quarta-feira, outubro 14, 2015

ARENDT, STANISLAW, CUMMINGS, RAVACHE, KERCHE, CALIXTO, SIMON & GARFUNKEL, BRINCARTE DO NITOLINO & TOMÉ & VITALINA.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DO CUSTOSO CASO DE TOMÉ & VITALINA - Tem gente que vê dente de coelho em tudo! Pronto, esse é o Tomé, sujeito mão-de-figa mais desconfiado que esse tá pra existir na face da terra. O bocó é tão precavido que até da sombra ele interpela: - Pronde é que você vai? -, duvidando logo qualquer ruína ou má-fé até dela. Imagina? Pirangueiro que só, seu ditado é: - Não gosto de gastar. Parece mais disco arranhado num samba de uma nota só. Bote avareza e, por prevenção, anda com uma pata leporina no bolso. E sempre com um pé atrás: - Ué, pode ser que seja, pode ser que não seja. Homem prevenido vale por dois! Assim é ele que vê a vigência da teoria da conspiração pra todo lado e que chega até a ter parecença com aquele exótico Giorgio Tsoukalos do History Channel, de tanto suspeitar que está sendo ludibriado por alguma coisa. Tanto é que passou mais de trinta e cinco anos de sua vida zelando por sua castidade, sem arrumar uma que fosse por namorada. Quando encontrou, foi justo Vitalina, pense duas trepeças juntas. Pra se ter ideia, eles nasceram no mesmo dia, mês e ano! Um achado. A diferença é que ele era duma localidade denominada Casa de Caixa Pregos e ela num lugar duma lonjura tão grande que o povo só conhecia como Fim de Mundo. Não deixa de ser mais uma coincidência, né não? Apois, foi. Ele um hesitante que só anda com o pé direito na frente para evitar o sestro agouro; ela, uma crédula devota de todos os credos e sincretismos, que não sai de casa sem antes passar o horóscopo, fazer simpatias com todas as orações do rosário e viver de catar fórmulas e ocultidões para livrá-la de malsinações. Pronto, está feito o pacto mais perfeito. Sem saber se vai dar certo ou não, o certo mesmo é que embromaram no relacionamento por quase quinze anos entre achegamentos pudicos, meu bem pra lá e pra cá, com as inevitáveis divergências ocasionais que quase viraram definitivas, não cedessem diante da fortaleza de personalidade de ambos. Entre altos exultantes e baixos deprimentes, conseguiram empacar na novela do casamento depois de tanto tempo na identificação das afinidades e, um detalhe, sem noivado. A bronca vai até hoje. Por que? Ora, primeiro não conseguiram avançar do estágio de namoro pra nubente por completa falta de segurança – vai ver que um ou outro desista e não querem passar por esse vexame. Por via de dúvidas, prosseguiram na deles. Resolveram então pular a etapa e foram logo pro casório, não antes testarem de tudo: de fidelidade até conferência da vida dos familiares de cada um. Vencido o estágio de verificação se havia alguma pá virada entre os parentes deles, passaram para a cerimônia, não antes se desentenderem no descarte do celebrante, findando apenas no juiz e mais ninguém. Foram superando divergências de credo, de gastos, de convivas, de acomodação e muitas tantas outras que os dois emperraram de se engancharem em mata-burros intransponíveis, até chegarem pra escolha do dia pro matrimônio: não pode ser uma segunda porque ela nunca será a outra, vire; terça é dia de carnaval e ela não está pra ser deixada na folia, foi; quarta lembra a de cinzas, cruz-credo!; quinta, ela não quer ser categorizada como imprestável, arreda!; sexta, não quer sofrer como uma crucificada, sai-te!; sábado, é dia da libertinagem de Zé-Pereira, pula; domingo... hum, domingo. Ela refletiu que pode ser um domingo. Será? Depois da maior lengalenga, agora o nó-cego é escolher o mês, pois ela precisa passar no conferido da numerologia, das cartas e de todas as superstições inimagináveis de sua ciosa certificação. E isso leva tempo. Pelo jeito não será tão cedo. E vamos aprumar a conversa aqui.

 Imagem: Crianças (1892, Óleo sobre Tela Dim. : 51 x 63 cm), do pintor, desenhista, professor, historiador e astrônomo Benedito Calixto de Jesus (1853-1927).


Curtindo o álbum Bridge over Troubled Water (Columbia Records, 1970), da dupla Paul Simon e Art Garfunkel, que inspirou a canção Ponte sobre águas turvas, que compus sobre poema de Juareiz Correya. Veja aqui.

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino para as crianças de todas as idades, nos horários das 10hs e das 15hs, no blog do Projeto MCLAM e com apresentação de Ísis Corrêa Naves. Na programação especial do Dia das Crianças, com duas horas de duração, atrações especiais chamando a meninada com Chico Buarque & Vinicius de Moraes, Turma da Mônica, Moraes Moreira, Toquinho, Lucinha Lins, Paulinho Boca de Cantor, Vida de criança, Menino da beira do rio, Balão Mágico & Djavan, Trem da Alegria, Meimei Corrêa, Disco Clube da Criança, Nita - Pais, mães, crianças e brinquedos, Galinha Pintadinha, Isabella Taviani, Chaves & muito mais No reino encantado de todas as coisas. No blog, muitas dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro, Música e Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as historias em quadrinhos dos Aventureiros do Una. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

A CRISE NA EDUCAÇÃO – No livro A crise na educação (Partisan Review, 1957), da filósofa política alemã Hannah Arendt (1906-1975), destaco o trecho seguinte: [...] O papel desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, desde a Antiguidade até aos nossos dias, mostra bem como pode parecer natural querer começar um mundo novo com aqueles que são novos por nascimento e por natureza. No que diz respeito à política há aqui, obviamente, uma grave incompreensão: em vez de um indivíduo se juntar aos seus semelhantes assumindo o esforço de os persuadir e correndo o risco de falhar, opta por uma intervenção ditatorial, baseada na superioridade do adulto, procurando produzir o novo como um fait accompli, quer dizer, como se o novo já existisse. É por esta razão que, na Europa, a crença de que é necessário começar pelas crianças se se pretendem produzir novas condições tem sido monopólio principalmente dos movimentos revolucionários com tendências tirânicas, movimentos esses que, quando chegam ao poder, retiram os filhos aos pais e, muito simplesmente, tratam de os endoutrinar. Ora, a educação não pode desempenhar nenhum papel na política porque na política se lida sempre com pessoas já educadas. Aqueles que se propõem educar adultos, o que realmente pretendem é agir como seus guardiões e afastá-los da atividade política. Como não é possível educar adultos, a palavra «educação» tem uma ressonância perversa em política — há uma pretensão de educação quando, afinal, o propósito real é a coerção sem uso da força. Quem quiser seriamente criar uma nova ordem política através da educação, quer dizer, sem usar nem a força e o constrangimento nem a persuasão, tem que aderir à terrível conclusão platônica: banir todos os velhos do novo estado a fundar. Mesmo no caso em que se pretendem educar as crianças para virem a ser cidadãos de um amanhã utópico, o que efetivamente se passa é que se lhes está a negar o seu papel futuro no corpo político pois que, do ponto de vista dos novos, por mais novidades que o mundo adulto lhes possa propor, elas serão sempre mais velhas que eles próprios. Faz parte da natureza da condição humana que cada nova geração cresça no interior de um mundo velho, de tal forma que, preparar uma nova geração para um mundo novo, só pode significar que se deseja recusar àqueles que chegam de novo a sua própria possibilidade de inovar. [...] Deste modo, o que faz com que a crise da educação seja tão especialmente aguda entre nós é o temperamento político do país, o qual luta, por si próprio, por igualar ou apagar tanto quanto possível a diferença entre novos e velhos, entre dotados e não dotados, enfim, entre crianças e adultos, em particular, entre alunos e professores. É óbvio que este nivelamento só pode ser efetivamente alcançado à custa da autoridade do professor e em detrimento dos estudantes mais dotados. No entanto, é igualmente óbvio para quem alguma vez esteve em contato com o sistema educativo americano que esta dificuldade, enraizada na atitude política do país, tem também grandes vantagens, não apenas do ponto de vista humano, mas no plano da educação. De qualquer forma, estes factores gerais não podem explicar a crise em que nos encontramos no presente nem justificar as medidas que a precipitaram. [...]. Veja mais aqui, aqui e aqui.

HISTÓRIA DE UM NOME – No livro O homem do lado (José Olympio, 1958), do escritor, radialista, jirnalista e compositor Sérgio Porto (1923-1968) - o magistral Stanislaw Ponte Preta -, encontro História de um nome: No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho e insignificante chamado Hércules. Os nomes difíceis, principalmente os nomes tirados de adjetivos condizentes com seus portadores, são raríssimos, e é por isso que minha avó a paterna - dizia: — Gente honesta, se for homem deve ser José, se for mulher, deve ser Maria! É verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos, mários, odetes e — vá lá — fidélis. A sua implicância era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em que inauguraram a luz elétrica na rua em que a família morava. Acrescente-se também que Vovó não mantinha relações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu — o "Seu" Wagner — porque se casara com uma senhora chamada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera o mau-gosto de convencer o marido de batizar o primeiro filho com o nome leguminoso de Wagem — "wag" de Wagner e "em" de Emília. É verdade que a vagem comum, crua ou ensopada, será sempre com "v", enquanto o filho de "Seu" Wagner herdara o "w" do pai. Mas isso não tinha nenhuma importância: a consoante não era um detalhe bastante forte para impedir o risinho gozador de todos aqueles que eram apresentados ao menino Wagem. Mas deixemos de lado as birras de minha avó — velhinha que Deus tenha, em Sua santa glória — e passemos ao estranho caso da família Veiga, que morava pertinho de nossa casa, em tempos idos. "Seu" Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros, embora colecionasse também filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de batizar os rebentos com nomes que tivessem relação com livros. Assim, o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice e, sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o Capítulo e, por fim, Epílogo da Veiga, caçula do casal. Lembro-me bem dos filhos de "Seu" Veiga, todos excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito prendado na confecção de balões e papagaios. Até hoje (é verdade que não me tenho dedicado muito na busca) não encontrei ninguém que fizesse um papagaio tão bem quanto Capítulo. Nem balões. Tomo era um bom extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai - vivia comprando livros. Era, aliás, o filho querido de "Seu" Veiga, pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha o menor senso de humor. Certa vez ficou mesmo de relações estremecidas com meu pai, por causa de uma brincadeira. "Seu" Veiga ia passando pela nossa porta, levando a família para o banho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas etc. Papai estava na janela e, ao saudá-lo, fez a graça: — Vai levar a biblioteca para o banho? "Seu" Veiga ficou queimado durante muito tempo. Dona Odete — por alcunha "A Estante" — mãe dos meninos, sofria o desgosto de ter tantos filhos homens e não ter uma menina "para me fazer companhia" - como costumava dizer. Acreditava, inclusive, que aquilo era castigo de Deus, por causa da idéia do marido de botar aqueles nomes nos garotos. Por isso, fez uma promessa: se ainda tivesse uma menina, havia de chamá-la Maria. As esperanças já estavam quase perdidas. Epílogozinho já tinha oito anos, quando a vontade de Dona Odete tornou-se uma bela realidade, pesando cinco quilos e mamando uma enormidade. Os vizinhos comentaram que "Seu" Veiga não gostou, ainda que se conformasse, com a vinda de mais um herdeiro, só porque já lhe faltavam palavras relacionadas a livros para denominar a criança. Só meses depois, na hora do batizado, o pai foi informado da antiga promessa. Ficou furioso com a mulher, esbravejou, bufou, mas — bom católico — acabou concordando em parte. E assim, em vez de receber somente o nome suave de Maria, a garotinha foi registrada, no livro da paróquia, após a cerimônia batismal, como Errata Maria da Veiga. Estava cumprida a promessa de Dona Odete, estava de pé a mania de "Seu" Veiga. Veja mais aqui, aqui e aqui.

QUARENTA POEM(A)S -  No livro 40 poem(a)s (Brasiliense, 1986), do poeta estadunidense Edward Estlin Cummings ( e.e.cummings 1894-1962), destaco inicialmente o poema 19: platão lhe / disse: ele não / quis ouvir (jesus / lhe disse; ele / não soube / ouvir) lao / tse / certamente lhe / disse, e o general / (sim / senhora) / shreman: / e até / (acredite / ou / não) você / lhe disse: eu lhe / disse: nós lhe dissemos / (ele não ouviu, não / senhor) foi preciso / um pedaço niponizado do / velhor elevado da 6ª / avenida; / no meio da testa: pra que ele ou / visse. Também o poema 24: quando as serpentes paguem para ser serpentes / e o sol para ganhar seu pão recorra à greve - / quando o espinho olhe a rosa com suspeita / e o arco-íris faça seguro contra a neve / quando tordo nenhum puder cantar enquanto / todos os mochos não fizerem a censura / - e os mares tenham que fechar para balanço / se as ondas não tiverem posto a assinatura / quando o carvalho pedir vênia ao vidoeiro / para gerar seu fruto – o vale casse a vista / dos montes, porque são altos, e fevereiro / acuse março de ser terrorista / então acreditaremos nessa incri / vel humanidade inanimal (e só aí). Veja mais aqui.

ACONTECEU EM IRKUTSK & OS HOMENS SÃO DE MARTE - A trajetória da atriz de teatro, cinema e televisão Irene Ravache começou em 1961, quando atuou como atriz na peça Aconteceu em Irkutsk. Em 1962 quando começou a fazer um curso de interpretação na Fundação Brasileira de Teatro (FBT) e, no ano seguinte, atuou na peça Eles não usam black-tie e, também, Aonde vais, Isabel? Em 1964, fez um novo curso de interpretação no Teatro dos Quatro. Em 1966 é a vez da peça Pindura a Saia e, em 1968, A cozinha. Nos anos de 1970 faz curso de técnica vocal no Método Espaço Direcional e, em São Paulo, frequentou aulas de Butoh. A partir de então vieram as atuações nas peças A ratoeira (1971), Os inocentes (1972), Roda cor de roda (1975), Os filhos de Kennedy (1977), Bodas de papel (1978), Tem um psicanalista na nossa cama (1980), Pato com Laranja (1980), Afinal uma mulher de negócios (1981), Filhos do silêncio (1982), De braços abertos (1984), Uma relação tão delicada (1989), Eu me lembro (1995), Brasil S/A (1996), Inseparaveis (1997), Intimidade indecente (2001) e A reserva (2008). Atuando como diretora nas peças teatrais As avestruzes (1979), A gema do ovo da ema (1979), Beijo de humor (1995), Clarice em casa (1995) e As vantagens de ser bobo (1998). No cinema ela estreia com Geração em fuga (1972), seguindo-se O supermanso (1974), Lição de amor (1975), Curumim (1978), Doramundo (1978), Que bom te ver viva (1989), Ed Mort (1997), Até que a vida nos separe (1999), Amores possíveis (2001), Viva sapato! (2002), Depois daquele baile (2005) e Os homens são de marte... e é pra lá que eu vou (2014). Também atuou em novelas e series de tv, tornando-se uma atriz, diretora e produtora de teatro respeitada com indicação internacional. Veja mais aqui.

ESPELHO D’ÁGUA – O belíssimo e premiado drama Espelho d'Água: Uma Viagem no Rio São Francisco (2004), dirigido por Marcus Vinicius Cesar, com roteiro do diretor Yaya Wursch e Lara Francischetti, e música de Naná Vasconcelos. O filme foi ganhador do premio de melhor ator coadjuvante para Francisco Carvalho e melhor atriz coadjuvante para Regina Dourado no Cine PE – Festival do Audiovisual, tendo sido realizado após quatro anos de pesquisa e um minucioso período de preparação e e escolha de locações antes do inicio das filmagens que aconteceram durante oito semanas, em 2001. O filme é encantador e fascinante com destaque pro elenco e pra trilha sonora, bem como ser construído num cenário paradisíaco com uma história para lá de tocante. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
Todo dia é dia da bailarina brasileira Cecília Kerche.

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .


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LAUREN ELKIN, AKSINIA MIHAYLOVA, VANESSA NAKATE & BRENDA BAZANTE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Fruto (2004), Candeias (2009), Faces (2016) e Inzu (2019), da pianista, compositora e pe...