadãos, levando à justificação de tratamentos desumanos, desde a repressão da liberdade, prisão em massa e expulsão até, em casos extremos, o extermínio em massa. [...] Os nazistas acreditavam que o movimento das mulheres fazia parte de uma conspiração judaica internacional para subverter a família alemã e, assim, destruir a raça alemã. O movimento, afirmava, estava a encorajar as mulheres a afirmar a sua independência económica e a negligenciar a sua tarefa adequada de produzir filhos. Estava espalhando as doutrinas femininas do pacifismo, da democracia e do “materialismo”. Ao encorajar a contracepção e o aborto e, assim, reduzir a taxa de natalidade, estava a atacar a própria existência do povo alemão. [...] A política fascista não conduz necessariamente a um Estado explicitamente fascista, mas mesmo assim é perigosa. A política fascista inclui muitas estratégias distintas: o passado mítico, a propaganda, o anti-intelectualismo, a irrealidade, a hierarquia, a vitimização, a lei e a ordem, a ansiedade sexual, os apelos ao coração e o desmantelamento do bem-estar público e da unidade. [...] Para o fascista, as escolas e universidades existem para doutrinar o orgulho nacional ou racial, transmitindo, por exemplo (onde o nacionalismo é racializado) as conquistas gloriosas da raça dominante. [...] a política fascista cria um estado de irrealidade, em que teorias da conspiração e notícias falsas substituem o debate fundamentado. [...]. Trechos extraídos da obra How Fascism Works: The Politics of Us and Them (Random House, 2018), do filósofo Jason Stanley. Veja mais aqui.

 

O CORONEL DE MACAMBIRA

[...] Viva! \ Ora viva! \ A aeromoça do céu! \ A aeromoça do céu \ tem as asas da esperança \ de um futuro que há de vir! \ Viva! [...].

Trecho extraído da peça teatral O coronel de Macambira – poesias com palavras incompletas (FCCR, 2005), do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978). Veja mais aqui e aqui.

 

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JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

  Imagem: Acervo ArtLAM . A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito dis...