DITOS & DESDITOS – A educação é a
capacidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos. Pensamento
do escritor e dramaturgo tcheco Václav
Havel (1936-2011).
O DESTINO DO HOMEM – [...] O homem é não só um ser sexual, mas igualmente um ser
bissexual, que combina em si o princípio masculino e o feminino em proporções
diferentes e, não raro, mediante um duro conflito. O homem em que o princípio
feminino estivesse completamente ausente seria um ser abstrato, inteiramente
separado do elemento cósmico. A mulher em que o elemento masculino estivesse
completamente ausente não seria uma personalidade. Somente a união desses dois
princípios é que constitui um ser humano completo. A união deles se realiza em
todo homem e em toda mulher, dentro de sua natureza bissexual, andrógina, e
isso ocorre também através da intercomunhão entre as duas naturezas, a
masculina e a feminina. [...]. Trecho
extraído da obra The Destiny of the Man
(Harper Torchbooks, 1960), do filósofo russo Nicolas Berdyaev (1874-1948).
OS SOBREVIVENTES – [...] Hélia vigiava aflita a entrada da seção. Todos já tinham
sido rendidos, E a Júlia que não chega! Que ódio! Que ódio!O avental de pano
cru enrolado na mão direi-ta, várias vezes levara a unha do fura-bolo à boca
para roer, mas lembrava-se do esmalte, do esmalte vermelho, não queria lascar,
não queria... tinha que durar até sábado... O ronco rouco dos teares
redemoinhava em suas orelhas. Onde foi parar aquela vaca? Vaca! Piranha! Ai,
vou acabar perdendo o ônibus! [...] Trecho
extraído da obra Os sobreviventes
(Boitempo, 2000), do escritor Luiz Ruffato. Veja mais aqui e aqui.
QUATRO POEMAS – O QUE SE PASSA NA CAMA – (O que se passa na cama / é
segredo de quem ama.} / É segredo de quem ama / não conhecer pela rama /
gozoque seja profundo, / elaborado na terra / e tãofora deste mundo / que o
corpo, encontrando o corpo / e por ele navegando, / atinge a paz de outro horto
/ nirvana, sonodo pênis / ai, cam, cançãode cuna, / dorme,menina, nanana, /
dorme a onça suçiarana, / dorme a cândida vagina, / dorme a última sirena / ou
a penúltima... O pênis / dorme, puma americana / fera exausta. Dorme, fulva /
grinalda de tua vulva. / E silenciem os que amam, / entre lençol e cortina /
ainda úmidos de sêmen. / estes segredos de cama. EM TEU CRESPO JARDIM, ANÊMONAS
CASTANHAS – Em teu crespo jardim, anênomas castanhas / detêm a mão ansiosa:
devagar. / cada pétala ou sépala seja lentamente / acariciada, céu; e a vista
pouse, / beijo abstrato, antes do beijo ritual, / na flora pubescente, amor; e
tudo é sagrado. O CHÃOÉ CAMA – O chão é cama para o amor urgente, / amor que
não espera ir pra cama. / Sobre tapete ou duro piso, a gente / compõe de corpoe
corpo a úmida trama. / E para repousar do amor, vamos à cama. MIMOSA BOCA
ERRANTE – Mimosa boc errante / à superfície até achar o ponto ;/ em que te
apraz colher o fruto em fogo / que nãoserá comido mas fruído / até se lhe
esgotar o sumo cálido / e ele deixar-te, ou o deixares, flácido, / mas
rorejando a baba de delícias / que o fruto e boca sepermitem, dádiva. / Boca
mimosa e sábia, / impaciente de sugar e clausurar / inteiro, em ti, o talo
rígido / mas varado de gozo ao confinar-se / no limitado espaço que ofereces /
a seu volume e jato apaixonados, / comopodes tornar-te, assim aberta, recurso
céu infindoe sepultura? / Mimosa boca e santa, / que devagar vais desfolhando a
líquida / espuma doprazer em rito mudo, / lenta-lambente-lambilusamente /
ligada à forma ereta qual se fossem / a boca oproprio fruto, e o fruto a boca,
/ oh chega, chega, chega de beber-me, / de matar-me, e, na morte, de viver-me.
/ Já sei a eternidade: é puro orgasmo. Poemas extraídos da obra O amor natural (Record,1996), do poeta, contista e cronista Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE MARINA ABRAMOVIC
A INTROMISSÃO DO VERBO DE GILSON BRAGA – Conheci o artista
plástico e professor Gilson Luiz Santos
Braga por meio do seu irmão, o filósofo, advogado e biriteiro Luiz de
França Santos Braga, o Luiz Gulú, parceiro de muitas boas e loas de tempos de
antanho. À época ele ilustrou o meu livro A
intromissão do verbo (Pirata, 1983), do qual trago as suas ilustrações
abaixo. Hoje ele comemora 40 anos de pintura e 20 anos de ensino realizando uma
série de trabalhos no estilo Expressionista abstrato, alguns, inclusive, já
divulgados aqui.