sexta-feira, agosto 30, 2019

GILBERTO FREYRE, JULIO CORREA, REMBRANDT & SASKIA, EVELYNE AXELL & CARLA VAN DE PUTTELAAR


SASKIA AMADA DO QUE FUI – Era a descoberta do amor, uma vez e nunca mais. Era ela, ao lado do tio: a deusa de Leeuwarden, a imagem do fascínio. Eu já vivia lá no canal Amstel, e ela sorriu por baixo da aba de um amplo chapéu de palha: seus lábios brilhavam mais que a grandeza do ouro, seus olhos brilhavam mais que o Sol radiante. Em sua mão uma flor, excelsa ternura, exaltada generosidade. E eu era apenas a sua pele fresca e brilhante, os lábios sutis e sensuais, pequenos dentes perolados, face cheia de reluzente inteligência, tão astuta e constante, juventude eterna. Tudo nela era como um veludo vermelho e dourado, voluptuoso, à luz do dia, a água fluindo, as íngremes escadas de madeira, seus movimentos apressados. Eu nunca fui páreo para uma linda mulher de família rica respeitada, só um reles rebelde, tropical Niágara, que saí do Lácio para a vida: o puro prazer de viver. Era ela toda para mim e foi contra todas as convenções na flor da idade e me fez feliz. Ela com todas as poses: a pentear os cabelos, deitada na cama, dormindo, sonhando, o olhar provocante no pátio, exultante à janela, ah, infinidade de nuances, era ela, a compreensão da mente e dos olhos. Ah, minha Saskia, mulher destemida, educada, o meu diário: todo meu afeto, memórias, vida, a minha arte humana roubada dos céus para os filhos dos homens, a noite da alegria, a eterna fé e coragem. Ah, como adorava Saskia, minha musa amada, deusa esvoaçante. Era ela a minha Flora, deusa das flores; a minha Danae nua na cama, a minha Betsabea com la lettera di David, a minha Andromeda Chained to the rocks, o meu asteroide iluminado, a minha noiva judia: a sua mão na minha, o gesto de adoração. Todas elas e mais tantas que é ela e só ela no meu coração. Deu-me tudo: a alma do cronista de todos os rostos humanos. E nela conheci a ascensão e o declínio. Sobrevivi a todos que amava, a minha luz subitamente perdida nos ares, as trevas, difamações, e eu com camponeses, pescadores, velhos moradores; e sem ela, cego, fracassado, envelhecido prematuramente: o meu sorvedouro de dívidas, o funeral da reputação, tristeza, privações, o grande silêncio da minha solidão devastadora, da minha tristeza destrutiva. Só ela vive no meu coração indigente que tudo ganhei e perdi, nem ela está mais aqui. Sou apenas meu rosto invernal, alma solitária. Empobreci, reduzido a nada e sem ela. Desconsolado, sou cônscio da minha própria mortalidade. Vivo apenas dela, para ela, nada mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] as canções de berço portuguesas, modificou-as a boca da ama negra, alterando nelas palavras; adaptando-as às condições regionais; ligando-as às crenças dos índios e às suas. Assim a velha canção "escuta, escuta, menino" aqui amoleceu-se em "durma, dur-ma, meufilhinho", passando Belém de "fonte" portuguesa, a "riacho" brasileiro. Riacho de engenho. Riacho com mãe-d'água dentro, em vez de moura-encantada. O riacho onde se lava o timãozinho de nenê. E o mato ficou povoado por "um bicho chamado carrapatu". E em vez do papão ou da coca, começaram a rondar o telhado ou o copiar das casas-grandes, atrás dos meninos malcriados que gritavam de noite nas redes ou dos trelosos que iam se lambuzar da geléia de araçá guardada na despensa - cabras-cabriolas, o boitatá, negros de surrão, negros velhos, papa-figos. [...] E havia o papa-figo, homem que comia fígado de menino. Ainda hoje se afirma em Pernambuco que certo ricaço do Recife, não podendo se alimentar senão de fígados de crianças, tinha seus negros por toda parte pegando menino num saco de estopa. E o Quibungo? Este, então, veio inteiro da África para o Brasil. Um bicho horrível. Metade gente, metade animal. Uma cabeça enorme. E no meio das costas um buraco que se abre quando ele abaixa a cabe-ça. Come os meninos abaixando a cabeça: o buraco do meio das costas se abre e a criança escorrega por ele. E adeus! está no papo do Quibungo. [...].
Trechos extraídos da obra Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (Livros do Brasil, 1957), do sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987). Veja mais aqui, aqui & aqui.

A POESIA DE JULIO CORREA
A PRÓDIGA - Eu a conheci uma noite, doce e tentadora, / Como uma fruta no tempero. / Risos acariciando aleatoriamente / Um presente tão celestial. / De sua boca fluiu / em excitação louca / sua risada musical, / docemente infernal. / Quando a vi, fingi / uma sacerdotisa, / rainha da alegria, / de amor, de riso / e prazer; / alguns Messalina / par carnal e divino, / de feitiço irresistível / isso para muitos Claudios / fez o amor enlouquecer. / Depois de quatro anos eu achei mentirosa / para se proteger do frio em uma porta, / e vi sobre sua boca desbotada / um sorriso morto, / e olhando nos olhos dela / Eu vi um arrependimento / que sede de perdão / colocar erva-doce / inutilmente triste com o fatal / Distribuidor do bem e do mal.
MATERIAL DE MARIONETES – Ele fez o marionetista como vinte fantoches. / Por muitas noites, / em frente ao pobre retábulo, / para o príncipe, a rainha e o arlequim e o diabo, / feito de madeira encontrada aleatoriamente, / as pessoas humildes e boas aplaudiram incessantemente. / Eles disseram na vila, / dos bonecos: -Todos, bons artistas são; / e o marionetista, também com essa ideia, / Ele sentiu seu coração dançar alegremente. / Ele foi beijar suas marionetes e dormiu em paz / em uma calma doce, / amarrou os fios / dos fantoches à sua alma. / E o marionetista acordou de seu sonho de paz / e ele ouviu os bonecos gritarem em coro: / -Nós somos homens, sim, senhor, e também / Ser artista é um desperdício, / Sr. marionetista: você passa, boa noite - / e quebrando os fios os fantoches deixaram. / O deserto é o retábulo. / O príncipe, a rainha e o arlequim e o diabo, / o rei com sua coroa, / ouro falso brilhante / e aquela Polichinela que a fez rir tanto, / Eles foram embora. Com choro / chora o marionetista: -É um andaime / este meu retábulo; / Eu sinto que eles te matam, oh, coração, frio, / de um resfriado que quebra você / em pedaços de lágrimas, em pedaços de morte! / Oh malditos fantoches, você roubou sua sorte / ser artistas, ser capaz de fazer arte! / Oh! fantoches, fantoches, / fantoches, amaldiçoados, / perdido à noite / De todo o anônimo, de todo o esquecimento. / Eu te fiz de tarugos, / Eu coloquei em você todas as minhas preocupações, / e você era meus carrascos, / e você até me abandonou ... o mesmo que algumas crianças.
Poemas do poeta paraguaio Julio Correa (1890-1953).

A ARTE EVELYNE AXELL
A arte da artista pop belga, Evelyne Axell (1935- 1972), conhecida por suas obras psicodélicas e eróticas, autorretratos em plexiglas que misturam os impulsos hedonistas e pop dos anos 1960. Veja mais aqui.

A OBRA DE REMBRANDT
A obra do pintor e gravador holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669), com destaque para sua obra dedicada à sua amada Saskia van Uylenburgh (1612-1642) aqui e aqui.
&
A ARTE DE CARLA VAN DE PUTTELAR
A arte da série The Rembrandt Series (Rembrandt House Museum in Amsterdam, 2016), da fotógrafa & artista plástica holandesa Carla Van de Puttelaar. Veja mais aqui.


quinta-feira, agosto 29, 2019

AMADO NERVO, TEMPLE GRANDIN, RACHEL RIPANI, JIŘÍ RŮŽEK & SISSI TEJE-PRESO


SISSI, A MADAME TEJE-PRESO – Quando deram por falta do imperadoutor Teje-Preso, já passava mais de mês do sumiço dele. É mesmo? Nem notei: O coiso desaparece, mas o fantasma dele fica no quengo da gente, vigiando. Parece mesmo encosto dos brabos. Foi aí que apareceu a notícia: O quê? Como é que é? Pois foi. Ninguém que podia imaginar que aquele poderoso pigmeu de pouco mais de meio metro, com feições hitleristas e de maus bofes, fosse casado. Hem? Tampouco se adivinhava o que havia por trás dos muros altos de sua residência: se gente, bicho, ou o que fosse. É, ninguém entrava nem saía. Pudera, ele apareceu assim de repente num amanhecer calorento em Alagoinhanduba, não se sabendo, ao certo, quem era, de onde vinha e o que estava fazendo ali. Viu-se de imediato, apenas, os encolerizados esporros, que se tratava de um mandão que vinha colocar todos os pontos nos iis na comarca. Foi mesmo. Era o que dava para pensar. Além do mais, ele comparecia aos eventos ou circunstância que fosse, só acompanhado de seus capangas. Por isso, davam-no por irado solteiríssimo – até insinuavam ser ele um enrustido, destá. Tá. Mas, afinal, qual a notícia? A de que a esposa dele faleceu. Esposa? É. Quem? A condessa Sissi Teje-Preso. Mas quem a viu em vida? Foi o doutor Zé Gulu que saindo do seu peculiar mutismo, falou ser ela uma requintada madame, de feições nobres parecidas com a imperatriz Elisabete da Áustria e que, como Sarah Bernhardt, cultivava um ataúde ao lado da cama para seu descanso. Vôte! Como é que ele sabe? Foi o que dela se soube ou ouviu dizer, de alguns poucos achegados dela dali e que contaram a ele. Quem? Ah, sim, o artista plástico Flaru que não falava com ninguém de tão endoidado que era e íntimo em conversas com ela – Nunca ouvi falar! O pianista pinguço e alvoroçado, Cerdavi, solitário que só tinha o doutor Zé Gulu por amigo – Esse, pior ainda! E o poeta excêntrico e azoretado, Teju – Nunca vi mais gordo! Esses eram os únicos que privavam do convívio dela, afora outros visitantes de outras paragens longínquas, tudo artista e só. Eles que testemunharam suas crises místicas e seus acessos de fúria, o deserto ao redor e mergulhada no seu exclusivo mundo fantástico. Apesar de se portar como uma prima-dona despótica e exibicionista, desventrando com chulas e obscenas vociferações, vivia de carão nos lacaios e não se agradar de se misturar às massas. Entretanto, era extremamente educada e graciosa, mitigava sua solidão com música, poesia e exposições de quadros e gravuras. Soube mais dela ser possuidora de uma vastíssima coleção de pinturas e partituras, uma biblioteca de não seis quantos andares cheios de livros, pianos, violinos, cítaras, e que era poliglota, tanto recebia visitas como falava ao telefone nos mais diversos idiomas. Afora os três mencionados, ninguém da localidade jamais havia visto ali suas feições, porte ou nome, sabendo-se da sua graça apenas Sissi. Vivia ela encerrada nos limites do extenso sítio, em momento algum se sabendo se tinha saído ou como havia entrado ali. Se viajasse ou não, saía e voltava tão oculta de sequer quem quer que seja tomasse qualquer conhecimento, nem que suspeitasse de sua própria existência. Disseram que ela perdeu tantos filhos e parentes que resolveu prelibar com uma urna funerária ao lado, antecipando o prazer da vida eterna. Lascou. Sim, e a causa mortis? Desembucha! Pereceu não se sabe de quê, só que morreu de morte morrida, ao que parece, quem ousaria matá-la senão o próprio marido, ninguém é doido, né? Disso não há como saber, nem tirar a limpo. Só que deixou o cônjuge desolado no maior desdouro, ao que ele amaldiçoa noitedia a sua defecção. Coitado do coisa-ruim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Para mim, o autismo é secundário. Minha primeira identidade é especialista em gado — professora, consultora, cientista. Para manter intacta esta parte da minha identidade, separo regularmente trechos do calendário como “tempo do gado”. O mês de junho? É tempo do gado. A primeira parte de janeiro? Tempo do gado. Não me comprometo com palestras nesses períodos. Certamente o autismo é parte do que sou, mas não deixo que ele me defina. [...] Meu talento para a engenharia devia ter sido a pista. A engenharia não é abstrata, mas concreta. Ela trata de formas. Ângulos. Tem a ver com geometria. [...] Eu era péssima para entender os problemas de física por escrito. Não conseguia nem entender como armar os problemas, porque eles exigiam demais da minha memória de trabalho. Contudo, se tivesse de resolver um problema de física hoje, eu saberia o que fazer. Conseguiria cinco livros escolares, sentaria com um tutor e uma planilha, identificaria cinco exemplos específicos de problemas que usem uma fórmula e exemplos específicos de problemas que usem outra fórmula e no final identificaria os padrões nos problemas. [...] Do ponto de vista da neurociência, controlar as emoções depende do controle de cima para baixo pelo córtex frontal. Se você não controla suas emoções, precisa mudá-las. Se quiser manter o emprego, precisa aprender a transformar a raiva em frustração. Li num artigo de revista que Steve Jobs chorava de frustração. Por isso ele ainda tinha um emprego. Podia ser verbalmente grosseiro com os funcionários, mas, pelo que sei, não saía atirando coisas neles nem agredindo-os. [...] Tudo bem, digamos que acriança autista teve uma educação que identificou e desenvolveu seus pontos fortes. Digamos que esta criança cresceu e entrou num mercado de trabalho que aprecia suas competências particulares. Isso é ótimo para ela. Mas sabe oque mais? Também é ótimo para a sociedade. [...].
Trechos extraídos da obra O cérebro autista: pensando através do espectro (Record, 2015), da doutora de ciência animal e ativista autista estadunidense Temple Grandin, em parceria com Richard Panck Grandin. Sobre a vida e o trabalho dela, o diretor Mick Jackson realizou o telefilme Temple Grandin (HBO, 2010), tratando da prática de tratamento racional de animais, a máquina do abraço e da teoria de pensar em imagens e conectá-las. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A ARTE TEATRAL DE RACHEL RIPANI
Como ator, você sempre está defendendo as ideias do autor ou do diretor. Um ator, quando amadurece, tem vontade de colocar suas ideias em cena. Por isso resolvi escrever.
Com a minha família na sala, um primo de 19 anos recém-saído do Exército (Dragões da Independência) me pediu para ver meu quarto novo. Chegando lá, ele me empurrou sobre a cama, me segurou, baixou minha calcinha e me chupou. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, a sensação horrorosa de que tinha algo muito errado, ele tapando minha boca, eu imobilizada. De ponta-cabeça, minha boneca preferida me encarava, e tudo que eu conhecia do mundo mudava radicalmente naqueles minutos. Minha irmã percebeu que estávamos demorando para voltar e subiu, me salvando do que poderia acontecer ainda. Ele me levantou a calcinha, eu frouxa como uma boneca de pano, em silêncio o resto da noite.
A arte da atriz, produtora, diretora e tradutora Rachel Ripani. Veja mais aqui.

A ARTE FOTOGRÁFICA DE JIŘÍ RŮŽEK
A beleza do corpo de uma mulher anda de mãos dadas com os segredos de sua alma e você não pode vê-los separadamente.
A arte do premiado fotógrafo tcheco Jiří Růžek. Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE AMADO NERVO
Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós. Sempre que houver um vazio em tua vida, enche-o de amor. A liberdade costuma vir vestida de trapos; porém, mesmo assim, é muito bela, mais bela do que todas as moedas de ouro e prata. Tão necessário como o pão de cada dia, é a paz de cada dia sem a qual o mesmo pão é amargo. As mais doces palavras são as que se expressam mais com os olhos do que com os lábios.
A obra do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919) aqui


quarta-feira, agosto 28, 2019

TRUMAN CAPOTE, FARADAY, BRÁULIO TAVARES, INGRID SILVA, BARÃOZINHO, GRIMM & FLAUTISTA DE HAMELIN


O MORTO QUE SE PERDEU – Quando o filho caçula do Barão rebentou foi um alívio. Na verdade, uma festa para mais de uma semana do lado de lá. A cidade inteira acompanhou o festeiro do lado de cá do rio. O regabofe teve todo tipo de pipoco: tiros e foguetórios do muito. Um estardalhaço de comemoração. Pudera, a filha dele, Maria Joãozinho, já estava virando mundo, casando e descasando como quem troca de roupa, avalie. Ela já ia pelo vigésimo matrimônio– ou era trigésimo? Sei lá. Ô mulher virada na gota! Destá. Era o cabra se afrouxando do sopapo dela e ela já arrumando outro na lata, fogosa, atirada. Que coisa! Entretanto, ela saía da manchete na família e entrava de férias no desassossego deles; a bola da vez era o bruguelo que berrava para felicidade do mais rico do lugar: Agora sim, um filho macho dignifica a família! E mimou tanto o pixote de quase deixá-lo pior que a filha: mimada e revoltada. Ensinou tudo de macheza pros dois, caprichando, evidentemente, no menino, que já crescia com os maus bofes e não queria errar a mão: Vai que por azar da sorte o presepeiro desse de desmunhecar, hem? Seria um desgosto duplo. Bastavam as doidices dela. Mas não, o pirralho adolesceu de virar um galalau disputado entre as recatadas, esvoaçantes e perdidas. Era o Barãozinho. Para se ter uma mínima ideia do que se sucedia com o sortudo, as casadas suspiravam, os homens queriam por amigo, as crianças faziam festa, os velhos endeusavam, afinal, duas eram as principais razões para tal: era o filho do Barão, meu; a outra, era gente boa, mão aberta, filantropo de nascença, um santo, no dizer de todos. As filhinhas de papai ou mesmo as mais assanhadas, disputavam às tapas e puxavanques, lasquinhas que fosse de pedras de ara, só pra servir de amuleto e prendê-lo às redes do amor. Ele escapulia, sabido; sapecava a bimbada, dava cheiro, presentes e carícias, depois arribava para as capitais, agitar noutras plagas. Enquanto isso, não faltava quem deitasse tapetes suntuosos ou tirassem as próprias vestes para que ele não pisasse em poças ou lamaçais. Ele, sempre grato, sacava dos bolsos cédulas e moedas, agradecendo com paga além do chaleirismo. Tanto é que bebiam o mijo dele – diziam ser curativo -, até achavam a bosta dele cheirosa, pode? Ô cabra perfumado da gota! Bebia suco de graviola, só pode ser. Qualquer um que se arvorasse a sair dos trilhos, como manda o figurino, logo era admoestado: Você não é o Barãozinho, fique quieto, amanse os cornos. Parecia mesmo ser um sujeito exemplar, todos que o digam. Na verdade, caiu nas graças do povo. Fizesse o que fosse, sempre incólume, indelével, imaculado. Chegou a ponto da Câmara de Vereadores de Alagoinhanduba, em uma das esfuziantes sessões, dar-lhe o título de cidadão local – apesar de ter nascido naquelas terras, o Barão fez questão de registrá-lo como se nascido na capital federal -, e logo emplacou proposta de canonizá-lo, o que recebeu a simpatia do padre que providenciou tudo para que o Vaticano assim procedesse. Aplausos, salves e vivas! Malogrou. Poderia até ter dado certo, não fosse um trágico acidente de automóvel naquela mesma noite, numa das curvas da rodovia de acesso à cidade. Não fosse isso, era bem capaz da gente hoje saber do Santo Barãozinho. Não duvido. Quando souberam da fatalidade, a cidade em peso foi pro local. Lá estava ele esmagado entre as ferragens. Trouxeram corpo de bombeiros e começaram o resgate: Oxe! Cadê o homem? Sumiu, era ele que estava aí dentro mesmo? Era, o carro é dele, ora. Estava o canto mais limpo: Ué, essa máquina não podia andar sozinha, né? Cadê o corpo, meu? Vasculharam. Até que alguém teve a iniciativa de abrir o porta-malas. Lá estava ele: nu e de pau duro. Como pode? Eita, parece que ele morreu de priaprisma. E agora? Chama o Barão, ele sabe o que deve ser feito. E lá vinha ele cagando raios. Que é que foi dessa vez, cambada? Quando viu o filho naquele estado, desmanchou-se na maior tremedeira. Segura o homem, gente! Aí caiu o maior pé d’água! Corre-corre, levaram o corpo para um lugar improvisado na casa grande, fizeram o velório e passaram três dias e três noites chorando de joelhos, até que a irmã chegasse embaixo do maior espalhafato. Maior lamúria de carpideiras, o mundo todo aos prantos no atacado e no varejo, até os céus choravam arreando a maior tempestade. Prosseguiam as cerimônias, orações exaltadas de padres e pastores, todos juntos em procissão até o local do sepultamento num terreno que o Barão mandou organizar como cemitério particular e, nessa hora, uma tuia de raios clareou o céu e revirou a terra. E tome coriscos, relâmpagos a granel, trovões retumbantes, mais de horas de aguaceiro. Todos correram e deixaram lá o corpo insepulto. Depois da procela, foram para lá e a urna funerária estava toda espatifada, lascas de madeira para todo lado. E o esquife? Sumiu. Perdeu-se. Nunca foi encontrado. Corre até uma lenda que ele ressuscitou e saiu errante pelo mundo afora. Ainda hoje esperam, todos esperam o seu retorno. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Os dois rapazes pouco tinham em comum, mas não se apercebiam disso, visto que possuíam um certo número de afinidades superficiais. por exemplo, ambos eram requintados e exigentes Depois daquela manhã de lubrificação, passaram cerca de uma hora no toilette da garagem. Dick em roupas interiores era muito diferente do Dick completamente vestido. Assim, parecia um rapazola magro, de altura média, descarnado e talvez com o peito metido para dentro; despido, via-se que não era nada disso, mas sim um atleta treinado em peso e alteres. O focinho de um gato tatuado em azul, com uma expressão de riso, cobria-lhe a mão direita; sobre um dos ombros floria uma rosa. Outros sinais, desenhados e tatuados por ele, ornamentavam-lhe os braços e o tronco: a cabeça de um dragão com uma caveira entre as mandíbulas; mulheres nuas de seios opulentos; um diabrete brandindo uma forquilha; a palavra PAZ acompanhada com uma cruz rodeada de riscos a imitar raios de luz; e duas composições sentimentais – uma delas um ramo de flores dedicado à MÃE e ao PAI, o outro um coração que celebrava o romance de Dick E CAROL, a rapariga com quem se casara aos dezenove anos e da qual se separara seis anos mais tarde, a fim de reparar a sua falta para com outra jovem, mãe do seu filho mais novo. (“Tenho três filhos dos quais tomarei definitivamente conta” - declarara ele ao ser liberto condicionalmente. “A minha mulher casou outra vez. Fui casado duas vezes, mas com a segunda não quero nada”) [...] Uma bátega súbita crepitava no telhado da arrecadação. O ruído, semelhante a um rufar de tambores numa parada, precedeu a chegada de Hickock. Acompanhado por seis guardas e o capelão que rezava em voz baixa, entrou no fúnebre local algemado e envergando um feio dispositivo de correias que lhe mantinha os braços ligados ao tronco. Junto da forca, o diretor da cadeia leu-lhe a ordem oficial da execução, um documento de duas páginas; e durante esse tempo os olhos de Hickock, enfraquecidos por meia década de sombra, percorriam a reduzida assistência, até que, não conseguindo avistar o que procurava, perguntou em voz baixa a um guarda se estava presente algum membro da família Clutter. Ao receber uma resposta negativa, o prisioneiro pareceu desapontado, como se achasse que o protocolo que rodeava este ritual da vingança não estava a ser cumprido à letra. Como é hábito, o diretor, no fim de recitar o documento, perguntou ao condenado se tinha qualquer coisa a declarar. Hickock sacudiu a cabeça:- Só desejo afirmar que não quero mal a ninguém. Vocês mandam-me para um mundo melhor do que este. - Depois, como que para acentuar a afirmação, apertou as mãos dos quatro homens que haviam sido mais diretamente responsáveis pela sua captura e condenação, e que tinham pedido expressamente para assistir à execução da sentença [...].
Trechos extraídos da obra A sangue frio (Nova Fronteira, 1965), do escritor e jornalista estadunidense Truman Capote (1924-1984), relatando o brutal assassinato de uma família estadunidense, dando a ideia inicial do crime até a execução dos assassinos. O livro descreve minuciosamente a reação dos moradores da cidade, a investigação policial e os passos dos criminosos durante a fuga, bem como a história pregressa dos mesmos. Poucos meses depois do crime, Richard Hickock e Perry Smith são presos pela chacina e, condenados à morte, em 14 de abril de 1965, eles são enforcados. Veja mais aqui.

PIED PIPER DE HAMELIN DOS GRIMM
Há muitos e muitos séculos atrás , na cidade de Hamelin, numa bela manhã seus habitantes encontraram a cidade repleta de ratos famintos, devorando todos os grãos armazenados nos celeiros dos ricos comerciantes do local. Apavoradas, muitas pessoas começaram a fugir da cidade, os moradores desesperados reuniram-se e decidiram oferecer uma grande recompensa a quem acabasse com aquela terrível invasão dos ratos. Logo surgiu um flautista a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: “A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin”. O flautista pegou então sua flauta e saiu pelas ruas de Hamelin entoando uma linda melodia que encantava os ratos, e fazia com que todos os ratos o seguissem pelas ruas de Hamelin totalmente hipnotizados pela linda melodia oriunda da flauta. O flautista seguiu então por uma longa estrada, ao fim desta estrada havia um grande rio; os ratos ao tentar atravessar o rio para seguir o flautista, acabaram por morrerem afogados. Assim, os habitantes de Hamelin se viram livres da odiosa praga de ratos que havia lhes tirado o sossego. No dia seguinte, o flautista foi falar com os responsáveis pela cidade, que fizeram a promessa de entregar um grande recompensa em dinheiro a quem desse fim a todos os ratos. Porém o Conselho da cidade por pura avareza decidiu não pagar ao flautista pela exterminação dos ratos. Furioso pela atitude dos avarentos homens do conselho da cidade de Hamelin, o flautista desta vez decide se vingar. Num linda manhã quando todos os habitantes se encontravam na igreja em oração, o flautista começou a tocar a sua flauta e a hipnotizar todas as crianças da cidade, levando-as para uma caverna e aprisionando-as para sempre lá. Nunca mais as crianças apareceram e a cidade de Hamelin ficou triste, silenciosa e por mais que se procure lá nunca se encontra nem um rato, nem uma criança.
Fábula extraída da obra Contos dos Irmãos Grimm (Rocco, 2005), dos irmãos escritores Jacob e Wilhelm Grimm. Veja mais aqui e aqui.
PS: O escritor e compositor Bráulio Tavares também escreveu a respeito, O flautista misterioso e os ratos de Hamelin (34, 2008), em sextilhas rimadas e bem divertidas, contando, em forma de cordel, a célebre lenda do flautista de Hamelin, acrescida de toques engenhosos e alusões contemporâneas, não faltando tiradas e comentários engraçados sobre uma cidade que, além de ser vítima dos ratos, é vítima também de seus políticos corruptos. Veja mais aqui, aqui e aqui.

A ARTE DE INGRID SILVA
Eu sempre pensei que a dança poderia ser meu sonho e eu estou tão feliz, de compartilhar sobre minha vida e meu mundo de dança com você, a dança realmente mudou a minha vida.
A arte da bailarina Ingrid Silva, que iniciou sua carreira aos 8 anos de idade, no Projeto Dançando Para Não Dançar e continuou seus estudos na Escola de Dança Maria Olenewa e no Centro de Movimento Debora Colker com bolsa integral. Aos 17 anos, juntou-se ao Grupo Corpo como estagiária. Em 2007, ela ganhou uma bolsa de estudos para o Dance Theatre of Harlem School e, em 2008, no Dance Theatre of Harlem's Dancing Through Barries Ensemble. Atualmente ela é embaixadora cultural para os Estados Unidos ao dar workshops na Jamaica, em Honduras e em Israel. Participou do BrazilFoundation Gala, em 2014, no Lincoln Center, e foi destaque no filme Maré, Nossa História de Amor (Brasil). Recentemente, marcou presença na mídia nas revistas Vogue e Glamour, no Brasil, e tornou-se Embaixadora Global da Activia. Veja mais aqui.

A OBRA DE FARADAY
Nada é maravilhoso demais para ser verdade, se for consistente com as leis da natureza.
A obra do filósofo, físico e químico inglês Michael Faraday (1791-1867) aqui.


terça-feira, agosto 27, 2019

CONFÚCIO, CAMILLE PAGLIA, JACQUES LIPCHITZ, BAIXIO DAS BESTAS & BIRITOALDO


OS PANTINS & SUMIÇO DO BIRITOALDO – O Biritoaldo não toma mesmo jeito. Não bastou ser escorraçado com um bocado de chifres embelezando o quengo e presenteado gentil e diligentemente pela Munga; de ter sido defenestrado com um chutaço nos glúteos pela Xica Doida, de ficar se arrastando de quatro, todo desconjuntado por um bocado de dia – A mulher tem uma patada atômica ineivada à la Rivelino, meu! -; de ter variado mundo afora numa paixonite descabelada por uma foto desbotada – era da Amy Winehouse antes do sucesso, lascou-se ao saber que ela tinha morrido fazia tempo -; de ter sido barrado depois de uma recaída sentimental das brabas – era pela Rebel Wilson - Ué, esse cabra devia se agarrar com a santa Rita de Cássia, vai gostar de causas impossíveis assim lá no raio que o parta, meu! -; e depois de tanta dor de corno, enfiou o dente com força nas biritas de perder o carnaval e a noção do tempo; e de sair se vingando de formigueiro, ih, danou-se! Parece que agora ele emborcou de vez e ganhou a simpatia da galera: Aê, Birito, já vai, né? Vai pra porra, fresco! E aí Birito? Vai te lascar, viado! Birito, vem cá, conta uma pra gente, vai! Só se rolar uma meiota! Desce aí uma lapada boa pro Birito, meu! Qual é a nova? Ah, não te conto. E arriava peta maior que as aldrabices dos mitômanos. Bote patranha cabeluda, sempre levando a maior. É mesmo, rapaz? Todos se arregalavam na maior das gaitadas. Desce outra carraspana aqui pro Birito, meu! E de gole em engulhos, ele debulhava suas pinoias, cada gazopa maior que a outra, inventando acontecidos de seu próprio heroísmo e macheza. Comigo é assim! Faziam que davam fé só para ver até onde ele ia. Tome corda, dele sair todo pabo, trocando as pernas de tão zarolho dos quequeos, tropicando às topadas, até se arranchar num cantinho duma igreja que fosse; isso, quando não, meio lá e meio cá, arremedar o ofício do pároco - ou pastor, por engano: Estou só me agarrando com Santo Expedito, ora! Não adiantava coroinha que fosse para expulsá-lo, logo voltava. Queria falar com o sacerdote de qualquer jeito. Insistia: Não está ou não pode, saiu, ou sai para lá, pinguço! Até o padre perder a paciência e saber o que ele queria. Diga! Seu padre, como é que se pega doença? Assim: vagabundeando, fazendo coisas erradas, irresponsável todo malabanhado, fedendo, aperreando a família, bebendo feito satanás com sede e atrapalhando a vida dos outros. Calma, cidadão, calma aí, eu só estou preocupado porque soube que o papa estava doente, por isso que vim saber do senhor. Bota esse sujeito para fora, já! E saíam aos empurrões para jogá-lo no meio da rua: Isso é lá coisa que se faça com um sujeito católico que nem eu, seus merdas! Vou virar uma teibei agora! Ninguém sabe como, ele se apossava aprumado de uma garrafa do aperitivo escalafobético, de findar cantarolando no maior berreiro a sua cornice desmedida, aos goles, peidos e soluços. Embeiçava a carraspana de se envultar por dias, só desenvultando dessa vez, por conta dos assopros de um fuleiro tocador dum pife de Hamelim, puxando uma enfieira de ratos que infestaram Alagoinhanduba, feito praga do maior aperreio para a população. Lá foi ele dançando aos tombos, acompanhando o séquito de guabirus para nunca mais dar sinal de vida. Eita! Alguém viu o Birito por aí? É, nunca mais deu as caras. Por onde é que anda aquele estroina cornudo, hem? Rapaz, faz tempo que deu o maior sumiço. Soube que ele foi enfeitiçado pelo pifeiro da ratoeira e se picou. Ah, ele tá roendo a dor de corno dele, deixa para lá. Um dia aparece. Ah, sim. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A arte só ganha o noticiário hoje quando uma obra é roubada de um museu ou uma pintura de um artista famoso é vendida por um preço absurdamente alto em um leilão. A arte se transformou em investimento para os super-ricos, em nada diferente de diamantes ou imóveis. Essa ostentação e esse excesso distorceram a percepção popular da arte, que toma a aparência de um jogo narcisista e ganancioso dos poderosos para a maior parte das pessoas. [...] A comunidade artística falhou em reconhecer ameaças à sua existência. Por isso escrevi esse livro (Imagens cintilantes), para tentar demonstrar a complexidade e a dimensão espiritual da arte, que não pode ser totalmente emulada por iPhone. [...] O mercado de arte hoje é um espetáculo grotesco de pretensão e ganância. Obras de arte são tratadas como objetos frios de investimento financeiro, exatamente como diamantes, mansões ou carros esportivos. Artistas de destaque do passado e do presente se tornaram marcas, sendo promovidos como empresas comerciais lucrativas. [...].
Trechos extraídos de Como viver juntos – Libreto (Fronteiras do Pensamento, 2015), da escritora, professora e crítica social estadunidense Camille Paglia. Veja mais aqui.

BAIXIO DAS BESTAS
O premiado drama Baixio das Bestas (2006), dirigido por Claudio Assis, aborda sobre a condição da mulher desprotegida numa dramática situação de prostituição ilegal e exploração sexual de menores. Conta a história da jovem Auxiliadora que é explorada por seu avô moralista, que expõe a neta nua por dinheiro em posto de parada de caminhões na região dos canaviais pernambucanos. Na cidade, um estudante de família classe média, se envolve no final de semana com álcool, drogas e orgias sadomasoquistas com as prostitutas de uma cafetina afamada. A história se complica com o cruzamento dos personagens, envolvendo paixões, desejos e intrigas. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE JACQUES LIPCHITZ
Para mim, escultura é divindade. Esta é a única resposta que eu poderia encontrar para mim mesmo. A arte é o modo distintamente humano de lutar contra a morte. Através da arte, o homem alcança a imortalidade e nesta imortalidade encontramos Deus.
A arte do escultor lituano Jacques Lipchitz (1891- 1973). Veja mais aqui.

A OBRA DE CONFÚCIO
O silêncio é um amigo que nunca trai.
A obra do filósofo chinês, Confúcio (551 a.C. - 479 aC) aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


segunda-feira, agosto 26, 2019

BACH, APOLLINAIRE, ANA CLÁUDIA BRITO, VERA BARCELLOS & JOSÉ CARLOS VIANA


O DESENCANTO DE BACH - Johann saxão sou de Eisenach, na Turíngia. Nasci numa data qualquer do calendário juliano, e conservo-me preso ao pó da represa mortal, sujeito ao imprevisível da vida. Na voz soprano infantil, perdi a mãe e, depois, o pai, mais dois irmãos. Fui criado pelo mais velho – um organista de Ohrdruf, o começo das minhas andanças. A música e a loucura fluíam nas veias: do meu avô, o bater ao vento das pás de madeira de um moinho. Minhas mãos enormes, a despeito do fardo da terra alçado ao ombro, carregavam com firmeza o leme da jornada, empenho consagrado por longo e laborioso trabalho árduo. Irrequieto, audacioso, tudo fiz. Na corte calvinista de Köthen: a arte consumida e esquecida. A fuga de Marchand ao desafio, sob a alegação de doença súbita, quem era quem, granjeou-me simpatia. A fama é vento caprichoso. Não me virou a cabeça, apesar do anel dado pelo herdeiro do trono da Suécia. Excêntrico nas ideias: um louco improvisando em claves estranhas, a perturbação de estranhos pensamentos, como a cantata da parábola das virgens prudentes e imprudentes, a graciosa procissão das donzelas saindo ao encontro de Jesus, o noivo celeste. Em Leipzig só conheci desamor, um estrangeiro. Fui preso em Weimar, por descontente patrão: queria a demissão. Fui censurado pelo consistório por conta da ausência ou da escandalosa liberdade improvisada e, depois, por acompanhamentos demasiado curtos. Queriam muito, davam quase nada. Conheci a prima Bárbara, soprano de Gehrenm, que descansou no céu de Köthen, junto com dois dos meus filhos: Deus meu, faz com que eu não perca a alegria que há em mim. Escrevia para curar a insônia do conde, as Variações Goldberg. De mim, tornei-me Si bemol, Lá, Dó, Si, seis dias ininterruptos: a oferenda pro sádico da Prússia. Os seis de Brandemburgo prontos para embrulhar qualquer coisa no armazém. Muitos conflitos com empregadores, a recusa de alunos desatentos, a estupidez dos semelhantes pelo amor de suas regras e preceitos ridículos, embaralhados pela mortalidade. Não se elevavam: punhaladas no coração. Sequer valiam pelos sentidos ou poucos mereciam estar em pé, sobre duas pernas. Um anjo se descesse dos céus, teria de tributar à igreja se quisesse tocar, do contrário, voaria de volta. Queriam um chantre, não um organista de verdade: a inveja é filha da incompetência. Quanta incompreensão, quantos inimigos que não sabiam nada: insultos e calúnias, atribulações, atritos, disputas, críticas, polêmicas, um extenso e fantasioso folclore sobre mim. Reverenciavam-me por monumento, no fundo me ignoravam ao mais grave desdém. Restava-me uma caneca farta de cerveja e o Café Zimmermann: uma cantata profana da moça casadoura que preferia a bebida a mais de mil beijos, afirmando que só aceitaria casar com quem lhe desse café. Tanta coisa por fazer. Ergui minha arte sobre pilares limpos, claros, simples. Brincava sozinho: fazer as coisas bem feitas para que todos fruíssem. As anotações entre tons maiores e menores, o manifesto do cravo bem temperado, a alegria e o otimismo, o suave e etéreo, a mística gótica e a inspiração dramática do barroco. Conheci a soprano Ana Magdalena, a filha do trompetista de Weissefels, e casei pela segunda vez. Ela e o piano, o animal sensitivo. Ele me respondia ao toque, seguia o compasso: escalas, notas, oitavas, intervalos, escapadas e perseguições, capturas e escapulidas, harmonia e discórdia, ascensão e descensão. Prelúdios, fugas, cantatas, concertos, tudo como o canto dos pássaros ao sol: é na beleza da variedade que reside a unidade verdadeira. Tudo para me elevar como uma criança olha para o pai. O coração ama demais e de verdade. O que atrapalha são as dores, cada qual sua dor e as insatisfações dela advindas, abalam o afeto. O talento e saber serviam para nada, tudo inútil diante de tanta mediocridade. Foi preciso me retirar da vida pública, vi-me, apenas, uma paisagem trivial aos olhares alheios: um estranho em qualquer lugar, na minha própria terra, no meu próprio país. A minha miopia, a decadência: meus filhos e esposa à caridade pública. Os aplausos tardios na profundidade do abismo. O derradeiro brado. O silêncio. O esquecimento. O mundo escureceu de vez, não enxergava mais nada. Cirurgia, sangrias, ventosas, bebidas laxativas, e a solução no sangue de pombo, açúcar moído e sal torrado nos olhos. Eu via e a minha arte na obscuridade, tudo guardado no armário de uma sacristia: se se precisasse de um pedaço de papel para o que fosse, bastava arrancar qualquer folha dos meus manuscritos. A minha arte num asilo. Sabia, só passaria realmente a existir depois de morto. Desimportante, meu corpo se perderá, meus restos mortais no ar. No meu espólio: dois potes de café e um açucareiro. Para frente e para cima, a música é a glória de Deus. Era isso, afinal, viver é luta áspera. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Os grandes poetas e os grandes artistas têm por função social renovar incessantemente a aparência de que se reveste a natureza aos olhos dos homens. Sem os poetas, sem os artistas, os homens se entediariam depressa da monotonia natural. A ideia sublime que eles têm do universo sofreria nova queda com uma velocidade vertiginosa. A ordem que aparece na natureza e que é somente efeito da arte logo desapareceria. Tudo se decomporia no caos. Não haveria mais estações, civilização, pensamento, humanidade, não haveria mais vida, até, e a impotente obscuridade reinaria para sempre [...].
Trecho extraído da obra Pintores cubistas: meditações estéticas (L & PM, 1997), do poeta e crítico de arte francês Guillaume Apollinaire (1880-1918), extraodinário documento sobre o movimento cubista - acontecimento decisivo que influenciou todos os movimentos modernos que sacudiram o século XX - e sua época. Na obra, o autor expressa com raro sabor documental o momento, o clima e as circunstâncias em que surgiram os artífices do cubismo como Braque, Picasso, Gris, Lèger, Picabia, Duchamp e outros importantes pintores. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A MÚSICA DE ANA CLÁUDIA BRITO
Curtindo os álbuns Bach's Instrumental Works (Meta, 2006) e outro com a obra do compositor italiano Nino Rota & do compositor armênio Aram Khachaturian (Lindoro, 1999), da premiada pianista e professora Ana Cláudia Brito Girotto, que atua como recitalista, solista e camerista com renomadas orquestras e regentes. Veja mais aqui.

A ARTE DE VERA GUERRA CHAVES BARCELLOS
Meu trabalho é variado. Eu comecei dentro de uma tradição do modernismo e acho que só encontrei mesmo os meus caminhos depois que passei a fazer fotografia e a educar o meu olhar através da fotografia. Aí, foi surgindo questões sobre a imagem, sobre o que é a imagem, o que é a representação, o que é o falso, o que é a cópia. Creio que essas questões é que foram formando o que poderia se chamar a poética do meu trabalho. Na verdade, poderia dizer que comecei pela gravura, porque foi com a gravura que pude já me considerar alguém que dominava uma forma de expressão. Antes, eu pintei. Alguns desses quadros a óleo eu ainda conservo, uma boa parte, no entanto, destruí em uma grande fogueira. Sorte que nunca me arrependi disso. Quanto à poética, nesse tempo em que fazia quantidade grande de desenhos preparatórios para se transformarem primeiro em litografias e depois em xilogravuras, para mim era expressar pela forma e pela cor algumas forças e significados. Desenvolvi uma espécie de alfabeto variado em que certas formas e certas cores eram mais adequadas para veicular significados, tipos de emoções, ou forças opostas. Creio que nesse momento já estava em mim um germe de inquietação que me levaria a mudanças mais radicais, que viriam depois, com o uso da fotografia. De utilizar a imagem não como um fim em si mesma, mas como um meio para atingir uma espécie de disciplina do olhar.
A arte da artista visual Vera Guerra Chaves Barcellos, que trabalha com pintura, gravura, desenho e fotografia, misturando com xilogravura, serigrafia e técnicas gráficas. Ela participou do grupo Nervo Óptico (1976-78) e foi uma das fundadores do centro de cultura alternativa Espaço N. O. (1979-82), afora realizar exposições e instalações multimídias.
&
A ARTE DE JOSÉ CARLOS VIANA
A arte do pintor, desenhista e gravador José Carlos Viana (1949-2019). Veja mais aqui.

A OBRA DE BACH
Todo e qualquer homem piedoso poderia fazer quanto fiz se nisso se empenhasse como me empenhei. Quero demonstrar ao mundo, na arquitetura da minha música, a arquitetura de uma nova e bela comunidade social. O segredo da minha harmonia? Só eu o conheço. Cada instrumento em contraponto, e tantas partes contrapontísticas quantos instrumentos existirem. A autodisciplina iluminada das várias partes – cada qual se impondo voluntariamente a si mesma os limites de sua liberdade individual para o bem-estar da comunidade. Tal é a minha mensagem. Nem a autocracia de uma única e teimosa melodia, de um lado, bem a anarquia de ruídos desenfreados, de outro. Não – um delicado equilíbrio entre ambos – uma liberdade esclarecida. A ciência da minha arte. A arte da minha ciência. A harmonia das estrelas no céu, o anseio de fraternidade no coração do homem. Tal é o segredo da minha música. O objeto de toda música devia ser a glória de Deus.
A obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) aqui, aqui & aqui.


sexta-feira, agosto 23, 2019

GAUGUIN, NAZIK AL-MALAIKA, ASCENSO & OSCAR MENDES, DANI ACIOLI, ALOISE BAHIA & INJUSTIÇA


TEHURA DE GAUGUIN – Chega uma hora em que se tem que se valer só de si e o que fazer da vida. Emigrei com Le mariage de Loti, e o meu diário de viagem, Noa Noa. Na busca incessante por criar, saí de casa para ter paz e tranquilidade, me livrar do mundo decadente, abandonado por todos. Atravessei privações, doenças, indigência e incompreensões. Estava sufocado, tudo podre ao redor, enregelante situação. A quem amava, via-me pelas costas, intolerante, esperneio de mimada. Tudo numa degradação física e psicológica, entediado com o mundo das artes, aventurar além-mar era o que podia: havia vida além da contaminada civilização, tinha certeza. Viagens e boêmia mundo afora, o que pude, e nele todas as mulheres do Panamá, Peru, Copenhagen, Bretanha, Martinica, Brasil, Polinésia, até o Taiti, onde encontrei colorido, inspiração e liberdade. Insulado, descurava: a podridão colonial espancava uma prostituta à beira-mar. Indignação de encarar meu arredado exílio voluntário, miserável entre o bucólico exótico e selvagem erótico. Era tudo isso. Permaneci entre as ninfas de Corot, dançando no bosque sagrado de Ville-d'Avray e os infinitos mistérios cambiantes. Não havia como escapar e a vida na pobreza de Papeete, ao lado da doença, falência e miséria. Sem mantimentos, incapaz de pescar no Platô de Taravao, tropecei faminto, exausto, até desmaiar na volta para La Maison du Jouir, minha cabana, meu abrigo solitário com a diabete, a sífilis e um ataque cardiovascular. Ao acordar, a bela jovem Tehura dançava sensualmente à luz do fogo, na ilha vulnerável de Fa’ane, inspirando Manao tupapau - Espírito dos mortos em vigília. Uma menina-moça de Huahine, era ela, na verdade, Teha’amana, a doadora da força, impenetrável, com a flor tiare vermelha no ouvido, uma cicatriz na sobrancelha direita, de uma queda dum pônei na infância. Realçava essa Eva primitiva, nativa vahine, entre mangas maduras, glifos, o mar azul-turquesa, paisagens verdejantes, montanhas sombrias e rostos de pedra divididos por cachoeiras espumantes, um paraíso edênico. Durante a refeição formalizei meu amor por ela, ao dispor de frutas silvestres, sabores de fruta-pão, bananas, peixes, camarões e porcos. Ofereciam comida aos forasteiros, um ato de caridade. Cheio de felicidade, entre beijos e sexo, conversamos sobre as estrelas e me contou histórias de sua gente, para embalar meu coração exilado: O enigma que se esconde no fundo de seus olhos infantis ainda é incomunicável para mim. Ela deslizava por um bosque daquela desabitada beleza num vestido branco sensual, para ir à igreja. Os seus olhos azuis nórdicos agitou-me a rebeldia: essa barbárie me rejuvenesceu. Esculpi seu semblante, o meu terno amor. Dei-lhe colares de miçangas e anéis de latão, e para ela fiz a Merahi metua no Tehamana, o busto Tête tahitienne e uma escultura em madeira. Uma paixão tão dolorosa, circunstâncias terríveis, a vida explodiu. Deu-me o místico pensar: De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? Meus olhos se fechavam e, sem entender, viam o sonho no espaço infinito que se estende, esquivo, diante de mim. A natureza exuberante e indomável, intimamente. Permanentemente empobrecido, me vi numa frustrada tentativa de suicídio com arsênio: sou escravo da sensualidade febril das mulheres polinésias. As minhas feridas sifilíticas fizeram-na me recusar. Conflitos, efeitos da doença, as manchas de pele ao Sol, a barba mal feita, um olhar alucinado, a penúria de uma vida marcada por frustrações. Não era pouco, pior a sua recusa. Passava fome, trabalhava como estivador, a saúde extremamente debilitada. Falo francamente: sou difícil e podem me chamar de hedonista. Fiz para me livrar das convenções e desbravar a vida libertária. Sei das minhas questionáveis escolhas entre o sonho e a loucura, era o meu projeto de vida inteira. Nunca fui fácil nem herói incólume, um vasto abismo: tudo muito delicado. Eu amei, muito. Dei-me o direito de ousar tudo e não neguei meus mestres. Amei com a minha possessividade sexual, a alma invadida por lembranças profundas. Amei demais e nunca me contentei em sonhar: a vida vinga o sonho na poesia. Amei desmedidamente e embora pensem que sou um mito ou algo inventado por todos, sou apenas o amor e a quem amo, mesmo incompreensível. Contudo, sou forte porque nunca sou jogado fora do curso por outras pessoas e porque faço o que há em mim. Tanto sofrimento me fez aprender e me libertar no amor e para me enterrar aqui nas remotas ilhas de Marquesas, a morrer de amor. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Utilizando a temática que a vida nordestina lhe fornecia, compôs seus poemas, cheios de ternura e de ironia, de romantismo e de malícia, fixando, muitas vezes, num verso, numa frase, um aspecto típico da região, de um personagem, da psicologia de uma sociedade e de um povo. Gostava de, ele próprio, declamar seus versos, numa toada de jeito popular, que dava um sabor e um toque todo especial à sua poesia. [...] em que reevoca a vida nordestina, o seu folclore, os seus costumes, as suas figuras típicas, tudo numa misturada de malícia, de sensualidade, de ironia, de sátira, de sentimentalismo, de romantismo, de alegria e de tristeza, que tornava sua poesia de sabor inesquecível. [...] Escrevia, sim, em muitos dos seus poemas, na linguagem simples do povo, com seus modismos, seus idiotismos, mas não descurava de fazer poemas em linguagem correta e letrada. A sua poesia estava toda impregnada da sua terra, do seu barro, das águas de seus rios, de seus mangues, das suas frutas, da sua viração, das suas noites de luar, do dengue de suas mulheres, de suas alegrias e de suas dores.
Trechos da crônica O grande descanso de Ascenso, extraído da obra Tempo de Pernambuco – ensaios críticos (EdUFPE, 1971), do advogado, crítico literário, tradutor e escritor Oscar Mendes (1902-1983). Veja mais da obra aqui & de Ascenso Ferreira aqui.

A POESIA DE NAZIK AL-MALAIKA
CALENDÁRIO: Para os nossos passos houve um passado; está morto / Por centenas de anos. / Os anos apagaram sua memória / E eles o colocaram entre os mortos. / Nós procuramos por muito tempo / Suas estrelas desaparecidas / Nós recorremos ao impossível / Para restaurar sua vida. / Nós tentamos, atravessando os séculos, / Traga-o de volta ao seu começo, / Na esperança de recuperar nossos sentimentos, / E nós retornamos de mãos vazias. / Nós passamos pela escuridão / Franked o impassível, imóvel, / Desenterrando ossos empilhados / E nós não encontramos o perdido. / Nós vimos frentes lá / Que eles não viram porque eram cegos, / Olhos auto-absorvidos na vida / Silencioso, porque eles eram mudos. / Nós vimos restos de corações / Embalsamado com a memória. / Em vão tentaram encontrar / O significado... eram restos. / Nós vimos lábios vazios / Eles não fizeram reclamações ou sentem fome / E mãos murchas e dobradas / Cujo infortúnio não causou lágrimas. / Nós nos perguntamos sobre o nosso passado / E nós nos deparamos com um caixão. / Lá, no túmulo, o tempo se desvaneceu. / Voltamos ao calendário: / Você pode enganar os dias? / E ouvimos gritos nos restos / Depois do sarcasmo das figuras. Nós vimos o esperado amanhã / Arrastando sua metade paralisada, / Arrastando sua metade desprezada, / Está meio congelado, inerte. / Lá, um livro fechado / E a velha música acabou. / Amanhã a vida germinará / Nas feridas do tempo doloroso. / A voz de ontem será perdida / No turbilhão profundo do tempo / E nos sentiremos em nossos óculos / A palpitação do sonho que acorda. /
Poemas da obra Faíscas e cinzas (1949), da poeta iraquiana Nazik Al-Malaika (1923-2007). Veja mais aqui & aqui.
&
POEMAS DE JOSÉ ALOISE BAHIA
O PAÍS QUE NÃO CONHEÇO DEU-ME UM BISAVÔ: o país que não conheço deu-me um bisavô, / navegante simples em seu barco cheio/ de peixes, que sempre volta à terra firme. / o país que não conheço deu-me um bisavô, / encantador de histórias do céu, fogo e ar. / lá no meio da baía vislumbra um castelo./ lá no meio da baía vislumbra um cardume./ o país que não conheço deu-me um bisavô, / bisavô dourado feito sol em ondas extensas, / bisavô que tarda e não falha a içar às velas, / bisavô que cedo madruga: que faz despertar / o mar que em mim se agita, me embarca / em tamanha travessia e liberta imagens / que chegam num turbilhão de norte a sul...
SONETOS NUM CORPO DILACERADO: Pelas fagulhas cortantes do desejo, de tão quente, queimam o rosto. Bambeiam as pernas. Faz amolecer os braços. Dispara a circulação. Ofega o pulmão. Decepa tudo. O tronco subsiste devido à presença do suco gástrico recheado de 14 linhas apropriadas contra o ataque de qualquer veneno disponível no campo do olhar.
NOVELO NUM CARRETEL: De uma infância distante e radical, onde rolavam cilindros dinâmicos, para um fluxo maduro: a desintegração num encontro explosível em manchas de cores aleatórias. Fundo, forma espaço — embate pessoal nas entranhas. Evidências do impossível no labirinto branco da tela revelam uma ponte: Minotauro palpitante.
Poemas do poeta e jornalista mineiro José Aloise Bahia. Veja mais aqui.

A ARTE DE DANI ACIOLI
Eu tenho uma produção que surge num repertório. É um repertório de construção do feminino, da mulher no mundo, na história, sobre como a gente sempre foi subjugada na construção de uma identidade cultural feminina. O lugar do feminino nessa relação sempre foi uma construção social de subjugação, de ser colocada no lugar da castidade ou no oposto disso.
A arte da artista visual e jornalista Dani Acioli. Veja mais aqui.

A OBRA DE GAUGUIN
Devo confessar que também sou mulher e que estou sempre preparado para aplaudir uma mulher que é mais ousada do que eu e é igual a um homem na luta pela liberdade de comportamento Eu fecho meus olhos para ver.
A arte inspirada na sua musa Tehura – a vahine, ou seja, a esposa nativa taitiana também nomeada Teha'amana, que é tratada no filme Gauiguin: Voyage to Tahiti (2017), dirigido por Edouard Deluc e inspirado no diário Noa Noa (Poseidon, 1943), quando o pintor Paul Gauguin decidiu por conta próprio exilar-se no Taiti. Lá ele espera reencontrar a pintura livre, selvagem, fora dos códigos morais, políticos e estéticos europeus, enfrentando a solidão, a pobreza e a doença. É quando ele se reúne com Tehura, a quem dedica terno amor e a transforma em tema de suas obras.
Veja a obra do pintor do pós-impressionismo francês Paul Gauguin (1848-1903) aqui, aqui & aqui.
&
Dia Internacional de Combate a Injustiça aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

  Imagem: Acervo ArtLAM . A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito dis...