quarta-feira, janeiro 30, 2008

TEIBEI - A BATIDA, ARENDT, PÉREZ-REVERTE, MATTHIAS CLAUDIUS, DAMIEN HIRST, ÍNDIOS & AUTORIA



TEIBEI, A BATIDA




Batida, pelo que conheço, é no sentido de bater - cada bufe-bufe do sujeito ficar estirado agonizante. Ou, é descompostura severa de deixar o cara mais raso que o chão numa reprimenda e mais cheio de pernas sem ter onde se socar de vergonha. Ou é vestígio deixado por maloqueiro que quando não caga na entrada, deixa o tolote fedorento na saída. Ou, é um acidente estuporado, daquelas barroadas envolvendo uma carroça-de-burro, três bicicletas, duas motos, quarenta e cinco automóveis avexados, oitenta e dois ônibus enfiados, noventa e seis caminhões trucados, um treminhão arretado e, de quebra, uma daquelas aeronaves medonhas que gostam de cair assim arrebentando tudo e que, por cagada da porra, inventou de cair no meio dessa emboança, de só se ver o escarcéu tirar distância até onde os cacos de coisas foram bater. Ou, também, encalço de polícia por meliante quando o sujeito está enturmado lavando a jega num mosqueiro atraente, chega revistando tudo, não antes escapulir uns três malencarados, e a gente apalpado na integridade, na vergonha até perceber que na verdade ocorrera um rapa de não sobrar nem a cara-de-pau para se queixar. Ou mais, é treino de briga de galo no terreiro. Ou, ainda, espécie de rapadura vitaminada. Ou, enfim, aperitivo popular feito com limão e açúcar ou mel. Pronto, tem mais, mas estes bastam. Acontece que o Doro, o maior fuçador das doidices mais trampolineiras que se tenha notícia, parece mais que tem um cotôco de num parar quieto num canto. Consegue, então, ele reunir estas acepções todas numa só: Teibei!




Previno, antes de tudo, que, não se sabendo porque cargas d´água, todo ser humano possui a mania de colecionar alguma coisa por mais irrisória que seja, de taco de papel à caçola véia, ou seja, todo tipo de brebotes, tranqueiras, o escambau, o Doro, não fugindo à regra, também coleciona algo, só que inusitado: só faz merda, o maior fabricante de bosta que se imagine, colecionando o maior inventário de despropósitos. Esse, o cara. Advirto por total respeito que, se porventura algum leitor ou leitora, identificar algum ponto luminoso no firmamento, não caia na esparrela de perder tempo, vez que, evidentemente, não será nem objeto voador não-identificado muito menos identificado, nem o Superman, nem nenhum avoador piscando o tareco, nem nenhuma estrela cadente ou passagem de meteoro avassalador pegando fogo na atmosfera. Nada disso. Com certeza, será o Doro testando o seu próprio invento. Ele, pra sorte de todos, é cobaia do feitiço dele mesmo. Nem Benjamim Franklin ousara tanto constatando cientificamente o seu experimento. Para se ter idéia, o Doro é hors-concurs de uma provada bem descabelada na conhecida A-que-matou-o-guarda, expert em acender a lanterna com a Amansa-corno, especialista em alertar as idéias na permeável atitude de sorver a Arrebenta-peito, celebridade máxima em virar-o-cangote engulindo a Sete-virtudes; provador respeitado da Nego-no-tapa, Pau-de-índio, Raiz-de-pau, Cai-na-porta e outras malvadas carraspanas exorcistas, não deixando, portanto, de rotular uma confraternização de sua candidatura com uma teibei, capaz de mudar o destino e o curso da história do planeta. Não era para chegar a tanto, mas ousadia dá cada uma, hem? Pois bem, reunindo todas as significações anteriormente relatadas, Doro preparara a sua invenção: a Teibei! Isso com a sua peculiar originalidade inventiva, reunindo neste aperitivo além dos ingredientes convencionais, todos os seus conhecimentos alquímicos buscados na pedra filosofal e na tábua de Esmeralda, e noutras esquisitices de seu transcendentalismo amalucado. - Essa jurubeba-dupla é a tirineta certa pra incher o chifre! O melhor pileque de todos os paus de fogo, apropriada para homenagear o santo e ficar pronto! Garanto, o espritado que fizer uma boquinha fica puxando-um-trem, cheio das meropéias só com uma meiota, a ponto de esquentar o tampão do pinguço e de deslizar o disco de embreagem do maluvido! Eita, ponche ineivado!!! Arreia a ripa, nego! É isso que ele garante arrotando todo pabo, pois quem dela usa numa golada boa, leva um esquento de ficar de fogo aceso cuspindo-bala, de gritar: Iaiá-me-acode! E tem mais uma virtude incontestável: - Essa possui a propriedade de deixar o freguës invisível! Arrepare, só. Pois bem, empolgado com a adesão popular à sua candidatura contestatória a Presidente do Brasil, Doro chegou a exceder os seus próprios limites. - Todo bêbo é rico e bota pra rachar!! Num é não? Por isso, vou empenar tudo! E empenou mesmo. No maior aguaceiro regado a uma beberagem exclusiva inaugurando seu próprio fabrico, popularmente alcunhada na redondeza de Arranca-tampo, deu-se a festança com o que de mais insólito ocorrera: teve neguinho que desapareceu, se envultando dum jeito de só encontrá-lo ao cabo de dias completamente desmiolado. Que houve? Quem se lembra. Depois de muita peitica, eis que fui tomando pé do sucedido. A festança começara com uma goelada do elixir-do-diabo, inventado ocultamente em sua adega secreta improvisada: o banheiro de sua casa. A cada talagada o sujeito embicava decilitrado. - Tá queimado, nego? Essa cura-tudo é de lascar! - Oxe, tá tostadinho, chumbado e chamando cachorro-de-meu-tio! - Vôte! Aquele tá tão bicado de chamar urubu de meu louro! - Eita, canjebrina macha!!! Com essa o cristão beija-o-santo e tá de corpo fechado! Para se ter idéia do espalhafato, o cabra mal tomava pé na abrideira, a água de briga fazia efeito de deixá-lo entregue na lequéssia, trocando as pernas e achando a rua estreita. Depois, só se vê o amuo: o ramado parece que levou uma bordoada de num poder ficar nem em pé, uma cipoada de amarrar o bode arreado, de farol baixo e bandeira a meio pau, caindo na maior dormideira cheio dos birinaites, com o cobertor-de-pobre, u-ru! - Minha véia, tô dormente do cabelo do quengo até a unha encravada do pé! Isso depois de bicado ter provado da dois-dedos mais forte que qualquer pau dentro, mamãe-me-sacode, rabo-de-galo, semente-de-arenga, travanquante, três-tombos ou a bexiga lixa. E ela, a distinta esposa, mais injuriada que nunca, ainda sapeca: - Eu quero que vosmicê se estrupie, arranhe a fuça na terra e arranque as gaias da testa, seu corno! Quando se dá conta no outro dia, o cabra está no banco dos réus do departamento da vergonha, com os chifres inchados, o juizo turbado, um gosto-de-cabo-de-guarda-chuva-véio na boca, o bucho pegando-fogo, as tripas dando um nó e as pregas do bocal-da-quartinha num aguentando nem passar vento fresco. Não tem quem não reclame jurando vingar-se de Doro depois daquela. Eu mesmo quis desvendar o mistério do xarope-de-bêbo que ele inventara. Mas só depois de muita manha do sabido, consegui que ele reduzisse tudo numa receita hermética que só depois de muito implicado, ele deu-me de mão beijada. E cadê decifrar? Só sei que era só virar o copo e se tornar um verdadeiro foguete sideral. Que droga é isso, Doro? Ele tentava disfarçar mais que descabreado. Foi ai que vi, num papel, a inscrição teibei e depois oâmil, racuça e loocal orup. Intriguei-me com o pantim dele. Era munganga demais para o meu gosto. Virei, desvirei o papel, e saquei que não era esperanto, nem língua remota, nem alienígena, era um enigma mesmo. Quando desdobrei o resto do papel havia outras inscrições ininteligíveis pelo garrancho de sua caligrafia horrível. Nossa, tudo aquilo jamais revelador. Foi aí que ele saiu soletrando contrariado: álcool etílico, açúcar, limão, canela, sapopemba, boldo, caldo de avelóis, urtiga ralada, uns pingos de estricnina, soda cáustica, solução de bateria e extrato-hepático; e, por fim, mel-de-abelha, pronto, está feito o mijo de Zé Pilintra.




Para quem tem amor aos seus possuídos, não é aconselhável chegar perto, nem mesmo cheirar essa mandureba, correndo o risco de ficar grogue só com a cheirada, evitando qualquer aproximação desse estrupício todo. Mas que a raça mamadora faz maior festa quando Doro anuncia que vai fazer a teibei, isso faz. Bié, bié, glup, glup!!! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


DITOS & DESDITOSArte lida com a vida, o mercado de arte é sobre dinheiro. Pensamento do artista britânico Damien Hirst.


A CONDIÇÃO HUMANA – O livro A condição humana, da filósofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975), trata da condição humana desde a Grécia Antiga até a modernidade europeia, por meio de um relato minucioso acerca da evolução e desenvolvimento histórico dos contextos da essência humana,  a partir de uma análise acerca da Vita Activa e a condição humana, a distinção entre o labor e o trabalho e ação, o político, o público, o privado, o social, a questão proletária, a degradação e a banalização de conceitos, o homem moderno, cada vez mais alienado e apolítico, a crescente apolitização do homem, a condição humana diz respeito às formas de vida que o homem impõe a si mesmo para sobreviver, como condições que tendem a suprir a existência do homem e que variam de acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem faz parte, o condicionamento pelos atos e pelo que se pensa e sente, condicionamento pelo contexto histórico delineado pela cultura, amizades e família, o labor como processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie humana, o trabalho como atividade de transformar coisas naturais em coisas artificiais, a ação como necessidade do homem em viver entre seus semelhantes numa natureza eminentemente social, a “Vita Activa” como ocupação, inquietude e desassossego, a religião cristã e as concepções gregas na vulgarização da dignidade humana, as dicotomias de trabalho entre improdutivo e produtivo, qualificação e não qualificação, intelectual e manual, a visão marxista do trabalho produtivo, o processo de industrialização, o trabalho intelectual em contraposição ao trabalho manual, a ideologia do qualquer coisa que se faça tem que ser necessariamente produtivo, tudo deve ser transformado em mercadoria, o valor de troca, a força de trabalho como aquilo que o homem possui por natureza e que só cessa com a morte, entre outros assuntos. REFERÊNCIA: ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. Veja mais aqui & aqui.


BRINQUE NÃOA equatoriana Lorena Bobbit tornou-se famosa nos Estados Unidos (e posteriormente foi vista como heroína do antiimperialismo no Equador) ao cortar e jogar fora o pênis de seu marido, um marinheiro estadunidense, alegando tentativa de estupro. Após uma noite inteira de intensa busca, policiais encontraram o órgão desaparecido num matagal, permitindo que este fosse reimplantado com sucesso no marinheiro em cirurgia de emergência. Este é o caso de John Wayne Bobbitt e Lorena Bobbitt, um casal estadunidense que contraíram núpcias em 18 de junho de 1989, cuja relação se tornou manchete em 1993, quando, após anos sendo supostamente estuprada, espancada e sodomizada por seu marido, Lorena cortou seu pênis com uma faca. enquanto ele dormia na cama.

OS ÍNDIOS – [...] Os índios vêm adquirindo o ‘estranho’ direito de continuar a ser índios, depois de quinhentos anos de integração forçada. [...]. Trechos de A universalidade parcial dos direitos humanos, Carlos Marés Souza Filho, extraído da obra Povos indígenas e tolerância: construindo práticas de respeito e solidariedade (Edusp/Unesco, 2001), organizado por Vidal Grupioni et al. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

POLÍTICAS DE AUTORIA – [...] O corpo é desejo. E é na corporeidade desejante que o sujeito inscreve no mundo, na ânsia por dele fazer parte, nele ser reconhecido, num jogo constante de inserção e afastamento, mesmo que este último seja ilusório. Desejo e palavra se cruzam, se tocam; mais do que isso, desejo/corpo e palavra em uma relação constitutiva [...] Corpo e linguagem, desejo e falta. Suportar a incompletude e por corpo/linguagem em movimento. Eis uma entrada na vida! [...]. Trechos extraídos da obra Políticas de Autoria (EduFscar, 2013), de Ana Silvia Couto de Abreu, trata sobre as políticas de autoria, regulação, sujeitos, governança, Forum Nacional de Direito Autoral, Multilinguismo e web, leitura e escrita, princípios do trabalho interdisciplicar, ambientes virtuais, avaliação em EaD, corpo e linguagem, entre outros. Veja mais aqui.

MESTRE DE ESGRIMA – [...] Quando se endireitou novamente, tinha a fisionomia decomposta, os olhos desmedidamente arregalados, porque acabava de dar com o horror a nu. Seu olhar perito não podia se enganar diante de um ferimento como aquele. Luis de Ayala tinha sido morto com um florete, com uma estocada limpa e única na jugular: a estocada dos duzentos escudos. [...] Trecho extraído da obra O mestre de esgrima (Companhia das Letras, 2003), do escritor e jornalista espanhol Arturo Pérez-Reverte.

O AMOR - O amor nada impede; / ele ainda não conhece as trancas das portas / E penetra através de tudo; / Ele existe desde o princípio, / suas asas batem para sempre / E suas batidas são eternas. Poema do escritor alemão Matthias Claudius (1740-1815).


A arte do artista britânico Damien Hirst.




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