quinta-feira, agosto 27, 2015

MACEIÓ, DIAS GOMES, CONFÚCIO, PROUST, NERVO, ECKHOUT, DORI, ESQUETE PSICÓLOGOS & OS MENINOS DO BRASIL.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? MACEIÓ - A cidade emerge no meu riso matinal e o sol faz paradeiro na minha alma desafortunada. Os meus passos reviram ruas e redimem meus pesares, remorsos e alucinações. Tudo é lindo nessa paradisíaca paragem! Tudo muito lindo premiando o meu devaneio. E eu recito loas pelas beiradas da ideia, pelas abissais paralelas do meu exílio atrevido na minha presença castigada. Nesse lindo cenário eu vou de corpo e alma e me sou todo. Vou pelas transversais, avenidas e perpendiculares, a reconhecer a punição da vida no que de vário se faz real pelo esplendor do mar, onde se lavam culpas que eram festa no negrume do asfalto, onde se pezunham esperanças na imensidão do espaço, onde se constroem todas as avenças e desavenças de nada. É outro dia sempre e a gente a sonhar com o estrondo da felicidade mesmo que tudo seja apenas feito de partidas e chegadas no desencontro dos anseios. É outro dia sempre e a gente com o plano de voo circunscrito na incerteza, como se a regra desse jogo fosse sempre o confronto da distância entre começar e acabar, sem ter prorrogação na morte súbita indesejada. É outro dia e sempre a cidade emerge na minha finitude atlântica que bordeja pelas apaziguadoras ruas breves da Mangabeiras e se arrasta na expectativa da Jatiúca, aderna pelo emaranhado da Ponta Verde, singra pela beira-mar da Pajuçara e dá nos cotovelos rentes com a fabularia do Jaraguá. É lá onde me eternizo nas cinzas. Adiante está a lama do Salgadinho empestando a Avenida onde uma guerra oculta cospe mulheres paridas e deserdadas dos arredores do Tabuleiro dos Martins e homens ciclópicos que ululam desmemoriados de tudo sem nada, oriundos do longe mais distante das bandas de lá além do Mundaú e que povoam a superfície perversa da exclusão. E me refaço porque é outro dia e sempre me esforço subindo a rodoviária até o Farol onde contemplo de tudo: a fantástica panorâmica, o silêncio dos roncos cansados, a espera dos madrugadores por condução, a perspectiva que bate as botas em Cruz das Almas e o meu desejo que escorre descendo o Riacho Doce e se esquece dos pleitos que se tornaram causas inúteis revogadas previamente pelos tribunais de então. Mas é outro dia sempre e as crianças no meio fio da madrugada com seu cobertor de mar e de noite com sonhos incertos no barulho do trânsito indômito. É outro dia e um punhado de adultos amontoam o teatro cristão com o berreiro dos desentoados em preces devotadas com seus sotaques e timbres nas rezas por seus dissabores, por remoetas embaçadas, por sacrifícios ostentatórios, pela salvação das almas da ignomínia. E tudo parece um abstrato aceno de paradoxais festeiros na celebração da tragédia pelas mesquinharias políticas, pela soberba nos limites onde o canavial impera ao lado dos alguns poucos privilégios de gados e miséria nos pastos de outro tabuleiro, onde amadurece a desimportância da oportunidade e todos são escravos do passado mesmo que se achem senhores de si e do futuro, mesmo que a vida seja um lapso de tempo nas causas perdidas. Mesmo assim a cidade emerge e meu coração se avexa com o tumulto do dia e se esboroa pela tarde e faz aconchego na noite que anuncia outro dia para um mais que desejoso amanhã. Amanhã que já será hoje, hoje que já é ontem e tudo que esquecerá. E esquecendo não veja criança estendida na calçada da manhã, nem pedinte mendigando no semáforo, nem velho sendo xingado nas filas, nem violência como efeito da desigualdade, porque os adultos precisam acordar ciosos de si a vingarem o humano à revelia dos mandos no sonho de todos os sonhos. A verdade é que a cidade emerge nos meus olhos e já é outro dia. Mesmo assim continuo atrevido e teimoso de sonhos, enquanto o meu coração bate buliçoso e atônito pelas ruas de Maceió, entoando uma elegia para os que ainda ousam sonhar. (Maceió, uma elegia para os que ousam sonhar © Luiz Alberto Machado. In: Poesia de Alagoas. Recife: Bagaço, 2007); Veja mais aqui e aqui.

 Imagem: Tapuya Woman Holding a Severed Hand and Carrying a Basket Containing a Severed Foot (1641), do pintor, desenhista, artista plástico e botânico holandês Albert Eckhout (1610-1665).


Curtindo o álbum Mundo de dentro (Horipro Inc/Universal, 2010), do músico, cantor e compositor Dori Caymmi.

CONFÚCIO & CONFUCIONISMO - Considerado o maior gênio filosófico-religioso da China e fundador da literatura chinesa K’ung Fu-tsu ou Confucius (551-479aC), ele pregava a existência de cinco virtudes: jen, o amor pelos outros; yi, a justiça temperada pelo amor; li, regras adequadas de conduta, de polidez e de cerimonias; chih, autoconsciência da vontade do céu, sabedoria; ch’i, sinceridade desinteressada. Seu ensinamento exerceu profunda influencia durante cerca de dois mil anos na história chinesa, sendo apenas suprimido o seu culto oficial com a revolução de 1911. Durante a dinastia Han (206-220dC), foram compilados os Cinco Clássicos de Confucio, abrangendo as meditações sobre ttransformações, poesia, história, ritos e primavera e outro; o I ching, Shih ching, Li chi, Ch’um ch’iu e os Quatro livros. Assim o Confucionismo é o nome dado pelos estudiosos ocidentais ao Ju kia, escola de letrados, sistema de pensamento elaborado na China por Confúcio e seus seguidores, compreendendo elementos éticos, políticos e religiosos. Transformado em doutrina política oficial do império chinês de 136aC, manteve essa posição privilegiada até 1912. Os ensinamentos confuncianos básicos estão contidos em nove livros, agrupados em duas coleções, os Cinco Clássicos e os Quatro Livros. Os Cinco Clássicos são repositórios de antigos documentos e tradições que remontariam às próprias origens da civilização chinesa e que teriam sido compilados pelo próprio Confúcio. São o I ching ou Livro das Mutações que compreende sessenta e quatro símbolos compostos de linhas horizontais, continuas ou interrompidas, combinadas como hexagramas (6 a 6), e que correspondem às sessenta e quatro situações diferentes que se podem apresentar na vida humana. O Shu ching ou Livro da história, que compreende crônicas e relatos que remontam às origens lendárias da civilização chinesa; o Li chi ou Livro da etiqueta, repositório de ritos e regras de etiqueta; Ch’um ch’iu ou Anais da primavera e outono, crônica do Estado de Lu, terra natal de Confúcio, compreendendo o período entre 722-481aC. Veja mais aqui, aqui e aqui

O CASO DREYFUS, PROUST E A PSICOLOGIA SOCIAL – No livro Representações sociais: investigações em psicologia social (Vozes, 2007), de Serge Moscovici, o autor destina um capítulo da obra para tratar acerca da literatura de Marcel Proust no capítulo denominado O caso Dreyfus, Proust e a Psicologia Social, do qual destaco o trecho: [...] Todo leitor de Proust está familiarizado com nomes como Albertine e Charlus, sabe que existe um estilo Swann e um estilo Guermantes. O que dizer do caso Dreyfus? O leitor tem uma impressão que ele é mencionado apenas de passagem como um episódio somado a muitas tramas e acontecimentos. [...] A fim de tomar pé e ter acesso ao centro do mundo proustiano, temos primeiro de descobrir sua força diretora. Essa força, contudo, a gravidade peculiar ao universo proustiano, que atrai e repele os personagens entre si, não é nem o poder, nem o status social, como nos universos de Balzac ou de Zola: é o reconhecimento social. [...] Proust supõe uma vontade de reconhecimento que é tão forte como a vontade de poder de Nietzsche. Para ser socialmente consagrado, todos são capazes de heroísmo, abnegação ou baixeza. Não é uma fachada, mas uma tendência fundamental, uma busca. A busca é muito arriscada e o reconhecimento é lento em chegar se aos grupos, dos quais se espera que venha, continuam mudando a toda hora. [...] o mundo de Proust é um mundo em transformação. Os grupos e as ordens sociais continuam sendo insensivelmente feitos e refeitos. Os cataclismos estão em ação nas profundezas. Ao contrario dos acidentes da história, eles evocam as sublevações da cosmologia, quando o único laço entre o antes e o depois é a permanência de um nome: Swann, Guermantes ou Charlus. Portanto, o reconhecimento não está nunca definitivamente garantido, seguro. A todo momento temos de lutar para mante-lo novamente. [..] É um prazer acompanhar o gênio de Proust ao longo da investigação da astronomia social, em que, como no adagio latino, não há nada para ostentação, mas tudo para a consciência. [...] Hoje, quase um século depois do fato, o sentimento, para o leitor de Proust, ainda persiste, mesmo se já mais ou menos acostumado a tais coisas. Na verdade, quem de nós não se engajou em reflexões semelhantes com referencia ao que aconteceu na Alemanha ou em outros lugares, quando trevas mortais se ergueram e ameaçaram destruir a civilização? De qualquer modo, tais são os Gedankenexperiments que gostaria de apresentar a vocês. Tive a intenção de mostrar as várias formas que as minorias dissidentes podem assumir sob circunstâncias específicas. E também exemplificar até que ponto, com que precisão, a psicologia social nos permite uma nova leitura da literatura. [...] Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

TALVEZ, SILENCIOSAMENTE, EM PAZ – O livro Poesias Completas (Curiosidades, 1947), do poeta mexicano Amado Nervo (1870-1919), reúne seu trabalho poético, entre os quais, inicialmente destaco Em paz: Perto do meu ocaso, eu te bendigo, ó Vida, / porque nunca me deste esperança falida / nem trabalhos injustos, nem pena imerecida. / Porque vejo no fim de meu rude caminho / que fui eu o arquitecto de meu próprio destino; / que se os méis ou o fel eu extraí das cousas / foi que nelas pus mel ou biles amargosas: / quando plantei roseiras, não colhi senão rosas. / Às minhas louçanias vai suceder o inverno; / mas tu não me disseste que Maio fosse eterno! / Julguei sem fim as longas noites de minhas penas; / mas não me prometeste noites boas apenas, / e, afinal, tive algumas santamente serenas... / Amei e fui amado, o sol beijou-me a face. / Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz! Também o seu belíssimo poema Silenciosamente: Fitarei os teus olhos em silêncio, / tomarei em silêncio as tuas mãos, / silenciosamente, / quando o sol-poente / nos banhe em seus vermelhos / raios soberanos, / pousarei minha boca em tua fronte / e assim nos beijaremos como irmãos. / Quero ternuras castas e cordiais, / rostos que sejam doces, compassivos, / mãos líricas, discretas, fraternais! / olhos claros, uns olhos pensativos. / Quero regaços onde, ao lume aceso, / encontre na velhice a paz dos oratórios: / lábios virgens que rezem como eu rezo / e pupilas que chorem como eu choro. Por fim, o seu não menos belo poema Talvez: Talvez já não lhe importe meu gemido / lá nesse indiferente Éden calado / no qual o espírito desencarnado / vive como dormido... / Talvez nem saiba o que tenho chorado / e o que tenho sofrido. / Em profundo quietismo, / sua alma, que antes me amara sobretudo, / já desliza glacial por esse abismo / de perpétuo mutismo, / esquecida de si, de mim, de tudo... Veja mais aqui.

O SANTO INQUÉRITO – A peça teatral em dois atos O santo inquérito (Bertrand Brasil, 1987), do escritor e dramaturgo Dias Gomes (1922-1999), é baseado num episódio histórico e lendário de Branca Dias - a Joana D’Arc nordestina que acabou entrando para o folclore nacional como mulher de excepcional beleza e hábitos não convencionais, acusada de judaísmo e de práticas imorais, acabando por ser condenada à fogueira da Inquisição. O texto possui a motivação histórica da Inquisição, no sentido de iluminar um tempo presente, de modo que o espectador possa interagir no espetáculo, refletindo sobre a sua própria realidade, para poder transformá-la, uma vez que a personagem Branca Dias poderia evocar outros heróis nacionais mortos e torturados, não apenas pela ditadura militar, deflagrada em 1964. Da peça destaco o trecho do Primeiro Ato: (O palco contém vários praticáveis, em diferentes planos. Não constituem propriamente um cenário, mas um dispositivo para a representação, que é completado por uma rotunda. É total a escuridão no palco e na platéia. Ouve-se o ruído de soldados marchando. A princípio, dois ou três, depois quatro, cinco, um pelotão. Soa uma sirene de viatura policial, cujo volume vai aumentando, juntamente com a marcha, até chegar ao máximo. Ouvem-se vozes de comando confusas, que também crescem com os outros ruídos até chegarem a um ponto máximo de saturação, quando cessa tudo, de súbito, e acendem-se as luzes. As personagens estão todas em cena: Branca, o Padre Bernardo, Augusto Coutinho, Simão Dias, o Visitador, o Notário e os guardas) PADRE BERNARDO - Aqui estamos, senhores, para dar início ao processo. Os que invocam os direitos do homem acabam por negar os direitos da fé e os direitos de Deus, esquecendo-se de que aqueles que trazem em si a verdade têm o dever sagrado de estendê-la a todos, eliminando os que querem subvertê-la, pois quem tem o direito de mandar tem também o direito de punir. É muito fácil apresentar esta moça como um anjo de candura e a nós como bestas sanguinárias. Nós que tudo fizemos para salvá-la, para arrancar o Demônio de seu corpo. E se não conseguimos, se ela não quis separar-se dele, de Satanás, temos ou não o direito de castigá-la? Devemos deixar que continue a propagar heresias, perturbando a ordem pública e semeando os germes da anarquia, minando os alicerces da civilização que construímos, a civilização cristã? Não vamos esquecer que, se as heresias triunfassem, seríamos todos varridos! Todos! Eles não teriam conosco a piedade que reclamam de nós! E é a piedade que nos move a abrir este inquérito contra ela e a indiciá-la. Apresentaremos inúmeras provas que temos contra a acusada. Mas uma é evidente, está à vista de todos: ela está nua! BRANCA - (Desce até o primeiro plano) Não é verdade! PADRE BERNARDO - Desavergonhadamente nua! BRANCA - Vejam, senhores, vejam que não é verdade! Trago as minhas roupas, como todo o mundo. Ele é que não as enxerga! (Padre sai, horrorizado) [...] Veja mais aqui e aqui.
 
THE BOYS FROM BRAZIL – O filme The Boys from Brazil (Os meninos do Brasil, 1978), dirigido pelo cineasta estadunidense nascido no Japão, Franklin J. Schaffner (1920-1989), é baseado no livro homônimo do escritor, dramaturgo e autor de canções estadunidense Ira Levin (1929-2007), contando a história do caçador de nazistas Ezra Lieberman que segue a pista de criminosos da guerra nazista até a América do Sul, onde descobre e tenta impedir o plano diabólico do cientista do III Reich Josef Mengele, que tenta criar clones de Adolf Hitler. O filme foi premiado com Oscar de Melhor Ato, Melhor Edição e Melhor Trilha Musical, o Globo de Ouro de Melhor Ator, no Saturn Award o prêmio de Melhor Filme de Ficção, entre outros prêmios. O filme é protagonizado pelos premiados atores Gregory Peck e Lawrence Olivier e um grande elenco, com roteiro adaptado de Herywood Gould na novela homônima de Ira Levin. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Nas comemorações do Dia do Psicólogo (27/08- Lei Federal 4.119/64), apresentação do Esquete pelos alunos do curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, na disciplina Técnica de Entrevista, ministrada pelo professor Ms Everton Calado (Na foto da esquerda para direita: Cidinha, Gustavo, Luiz Alberto, Zenir, Taiana & Edjane).


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa SuperNova, a partir das 21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. E para conferir online acesse aqui.

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NADYA TOLOKONNIKOVA, ANNA KATHARINE GREEN, EMMA GONZALEZ & THALYTA MONTEIRO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Terra adentro (A Casa Produções, 2011) e Luares (2023), da violonista, compositora, produt...