VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
DO CUSTOSO CASO DE TOMÉ & VITALINA - Tem gente que vê dente de coelho em tudo! Pronto, esse é o
Tomé, sujeito mão-de-figa mais desconfiado que esse tá pra existir na face da
terra. O bocó é tão precavido que até da sombra ele interpela: - Pronde é que
você vai? -, duvidando logo qualquer ruína ou má-fé até dela. Imagina?
Pirangueiro que só, seu ditado é: - Não gosto de gastar. Parece mais disco
arranhado num samba de uma nota só. Bote avareza e, por prevenção, anda com uma
pata leporina no bolso. E sempre com um pé atrás: - Ué, pode ser que seja, pode
ser que não seja. Homem prevenido vale por dois! Assim é ele que vê a vigência
da teoria da conspiração pra todo lado e que chega até a ter parecença com aquele
exótico Giorgio Tsoukalos do History Channel, de tanto suspeitar que está sendo
ludibriado por alguma coisa. Tanto é que passou mais de trinta e cinco anos de
sua vida zelando por sua castidade, sem arrumar uma que fosse por namorada. Quando
encontrou, foi justo Vitalina, pense duas trepeças juntas. Pra se ter ideia, eles
nasceram no mesmo dia, mês e ano! Um achado. A diferença é que ele era duma
localidade denominada Casa de Caixa Pregos e ela num lugar duma lonjura tão
grande que o povo só conhecia como Fim de Mundo. Não deixa de ser mais uma
coincidência, né não? Apois, foi. Ele um hesitante que só anda com o pé direito
na frente para evitar o sestro agouro; ela, uma crédula devota de todos os
credos e sincretismos, que não sai de casa sem antes passar o horóscopo, fazer
simpatias com todas as orações do rosário e viver de catar fórmulas e
ocultidões para livrá-la de malsinações. Pronto, está feito o pacto mais
perfeito. Sem saber se vai dar certo ou não, o certo mesmo é que embromaram no
relacionamento por quase quinze anos entre achegamentos pudicos, meu bem pra lá
e pra cá, com as inevitáveis divergências ocasionais que quase viraram
definitivas, não cedessem diante da fortaleza de personalidade de ambos. Entre
altos exultantes e baixos deprimentes, conseguiram empacar na novela do
casamento depois de tanto tempo na identificação das afinidades e, um detalhe,
sem noivado. A bronca vai até hoje. Por que? Ora, primeiro não conseguiram
avançar do estágio de namoro pra nubente por completa falta de segurança – vai ver
que um ou outro desista e não querem passar por esse vexame. Por via de
dúvidas, prosseguiram na deles. Resolveram então pular a etapa e foram logo pro
casório, não antes testarem de tudo: de fidelidade até conferência da vida dos
familiares de cada um. Vencido o estágio de verificação se havia alguma pá
virada entre os parentes deles, passaram para a cerimônia, não antes se
desentenderem no descarte do celebrante, findando apenas no juiz e mais
ninguém. Foram superando divergências de credo, de gastos, de convivas, de
acomodação e muitas tantas outras que os dois emperraram de se engancharem em
mata-burros intransponíveis, até chegarem pra escolha do dia pro matrimônio: não
pode ser uma segunda porque ela nunca será a outra, vire; terça é dia de
carnaval e ela não está pra ser deixada na folia, foi; quarta lembra a de
cinzas, cruz-credo!; quinta, ela não quer ser categorizada como imprestável,
arreda!; sexta, não quer sofrer como uma crucificada, sai-te!; sábado, é dia da
libertinagem de Zé-Pereira, pula; domingo... hum, domingo. Ela refletiu que
pode ser um domingo. Será? Depois da maior lengalenga, agora o nó-cego é
escolher o mês, pois ela precisa passar no conferido da numerologia, das cartas
e de todas as superstições inimagináveis de sua ciosa certificação. E isso leva
tempo. Pelo jeito não será tão cedo. E vamos aprumar a conversa aqui.
Imagem: Crianças (1892, Óleo sobre Tela Dim. : 51 x 63 cm), do pintor,
desenhista, professor, historiador e astrônomo Benedito Calixto de Jesus (1853-1927).
Curtindo o álbum Bridge over
Troubled Water (Columbia Records, 1970), da dupla Paul Simon e Art Garfunkel,
que inspirou a canção Ponte sobre águas
turvas, que compus sobre poema de Juareiz Correya. Veja aqui.
BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa
Brincarte do Nitolino para as crianças de todas as idades, nos horários das
10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM e com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Na programação
especial do Dia das Crianças, com duas horas de duração, atrações especiais
chamando a meninada com Chico Buarque & Vinicius de Moraes, Turma da
Mônica, Moraes Moreira, Toquinho, Lucinha Lins, Paulinho Boca de Cantor, Vida
de criança, Menino da beira do rio, Balão Mágico & Djavan, Trem da Alegria,
Meimei Corrêa, Disco Clube da Criança, Nita - Pais, mães, crianças e
brinquedos, Galinha Pintadinha, Isabella Taviani, Chaves & muito mais No
reino encantado de todas as coisas. No blog, muitas dicas de Educação,
Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro, Música e Literatura
infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as historias em quadrinhos dos Aventureiros do Una. Para conferir ao
vivo e online clique aqui
ou aqui.
A CRISE NA EDUCAÇÃO – No livro A crise na educação (Partisan Review, 1957), da filósofa política
alemã Hannah Arendt (1906-1975),
destaco o trecho seguinte: [...] O papel
desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, desde a Antiguidade até
aos nossos dias, mostra bem como pode parecer natural querer começar um mundo novo
com aqueles que são novos por nascimento e por natureza. No que diz respeito à
política há aqui, obviamente, uma grave incompreensão: em vez de um indivíduo
se juntar aos seus semelhantes assumindo o esforço de os persuadir e correndo o
risco de falhar, opta por uma intervenção ditatorial, baseada na superioridade
do adulto, procurando produzir o novo como um fait accompli, quer dizer, como
se o novo já existisse. É por esta razão que, na Europa, a crença de que é
necessário começar pelas crianças se se pretendem produzir novas condições tem
sido monopólio principalmente dos movimentos revolucionários com tendências
tirânicas, movimentos esses que, quando chegam ao poder, retiram os filhos aos pais
e, muito simplesmente, tratam de os endoutrinar. Ora, a educação não pode desempenhar
nenhum papel na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas.
Aqueles que se propõem educar adultos, o que realmente pretendem é agir como
seus guardiões e afastá-los da atividade política. Como não é possível educar
adultos, a palavra «educação» tem uma ressonância perversa em política — há uma
pretensão de educação quando, afinal, o propósito real é a coerção sem uso da
força. Quem quiser seriamente criar uma nova ordem política através da
educação, quer dizer, sem usar nem a força e o constrangimento nem a persuasão,
tem que aderir à terrível conclusão platônica: banir todos os velhos do novo
estado a fundar. Mesmo no caso em que se pretendem educar as crianças para
virem a ser cidadãos de um amanhã utópico, o que efetivamente se passa é que se
lhes está a negar o seu papel futuro no corpo político pois que, do ponto de
vista dos novos, por mais novidades que o mundo adulto lhes possa propor, elas
serão sempre mais velhas que eles próprios. Faz parte da natureza da condição
humana que cada nova geração cresça no interior de um mundo velho, de tal forma
que, preparar uma nova geração para um mundo novo, só pode significar que se deseja
recusar àqueles que chegam de novo a sua própria possibilidade de inovar. [...] Deste
modo, o que faz com que a crise da educação seja tão especialmente aguda entre nós
é o temperamento político do país, o qual luta, por si próprio, por igualar ou
apagar tanto quanto possível a diferença entre novos e velhos, entre dotados e
não dotados, enfim, entre crianças e adultos, em particular, entre alunos e
professores. É óbvio que este nivelamento só pode ser efetivamente alcançado à
custa da autoridade do professor e em detrimento dos estudantes mais dotados. No
entanto, é igualmente óbvio para quem alguma vez esteve em contato com o
sistema educativo americano que esta dificuldade, enraizada na atitude política
do país, tem também grandes vantagens, não apenas do ponto de vista humano, mas
no plano da educação. De qualquer forma, estes factores gerais não podem
explicar a crise em que nos encontramos no presente nem justificar as medidas
que a precipitaram. [...].
Veja mais aqui, aqui e aqui.
HISTÓRIA DE UM NOME – No livro O homem do lado (José Olympio, 1958), do escritor, radialista,
jirnalista e compositor Sérgio Porto
(1923-1968) - o magistral Stanislaw Ponte Preta -, encontro História de um
nome: No capítulo dos nomes difíceis têm
acontecido coisas das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem
físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho e insignificante chamado
Hércules. Os nomes difíceis, principalmente os nomes tirados de adjetivos
condizentes com seus portadores, são raríssimos, e é por isso que minha avó a
paterna - dizia: — Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mulher,
deve ser Maria! É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos,
mários, odetes e — vá lá — fidélis. A sua implicância era, sobretudo, com nomes
inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito
citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em que inauguraram
a luz elétrica na rua em que a família morava. Acrescente-se também que Vovó
não mantinha relações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e metade do
pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu — o "Seu" Wagner — porque se
casara com uma senhora chamada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera
o mau-gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filho com o nome
leguminoso de Wagem — "wag" de Wagner e "em" de Emília. É
verdade que a vagem comum, crua ou ensopada, será sempre com "v",
enquanto o filho de "Seu" Wagner herdara o "w" do pai. Mas
isso não tinha nenhuma importância: a consoante não era um detalhe bastante
forte para impedir o risinho gozador de todos aqueles que eram apresentados ao
menino Wagem. Mas deixemos de lado as birras de minha avó — velhinha que Deus
tenha, em Sua santa glória — e passemos ao estranho caso da família Veiga, que
morava pertinho de nossa casa, em tempos idos. "Seu" Veiga, amante de
boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros, embora colecionasse também
filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de batizar os
rebentos com nomes que tivessem relação com livros. Assim, o mais velho
chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice e,
sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o Capítulo e, por fim, Epílogo da Veiga,
caçula do casal. Lembro-me bem dos filhos de "Seu" Veiga, todos
excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito prendado na confecção de
balões e papagaios. Até hoje (é verdade que não me tenho dedicado muito na
busca) não encontrei ninguém que fizesse um papagaio tão bem quanto Capítulo.
Nem balões. Tomo era um bom extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai -
vivia comprando livros. Era, aliás, o filho querido de "Seu" Veiga,
pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha o menor senso de humor. Certa
vez ficou mesmo de relações estremecidas com meu pai, por causa de uma
brincadeira. "Seu" Veiga ia passando pela nossa porta, levando a
família para o banho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas
etc. Papai estava na janela e, ao saudá-lo, fez a graça: — Vai levar a
biblioteca para o banho? "Seu" Veiga ficou queimado durante muito
tempo. Dona Odete — por alcunha "A Estante" — mãe dos meninos, sofria
o desgosto de ter tantos filhos homens e não ter uma menina "para me fazer
companhia" - como costumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era
castigo de Deus, por causa da idéia do marido de botar aqueles nomes nos
garotos. Por isso, fez uma promessa: se ainda tivesse uma menina, havia de
chamá-la Maria. As esperanças já estavam quase perdidas. Epílogozinho já tinha
oito anos, quando a vontade de Dona Odete tornou-se uma bela realidade, pesando
cinco quilos e mamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que
"Seu" Veiga não gostou, ainda que se conformasse, com a vinda de mais
um herdeiro, só porque já lhe faltavam palavras relacionadas a livros para
denominar a criança. Só meses depois, na hora do batizado, o pai foi informado
da antiga promessa. Ficou furioso com a mulher, esbravejou, bufou, mas — bom
católico — acabou concordando em parte. E assim, em vez de receber somente o
nome suave de Maria, a garotinha foi registrada, no livro da paróquia, após a
cerimônia batismal, como Errata Maria da Veiga. Estava cumprida a promessa de
Dona Odete, estava de pé a mania de "Seu" Veiga. Veja mais aqui,
aqui e aqui.
QUARENTA POEM(A)S -
No livro 40 poem(a)s
(Brasiliense, 1986), do poeta estadunidense Edward Estlin Cummings ( e.e.cummings 1894-1962), destaco
inicialmente o poema 19: platão lhe /
disse: ele não / quis ouvir (jesus / lhe disse; ele / não soube / ouvir) lao /
tse / certamente lhe / disse, e o general / (sim / senhora) / shreman: / e até
/ (acredite / ou / não) você / lhe disse: eu lhe / disse: nós lhe dissemos /
(ele não ouviu, não / senhor) foi preciso / um pedaço niponizado do / velhor
elevado da 6ª / avenida; / no meio da testa: pra que ele ou / visse. Também
o poema 24: quando as serpentes paguem
para ser serpentes / e o sol para ganhar seu pão recorra à greve - / quando o
espinho olhe a rosa com suspeita / e o arco-íris faça seguro contra a neve /
quando tordo nenhum puder cantar enquanto / todos os mochos não fizerem a
censura / - e os mares tenham que fechar para balanço / se as ondas não tiverem
posto a assinatura / quando o carvalho pedir vênia ao vidoeiro / para gerar seu
fruto – o vale casse a vista / dos montes, porque são altos, e fevereiro /
acuse março de ser terrorista / então acreditaremos nessa incri / vel
humanidade inanimal (e só aí). Veja mais aqui.
ACONTECEU EM IRKUTSK &
OS HOMENS SÃO DE MARTE -
A trajetória da atriz de teatro, cinema e televisão Irene Ravache começou em 1961, quando atuou como atriz na peça
Aconteceu em Irkutsk. Em 1962 quando começou a fazer um curso de interpretação
na Fundação Brasileira de Teatro (FBT) e, no ano seguinte, atuou na peça Eles
não usam black-tie e, também, Aonde vais, Isabel? Em 1964, fez um novo curso de
interpretação no Teatro dos Quatro. Em 1966 é a vez da peça Pindura a Saia e,
em 1968, A cozinha. Nos anos de 1970 faz curso de técnica vocal no Método
Espaço Direcional e, em São Paulo, frequentou aulas de Butoh. A partir de então
vieram as atuações nas peças A ratoeira (1971), Os inocentes (1972), Roda cor
de roda (1975), Os filhos de Kennedy (1977), Bodas de papel (1978), Tem um
psicanalista na nossa cama (1980), Pato com Laranja (1980), Afinal uma mulher
de negócios (1981), Filhos do silêncio (1982), De braços abertos (1984), Uma
relação tão delicada (1989), Eu me lembro (1995), Brasil S/A (1996),
Inseparaveis (1997), Intimidade indecente (2001) e A reserva (2008). Atuando
como diretora nas peças teatrais As avestruzes (1979), A gema do ovo da ema
(1979), Beijo de humor (1995), Clarice em casa (1995) e As vantagens de ser
bobo (1998). No cinema ela estreia com Geração em fuga (1972), seguindo-se O
supermanso (1974), Lição de amor (1975), Curumim (1978), Doramundo (1978), Que
bom te ver viva (1989), Ed Mort (1997), Até que a vida nos separe (1999),
Amores possíveis (2001), Viva sapato! (2002), Depois daquele baile (2005) e Os
homens são de marte... e é pra lá que eu vou (2014). Também atuou em novelas e
series de tv, tornando-se uma atriz, diretora e produtora de teatro respeitada
com indicação internacional. Veja mais aqui.
ESPELHO D’ÁGUA – O belíssimo e premiado drama Espelho d'Água: Uma Viagem no Rio São
Francisco (2004), dirigido por Marcus Vinicius Cesar, com roteiro do
diretor Yaya Wursch e Lara Francischetti, e música de Naná Vasconcelos. O filme
foi ganhador do premio de melhor ator coadjuvante para Francisco Carvalho e
melhor atriz coadjuvante para Regina Dourado no Cine PE – Festival do
Audiovisual, tendo sido realizado após quatro anos de pesquisa e um minucioso
período de preparação e e escolha de locações antes do inicio das filmagens que
aconteceram durante oito semanas, em 2001. O filme é encantador e fascinante
com destaque pro elenco e pra trilha sonora, bem como ser construído num cenário paradisíaco com uma história para lá de tocante. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da bailarina brasileira Cecília Kerche.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Quarta Romântica, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.