VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O
DORO NO DIA DO PROFESSOR
- Doro chegou carregado de interrogações e, como sempre, de chofre, descarregou
de forma enfática: - Quaiquié procê a prefissão mais importante do prâneta e do
universo? Do inopinado, respondi-lhe: - A profissão, não, mas uma das mais
importantes, pra mim, é a do professor. Ele franziu o cenho, coçou o queixo e
largou um hummmmmmmmmm: - Hummm, prefessor! Isso mermo, prefessor! E vou ser um
dele dagora indiante! E saiu enumerando com ar de sua peculiar mania de
grandeza cada uma das suas autossuficiências! No maior blá blá blá lá foi ele demonstrando
que fazer, asas à imaginação: - A-há! Vou insiná cuma s’insina! Vou discarregá
minha sabedoria com fúria, eu sou tranchan! Quero vê aluno porqueira num virá doutô
da noite pro dia! Vou pegá no pé e mostrá quem qui é o dono da verdade! Verão
do que sou capaz, senão será a cega Dedé! -, e lá estava ele reproduzindo a
ideia de professor que eu vi demais na sala de aula e não gostaria de vê-lo
nunca mais. Ele, no esbanjamento de suas aptidões nem tão valorosas assim,
estava sendo o protótipo de todas as resistências, de todas as acomodações
pautadas tradicionalmente, os velhos hábitos do depósito pra fabricar gente de
verdade! Eu que estive dos dois lados da corda, nem bom aluno e muito menos
razoável professor, descobri naqueles que se encaixaram bem na minha afeição,
por sua forma de ministrar as aulas e de angariar a simpatia das turmas, o
exemplo digno de ser seguido. Adorava aqueles - e que foram poucos - os que ao
invés de punir ou castigar, ofereciam uma opção de escolha, uma oportunidade, ajudando
a como eu poderia melhorar e ser melhor, promovendo e valorizando a
criatividade, sinalizando o caminho das pedras na resolução de problemas. Idolatrei
até, confesso, aqueles que me encaminharam a ter o prazer do conhecimento e da
descoberta do saber, ensinando a como aprendar a pensar, a imaginar, a criar e,
ao mesmo, oportunizado o aprendizado de melhor me expressar, a apreciar a
beleza, a aprender a me relacionar comigo mesmo e com os outros, a lidar com as
minhas emoções e a dos outros, e a discernir sobre os meus direitos e os
direitos humanos. Descobri quando estava do outro lado, que professor é aquele que
trabalha sem apoio algum mas apoiando, que amanhece recheado de esperanças e vai
adormecer entediado de sobrecarga, porém, pelos que devotam a profissão de ser
e não estar nela, são sempre persistentes, resiliente, sempre desrotulando e
desmitologizando, tornando-se familiar e envolvendo a família, mostrando o
lugar do outro, exercitando a poesia como uma prática pedagógica do equilíbrio
e do lúdico no valor do choro (o estar no mundo) e do riso (o triunfo da vida).
Esses saíram e me ensinaram a sair da prisão da igualdade para a liberdade da
compreensão e da cooperação, corroborando com um outro olhar capaz de
contemplar a aceitação, o reconhecimento e o respeito pelo outro e seus
sentimentos, se importando comigo e com todos, realizando uma verdadeira
comunhão. A esses, a minha eterna homenagem de gratidão. Sim, mas e o Doro? Ih,
quase esqueci. Mergulhado nos meus pensamentos, logo ele me trouxe de volta pro
agora com uma barulhada macha. Ah, ele roubou meus pensamentos dizendo que ia
ser professor de inglês e castigou com veemência: - Vamo aprendê ingrêis que
purtuguêis nós já sabe! E foi-se! Vamos aprumar a conversa? Veja mais aqui,
aqui, aqui e aqui.
Imagem: Die schlafende Ariadne auf Naxos (1808-1812), do pintor
estadunidense John Vanderlyn
(1775-1852).
Curtindo o álbum Underground System (1992), do compositor & multi-instrumentista
nigeriano, Fela Kuti (1938-1997), o
pioneiro da Afrobeat, ativista política e dos diretos humanos.
ANTES DO NASCER DO SOL – No livro Assim falava Zaratustra (Companhia das Letras, 1993), do filósofo
alemão Friedrich Nietzsche
(1844-1900), destaco o trecho Antes do nascer do sol: Ó! céu desenrolado sobre mim! Céu claro e profundo! Abismo de luz! Ao
contemplar-te estremeço de divinos desejos! Elevar-me à minha altura: eis a tua
profundidade! Cobrir-me com a tua pureza: eis a minha inocência! O deus oculto
na sua beleza: assim ocultas as tuas estrelas. Não falas: assim me anuncias a
tua sabedoria. Mudo surgiste para mim sobre o fervente mar: o teu amor e o teu
pudor revelam-se à minha alma fervente. Belo, vieste a mim, velado na tua
beleza; mudo, falas-te-me, revelando-te na tua sabedoria: ó! como pude eu não
adivinhar todos os pudores da tua alma! Antes do sol vir até a mim, o mais
solitário. Somos amigos de sempre: as nossas penas são o fundo dos nossos
seres, são-nos comuns; até o sol é comum. Não falamos porque sabemos demasiadas
coisas: calamo-nos e entendemo-nos por sorrisos. Não és tu a luz do meu fogo?
Não és tu a alma irmã da minha inteligência? Tudo aprendemos juntos; juntos
aprendemos a elevar-nos sobre nós, e a sorrir, sem nuvens, para baixo, com
límpidos olhos, desde remotas paragens, quando a nossos pés se desvanecem, como
névoa vaporosa, a imposição, o fim e o erro. E quando eu caminhava só, de que
tinha a minha alma fome durante as noites e nos caminhos do erro? E quando eu
escalava montes, a quem procurava nos píncaros senão a ti? E todas as minhas
viagens e todas minhas ascensões não passavam de um expediente e recurso da
inércia. O que a minha vontade toda quer é voar, voar para ti! E que odiava eu
mais do que as nuvens e tudo o que te empana? E odiava até o meu próprio ódio
porque te empanava! Tenho aversão às nuvens, a esses gatos monteses que se
arrastam: tiram-nos a ti e a mim o que nos é comum: a imensa e infinita afirmação
das coisas. Nós outros temos aversão às rasteiras nuvens, a esses seres de meio
termo e de composições, a esses seres mistos que não sabem nem bendizer nem
maldizer com todo o seu coração. Preferia estar metido num túnel ou num abismo
sem ver o céu, a ver-te a ti, céu de luz, empanado pelas nuvens que passam! E
muitas vezes tenho sentido desejos de as trespassar com fulgurantes fios de
ouro e rufar como trovão na sua pança de caldeira: rufar de cólera, visto que
me roubam a mim a tua afirmação - céu puro! céu sereno! abismo de luz! - e
roubam-te a ti em mim. Que eu prefiro o ruído e o troar e as execrações do mau
tempo a essa calma medida e duvidosa de gatos. E "quem não sabe bendizer
deve aprender a maldizer!" De um luminoso céu me caiu, esta máxima luminosa:
- até nas escuras noites brilha esta estrela no meu céu. Eu, porém, bendigo e
afirmo sempre, contanto que me rodeies, céu sereno, abismo de luz! A todos os
abismos, pois, levo a minha benfeitora afirmação. Eu cheguei a ser o que bendiz
e afirma; tenho sido um lutador a fim de um dia ter as mãos livres para
abençoar. E a minha bênção consiste em estar por cima de cada coisa com o seu
próprio céu, a sua redonda abóbada, a sua abóbada cerúlea e sua eterna
serenidade: e bem aventurado daquele que assim abençoa! Que todas as coisas são
batizadas na fonte da eternidade e além do bem e do mal; mas o bem e o mal
mesmo não são mais do que sombras interpostas, úmidas aflições e nuvens
passageiras. Há bênção certamente, e não maldição quando eu predico: "Sobre
todas as coisas se encontra o céu Azar, o céu Inocência, o céu Acaso e o céu
Ufania." "Por azar" é esta a mais antiga nobreza do mundo; eu a
restituí a todas as coisas; eu as livrei da servidão do fim. Essa liberdade e
essa serenidade celeste coloquei-as como abóbadas cerúleas sobre todas as
coisas, ao ensinar que acima delas, e por elas, nenhuma "vontade
eterna" queria. Eu pus, em vez desta vontade, essa petulância, essa
loucura quando ensinei: Há uma coisa impossível em qualquer parte, e essa coisa
é a racionalidade. Um pouco de razão, um grão de sensatez, disperso de estrela
em estrela, é a levadura indubitavelmente misturada a todas as coisas: por
causa da loucura se acha a sensatez misturada a todas as coisas! Um pouco de
sensatez é possível: mas eu encontrei em todas as coisas esta benfeitora
certeza: preferem bailar sobre os pés do acaso. Ó! céu puro e excelso! A tua
pureza para mim consiste agora em que não haja nenhuma aranha, nem teia de
aranha eterna da razão: em seres um salão de baile para os azares divinos, uma
mesa divina para os divinos dados e jogadores de dados. Mas, sorris-te? Disse
coisas indizíveis? Maldisse-te querendo abençoar-te? O que te faz sorrir é a
vergonha de ser dois. Mandas-me retirar e calar, porque chega agora o dia? O
mundo é profundo, e mais profundo do que jamais pensou o dia. Nem tudo pode
falar diante do dia. Mas chega o dia. Separemo-nos então! Ó! céu desenrolado
sobre mim, céu pudico e incendido! Ó! felicidade antecedente à saída do sol!
Chega o dia. Separemo-nos!. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
O USO DOS PRAZERES – No livro História da sexualidade 2 – o uso dos prazeres (Graal, 1984), do
filósofo, historiador, filólogo, teórico social e crítico literário francês Michel Foucault (1926-1984), destaco os
trechos seguintes: Para compreender de
que maneira o uso dos aphrodisia é problematizado na reflexão sobre o amor
pelos rapazes é preciso lembrar um princípio que, sem dúvida, não é próprio da
cultura grega, mas que ali teve uma importância considerável e exerceu, nas
apreciações morais, um poder determinante. Trata-se do princípio de isomorfismo
entre relação sexual e relação social. Deve-se entender por esse princípio que
a relação sexual - sempre pensada a partir do ato modelo da penetração e de
uma polaridade que opõe atividade e passividade - é percebida como do mesmo
tipo que a relação entre superior e inferior, aquele que domina e aquele que é
dominado, o que submete-e o que é submetido, o que vence e o que é vencido. As
práticas de prazer são refletidas através das mesmas categorias que o campo
das rivalidades e das hierarquias sociais: analogias na estrutura agonística,
nas oposições e diferenciações, nos valores atribuídos aos respectivos papéis
dos parceiros. E pode-se compreender, a partir daí, que há, no comportamento
sexual, um papel que é intrinsecamente honroso e que é valorizado de pleno
direito: é o que consiste em ser ativo, em dominar, em penetrar e em exercer,
assim, a sua superioridade.Daí as várias consequências a respeito do estatuto
daqueles que devem ser os parceiros passivos dessa atividade. Os escravos,
evidentemente, estão à disposição do senhor: sua condição faz com que sejam
objetos sexuais a respeito dos quais não há nada a questionar; a tal ponto que
acontecia de se achar surpreendente que a mesma lei proibisse o estupro dos
escravos e o das crianças; para explicar essa estranheza, Ésquines diz que se
quis mostrar, ao proibi-la até mesmo com relação aos escravos, o quanto era
grave a violência quando ela se dirgia às crianças de boa origem. No que diz
respeito à passividade da mulher, ela marca muito bem uma inferioridade de
natureza" e de condição; mas ela não deve ser reprovada como conduta
posto que é, precisamente, conforme ao que a natureza quis e ao que o status
impõe. Em compensação, tudo aquilo que no comportamento sexual poderia
acarretar para um homem livre - e ainda mais para um homem que, por sua origem,
fortuna, prestígio, ocupa ou deveria ocupar posições privilegiadas entre os
demais - as marcas da inferioridade, da dominação sofrida, da servidão aceita,
só poderia ser considerado como vergonhoso: e vergonha ainda maior se ele se
presta a ser objeto complacente dó prazer do outro. Ora, num jogo de valores
regulado segundo tais princípios, a posição do rapaz - do rapaz de origem
livre - é difícil. É evidente que ele está ainda numa posição “inferior” , no
sentido em que está longe de se beneficiar dos direitos e dos poderes que serão
seus quando tiver adquirido a plenitude de seu status. Não obstante, seu lugar
não se superpõe ao de um escravo, evidentemente, nem ao de uma mulher. Isso já
é verdade no contexto da casa e da família. Uma passagem de Aristóteles na
Política o diz claramente. Ao tratar das relações de autoridade e das formas de
governo próprias à família, Aristóteles define, em relação ao chefe de
família, a posição do escravo, a da mulher e a do filho (homem). Governar
escravos, diz Aristóteles, não é governar seres livres; governar uma mulher é
exercer um poder “político” no qual as relações são de permanente desigualdade;
o governo dos filhos, em troca, pode ser dito “real” porque ele repousa “sobre
a afeição e a superioridade da idade” .60 De fato, a faculdade de deliberação
falta no escravo; ela está presente na mulher, mas não exerce nesta a função de
decisão; no menino, a falta diz respeito somente ao grau de desenvolvimento
que ainda não atingiu seu termo. E se a educação moral das mulheres é
importante posto que elas constituem a metade da população livre, a dos filhos
homens o é ainda mais; pois ela concerne aos futuros cidadãos que participarão
no governo da cidade.61 Vê-se bem: o caráter próprio da posição de um rapaz, a
forma particular de sua dependência, e a maneira pela qual se deve tratá-lo,
mesmo no espaço onde se exerce o poder considerável do pai de família,
encontram-se marcados pelo status que será o seu no futuro. O mesmo ocorre, até
certo ponto, no jogo das relações sexuais. Dentre os diversos “objetos” que são
legitimados, o rapaz ocupa uma posição particular. Certamente ele não é um
objeto proibido; em Atenas, certas leis protegem as crianças livres (contra os
adultos que durante um certo tempo, pelo menos, não terão o direito de entrar
nas escolas, contra os escravos que fícam sujeitos à morte se procuram cor-
rompê-las, contra pais ou tutores que são punidos se as prostituem);“ mas nada
impede nem proíbe que um adolescente seja aos olhos de todos o parceiro sexual
de um homem. Não obstante, existe como que uma dificuldade intrínseca nesse
papel: algo que ao mesmo tempo impede de definir claramente e de bem precisar
em que consiste esse papel na relação sexual e que, contudo, atrai a atenção
sobre esse ponto e faz com que se atrjbua uma grande importância e muito valor
ao que. deve ou não se passar nessa relação. Existe nisso tudo, ao mesmo tempo,
como que um ponto cego e um ponto de supervalorização. O papel do rapaz é um
elemento para o qual converge muita incerteza e um interesse intenso. [...]
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui .



IMAGEM DO DIA
The Three Graces,as três deusas da mitologia grega antiga
chamada Graças, conhecidas em grego como as Charites. Originalmente deusas da
natureza, elas chegaram a ser geralmente consideradas como companheiras de
Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza. De acordo com a tradição poética
e literária, as Graças eram em número de três, e seus nomes eram Euphrosyne, Thalia e Aglaia.
Eternamente jovens e adoráveis, elas representavam charme, beleza e
criatividade humana, e foram retratadas nus, originalmente segurando atributos
tais como maçãs, rosas e ramos de murta. As três deusas estão ligados entre si
em um anel, abraçados pela cintura ou no pescoço para formar uma cadeia
graciosa.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa SuperNova, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com apresentação sempre especial e apaixonante
de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui .
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.