VAMOS APRUMAR A CONVERSA? ARTE PARA AS CRIANÇAS NAS
TARDES DE SÁBADO (Imagem: matéria
veiculada no caderno Tribuna 2, seção Roteiro, do jornal Tribuna de Alagoas, de
15 de outubro de 1998) – Como diz a matéria do jornal “O Jaraguá
Art’Estudio continua com seu projeto de socialização através da arte e
atividades de recreação, sempre aos sábados, das 14 às 18 horas. Por lá já
passaram mais de 400 crianças desenvolvendo várias brincadeiras educativas,
sempre orientadas por psicólogos, pedagogos e técnicos de recreação”. Assim,
foi. Como eu havia publicados os livros O reino encantado de todas as coisas
(Bagaço, 1992), Falange, falanginha, falangeta (Nascente, 1995), O
lobisomem zonzo (Nascente, 1998) e a antologia Brincarte (Nascente,
1998), realizava recreações educativas por meio de contação e cantação de
histórias, leitura dos meus livros com jogos, imitações, trava-línguas, adivinhações
e brincadeiras mnemônicas, exercícios de califasia, califonia e calirritmia com jogos teatrais de
pergunta e resposta, diálogos, charadas, brincadeiras de agilidade verbal e do
espontâneo faz de conta, rimas, versificações, anáforas, leitura coral, jogo de
palavras, jogral, onomatopeias, silabações, brincadeiras de boca de forno,
exercício de blablação, frases feitas, entoações e cantorias, versificações,
enunciações verbais, exteriorização de fantasias, pantomimas, esquetes,
jograis, narrativas de viagens, de brincadeiras ou de experiências vividas, entre
outros recursos orais de exercícios vocais e linguísticos, interagindo com a
criançada comparecente. Era uma festa! E eu saía mais menino a cada incursão
com a garotada, renascendo a cada sábado com o vigor, curiosidade e
participação delas. E vamos aprumar a conversa aqui, aqui e aqui.
Imagem do pintor, desenhista e decorador Alfredo Rizzotti
(1909-1972)
Curtindo Música de Brinquedo (Rotomusic, 2010), da banda Pato
Fu.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje a partir das
10hs, realizamos mais uma edição do programa Brincarte do Nitolino pras
crianças de todas as idades, no blog MCLAM do programa Domingo Romântico. Na
programação comandada pela Ísis Corrêa
Naves muitas atrações: José Paulo Paes, Todo dia é dia de ser criança,
Turminha Paraíso, O menino da beira do rio, Turma do Cristãozinho, A criação do
mundo & muito mais músicas, poesias, brincadeiras e histórias para a
garotada. E no blog, estudos e indicações de Psicologia, Educação, Teatro,
Música, Literatura e Direito das Crianças e dos Adolescentes, além de dicas e
informações para pais, crianças e familiares na relação com universo infantil.
Para conferir online e ao vivo clique aqui ou aqui.
DOS ENTRAVES ACARRETADOS À ALMA PELO QUE SUCEDE AO
CORPO – No livro Corpus Hermeticum: discurso de
iniciação & A Tábua de Esmeralda (Hemus, 1978), de autoria atribuída
pelos neoplatônicos, místicos e alquimistas ao deus egípcio Thoth e
identificado como o deus grego Hermes Trismegistus, formado por quarenta
e dois livros subdivididos em seis conjuntos, tratando da educação dos
sacerdotes, dos rituais do tempo e de geologia, geografia, botânica,
agricultura, astronomia, astrologia, matemática, arquiteturas e de hinos em
louvor aos deuses. Da obra destaco o trecho denominado Dos entraves acarretados
à alma pelo que sucede ao corpo: Para os músicos que prometem harmonia de um
canto que oferece todas as variedades de música, se, durante o concerto, o
desacordo dos instrumentos entrava-lhes o ardor, eus sua empresa tornada
ridícula. Pois assim que seus instrumentos mostram-se fracos para o que querem
fazer, os músicos são necessariamente apupados pelos espectadores. Indubitavelmente
produziram a sua obra com inquebrantável boa vontade, mas acusa-se a fraqueza
dos instrumentos. Aquele que efetivamente é musico por natureza, e que não
somente produz a harmonia dos cantos, mas ainda envia o ritmo da melodia
apropriada até cada instrumento em particular, e é infatigável, é Deus, pois
que não é de Deus fatigar-se. Se um artista deseja dar um grande concerto
musical, quando os trombeteiros expressaram o seu talento, os flautistas
exprimiram as finezas da melodia, a lira e os arcos acompanharam o canto, não
se acusa a inspiração do músico, atribui-se-lhe a estima que merece a sua obra;
mas lamenta-se o instrumento cujo desafinamento perturbou a melodia e impediu
aos ouvintes o degustar de sua pureza. No que nos concerne é preciso que nenhum
dos espectadores venha acusar de maneira ímpia, pela fraqueza de nosso corpo,
nossa raça, mas deve saber que Deus é um Sopro infatigável, sempre nas mesmas
relações relativamente à ciência que lhe é própria, saboreando felicidades
continuas, sempre em condições de usar seus benefícios que permanecem os mesmos.
[...] Veja mais aqui e aqui.
UNTOMBINDE, A MOÇA ALTA (Imagem: arte de Isabelle Vital) – Entre as lendas africanas do Reino
do Homem (Cultrix, 1962), encontro a narrativa de Untombinde, a moça alta, da
qual destaco o trecho: A filha do rei Usikulumi disse: - Pai, para o ano
irei a Ilulange. O pai disse: - Quem lá vai não volta mais; fica lá para
sempre. No outro ano ela tornou a dizer: - Pau, eu vou a Ilulange. Mãe, eu vou
a Ilulange. Ele disse: - Quem lá vai não torna mais; fica lá embaixo para
sempre. Passou mais um ano. Ela disse: - Pai, eu vou a Ilulange; mãe, eu vou a
Ilulange. Eles disseram: - Quem for a Ilulange não volta mais: fica lá embaixo
para sempre. Por fim o pai e a mãe consentiram em deixa ir Untombinde. Ela
reuniu cem virgens de um lado da estrada e cem do outro lado. Assim se puseram
a caminho. Encontram alguns mercadores. As moças pararam, formando duas filas,
de um lado e outro da estrada. Disseram: - Mercadores, qual de nós é a mais
bela; somos dois cortejos nupciais. Os mercadores disseram: - Tu és bela,
Utinkabazana, mas não és tão bonita como Untombinde, a filha do rei, que é como
um imenso prado de erva verde e boa; que é como a gordura para cozinhar, que é
como a bexiga de uma cabra! As moças que formavam o cortejo nupcial de
Utinkabazana mataram aqueles mercadores. Chegaram ao rio Ilulange. [...] Todas
as moças que formavam o cortejo nupcial disseram: - Untombinde, suplica a
Isikqukqumadevu. Ela recusou dizendo: - Nunca suplicarei a Isikqukqumadevu,
porque eu sou a filha do rei. Isikqukqumadevu agarrou-a e lançou-a para dentro
do charco. As outras moças choraram, choraram e depois foram para casa. Quando
chegaram, disseram: - Untombinde foi arrebata por Isikqukqumadevu. O pai disse:
- Há muito tempo eu falei a Untimbinde; recurasara-lhe dizendo: “Quem vai a
Ilulange não volta mais; fica lá embaixo para sempre”. Vês agora ela fica lá em
baixo para sempre. O rei mobilizou o exército dos jovens e disse: - Ide prender
Isikqukqumadevu, pois ele matou Untombinde. [...] Então o homem
aproximou-se e apunhalou aquela massa; e assim Isikqukqumadevu morreu. E então,
de dentro dela saíram rebanhos, cachorros, um homem e todos os homens e depois
saiu também Untombinde. E quando ela saiu, voltou para junto de seu paiu
Usikulumi, o filho de Uthlokonthloko. Quando chegou, Unthlatu, filho de
Usibilingwana, tomou-a para sua mulher. Untumbinde foi tomar o seu lugar no
kraal de seu esposo. Assim que lá chegou, instalou-se na parte superior do kraal.
Perguntaram-lhe: - Quem vieste esposar? Ela disse: - Unthlatu. Disseram-lhe: -
Onde está? Ela disse: - Ouvi dizer que o rei Usibilingwana criou um rei.
Responderam-lhe: - Não é verdade: ele não está. Ele criou um filho, mas
perdeu-se quando era rapaz. [...] De manhã Untombinde destapou o leite
azedo: notou que faltava um pouco. Destapou a carne: viu que tinha sido comida;
destapou a cerveja, reparou que tinha sido bebida. Disse: - Oh! A mãe pôs aqui
esta comida. Agora dirão que eu a roubei. A mãe entrou e, destapando a comida,
disse: - Quem a comeu? Ela disse: - Não sei. Também vi que a tinham comido. Ela
disse: - Não ouviste o homem? Ela disse: - Não. O sol desceu. Comeram aquelas
três espécies de alimento. [...] Unthlatu saiu. Os olhos do povo ficaram
deslumbrados com o brilho de seu corpo. Estavam estupefatos e disseram: - Nunca
vimos um homem como este, que tem um corpo que não se parece com o corpo dos
homens. Ele sentou-se. O pai não queria acreditar em seus olhos. Fizeram uma
grande festa. Depois ressoaram os escudos de Unthlatu, que era grande como
todos os reis. Deram a Untombinde uma cauda de leopardo; à mãe a cauda de um
gato selvagem e fizeram festa porque Unthlatu fora reitegrado na sua posição de
rei. E aqui acaba o conto. Veja mais aqui e aqui.
UMA TEMPORADA NO INFERNO & MANHÃ – No livro Uma temporada no inferno & iluminações
(Francisco Alves, 1982), do poeta Arthur Rimbaud (1854-1891), com
tradução, introdução e notas de Ledo Ivo, encontro o poema Uma temporada no
inferno, do qual destaco o trecho inicial: Outrora,
se bem me lembro, minha vida era um festim onde se abriam todos os corações,
onde todos os vinhos corriam. Uma noite, sentei a Beleza nos meus joelhos. - E
achei-a amarga. - E injuriei-a. Armei-me contra a justiça. Fugi. Ó feiticeiras,
ó miséria, ó ódio, a vós é que meu tesouro foi confiado. Consegui fazer
desvanecer-se em meu espírito toda a esperança humana. Sobre toda alegria, para
estrangulá-la, dei o salto surdo da fera. Chamei os carrascos para, perecendo,
morder a coronha de seus fuzis. Chamei as calamidades, para me sufocar com a
areia, com o sangue. O infortúnio foi o meu deus. Estendi-me na lama. Sequei-me
ao ar do crime. E preguei boas peças à loucura. E a primavera me trouxe o
pavoroso riso do idiota. Ora, muito recentemente, quando eu estava quase nas
últimas, pensei em procurar a chave do antigo festim, onde eu recobraria talvez
o apetite. A caridade é essa chave. - Esta inspiração prova que sonhei.
"Permanecerás hiena, etc..." exclamou o demônio que me coroou de tão
gentis papoulas. "Ganha a morte com todos os teus apetites, e o teu
egoísmo e todos os pecados capitais." Ah! foi o que fiz e por demais! -
Todavia, caro Satã, por favor, tende para mim um olhar menos irritado! e
enquanto ficais à espera de umas tantas covardiazinhas em atraso, e já que
apreciais no escritor a ausência das faculdades descritivas ou instrutivas,
destaco para vós estas poucas hediondas folhas de meu caderno de réprobo. Também o
poema Manhã: Não tive eu uma vez uma juventude amável, heróica, fabulosa, para ser escrita em
folhas de ouro, — sorte a valer! Por que crime, por que erros, mereci a
fraqueza atual? Vós que achais que animais dão soluços de dor, que doentes
desesperam, que mortos têm pesadelos, tratai de narrar minha queda e meu sono.
Quanto a mim, posso explicar-me tanto quanto o mendigo com os seus contínuos Pater e Ave Maria. Não sei mais
falar! .Contudo, creio ter terminado hoje a
narração de minha temporada no inferno. Era realmente o inferno: o antigo,
aquele cujas portas o filho do homem abriu. No mesmo deserto, à mesma noite,
meus olhos cansados sempre despertam sob a estrela de prata, sempre, sem que se
emocionem os Reis da vida, os três magos, o coração, a alma, o espírito. Quando
iremos, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a
sabedoria nova, a fuga dos tiranos e dos demônios, o fim da superstição, adorar
— os primeiros! — os primeiros! — os primeiros! — o Natal sobre a terra? O
canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida. Veja mais aqui.
A ARTE DO ATOR – O
livro A arte do ator (Zahar, 1987), do professor e doutor em Letras
francês Jean Jacques Roubine, trata da retrospectiva histórica, a vocalidade e a
gestualidade contemporânea, o corpo, o rosto, o papel, a interpretação, o ator,
o diretor, o espectador, entre outros assuntos da área teatral. Da obra destaco
o trecho: Da arte do ator, sabe-se muito
e pouco. Muito, na medida em que, por motivos de ordem psicológica e
sociológica que fogem ao alcance deste estudo, o ator foi durante muito tempo
objeto de fascinação e até mesmo de idolatria social. O ator parece pertencer a
um universo mágico. O seu lugar é o "outro lado do espelho". No sonho
coletivo, o monstro sagrado, a diva e depois astar vieram naturalmente substituir
os deuses e as feiticeiras, as figuras e os mitos que não poderiam se adaptar
aos tempos modernos. Falou-se muito, escreveu-se muito sobre os atores, mas
raramente sobre a sua arte propriamente dita. O que se sabe a respeito é,
portanto pouca coisa, considerando o caráter quase sempre anedótico ou
hagiográfico da literatura que se ocupa do ator. Pouca coisa também porque, até
recentemente, pelo menos, ele pouco escreveu sobre si mesmo. Falta de interesse
ou de aptidão? Inibição? Afinal de contas, há pouco mais de trinta anos, Jouvet
externava o mais negro pessimismo: "O que ele [o ator] diz então sobre a
sua profissão, sobre os autores que ele interpreta, sobre os seus papéis, sobre
ele mesmo, é marcado por uma espantosa estupidez, por uma espécie de baixeza ou
de vulgaridade, ou pelo menos de ignorância. O que ele pode é contar a sua
própria vida. É sórdido" {Témoignages sur le théâtre, pg.13). As coisas
mudaram sensivelmente desde o fim do século passado. O diretor é muitas vezes
um ator (e às vezes, que ator!). Ocupa, pois, um posto de observação
privilegiado. Ao mesmo tempo teórico e prático. Daí o interesse dos seus
escritos, sejam eles de polêmica ou de reflexão: definem a grandeza e os
limites de uma arte, denunciam suas complacências e suas trucagens, traçam um
ideal que as gerações seguintes se esforçarão por realizar. E, assim mesmo,
sabe-se pouco sobre o ator. Pois, comparado aos outros artistas, ele sofre de
uma desvantagem insuperável: a sua obra é efêmera. Posso ler, hoje, a Fedra que
Racine escreveu em 1677, mas nunca poderei ver Rachel ou Sarah Bernhardt no
papel-título. Um estudo da arte do ator é necessariamente de segunda mão. De
Rachel, jamais saberei nada além daquilo que me contam Musset, Théophile
Gautier, Juies Janin e alguns outros. Poderei contemplar suas fotos
amareladas... Eis tudo! Mais tarde um pouco, disporei de documentos em discos
ou filmes. Mas sabemos quão imperfeitamente eles nos dão conta da realidade do
teatro. Veja, por exemplo, Maria Casarès interpretando Lady Macbeth, em frente
à muralha de Avignon, e ouça depois a gravação, veja o documento filmado que
foi realizado in loco: é a mesma voz, o mesmo rosto, o mesmo olhar. Mas é tudo
completamente diferente... Se a evolução do gesto e das técnicas de
interpretação ficar evidente, o mal-estar se transformará em estupor: como é
possível compreender a admiração de Proust e dos seus contemporâneos por Sarah
Bernhardt se levarmos em consideração os documentos sonoros ou filmados que
dela ficaram? Estamos evidentemente mais bem aparelhados para o estudo do
teatro recente, graças à multiplicação dos depoimentos de toda ordem e à
crescente qualidade de tais documentos: de modo geral, a partir de 1880,
aproximadamente, quando a problemática da direção começa a ser globalmente
considerada, multiplicam-se reflexões teóricas, tratados relativos à técnica do
ator e, um pouco mais tarde, teses acadêmicas que fundam um estudo diacrônico
da prática do teatro... [...] Veja mais aqui.
GUERRA DO FOGO – O
filme Guerra do fogo (La Guerre du Feu, 1981), dirigido pelo cineasta francês Jean-Jacques
Annaud, com música de Philippe Sarde e roteiro de Gérard Brach, baseado no
texto do escritor J. H. Rosny (1856-1940), conta a história da descoberta do
fogo em uma tribo pré-histórica, retratndo dois grupos de hominídeos, o
primeiro que quase não se diferência dos macacos por não ter fala e se
comunicar através de gestos e grunhidos, pouco evoluído e acha que o fogo é
algo sobrenatural por não dominarem ainda a técnica de produzi-lo; enquanto o outro
grupo é mais evoluído e tem uma comunicação e hábitos mais complexos, como a habilidade
de fazer o fogo. Esses dois grupos entram em contato quando o fogo da primeira
tribo é apagado em uma guerra com uma tribo de hominídeos mais primitivos, que
disputam pela posse do fogo e do território. Do contato com uma mulher do outro
grupo, os três caçadores do fogo aprendem muitas coisas novas, já que ela
domina um idioma muito mais elaborado que o deles, assim como domina também a
técnica de produção do fogo. Levados por diversas circunstâncias a um encontro
com a tribo de Ika, percebem que há uma maneira diferente de viver; observam as
diferentes formas de linguagem, o sorriso, a construção de cabanas, pintura
corporal, o uso de novas ferramentas, e até mesmo um modo diferente de
reprodução. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da ilustração do desenhista e
ilustrador canadense Hal Foster.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Domingo Romântico, com reprise da programação da semana, a partir do
meio dia, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Para
conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Imagem: Brincadeiras de Criança,
do artista plástico Davi Rodrigues
Aprume aqui.