sexta-feira, setembro 22, 2017

GRAMSCI, HILDA HILST, GILVAN LEMOS, RUBEM ALVES, PALMARES & ATONMIRIO BARROS

A RESSURREIÇÃO DO CASANOVA – Uma enchente avassaladora varreu Alagoinhanduba do mapa. Bastou uma barragem duma multinacional que ninguém sabe o nome rachar em bandas, de um tsunami mandar ver levando tudo correnteza abaixo. Milhões de desabrigados, maior tragédia da história. Não sobrou nem lembranças do que era, findando o povo todo ter de morar embaixo da ponte que, de tanto balançar, não cabia mais ninguém pendurado. Com a situação, Zé Peiúdo se aproveitou na maior caranha: vendia tudo por preço exorbitante. Não concorrência, ou comprava, ou comprava. Era de lascar, fazer o quê? Ajuntando uns trocados bons com as negociatas, deu ele de ir tomar já a segunda meiota, quando ouviu pelo nome Casanova. – Ah, esse nome eu conheço, vai dá preu armar em cima. Nem perdeu tempo, foi bordejando entre as mesas e encostou-se numa em que dois estranhos conversavam: - Quem é Casanova? Sou eu. Rapaz, preciso ter uma conversa séria com vosmicê, vamos pra emissora preu entrevistá-lo! Hem? Vambora, venha. E puxou o distinto pela mão, arrastando morro acima, pras instalações do serviço de alto-falantes que ele chamava de AM/FM Alagoinhanduba, coisa de um tico de ouvinte, só ouvida até a primeira esquina no pé da montanha. Apossou-se dum megafone e saiu gritando: - Hoje Casanova faz revelações do estopô calango, exclusividade da sua emissora, a mais ouvida da região. Aos berros, repetia o nome do entrevistado que estranhava aquele estardalhaço todo, principalmente quando ouviu o locutor segredando pra sua banda: - Vamos lá, passe logo todo serviço! Hem? Mal começara a se organizar pra começar o teitei, eis que entra o calunga que lhe cochicha ao ouvido: - A mundiça toda tá aí atrás dum tal de Casanova! Eita, porra! Tenho nada a ver com isso não, vou me esconder. Peraí, rapaz, acalme-se! Calunga, venha cá! Diga! Pegue as armas, vamos enfrentar logo esse povo que deve ter vindo pra capar o rapaz, não podemos deixar acontecer isso. Fique calmo aí que vou resolver isso em dois tempos. Pega aí a Rio Una 12 e os armamentos todos, vamos preparados. Aí lá vem o calunga com um bacamarte, uma garrucha do cano envergado, uma soca-tempero que dispara na base de traque de sala e uma pistola bala U enferrujada, tudo descarregado. Cadê a munição? Tem não. Vixe! Só tem uns peido-de-veia que acho que nem pipoca mais. Eita! E agora? Agora a gente corre. Nada disso, vamos tapiar, a gente faz que está carregado até o tampo e o povo todo corre com o primeiro estalo. Vamos lá! Quando deparou com a populaça toda, ele achou de dar logo uns bregues: - Que é que vocês querem invadindo propriedade privada, hem? É que a gente veio se inscrever na casa nova, é a mesma coisa do Minha Casa, Minha Vida! Vai-te embora comboio de fidapeste! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especiais com o saxofonista, flautista, arranjador e professor de música Mauro Senise interpretando músicas do seu álbum Danças + Alergia de viver, Olinda Guanabara & Chegando a Japeri; da pianista e diretora musical russa Elena Bashkirova interpretando concertos de Mozart, Brahms & Shostakovich; do pianista e compositor Luiz Avellar Improvisando no piano, Rio de Janeiro & bailarina; e a maravilhosa, divertidíssima, engajada, premiada e internacionalzada cantora, violonista e compositora Célia Mara, cantando Solidão Urbana, Anamaria, We’re not alone & Fábrica de armas. Para conferir é só ligar o som e curtir.

A ESCOLA DE GRAMSCI - [...] A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela quantidade de escolas especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais extensa for a “área” escolar e quanto mais numerosos forem os “graus verticais” da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um determinado Estado [...]. Trechos extraídos dos Cadernos do cárcere (Vol.2 – Civilização Brasileira, 2001), do filósofo, cientista político e comunista italiano, Antonio Gramsci (1891-1937). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

O PAPEL DA CIÊNCIA - [...] Já que a ciência não pode encontrar sua legitimação ao lado do conhecimento, talvez ela pudesse fazer a experiência de tentar encontrar seu sentido ao lado da bondade. Ela poderia, por um pouco, abandonar a obsessão com a verdade e se perguntar sobre seu impacto sobre a vida das pessoas: a preservação da natureza, a saúde dos pobres, a produção de alimentos, o desarmamento dos dragões (sem dúvida, os mais avançados em ciência!), a liberdade, enfim, essa coisa indefinível que se chama felicidade. A bondade não necessita de legitimações epistemológicas. Com Brecht, poderíamos afirmar: “Eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência humana”. Trecho extraído da obra Filosofia da ciência: introdução ao jogo e as suas regras (Loyola, 2000), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem Alves (1933-2014). Veja mais aqui e aqui.

A LENDA DOS CEM – [...] Da mata chegava outra espécie de alarido. Em coro repicavam as seriemas, as maracanãs se comunicavam aos berros, esvoaçavam ruidosos tetéus; em negro, os urubus; cautelosos, os rapinantes. Abriam caminho aos animais pequenos, que deconsetados deixavam o próprio abrigo á procura de tocas talvez inexistentes. Raposas, como bêbadas, varavam o descampado, coelhos trocavam saltos sem proveito, pebas se topavam cegos, obtusos, enquanto as preás, mais cautelosos, quedavam nas fendas dos pedregais. Mas a ninguém interessava aquilo. [...] Trecho extraído da obra A lenda dos cem (Bagaço, 2008), do premiadíssimo escritor Gilvan Lemos (1928-2015). Veja mais aqui e aqui.

CANTARES DE HILDA HILSTIV – Eu não te vejo / quando teu ódio aflora. / Como poderia / ver teu ódio e a ti. / Iludida / por uma só labareda da memória? / Cegos, não somos dois. / Devorados e vastos / temos um nome: EFÊMEROS. Poema dos Cantares de perda e predileção, extraído da obra Cantares (Globo, 2004), da poeta, dramaturga e ficcionista Hilda Hilst (1930-2004). Veja mais aqui e aqui.

PROFESSORES NA BIBLIOTECA FENELON BARRETO
Participando com professores da rede pública de ensino nos eventos da Biblioteca Fenelon Barreto.

Veja mais:
A arte musical de Elena Bashkirova aqui.
A arte de Mauro Senise aqui e aqui.
A arte da cantora e compositora Célia Mara aqui, aqui e aqui.
Faça seu TCC sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.

LEMBRANÇAS E TRADIÇÕES DA MATA SUL
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
Corre o Rio Una
Grita pela liberdade
No silencio vai em frente
Oh meu Deus que tanta saudade
Nos dias de hoje, já não existe felicidade
Minha paz foi destruída pelo inverno da verdade
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
No Redondinho, nas ruas e todas as praças
O povo achava graça e o que é bom existe aqui.
Carrossel, caboclinho de Rabeca,
A bandinha de Veludo
E o guerreiro faz a festa.
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul
A terra é fértil, as sementes são poéticas
Em cada rua e cada esquina
A história é sempre esta.
A Meia-Noite, cantava o seresteiro
O poema ovacionado pra seu amor verdadeiro.
Oh oh Palmares, Ô verde azul
Oh oh Palmares!
É capital da Mata Sul.
Música & letra de autoria de Atonmirio Barros (Miro Barros), parceiro do escritor Juarez Carlos na peça teatral O Herói Nordestino. Veja a entrevista de ambos aqui.


CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...