A RESSURREIÇÃO DO CASANOVA – Uma
enchente avassaladora varreu Alagoinhanduba do mapa. Bastou uma barragem duma
multinacional que ninguém sabe o nome rachar em bandas, de um tsunami mandar
ver levando tudo correnteza abaixo. Milhões de desabrigados, maior tragédia da
história. Não sobrou nem lembranças do que era, findando o povo todo ter de
morar embaixo da ponte que, de tanto balançar, não cabia mais ninguém
pendurado. Com a situação, Zé Peiúdo se aproveitou na maior caranha: vendia
tudo por preço exorbitante. Não concorrência, ou comprava, ou comprava. Era de
lascar, fazer o quê? Ajuntando uns trocados bons com as negociatas, deu ele de
ir tomar já a segunda meiota, quando ouviu pelo nome Casanova. – Ah, esse nome
eu conheço, vai dá preu armar em cima. Nem perdeu tempo, foi bordejando entre
as mesas e encostou-se numa em que dois estranhos conversavam: - Quem é
Casanova? Sou eu. Rapaz, preciso ter uma conversa séria com vosmicê, vamos pra
emissora preu entrevistá-lo! Hem? Vambora, venha. E puxou o distinto pela mão,
arrastando morro acima, pras instalações do serviço de alto-falantes que ele
chamava de AM/FM Alagoinhanduba, coisa de um tico de ouvinte, só ouvida até a
primeira esquina no pé da montanha. Apossou-se dum megafone e saiu gritando: -
Hoje Casanova faz revelações do estopô calango, exclusividade da sua emissora,
a mais ouvida da região. Aos berros, repetia o nome do entrevistado que
estranhava aquele estardalhaço todo, principalmente quando ouviu o locutor
segredando pra sua banda: - Vamos lá, passe logo todo serviço! Hem? Mal
começara a se organizar pra começar o teitei, eis que entra o calunga que lhe
cochicha ao ouvido: - A mundiça toda tá aí atrás dum tal de Casanova! Eita,
porra! Tenho nada a ver com isso não, vou me esconder. Peraí, rapaz, acalme-se!
Calunga, venha cá! Diga! Pegue as armas, vamos enfrentar logo esse povo que
deve ter vindo pra capar o rapaz, não podemos deixar acontecer isso. Fique
calmo aí que vou resolver isso em dois tempos. Pega aí a Rio Una 12 e os
armamentos todos, vamos preparados. Aí lá vem o calunga com um bacamarte, uma
garrucha do cano envergado, uma soca-tempero que dispara na base de traque de
sala e uma pistola bala U enferrujada, tudo descarregado. Cadê a munição? Tem
não. Vixe! Só tem uns peido-de-veia que acho que nem pipoca mais. Eita! E
agora? Agora a gente corre. Nada disso, vamos tapiar, a gente faz que está
carregado até o tampo e o povo todo corre com o primeiro estalo. Vamos lá!
Quando deparou com a populaça toda, ele achou de dar logo uns bregues: - Que é
que vocês querem invadindo propriedade privada, hem? É que a gente veio se
inscrever na casa nova, é a mesma coisa do Minha Casa, Minha Vida! Vai-te embora
comboio de fidapeste! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO
TATARITARITATÁ:
Hoje na
Rádio Tataritaritatá especiais com o saxofonista, flautista,
arranjador e professor de música Mauro
Senise interpretando músicas do seu álbum Danças + Alergia de viver, Olinda
Guanabara & Chegando a Japeri; da pianista e diretora musical russa Elena Bashkirova interpretando concertos de Mozart, Brahms
& Shostakovich; do pianista e compositor Luiz Avellar Improvisando no
piano, Rio de Janeiro & bailarina; e a maravilhosa,
divertidíssima, engajada, premiada e internacionalzada cantora, violonista e
compositora Célia Mara, cantando
Solidão Urbana, Anamaria, We’re not alone & Fábrica de armas. Para conferir é só ligar o som e curtir.
A ESCOLA DE GRAMSCI - [...]
A escola é o
instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da
função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela
quantidade de escolas especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais
extensa for a “área” escolar e quanto mais numerosos forem os “graus verticais”
da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um
determinado Estado [...]. Trechos
extraídos dos Cadernos do cárcere
(Vol.2 – Civilização Brasileira, 2001), do
filósofo, cientista político e comunista italiano, Antonio Gramsci
(1891-1937). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
O PAPEL DA CIÊNCIA - [...] Já que a ciência não pode encontrar sua legitimação ao lado do conhecimento,
talvez ela pudesse fazer a experiência de tentar encontrar seu sentido ao lado
da bondade. Ela poderia, por um pouco, abandonar a obsessão com a verdade e se
perguntar sobre seu impacto sobre a vida das pessoas: a preservação da
natureza, a saúde dos pobres, a produção de alimentos, o desarmamento dos
dragões (sem dúvida, os mais avançados em ciência!), a liberdade, enfim, essa
coisa indefinível que se chama felicidade. A bondade não necessita de
legitimações epistemológicas. Com Brecht, poderíamos afirmar: “Eu sustento que
a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência humana”.
Trecho extraído da obra Filosofia da
ciência: introdução ao jogo e as suas regras (Loyola, 2000), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves
(1933-2014). Veja mais aqui e aqui.
A LENDA DOS CEM – [...] Da mata
chegava outra espécie de alarido. Em coro repicavam as seriemas, as maracanãs
se comunicavam aos berros, esvoaçavam ruidosos tetéus; em negro, os urubus;
cautelosos, os rapinantes. Abriam caminho aos animais pequenos, que
deconsetados deixavam o próprio abrigo á procura de tocas talvez inexistentes.
Raposas, como bêbadas, varavam o descampado, coelhos trocavam saltos sem
proveito, pebas se topavam cegos, obtusos, enquanto as preás, mais cautelosos,
quedavam nas fendas dos pedregais. Mas a ninguém interessava aquilo. [...]
Trecho extraído da obra A lenda dos cem (Bagaço, 2008), do
premiadíssimo escritor Gilvan Lemos (1928-2015). Veja mais aqui e aqui.
CANTARES DE HILDA HILST – IV – Eu não te vejo / quando teu ódio
aflora. / Como poderia / ver teu ódio e a ti. / Iludida / por uma só labareda
da memória? / Cegos, não somos dois. / Devorados e vastos / temos um nome:
EFÊMEROS. Poema dos Cantares de perda
e predileção, extraído da obra Cantares
(Globo, 2004), da poeta, dramaturga e ficcionista Hilda Hilst (1930-2004). Veja mais aqui e aqui.
PROFESSORES NA BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Participando
com professores da rede pública de ensino nos eventos da Biblioteca Fenelon
Barreto.
Veja mais:
A arte musical de Elena Bashkirova aqui.
&
LEMBRANÇAS E TRADIÇÕES DA MATA SUL
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
Corre o Rio Una
Grita pela liberdade
No silencio vai em frente
Oh meu Deus que tanta saudade
Nos dias de hoje, já não existe felicidade
Minha paz foi destruída pelo inverno da verdade
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
No Redondinho, nas ruas e todas as praças
O povo achava graça e o que é bom existe aqui.
Carrossel, caboclinho de Rabeca,
A bandinha de Veludo
E o guerreiro faz a festa.
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
A terra é fértil, as sementes são poéticas
Em cada rua e cada esquina
A história é sempre esta.
A Meia-Noite, cantava o seresteiro
O poema ovacionado pra seu amor verdadeiro.
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul.
Música & letra
de autoria de Atonmirio Barros (Miro Barros), parceiro do escritor Juarez
Carlos na peça teatral O Herói
Nordestino. Veja a entrevista de ambos aqui.