sexta-feira, fevereiro 20, 2009

FRANÇOIS VILLON, IRA LEVIN, MUSSET, JEAN DELUMEAU, HUMANISMO & EDUCAÇÃO HUMANISTA

 


HORA MARCADA - Meu pai, minha mãe, benção. Licença, eu vou sandálias soltas de carona num triz de raio pra capital. Não sei se é tão cedo ou se já vou tarde. Sei que vou me esgueirando sem arranhões nem remorsos na poeira dos porões de dias infindos, sem dores nem repúdio estrada afora. Vou num vento qualquer, canaviais, ribanceiras, Araruna, Gameleira, Cucaú, Estreliana, Ribeirão, Escada. No entroncamento do Cabo vou proutro litoral, Pontezinha, Candeias, Prazeres, logo vou pela Imbiribeira escapando de navalhas, golpes e cassetetes. Em Afogados eu me refaço em canções entre choros, grunhidos e labaredas. Pela Via Sul, lá vou eu carne e tutano, quantos dias, sei lá, polegadas de emoção, o Recife é lindo na plenitude dos olhos, a expectativa de Sol paratodos. Vou-me embora com o Una no peito e na eterna vigilância dos nós insones para desatar pelas lajes e mármores, foices e sirenes, ideologias e esgotos, insultos e desencontros, edifícios e indiferenças. Não vou errar dos mortos soterrados nas gavetas e molduras, Deus os guarde e vão comigo até mesmo se eu for para Olinda. É hora de ir da nascente pro mar, sem absolvição nem covardia, sem perdões nem sombras do que fui ou possa vir a ser, devires e pisos falsos. Essa é a hora, nunca chorem por mim, vou cantando a balada de quem vai embora, quem sabe, um dia eu possa voltar, não sei. (Raízes & Frutos – Bagaço, 1985). © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.


DITOS & DESDITOS - O homem é um aprendiz, a dor é a sua mestra, e ninguém se conhece enquanto não sofreu. Pensamento do poeta, novelista e dramaturgo francês Alfred Musset (1810-1857). Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: Ser feliz ou infeliz - isso é realmente a coisa mais importante? Conhecer a verdade seria um tipo diferente de felicidade - um tipo mais satisfatório, eu acho, mesmo que fosse um tipo triste. Pensamento do escritor, dramaturgo e compositor estadunidense Ira Levin (1929-2007).

A MULHER & O MEDO – [...] A atitude masculina em relação ao ‘segundo sexo’ sempre foi algo contraditório, oscilando da atração a repulsão, da admiração à hostilidade [...] na sexualidade feminina, tudo é obscuro [...] Essa ambiguidade fundamental da mulher que dá a vida e anuncia a morte foi sentida ao longo dos séculos e principalmente expressa pelo culto das deusas-mães. A terra é o ventre nutridor, mas também o reino dos mortos sob o solo ou na água profunda. É cálice de vida e de morte. [...] o medo da mulher não é uma invenção dos ascetas cristãos [...] a “diabolização da mulher”, aquela que é um “mal magnífico, prazer funesto, venenosa e enganadora [...] acusada pelo outro sexo de ter introduzido na terra o pecado, a desgraça e a morte [...] a caverna sexual [...] a fossa viscosa do inferno [...] o pecado por excelência [...] Nessas condições, pode-se legitimamente presumir, à luz da psicologia das profundezas, que uma libido mais do que nunca reprimida transformou-se neles (pregadores, teólogos e inquisitores) em agressividade. Seres sexualmente frustrados que não podiam deixar de conhecer tentações profetaram em outrem o que não queriam identificar em si mesmos. Colocaram diante deles bodes expiatórios que podem desprezar e acusar em seu lugar. [...]. Trechos extraídos da obra História do medo no ocidente: 1300 – 1800 (Companhia das Letras, 1989), do historiador francês Jean Delumeau.

BALADA DO CONCURSO DE BLOIS - Morro de sede quase ao pé da fonte, / Quente qual fogo, mas batendo os dentes; / Em meu país vivo além do Horizonte; / Junto a um braseiro tremo e fico ardente; / Nu como um verme. O traje: um presidente; / Rio no pranto e espero sem esperança; / Conforto acho na desesperança, / E alegro-me sem ter prazer algum; / tenho o poder sem força ou segurança; / E sou bem vindo a todos e a nenhum. / Só me é certo algo com que eu não conte; / nada é obscuro, exceto o que é evidente; / E sem dúvidas, fora as que defronte, / Tomo a ciência por mero acidente; / Conquisto tudo e fico dependente / Digo "Boa noite" se a aurora avança; / Deito-me sem controle em confiança; / Tenho alguns bens, mas sem vintém algum; / Sou um herdeiro mas sem ter herança, / E sou bem-vindo a todos e a nenhum / Descuido-me de tudo e suo a fronte / Para ter bens, sem ter um pretendente; / Com quem mais me afague, me confronte, / Quem mais me é veraz é quem mais mente; / É meu amigo que diz procedente / De um cisne alvo e um corvo a semelhança; / Em quem me nega enxergo uma aliança; / A patranha e a verdade acho comum;  / recordo tudo sem a menor lembrança / E sou bem-vindo a todos e a nenhum. / Príncipe brando: se isso não vos cansa, / De tudo eu sei, e a mente não alcança; / Sou faccioso e sigo a lei comum. / Que faço? o Quê? dos meus bens a cobrança, / E sou bem-vindo a todos e a nenhum. Poema do poeta maldito do romantismo francês, François Villon (1431-1463), pseudônimo de François de Montcorbier ou des Loges, que além de poeta medieval, era ladrão, boêmio e ébrio.



HUMANISMO E A EDUCAÇÃO HUMANISTA - O humanismo caracterizou-se como um movimento filosófico ocorrido no século XIV e XV, representando um aspecto revolucionário meritório de registro na história, pelas influências exercidas até o presente momento. Por esta razão, o presente estudo procura investigar as questões que marcaram as antecedências e conseqüências do humanismo na modernidade, procurando encontrar as suas bases teóricas para entendimento de sua influencia, inclusive, ainda, na atualidade. Indaga, portanto, de que forma se processou o humanismo no contexto educacional, observando-lhe as tônicas filosóficas, políticas, culturais e econômicas. O humanismo, tendo por base as idéias expressas por Nunes (1980), Muzukami (1986) e Paviani e Dal Ri Junior (2000), é a doutrina ou conjunto de tendências de caráter filosófico que, durante o Renascimento italiano dos sécs. XIV e XV, se orientou no sentido de reviver os modelos artísticos, literários e científicos da Antiguidade greco-latina, considerada como exemplo de afirmação da independência do espírito humano. Do ponto de vista histórico, conforme Muzikami (1986), o humanismo está intimamente ligado ao Renascimento, sendo então mais amplo e complexo por ser a descoberta do homem enquanto o homem com reafirmação de todas as categorias do humano, em todas as preocupações artísticas, filosóficas e morais. Neste sentido, salienta Paviani e Dal Ri Junior (2000), que o humanismo foi uma reação do espírito renascentista contra a filosofia medieval e o cristianismo, tornando-se um processo histórico europeu de retorno à cultura e às letras clássicas a partir da Itália, alcançando a Alemanha, a Inglaterra, os Paises Baixos, a França e, depois, Espanha e Portugal. O humanismo europeu, conforme Nunes (1980), entrou em conflito com a ortodoxia cristã e, mesmo com sua redução e transformação, influenciou o pensamento posterior, adquirindo uma forma humanitarista. Os antecedentes do humanismo estão localizados com a crise do feudalismo e florescimento do mercantilismo no sec. XVI, o poderio católico do pensamento clássico do teocentrismo, o surgimento da imprensa de Gutemberg que tirou o jugo dos livros da igreja, possibilitando a publicação e a difusão de obras; o descobrimento de novos mundos na busca do desconhecido; um cenário de guerra e fome que levou a mudanças intensificadas pelos apelos ao sobrenatural e sentimentos religiosos, resultando em choque com as idéias dominantes. Com isso, o humanismo construiu uma nova verdade não mais baseada na fé, mas na razão e no pensamento antropocentrista. E, por esta razão, o humanismo é considerado a raiz do pensamento moderno, trazendo uma concepção de que Deus e o mundo são a mesma coisa, trazendo à tona a ciência não teorética, nem especulativa, nem matafísica, mas técnica e empírica. Daí ocorre a Renascença com uma concepção afirmada e vivida do imanentismo naturalista ou humanista, sistematicamente consciente e se equivale à reforma religiosa protestante, destruindo, assim, o grande edifício religioso, teológico e filosófico da unidade cristã e o Absolutismo. Em razão disso, o humanismo é considerado uma época de transição, por essas razão foi nele que começaram a surgir novas idéias, novas maneiras de se enxergar o mundo, preparando-o para o Renascimento e logo depois o Classicismo, tendo por conseqüência a expansão dos valores burgueses e a formação do capitalismo. Tem-se, pois, seu inicio no sec. XV, prossegue com os estudos do homem como agente político, moral e técnico-artistico dominando a natureza e a sociedade nos séc. XVI e XVII, e chega com a idéia de civilização no sec. XVIII, influenciando até o tempo presente. O pensamento moderno surgido com o humanismo surge com as idéias do pensamento de Descartes e de Galileu, sendo que este último dedicou seus estudos aos fenômenos naturais, experimentalmente provados e matemáticamente conexos. Por isso, influencia o empirismo e racionalismo dos séculos seguintes. Também os pensamentos de Montaigne com seu empirismo pode ser categorizado como integrante da segunda geração de humanistas, ao lado da defesa de Copérnico com sua teoria heliocentrista que deu inicio à revolução cientifica moderna e rompendo com o sistema geocêntrico formulado por Ptolomeu. E, com isso, considera-se como transformações importantes da época a demonstração da validade do modelo heliocêntrico, a formulação da noção de um universo infinito, a concepção do movimento dos corpos celestes, a valorização da observação e do método experimental e a utilização da matemática como linguagem da física. Com a ascensão do racionalismo humanista estão fundamentadas as noções modernas de valorização do novo, do indivíduo, do progresso, que formaram uma revolução cientifica na redescoberta do ceticismo antigo baseado na temática sofista de que o homem é a medida de todas as coisas, e a Reforma Protestante, rompendo com a tradição escolástica e aristotélica, e rejeitando a autoridade institucional. O rompimento proporcionado pelo ideário humanista foi incisivo na rejeição à tradicional escolástica, onde predominava o saber adquirido e a autoridade imposta pela hierarquia e pelos costumes, favorecendo, com isso, o espontâneo e virtuoso na natureza humana. A partir de então, tudo passou a se explicar pela ciência e pela razão, tendo por base o neoplatonismo que exalta os valores humanos numa nova dimensão. Mediante o exposto, entende-se que o humanismo trouxe à tona a critica, a pesquisa e a observação, baseada na abordagem da importância do ser humano sobre todas as coisas e revolucionando, inclusive a educação, pois foi nessa época que surgiu grandes e significativas mudanças de conceitos e pelas novas perspectivas que possibilitaram a estruturação do pensamento humano moderno. Na esfera educacional, segundo Nunes (1980), o humanismo processou uma série de mudanças significativas que começaram com os tempos modernos, com novos valores burgueses, como o otimismo, o individualismo, o naturalismo e o antropocentrismo. No período renascentista, conforme Aranha (2006) e Moser (2008), a educação escolar passou por modificações em seu modelo tradicional, que estava embasada na Escolástica e na concepção cristã. Aparecem os primeiros colégios, associados a uma nova concepção de infância e família. A sociedade toma consciência da necessidade de proporcionar o acesso à educação e da criação de universidades para difundir e aprimorar as novas descobertas de modo científico e racional, seguindo sempre a concepção humanista para afastar o misticismo do período medieval. Para Nunes (1980), com o humanismo diversas modificações profundas ocorreram tanto na sua concepção, como nos meios usados para a consecução dos seus objetivos. Deu-se, então, com o inicio de se buscar um modo claro e definido à formação integral do homem, o seu desenvolvimento intelectual, moral e físico, em contraste com a educação medieval que se esmerava na formação religiosa e intelectual e dava às escolas superiores um alcance prático, um objetivo profissionalizante, uma vez que as faculdades de teologia preparavam mestres, assessores de papas e bispos. Os objetivos da educação renascentistas, conforme Nunes (1980), era o de atingir homens livres e dignos., referindo-se à formação do homem, do ser humano abstrato, contudo,  na prática, era essencialmente aristocrática e só aceitável aos ricos. A reforma protestante proposta por Lutero, conforme Freitag (1994), promoveu um projeto de criação de escolas públicas que foi implantado na Alemanha, revelando-se uma proposta inovadora de ensino que defendia o acesso de todos ao conhecimento e a proposta curricular embasada nas Ciências Humanas e no estudo da História para a formação ser qualitativa. A Contra-Reforma realizada pela Igreja Católica diante do surgimento da reforma protestante, resultou na Companhia de Jesus, criada por Ignacio de Loyola, em 1540, com a proposta jesuítica de ampliar o catolicismo mundialmente por meio da catequização dos povos americanos e asiáticos, possuindo uma metodologia fundamentada num sistema de rotinas e celebrações religiosas freqüentes, promovendo, assim, o desenvolvimento da educação católica. Conforme Freitag (1994), as escolas jesuíticas eram rígidas, enfocando a memorização, enfatizando a escrita, leitura e práticas profissionais, como a marcenaria, a ferraria e a agricultura. Com suas características confessional e catequizadora, tiveram papel importantíssimo na instrução da população e também na fundação de diversas cidades. A educação no ideário humanista, conforme Bruniera (2007), assumiu o caráter de formação, caracterizada por acesso à cultura humana e interpretação dessa cultura por outras gerações. Tal processo seria possível se o ensino acolhesse a re-significação do legado e não se resumisse a seguir um receituário. Este esforço humanista consistiu em conceber a educação tendo como ponto de partida uma aproximação das verdadeiras proposições dos autores clássicos. A intenção era que, como leitores, pudessem se apropriar do pensamento da Antiguidade e também criar seus próprios textos, deixar seu próprio legado. Sendo assim, o homem crê ter a capacidade também de criar e dessa forma começam a investigar e a estudar a natureza, para tentar desvendar os mistérios do universo. O humanismo influenciou Jean-Jacques Rousseau, importante teórico da educação que, segundo Cabral (1978), criadas pelo confronto das antinomias do individuo versus sociedade, natureza versus cultura e sociedade versus educação positiva, rompendo com a sociedade em favor de si mesmo, considerando a sociedade como uma coisa sacralizada, traduzindo que os problemas da sociedade foram criados pelos homens e que devem ser resolvidos por eles. Defendia com isso a necessidade de re-educação do homem, optando pela educação negativa. O humanismo ainda influenciou Dewey que, conforme Aranha (2006), defendia que educar deve ser mais que reproduzir conhecimento, incentivando a preparação das pessoas para a transformação com o desejo do desenvolvimento continuo. Neste sentido, para Dewey (1979), a educação é vista como uma constante reconstrução da experiência, um processo de formar atitudes fundamentais de natureza intelectual e sentimental, perante a natureza e os outros homens. O humanismo também influenciou Freinet que, conforme Morais (1997), entendeu o humanismo como ética humana que, na educação, é operada como a capacidade que todo educador tem de desenvolver plenamente todas as capacidades do estudante, aprimorando todas as atividades na concepção do bem-estar e da dignidade do ser humano. Nesta proposta, o aluno é entendido como um ser autônomo e racional capacitado para opinar, criticar e escolher sobre a orientação das atividades segundo seu interesse. A educação humanista de Freinet, conforme Morais (1997), tem por objetivo a democratização, a pluralidade, a abertura, o criticismo e o alcance da vida humana dignamente plena por meio da apropriação da cidadania e da cultura. E, conforme o autor, a educação humanista é formadora de pessoas livres, construtores de um juízo sólido e de nobre caráter em seus alunos, praticando as virtudes e a sabedoria humana, exercitando as faculdades naturais, a espontaneidade e o interesse pelas coisas naturais. A escola, conforme Moser (2008), na abordagem humanista deve respeitar os alunos e oferecer condições para que ela se desenvolva possibilitando sua autonomia, utilizando a metodologia de que o educador deve desenvolver seu estilo próprio. A abordagem humanista, conforme Moser (2008), traz a idéia de ensino centrado no aluno, ênfase nas relações interpessoais e ao crescimento que desta resulta, no desenvolvimento da personalidade do indivíduo, dos seus processos e organização pessoal da realidade em sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada. Nesta abordagem, a educação assume significado amplo, pois trata-se da educação do homem não apenas da pessoa em situação escolar em uma instituição de ensino, criando condições para que os alunos possam se tornar pessoas de iniciativa, de responsabilidade, de autodeterminação, de discernimento na solução de seus problemas e que tais conhecimentos os capacitassem a se adaptar as situações com mais flexibilidade. A importância do humanismo é refletida na atualidade onde se encontram diversas formas de humanismo, como o renascentista, o marxista, o positivista, seculares, religiosos, logosófico, entre outros. O humanismo renascentista é aquele, conforme visto, que propõe o antropocentrismo ocorrido durante a Renascença, confiando na capacidade renovadora do ser humano do discernimento. O humanismo marxista se baseia no entendimento de que o marxismo é a ciência da história e da economia, criticando o idealismo hegeliano que pregava o homem como ser espiritual, e opondo-se ao materialismo dialético de Engels. Os humanistas seculares são entendidos como empiristas e racionalistas, ateis e agnósticos que se preocupam com a ética e na dignidade do ser humano. O humanismo positivista proposto por Auguste Comte propõe a religião da humanidade a partir do ser humano, substituindo a moral, a política, a filosofia e epistemologia das entidades supranaturais, valorizando o pensamento cientifico, afirmando a historicidade do ser humano e rejeitando a metafísica e a teologia. O humanismo religioso é constituído por cristãos liberais e deístas, originário da cultura da ética, do universalismo e do unitarismo, defendendo que a maior parte dos humanos possui necessidades sociais e pessoas que são satisfeitas apenas pela religião. O humanismo logosófico ou novo humanismo proposto por Pecotche, parte do princípio de que a Logosofia dá a conhecer este humanismo em seu conteúdo essencial, exaltando a parte humana de Deus no ser humano e se baseia na superação humana e no ser pensante e sensível na consumação do processo evolutivo seguida por toda humanidade.
CONCLUSÃO - O humanismo foi um acontecimento histórico que se revelou como movimento filosófico que ocorreu no séc. XV, promovendo mudanças educacionais, sociais, políticas, culturais, econômicas e religiosas que desencadearam no Renascimento. Opôs-se às previsões medievais, instaurando o antropocentrismo, a racionalidade moderna e o capitalismo. Com o antropocentrismo desenvolveu a dignidade humana, com a racionalidade moderna deu inicio à cientificidade e com o capitalismo substituiu o escambo pelo dinheiro, criando o mercantilismo. Contribuiu, assim, para a reforma luterana que criou uma proposta de escola pública para todos, inclusive mulheres, e para a criação da Companhia de Jesus que era bastante rígida e fundamentava-se na concepção católica. De uma forma ou outra, todas essas transformações serviram para enriquecer e aprimorar a sociedade moderna nos mais variados segmentos sociais. Assimilando o ideário platônico, o humanismo rompeu com o aristotelismo, a escolástica e o tomismo predominante na época pelo poderio católico, formulando uma revolução educativa que influenciou Rousseau, Freinet e Dewey. Com base na revisão da literatura realizada, conclui-se que o humanismo foi um marco nas transformações das concepções da sociedade contemporânea. O papel fundamental do humanismo para a valorização do homem, possibilitou a liberdade de descobrir e investigar a natureza sem o misticismo religioso. Como surgiram pensadores e artistas com obras fantásticas, as grandes invenções que trouxeram progresso a toda a sociedade.
REFERÊNCIAS
Aranha, M. L. A. (2006). História da educação e da pedagogia. São Paulo: Moderna.
Bruniera, C. F. G. (2007) Retorno é proposto num tempo de declínio das tradições. Pedagogia & Comunicação, p. 3.
Cabral, M. I. C. (1978). De Rousseau a Freinet ou de teoria à prática: uma nova pedagogia. São Paulo: Hemus.
Dewey, J. (1979). Experiência e educação. São Paulo: Nacional.
Freitag, B. (1994). O indivíduo em formação: diálogos interdisciplinares sobre educação. São Paulo: Cortez.
Mizukami, M. G. (1986). Ensino: as abordagens do processo – abordagem humanista. São Paulo: EPU.
Morais, M. F. (1997). Freinet e a escola do futuro. Recife: Bagaço
Moser, G. (2008). História da educação. São Paulo: ASSELVI.
Nunes, R. A. (1980). Historia da educação no Renascimento. São Paulo: EDUSP.
Paviani, H.; Dal Ri Junior, A. (2000). Globalização e humanismo latino. Porto Alegre: EDIPUCRS.
Rousseau, J. J. (1992) Emilio ou da educação. Rio de |Janeiro: Bertrand Brasil. Veja mais aqui, aqui e aqui.


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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

FÉLIX ARVERS, ROBERT MUSIL, ERIC KANDEL, PAUL PEEL, UNA DOS AMBULANTES DE DEUS & MUSA TATARITARITATÁ



A arte do pintor canadense Paul Peel (1860-1892).

UNA DOS AMBULANTES DE DEUS - A vida: o Una, rebotalho de águas mansas. Alguns dias ficava calmo, sereno, levado na correnteza quase sem pressa. Ninguém precisava nem se tocar de sua presença, nem quando amanhecia, nem de tarde, nem de noite, nem na madrugada. Uma companhia invisível, só lembrada quando a carestia reinava e buscava-lhe para saciar a fome e a sede. Noutros, quando dava a invernada abundante, era a sua irrefreável fúria inundando segredos e adjacências citadinas, lavando tudo: as paixões, as misérias e a fé. Marcando presença indomável. De repente, uma nesguinha de nada, menor que o menor dos brejos, menor que as valetas miúdas, fiapinho tênue se valendo do encontro dos pedregulhos para chacota dos incólumes que não se atreviam desafiá-lo, coitado, que riem de seu assoreamento até findar-lhe insepulto. Nada não, passa. Ainda é a essência de algumas experiências exclusivas, inuptas, verdadeiramente ímpares, na oportunidade de remontar-se memórias, ver-se peixe, ou pedra funda, ou alga, ou redemoinho, ou carreirão pro mar. Fizera-se pelo escoamento dos dias e noites nas corredeiras, levando pela correnteza até onde pudesse dar, desconhecendo se um caudaloso Amazonas, um movimentado Reno, um sinistro Mississipi, um avexado Volga, só testemunhando a vida, alegrias e revertérios, despropósitos e pusilanimidades, afogamentos e navegações alheias. De certeza, não seria nenhum Tâmisa, nem Sena, nem Tejo, era a minha sina pelas turbulências menores, nos redemoinhos perto do areial, na sede da nascente, na distância do leito, na entrega da foz. Lá, todos os fantasmas de doidos, desvalidos e autóctones emergiam das entranhas mais profundas para mostrar-se que a beleza maior escorria pelos cabelos de Iemanjá, descia como estrelas cadentes por seus belos seios, deslizava por seu ventre e alcançava o feliz idôneo que mergulhasse a coragem de viver no meio de um o Nilo que testemunhara toda abastança e toda decadência. Era como se pudesse ser um São Francisco descendo de São Bento, atravessando Catendes, alagando Palmares com Águas Pretas pelos Barreiros até alcançar nas Várzeas o Atlântico de seu chegar, carregando por séculos e milênios reminiscênias de embarcações furtivas de origem francesa, holandesa, portuguesa; refugiando negros quilombolas, assistindo índios caetés e carregando a verdadeira história dos fatos nas mensagens de suicidas com cartas de amor no interior de garrafas; nos acaris, nos caritos, nas cundundas; no jangadeiro que saía de uma margem à outra sem a menor pressa de ver que o tempo passou e já ficou quase tarde para viver; no voluntário que timbungasse com as nojeiras de antanho e se safasse são e salvo, pronto e invulnerável; na lágrima dos que sofrem com as lâminas do passado e não sabem do presente e muito menos enxergam futuro algum; na manchete estampada num jornal velho que repisa o momento presente que não consegue sair do mesmo lugar de sempre; no remorso mantido à custa de tanta ignomínia; no fedor da nobreza brega que se arrasta energúmena; no urinol repositário de todas as maledicências; nos adultérios consentidos, nas bancarrotas escandalosas, nas reputações arranhadas, riscadas e borradas que andam com o pau da venta em pé de empáfias nas lufadas das infâmias e de astuciosos ardis nas adiposidades de rapapés fingidos; na demência de ver que a vida é outra coisa além deste marasmo que judia ao lado do chocante das banalidades e trafegam nas catacumbas da honra; na ferrugem da coragem que se expressa no legado pobretão; de herdeiros acéfalos e indigentes nos saques dos famintos, das ticoqueiras, dos bóias-frias nômades, dos calungas, do mané-gostoso, do nego-bom, dos cardumes, dos lixeiros, dos desejos não correspondidos nos esgotos, nas fotos do lambe-lambe, nas molduras encardidas, nas gavetas cabalísticas, nas jantes inexoráveis da erosão descabida e na demência dos que não conseguem viver de solidariedade. Por mim, não posso esquecer que sempre fora este o meu batismo e a minha mais vã crença de voluntário ambulante de deus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


DITOS & DESDITOS – [...] evocar uma lembrança episodicamente ―não importa o quanto ela seja importante― não é como olhar uma fotografia num álbum. A recordação é um processo criativo. Acredita-se que aquilo que a mente armazena é apenas uma porção nuclear da memória. Ao ser recordada, essa porção nuclear é então elaborada e reconstruída, com subtrações, adições, elaborações e distorções [...]. Trecho extraído da obra Em busca da memória: o nascimento de uma nova ciência da mente (Companhia das Letras, 2009), do neurocientista austríaco Eric Kandel. Veja mais aqui.

ENSAÍSMO - […] ainda que não fosse a verdade, não teria menos solidez que ela. [...] procura compreender-se de outra forma; com inclinação para tudo o que o multiplique interiormente [...] Mais tarde, [...] isso se transformou em Ulrich numa idéia que já não ligou à incerta palavra hipótese, mas, por determinadas razões, ao conceito singular de ensaio. Mais ou menos como um ensaio examina um assunto de muitos lados em seus vários capítulos, sem o analisar inteiro [...] ele acreditava ver e tratar corretamente o mundo e a própria vida. [...] Na natureza de Ulrich havia algo que agia de modo distraído, paralisante e desarmante, contra toda a ordem lógica, contra a vontade clara, contra os ordenados impulsos da ambição; também isso se ligava ao nome que ele escolhera: ensaísmo [...] pois um ensaio não é a expressão secundária nem provisória de uma convicção que em melhores condições poderá ser considerada verdade ou reconhecida como erro [...] mas um ensaio é a forma única, e irrevogável, que a vida interior de uma pessoa assume num pensamento decisivo. [...] O autor é mais modesto e menos solícito do que supõe o título. Não apenas estou convencido de que aquilo que vou dizer é falso, como também o é aquilo que irão dizer em contrário. Mesmo assim, é necessário começar a falar disso; a verdade, num objeto como este, não está no centro, mas sim em torno, como um saco que, a cada nova opinião que se enfia nele, muda de forma mas ganha em consistência. [...] Não se trata de outra coisa a não ser de um mal-entendido, uma confusão entre entendimento (Verstand) e alma. Não é que tenham os muito entendimento e pouca alma, mas que tenhamos pouco entendimento nas questões da alma, [...] não agimos nem pensamos acerca do nosso eu. Nisso reside a essência de nossa objetividade; ela relaciona as coisas entre si [...] A objetividade não funda, assim, nenhumaordem humana, mas sim objetiva [...]. Trechos extraídos da obra O homem sem qualidades (Nova Fronteira, 2006), do romancista e dramaturgo austríaco Robert Musil (1880-1942). Veja mais aqui.

SONETOTenho na alma um segredo e um mistério na vida: / um amor que nasceu, eterno, num momento. / É sem remédio a dor; trago-a pois escondida, / e aquela que a causou nem sabe o meu tormento. / Por ela hei de passar, sombra inapercebida, / sempre a seu lado, mas num triste isolamento, / e chegarei ao fim da existência esquecida / sem nada ousar pedir e sem um só lamento. / E ela, que entanto Deus fez terna e complacente, / há de, por seu caminho, ir surda e indiferente / ao murmúrio de amor que sempre a seguirá. / A um austero dever piedosamente presa, / ela dirá lendo estes versos, com certeza: / “Que mulher será esta?” e não compreenderá. Poema do poeta e dramaturgo francês Félix Arvers (1806-1850).

 A arte do pintor canadense Paul Peel (1860-1892).


Gentamiga, estou azuadíssimo com o zoadeiro no meu pé do maluvido. A turma não pára de me azucrinar para trazer o resultado da Musa Tataritaritatá do ano passado.Vixe!

Primeiro, foi que eu achei de deixar a cargo do Papa Berto I da ICAS – Besta Fubana e do Duque de Jaraguá Carlito Lima, todo o certame.

Ocorre que, os dois embeiçadores contumazes daquela que matou o guarda, nem começando a reunião inaugural do concurso, tomaram uma de arrearem decilitrados trocando as pernas bicadinhos da silva e arengando com todo mundo porque defendem que não foram os cientistas nem ninguém além dos bêbados que ensinaram primeiro que a terra gira em torno do sol. Fodeu, Maria-preá. Deixei-los lá trocando as bolas.

Segundo, acontece que estou completamente arrependido de delegar poderes. Essa é uma prática que aqui no Brasil ninguém está acostumado ainda não. Culpa do nosso atraso secular, né?

Pois bem, achei de delegar poderes pra turma do Big Shit Bôbras.

Repare só a merda que deu e depois me diga se não é de se arrepender até o último pentelho do quiba. Vamos lá.

O chabu começou quando foi constatado que houve mais votantes que votos. Como é? Quando se conferiu direito, tinha mais voto que votante. Trocando em miúdos: simplesmente a conta não batia. Besteira, né? Nada!

A patrulha do Doro apresentou o resultado de que foram apurados 11 mil 966 votos e meio. E meio? Sim, porque o do Afredo Bocoió se conta pela metade.

Não confiando nesse resultado, instaurei uma comissão de sindicância para conferir tudo porque o negócio aqui é sério mesmo. Resultado: foram computados 37 mil 655 votos e votantes. Vixe! O triplo da contagem do Doro.

Foi aí que mandei tirar a prova dos nove. Resultado: apurou-se simplesmente 15 mil 263 votos. Nem um, nem outro. Coisa de louco.

Tirando o dito pelo não dito, nem valia eu querer mais nada. Mas, mesmo assim, fui verificar e para se ter uma suavezíssima idéia do rolo todo, só Padre Bidião votou sozinho por ele e por seus mais de 20 clones (menos um, aquele do caso Nardoni, lembra?).

Afora isso tinha de tudo: defunto que votou 10 vezes, apenado que surrupiou voto, político que corrompeu eleitor, neguinho que vendeu o voto, escrutinador adulterando resultado, juiz anulando tudo, uma baboseira geral.

Assim, também, não se salvando ninguém, cada um puxou a sardinha pro seu frasco, votando mais de uma vez e fazendo descaradamente boca-de-urna, propaganda enganosa e boataria braba, tudo em nome da preferida de cada um dos enjeitados.

Aí, meu, primando pela decência e lisura do projeto, afinal eleição é uma coisa que não dá para segurar a onda, resolvi tomar as rédeas e eu mesmo tentei desembrulhar essa paranoiada toda. Fiz o que devia ser feito, chamei tudo na grande, dei uns bregues, sentei porrada na tuia de votos e disse que quem mandava na mercadoria toda era eu e fim de papo.

Então, chamei uma bateria duma escola de samba dessas de uns 800 batedores de bombo e fechei a conta.

Pronto, tudo enretado e nos eixos, agora, em homenagem às nossas distintas mulheres, finalmente, o resultado da MUSA TATARITARITATÁ!!!

Em primeiríssimo lugar, Maurren Maggi, a nossa ourinada atleta com 2132 votos.

Em segundo lugar, empatadas:
a cantora, interprete e compositora Karyme Hass,
a poeta, ensaísta e professora Maria Esther Macial,
a atriz Marcya Harco,
e a cantora, poeta e compositora Dhara todas com 2.101 votos.

Em terceiro lugar, empataram também:
A atriz, jornalista e escritora Tammy Luciano,
a cantora, dançarina e atriz Syla Syeg,
a atriz, poeta e autora teatral Alê Cavagna,
a cantora e compositora Ruthe London,
e a cantora Irah Caldeira, cada uma com 2099 votos.

Em quarto lugar apareceram a poeta e escritora Suzana Mafra,
a poeta, escritora e advogada Mariza Lourenço,
a cantora, compositora e bailarina Tatiana Cobbett,
a poeta, atriz e cantora Clauky Saba,
a poeta, escritora e advogada Valeria Tarelho,
a artista plástica Ana Luisa Kaminski
e a cantora e compositora Jozi Lucka com todas elas tendo individualmente 2.001 votos.

Em quinto lugar aparecem a atriz, apresentadora e colunista Claudia Cozzella,
a cantora e compositora Maria Dapaz,
a cantora Rogeria Holtz,
a cantora e compositora Monique Kessous,
a cantora e compositora Di Mostacatto,
a cantora e compositora Drica Novo,
a fotografa Andreia Kris,
a cantora Silvili,
a poeta, pedagoga e produtora cultural Catarina Maul,
a poeta Greta Benitez,
a cantora e compositora Bee Scott,
a cantora e compositora Rosana Simpson,
e a atriz Maria Dvorek que obtiveram 2 mil votos cada uma delas.

Aqui a nossa homenagem a todas as mulheres maravilhosas aqui representadas!!!
E a partir de 02 de março participe da MUSA TATARITARITATÁ.





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    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...