BRASIL A SÉRIO, NÃO RIA! - Quando
nasci já era carnaval no Brasil e salve salve vida nossa patriamada. Era mais
de sessenta ao redor da televisão, os olhos pregados nas cenas da tela noite
adentro de se perder hora e tempo na fumaça da escuridão. Só quando eu dei por
mim já falavam de um país que ia pra frente, cantando o progresso e todos fora
dele, não sabia como, mas era. Não sabia o porquê das botas e armas no corredor
da minha casa, aos cochichos que o vizinho sumira de uma hora pra outra pra nunca
mais e nunca mais era já e eu não sabia nas aulas de Moral e Cívica, nos
desfiles do dia 7, e nunca mais era a cidade o Moscouzinho e nem soubera porque
era um pega pra capar comunista salvando as criancinhas pra festa da padroeira
dia 8. Assim era, ah, já era entressafra de maio pra comemorar a emancipação
política no mês seguinte, com outras marchas juvenis pra quem agradava a si e
ao suposto país entre golpes e marmeladas, pacotes e carestias e racismo e
mamatas e compras de votos nos currais eleitorais a mando da botada da usina
que anunciava a pejada só pro ano que vem e era nunca mais porque já era dos
anos sessenta pros setenta e pros oitenta, vinte e cinco anos de tristeza com
bandeira a meio pau da venta, sem festa nem alforria, enquanto politicólogos se
enrolavam na TFP que organizava o desfile com seus fogos de artifício na marcha
da pátria e da família, e tinha gente passando fome no canavial e gente presa
torturada em nome da segurança nacional que nos dava maior insegurança e o
Brasil pedia bis nos festivais de música e não havia amanhã pro futuro, nunca
mais era só um milagre de mentirinha imitando estrangeiros e todo mundo levou a
sério, como se sério fosse qualquer piada sem graça a esconder a verdade pra
jamais ter coragem para justiçar os mortos, nem pra reforma agrária, nem pra
verdade de nada, nem cidadania, nem dignidade nem nada porque a felicidade era
urgente e pra nunca nunca mais e o que passou passou não voltaria mais pros
vivos mais mortos que enterrados cadáveres na injustiça de sempre pra nunca
mais e só restava cantar uma Nênia de Abril. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ: 24 HORAS NO AR!!!
Hoje na Rádio Tataritaritatá: The Planets
Suite, St. Paul’s Suit & Symphony in F Major The Cotswolds, do compositor,
arranjador e professor inglês Gustav Holst; a
interpretação da violoncelista estadunidense Alisa Weilerstein para o Concerto in D Major 1 de Haydn, Variations
on a Rococo Theme op. 33 de Tchaikovsly & Hindemith Cellokonzert HR
Sinfonieorchester; os álbuns Perto do coração, Mantiqueira, Só Xote e Música
Popular Brasileira Contemporânea do produtor
musical, arranjador, instrumentista, regente e compositor Nelson Ayres; e os álbuns Cidade Blues Rock nas Ruas & Salve a
beleza da cantora, compositora e jornalista Mona Gadelha. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE - [...]
O homem
é o único ser vivente que pode assumir responsabilidade diante do que faz, e
com esse ‘pode’ já é de fato responsável [...] Por
repensar o conceito de responsabilidade e sua extensão, nunca antes concebido,
sobre o comportamento de nossa espécie inteira em relação à natureza, a
filosofia dará o primeiro passo em direção a assumir essa responsabilidade. É
meu desejo para a filosofia que persevere nesse empenho, sem medo de qualquer
eventual dúvida referente ao seu sucesso. O século que está chegando tem
direito a essa perseverança [...]. Trechos extraídos da obra O princípio responsabilidade:
ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Contraponto, 2005), do
filósofo alemão Hans Jonas
(1903-1993). Veja mais aqui.
BRASIL AOS TRANCOS E BARRANCOS - [...]
Ao predomínio das multinacionais sobre a
economia brasileira, a seu domínio sobre os órgãos formadores de opinião
pública, a seu controle das redes de comunicação de massa, correspondem uma
descaracterização progressiva de nossa cultura e uma alienação também crescente
de nossa consciência nacional. Atitudes de desprezo para com o nosso país e de
descaso para o nosso povo, que são inerentes à condição dos agentes das
empresas que nos exploram, se difundem aos executivos brasileiros, por ela
cooptados, e, destes, a camadas mais amplas, generalizando-se assim uma
consciência espúria, fundada em valores estranhos e hostis a nós, que converte
muitos dos brasileiros mais influentes em agentes ativos da recolonização do
Brasil. São os que detestam os pobres, os pretos, os mulatos, os nordestinos,
os gaúchos, culpando-os de sua penúria. Uma nova civilização começa a surgir
debaixo dos nossos narizes. Ainda sem cara visível, ela já põe em causa todos
os modos humanos a ser e de pensar, mesmo os aparentemente mais estáveis: o
machismo e a feminilidade, a religião e a política, a juventude e a velhice, a
beleza e a feiúra. Que seremos amanhã, nós, pessoas, poços, raças, na forma que
temos hoje? Só sabemos ao certo que vamos ser outros; tão diferentes de nós, ou
ainda mais do que nós somos de nossos ancestrais mais arcaicos. [...].
Trecho extraído da obra Aos trancos e
barrancos: como o Brasil deu no que deu (Guanabara, 1985), do antropólogo e
escritor Darcy Ribeiro (1922-1997).
Veja mais aqui e aqui.
A VERDADE, SOMENTE A VERDADE? – [...]
O
fenômeno da compreensão e da maneira correta de se interpretar o que se
entendeu não é apenas, e em especial, um problema da doutrina dos métodos
aplicados nas ciências do espírito. Sempre houve também, desde os tempos mais
antigos, uma hermenêutica teológica e outra jurídica, cujo caráter não era tão
acentuadamente científico e teórico, mas, muito mais, assinalado pelo
comportamento prático correspondente e a serviço do juiz ou do clérigo
instruído. Por isso, desde sua origem histórica, o problema da hermenêutica
sempre esteve forçando os limites que lhe são impostos pelo conceito
metodológico da moderna ciência. Entender e interpretar os textos não é somente
um empenho da ciência, já que pertence claramente ao todo da experiência do homem
no mundo. Na sua origem, o fenômeno hermenêutico não é, de forma alguma, um
problema de método. O que importa a ele, em primeiro lugar, não é estruturação
de um conhecimento seguro, que satisfaça aos ideais metodológicos da ciência -
embora, sem dúvida, se trate também aqui do conhecimento e da verdade. Ao se
compreender a tradição não se compreende apenas textos, mas também se adquirem
juízos e se reconhecem verdades. Mas que conhecimento é esse? Que verdade é
essa? [...]. Trecho
extraído da obra Verdade e método: traços
fundamentais de uma hermenêutica filosófica (Vozes, 1998), do filósofo
alemão Hans-Georg Gadamer (1900-2002), discutindo a metodologia das
ciências do espírito e da natureza na busca da verdade, à luz da ciência
hermenêutica.
POR QUE MENTIMOS? - No princípio havia a mentira [...] Mentimos para conseguir coisas que seriam
mais difíceis de obter de outra forma [...] mentimos em qualquer circunstância na qual manipular o comportamento do
outro pode ser vantajoso para nós [...]. Trechos extraídos do livro Por que mentimos: os fundamentos biológicos e
psicológicos da mentira (Campus, 2006), do
filósofo, psicólogo, professor PhD e historiador David
Livingstone Smith, contando com as histórias de Adão e Eva, Rei
Lear, Chapeuzinho Vermelho, histórias recheadas de invenções, são
interessantes exatamente por satisfazerem a necessidade humana de mentir para observar que
a mentira na raiz da herança cultural e a necessidade de enganar -
inclusive a si mesmo - vai de um extremo a outro da cultura. Veja mais aqui e
aqui.
Veja mais:
A verdade da
independência do Brasil aqui
Fecamepa:
corrupção X cláusula da reserva do possível aqui.
Saúde no Brasil
aqui.
Cantos do meu país
aqui.
Imprensa no Brasil
aqui.
História Universal
da Temerança aqui.
Fecamepa aqui.
A música de Gustav
Holst aqui.
A arte musical de
Alisa Weilerstein aqui.
A arte de Mona
Gadelha aqui.
&
A
MULHER DO DESERTO
A mulher de areia
Penteia os cabelos
de folhas de palmeira,
Estende as mãos de
cardo
Pedindo águas
Depois descansa as
mãos de cardo
Na humildade da
pedra.
A mulher do deserto
Pensa nos seus
amores infelizes
Pensa nos seus
amores
Que se evaporam
quando o Sol nasceu,
Depois não pode mais
pensar
Porque o tempo é
pouco para pedir água.
Poema extraído da obra Melhores
poemas (Global, 2000), do poeta e prosador do Surrealismo brasileiro, Murilo
Mendes (1901-1975). Veja mais aqui e aqui.
A
ARTE DE ZHU HONGYU
A arte de fotógrafo Zhu Hongyu