quarta-feira, outubro 07, 2015

BETINHO, SABINO, BENTEVI, GARDNER, NANNA DE CASTRO, KIRIKU, RIOPELLE, ALINE BARROS & BRINCARTE DO NITOLINO.

 VAMOS APRUMAR A CONVERSA? A PRIMEIRA VEZ NO AVIÃO – Pra tudo tem a primeira vez. E, pra mim, nessa hora, é sempre um rito de passagem, o império do desconforto: cheio de pernas, pisando em ovos, embatucado com zis dúvidas. Triste de quem não sabe, não passou. E eu já havia passado por um bom bocado de primeira. Muitas, até. Mas esta, eu relutava. Tinha até comprado passagens, contudo, recuava na hora agá. Três vezes me neguei a passar por isso. Porém, havia chegado a hora, era uma obrigação. E tive de ser levado para não refugar. Estava obrigado, os deveres do ofício exigiam. Quando cheguei no aeroporto, o ambiente me era familiar; já havia estado ali por diversas vezes, apreciado decolangens, aterrissagens, contudo, só estivera ali para recepcionar ou me despedir de amigos, nunca como passageiro. Tinha comigo: não sou passarinho pra sair voando pelos ares, nem peixe pra me meter por cima das águas. Meu negócio era o chão, coisa atávica de Anteu. Oxe, tá doido?! Quem quiser que fosse, eu não. Ah, pra tudo tem a primeira vez. A minha chegou. E lá vou eu subindo pela primeira vez na escada – logo eu que tenho bronca com alturas, já caí de escadas na infância, já sofri acidentes em roda gigante. Tonteei, não vou chegar no último degrau. E pra piorar, a fila empancou bem no último degrau. Dei um tempo e esperei o da frente entrar na aeronave, para eu poder agir rápido e pular pra dentro, escapando da fresta entre a escada e a porta. Bem, atônito me vi recepcionado por uma linda aeromoça. Sabia, de antemão, que ali começaria meu martírio. O riso dela e a minha sina. Fui encaminhado pra minha poltrona e lá me aboletei num Boeing da Varig: três carreiras de cadeiras na esquerda, no meio e na direita. Lugares vagos que só, mas eu com a passagem e poltrona certa. E me instalei espragatado e espaçoso, tentando relaxar. Quando o bicho deu partida, eu comecei a me acovardar: - Adonde que vou me segurar, hem? Já era. O veículo começou passeando na pista, dando volta, até que os motores soaram forte, o avião empinou a venta e saiu rasgando o céu. Danou-se! Lá tô eu na maior tremedeira e torcendo pra não me afrouxar com o furico torando aço. Não passava nada. A minha preocupação era a merda pronta, se inventasse de sair, eu tava sifu! Já pensou o vexame? Nessa eu prometia por todos os céus e infernos que se saísse vivo dali, nunca mais tornaria a andar nesse invento desembestado. Fechei os olhos, agarrei os braços da cadeira e fiquei esperando pelo pior. Uns catabis balançaram de tremer tudo e eu me apavorando com a subida. – Aonde isso vai parar, hem? Demorou um bocado, até que fui tomando confiança. Estava ensopado de suor, parecia ter saído do banho sem me enxugar de tão lavado. Fechei os olhos e baixei a cabeça. Senti uma mão angelical ao ombro: - Está se sentindo bem? Era uma voz bondosa, fraterna. Levantei os olhos e vi uma face magérrima, olhos verdes fraternais. Quase tive um troço! Ora, será que eu morri e estou sonhando dentro da morte com o meu ídolo? Não podia ser. Ele falava comigo de forma terna e eu de olhos arregalados, desacreditado, como vivendo num ar onírico. Estava num misto entre atônito e agraciado. Afinal, naquele momento pra lá de difícil eu estava frente a frente com meu ídolo. Só podia ser sonho e ter morrido sem me dar conta. Só podia! Aos poucos, mesmo ofegante fui tomando pé da situação, porque dois outros rostos acompanhavam o meu momento. Eita, cá comigo, morri mesmo. Falavam comigo e eu não conseguia me desgrudar dos olhos verdes do ídolo que repetia que eu não estava bem. A minha situação chamou atenção porque me via arrodeado de outros curiosos graves. Depois de certo tempo, consegui balbuciar: - Estou bem. A aeromoça me perguntou: - Quer alguma coisa? Só me veio à mente: uísque. E sem nem pensar falei. Ela estranhou, olhou dos lados, saiu e depois voltou com uma dose com bastante gelo. Fiquei espantado! E trêmulo levei o copo à boca, enquanto o meu guardião-ídolo repetia que eu estava me restabelecendo. Tomei um gole, depois outro e fui me recuperando. Ouvi quando ele falou: - Não está mais lívido, agora está voltando ao normal. Sim, eu já respirava tranquilo, olhando dos lados e parando, exatamente, meus olhos nos olhos ternos do ídolo. – Tudo bem? -, perguntou-me ele. – Será? – respondi. Notei-lhe a interrogação na face com a minha resposta-pergunta. – Por que? -, insistiu ele. - Ora, se não morri, nem endoidei, você é o meu ídolo Betinho! E isso só pode ser sonho ou pegadinha da morte! -, ousei responder. Ele sorriu, todos riram. Ele me deu a mão e disse-me: - Dê-me um abraço! Oxe, todo enrolado, soltei o copo na poltrona vizinha e me levantei para abraçar o cara mais importante do Brasil: Betinho – o sociólogo Herbert de Souza, o homem ativista da cidadania brasileira e do Fome Zero. Sem saber o que fazer, completamente desnorteado, tive a intuição de pegar na minha bolsa o meu livro Primeira Reunião que havia acabado de publicar e, vasculhando por uma caneta, derrubando coisas, alvoroço desajeitado, autografei e entreguei ao ídolo como gratidão. Ele fez sinal de surpreso e se despediu com abraço, dizendo: - Vou ler, obrigado. Não consegui dizer mais nada, porque outro rosto famoso estava entre os que acompanharam a minha agonia: Baby Consuelo. Quando saquei pela presença dela, novamente busquei na bolsa outro exemplar do meu livro e autografei pra ela. Ela sorriu, me deu um abraço e um beijo na face direita, dizendo: - Tudo bem, vou ler. Se cuida. E foi se aboletar poltronas atrás da minha. A viagem prosseguiu e não parou por aí. Quando o piloto anunciou que iria começar a aterrissagem, por precaução, aproveitei a aeromoça passando e perguntei se ela poderia me trazer outra dose de uísque. Ela sorriu e, depois de algum tempo, retornou, dizendo-me: - Depois sente, afivele o cinto, retome o assento que vamos já chegar a Fortaleza. Assenti com os ouvidos querendo estourar. Tomava um gole e fazia exercícios na mandíbula para que pudesse melhorar minhas ouças. Tempos depois, lá estava eu sentindo a sensação da aterrissagem. Uma loucura. Pronto, estava em terra firme, ainda zonzo. Precisei do resto do dia todo para me restabelecer. Passei. Ufa! Foi difícil e nem morri, tô aqui contando história. E vamos aprumar a conversa aqui, aqui e aqui.


Imagem: Tribute a Rose Luxembourg, do pintor e escultor canadense Jean-Paul Riopelle (1923-2002).


Curtindo o álbum infantil Tim-Tim Por Tim-Tim (MK Music, 2014), da cantora Aline Barros.

BRINCARTE DO NITOLINO – Hoje é dia de reprise do programa Brincarte do Nitolino pras crianças de todas as idades, nos horários das 10hs e das 15hs. no blog do Projeto MCLAM. Na programação comandada pela Ísis Corrêa Naves muitas atrações: Fagner, Robertinho do Recife, Vida Verde Viva, Leo & Gandhi, O leão cordeirinho, Anderson Freire, As Esquiletes, Manuel Sampaio, O lobo e os sete cabritinhos, Nita & o jacaré e a princesa, O lobisomem zonzo, Meimei Corrêa, Eliana, Patati & Patatá & muito mais poesia, brincadeira, histórias e entretenimento pra garotada. No blog, muitas dicas de Educação, Psicologia, Direito das Crianças e Adolescentes, Teatro, Música e Literatura infantil, com destaque pro Brincar da Criança e as historias em quadrinhos dos Aventureiros do Una. Para conferir ao vivo e online clique aqui ou aqui.

PERSPECTIVA CIENTÍFICA – No livro Inteligência: múltiplas perspectivas (Artmed, 1998), de Howard Gardner, Mindy L. Hornhaber e Warren K. Wake, encontro no capítulo 2, a parte Origens da perspectivas científica, da qual destaco os trechos: Em 399 a.C., Sócrates foi condenado e sentenciado à morte por um júri de aproximadamente 500 compatriotas. Seus crimes eram não acreditar nos deuses da cidade-estado e corromper os jovens de Atenas. Em sua autodefesa, Sócrates negou ambas as acusações e afirmou que estava seguindo uma linha de investigação inspirada nos deus. O Oráculo de Délfos dissera a um amigo de Sócrates que nenhum homem era mais sábio do que Sócrates. Sócrates argumentou que as atividades pelas quais ele estava sendo julgado eram simplesmente suas tentativas de compreender o que o Oráculo queria dizer. Essas tentativas envolviam questionar estaditas, poetas, dramaturgos e artesãos para ver se eram mais sábios do que ele. Esses questionamentos, todavia, com frequência ocorriam na presença de espectadores: ... homens jovens, aqueles com muito tempo livre, filhos de famílias mais ricas, seguem-me por sua própria conta, deliciados ao ouvir as pessoas sendo questionadas; e eles com frequência me imitam, eles próprios tentam questionar; e, então, eu acho, eles encontram muitas pessoas que acreditam saber alguma coisa, quando na verdade pouco ou nada sabem. Assim, em consequência, aqueles que são questionados ficam zangados comigo, em vez de consigo mesmos... [...] Cerca de vinte séculos depois de Sócrates, filósofos-cientistas começaram a explorar algumas das perguntas primeiramente formuladas pelos gregos. Logo depois surgiu um debate entre dois grupos com ideias diferentes sobre a mente e as origens do conhecimento. Esse debate continua hoje entre seus descendentes intelectuais. Os racionalistas contemporâneos atribuem suas ideias ao filósofo, matemático e cientista francês René Descartes [...] Descartes argumentava que a mente é a fonte de nosso conhecimento mais certo – da nossa própria existência e da matemática. [...] As ideias de Descartes foram contestadas em várias frentes desde sua época. O contemporâneo de Descartes, o filósofo britânico Thomas Hobbes, argumentou que a mente era algo corpóreo. Ele e outros que afirmam que a mente tem uma base física no corpo são chamados de materialistas. John Locke, outro filósofo britânico, contestou a afirmação de Descartes sobre um conhecimento inato. Locke asseverou que qualquer um que observasse um jovem bebê teria poucas razões para considera-lo como armazenador de muitas ideias. Em vez de conter quaisquer ideias originais cartesianas, Locke dizia que a mente homana é originalmente vazia, uma folha em branco. [...] As ideias dos empiricistas e as ideias racionalistas obre a mente eram aparentemente incompatíveis. Os empiriscistas argumentavam que os pensamentos surgem da experiência e da informação sensorial. Em contraste, os racionalistas afirmavan que a mente tinha certos tipos de conhecimento inato, independentes da experiência e das informações sensoriais. No entanto, o filósofo alemão Immanuel Kant conseguiu conciliar essas duas visões opostas. [...] Assim como Descartes, Kant mantinha algumas noções racionalistas: a mente tem certas propriedades inatas que são independentes das experiências detectadas por nossos sentidos. Ao mesmo tempo, Kant afirmava (como todos os empiricistas) que para obter conhecimento os seres humanos dependem em parte da experiência sensorial. [...] A teoria de Darwin discordava imensamente das ideias religiosas e filosóficas prevalentes. [...] O trabalho de Darwin teve profundas implicações para o estudo da inteligência. Por exemplo, ele preparou o caminho para os estudos comparativos da inteligência humana e animal [...] afirmou que a inteligência, como outras características, era herdada. [...] Como os psicólogos empiricistas e associacionistas, os comportamentalistas enfatizavam que o meio ambiente era a chave para determinar as capacidades humanas [...] teve um impacto sobre as ideias acerca da inteligência e educação. [...] Os comportamentalistas estavam determinados a produzir leis baseadas no meio ambiente que governassem a aprendizagem e a atividade inteligente. Em contraste, planejadores e usuários de testes de orientação eugênica acreditavam que a biologia humana governava a inteligência. [...] Cientistas do século dezenove, como Donders, Helmholtz e Broca, exploraram a natureza material do corpo para esclarecer o funcionamento da mente. Esses pesquisadores descobriram relações entre os sentidos e o sistema nervoso, e também entre o cérebro e as habilidades humanas, como produção e compreensão da linguagem, para explicar os processos mentais superiores: é difícil entender as realizações da civilização humana a partir de processos sensoriais e perceptuais. Assim, Wundt também defendeu estudos de fenômenos culturais, como religião, linguagem e costumes. A toeria da evolução teve um poderoso impacto sobre o estudo da inteligência. Ela abriu caminho para os empenhos eugênicos de Galton e seu estudo da herança da inteligência através de métodos estatísticos. A ênfase evolutiva na variação também abriu caminho para o estudo das diferenças individuais de Galton, Binert e gerações posteriores de pessoas interessadas em testar a inteligência. [...]. Veja mais aqui e aqui.

O HOMEM NU – No livro O homem nu (Record, 1977), do saudoso escritor e jornalista Fernando Sabino (1923-2004), destaco a narrativa homônima a seguir: Ao acordar, disse para a mulher: — Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. — Explique isso ao homem — ponderou a mulher. — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém.   Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão.  Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos: — Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares...  Desta vez, era o homem da televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão: — Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer. — Ah, isso é que não!  — fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror! — Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar.  Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador.  Antes de mais nada: "Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer?  Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. — Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho: — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu... A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito: — Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha: — Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava: — É um tarado! — Olha, que horror! — Não olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir. Não era: era o cobrador da televisão. [...]. Veja mais aqui e aqui.

RIO UNA – No livro Poetas de Palmares (Fundarpe/FCCHBF, 1987), organizada por Juareiz Correya, destaco o poema Rio Una, do poeta popular, cantador de coco e embolada Manuel Bentevi: À margem do rio Una / nasci em uma casinha / onde um saudoso graúna / cantava de manhãzinha. / Mamãe disse, e eu me lembro / que foi a seis de setembro / num bom tempo de estio, / que cheguei ali, estranho / e tomei o primeiro banho / na água daquele rio. / Eu com a minha mãezinha / os meus irmãos e meu pai / em uma humilde casinha / já velhinha, cai não cai. / Aí fui crescendo / de tudo fui entendendo / comecei a compreender / dia e noite, noite e dia / o rio secava e enchia / e a água sempre a correr. / O rio de lado a lado / formava grossa corrente / e eu em casa sentado / olhando a enorme enchente / pau, caiçara, baronesa / desciam na correnteza / ali pro lado do mar / tudo na cheia descia / a água toda corria / e o rio no mesmo lugar. / Meus pais morreram, eu saí / e nunca mais fui por lá / porém depois que cresci / me lembro sempre de cá. / Daquela morada antiga / daquela gente amiga / que jamais esquecerei. / Aquele tempo ditoso / aquele rio bondoso / onde um dia me banhei. / Ó rio de Una falado ; rio que o poeta adora / rio onde me banhei / naquele tempo de outrora / há pouco fui visita-lo / e pensei até encontra-lo / triste, velho e acabado / eu o achei um colosso / parece ainda mais moço / do que no tempo passado. / Eu fiquei cheio de magoa / meu peito empalideceu / tomei banho e bebi água / o rio não me reconheceu / ele perdeu a lembrança / quando eu era pequenino / eu, velho, cheio de defeito / e o rio do mesmo jeito / parece ainda ser menino / Não é por isso que eu deixo / de gabar meu rio Una / nem tampouco me queixo / do meu amado graúna / que toda manhã cantava / e eu o apreciava / naquele tempo sombrio / hoje lembro a mocidade / mas só me resta a saudade / do meu graúna e do rio. / Na margem do rio Una / não há mais minha casinha / nem o saudoso grauna / canta mais de manhãzinha. / Sem mãe, sem irmão, sem pai / da minha mente só sai / a triste recordação / jamais me banhei no Una / Jamais eu vi meu graúna / e tudo termina em não. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

O MENINO QUE VIROU HISTÓRIA – A peça teatral O menino que virou história, da dramaturga, poeta e roteirista Nanna de Castro, conta a história do encontro entre o menino Rafael e a jovem traça Zig dentro da biblioteca da escola. Rafa é um menino muito legal mas ele não gosta nem um pouquinho de ler. Por causa disto ele tem sérios problemas com a professora de português. Da obra destaco o trecho inicial: Cena 1 O cenário é todo branco. Nele são projetadas letras como se fosse uma página de um livro. Entram 5 traças marchando. Elas usam babadores e têm garfos e facas nas mãos. Estão famintas. Executam uma coreografia engraçada. As últimas traças da fila são Ploft e Zig. Zig está sempre errando a coreografia e sendo repreendida pelas demais traças. Elas cantam: Traças: - Comer, comer, os livros são bons de comer. Ler pra quê? Pra quê vou ler? É muito mais fácil, muito mais gostoso Abrir minha boca e comer. Traça 1: - Comer um romance é uma delícia Pois todo romance é bem doce Mas sempre há quem diga Que comer tragédia acaba em dor de barriga. Traça 2: - Aqui nesta biblioteca Fazemos a nossa festança Todo livro que aparece A gente põe dentro da pança Traça 3: - Você que adora leitura E está lendo um livro legal Se cuida menino, se cuida garota Que eu posso comer o final. Ploft: - Se o livro é gostoso e fininho Me escondo pra comer sozinho Se o livro é pesado e grandão Eu como aos pouquinhos e no fim dou um arrotão. Zig: - Eu peguei um livro, abri minha boca E estava pronta pra comer. Olhei as letrinhas, enfileiradinhas E me deu uma bruta vontade Me deu uma vontade enorme Me deu uma vontade gigante Me deu uma vontade de… ler. As traças param de dançar e cantar e olham horrorizadas para Zig. Elas se juntam, balançam a cabeça num sinal de desapontamento e saem de cena deixando Zig sozinha. Zig fala para a platéia. Zig: - Pois é gente... Eu sou uma traça. E este pessoal que saiu aí é... ou melhor, era a minha turma. Eu cresci junto com eles. Desde que eu era uma tracinha de chupeta, a gente brinca junto. Só que eu fui crescendo e descobrindo que eu era diferente deles... E o pior é que eles foram descobrindo que eu era diferente... E agora, ninguém quer mais brincar comigo... É que eles acham "dá hora", eles acham "mó legal", comer livro. Eu também achava... Mas um dia, eu tava olhando pra uma página e aconteceu um negócio fantástico... Mãe de Rafa grita de fora do palco. [...]. E veja mais aqui, aqui e aqui.

KIRIKU E A FEITICEIRA – O longa-metragem de animação Kiriku e a feiticeira (1998(, dirigido por Michel Ocelot, retrata uma lenda africana, em que um recém-nascido superdotado que sabe falar, andar e correr muito rápido se incumbe de salvar a sua aldeia de Karabá, uma feiticeira terrível que deu fim a todos os guerreiros da aldeia, secou a sua fonte d'água e roubou todo o ouro das mulheres. O tio dele vai até os domínios da feiticeira para exigir o fim das maldades. Kiriku corre até o tio e insiste em acompanhá-lo, mas o tio do Kiriku não permite a presença do sobrinho, ele decide usar sua astúcia e se esconde na copa de um chapéu para conseguir seguir viagem com ele. Disfarçado no chapéu, Kiriku consegue salvar o tio de uma morte certa. Porém, quando a feiticeira percebe que foi enganada, exige todo o ouro das mulheres da aldeia. Kiriku mais uma vez vai até os domínios da feiticeira, agora desejando conversar com ela e saber porque ela é tão má. A bruxa tenta matá-lo por tal impertinência, ao que ele foge, mas ainda não se convence. Continua nesse intento até descobrir porque a bruxa é má. Um dia, Kiriku arma um plano com a ajuda da mãe, para visitar o sábio da montanha, para saber mais sobre sobre Karabá. Ocorre, contudo, que para chegar à montanha, seria preciso passar pela residência de Karabá, quando ela não deixava ninguém se aproximar de sua casa, e restringia o acesso à montanha, temendo que o seu segredo pudesse ser revelado pelo sábio. Usando de artimanhas e após diversas peripécias, Kiriku consegue chegar até a montanha e ter conhecimento com o sábio, dos segredos de Karabá. Ela dizia que devorava os homens, mas na verdade transformava todas as vítimas em escravos mágicos de forma robótica para obedecer as suas ordens. Kiriku aprende também que os poderes de bruxa dela advêm de um espinho envenenado que se encontra enfiado em sua coluna vertebral. No regresso a casa, Kiriku determina-se a arrancar o espinho das costas de Karabá e enfim consegue o feito, libertando-a da maldição e quebrando os feitiços que ela fizera. Ao final do filme Kiriku casa-se com Karabá e vira homem adulto e ele Karabá vivem felizes para sempre. E veja mais aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Grupo de Pesquisa Carl Gustav Jung. Veja detalhes aqui.

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Quarta Romântica, a partir das 21 hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.


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MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...