segunda-feira, novembro 29, 2010

LIVRO7, ROSARIO CASTELLANOS, DAVID HARVEY, BARBARA KRUGER, FRIEDRICH KITTLER, AMILCAR DÓRIA & PROEZAS DO BIRITOALDO


 A arte da artista conceitual estadunidense Barbara Kruger.

LIVRO7 – Para quem sempre foi apaixonado por leituras e livros, entrar na Livro7 era o mesmo, para mim, que uma criança dar de cara com uma fábrica de guloseimas toda só para ela. Foi assim comigo, isso na segunda metade dos anos 1970, ainda adolescente, quando adentrei na livraria da Sete de Setembro, em Recife. Nossa, eram tantas seções que eu não sabia qual delas primeiro consultar: ah, primeiro para Literatura; não, a de Teatro; eita, a de Música, vou pra de Filosofia... e ficava folheando e escolhendo o que queria. Ah, se pudesse levava era um caçuá de livros. Na verdade, queria era comprar a livraria toda, tê-la para mim. No final, só os volumes que o dinheiro desse. Todos os dias lá: manhã, tarde ou noite. Ou folheando um livro, jogando xadrez ou papeando com os amigos. Era o ponto de encontro diário. Saía do trabalho, ia para lá; largava da faculdade, não havia outro destino; para tomar uma, nas imediações: BeerHouse, Beco da Fome, Templo dos Bebões, um outro, dependia do trocado no bolso; e a lanchonete do cachorro quente. Ganhei até um cartão de crédito pela assiduidade. Aí, haja salário para aguentar. Mas foi lá que lancei meu primeiro livro de poesias, contando com o apoio costumeiramente receptivo do Tarcísio Pereira, que sempre acomodava os ilustres desconhecidos como eu, em um local de destaque entre as estantes. Ora, qualquer lugar que fosse dentro dela, para mim, era um palco para lá de grandioso. Lá no evento, mal me arranchara no espaço, já apareceu o primeiro comprador: o escritor Amílcar Doria Matos. Tremendo que só vara verde, mal o atendi, já chegava o escritor Paulo Cavalcanti que era o inventariante de Hermilo Borba Filho. Nossa! Outros tantos vieram, chega já me sentia uma celebridade! Gente generosa demais. Um ano depois lançei o meu segundo livro de poesias pelas Edições Pirata, A Intromissão do Verbo, com apresentação do poeta Jaci Bezerra. E entre os presentes uma penca de generosíssimos amigos ali solidários: Paulo Caldas, Arnaldo Tobias, Ângelo Monteiro, Alberto da Cunha Melo, Demócrito Borges, Juareiz Correya, Domingos Alexandre, Francisco Espinhara, Marcelo Mário Melo, Cida Pedrosa, Eduardo Martins, Odete Vasconcelos, Arnaldo Afonso, entre outros tantos que a memória me falha, gente do meu coração. Depois com as Edições Bagaço, outros dos meus livros foram lá lançados. O bom de lá era o espaço aconchegante: quantas vezes saí de lá quando já arriava as portas, isso de segunda a sábado. Para quem era um menino de interior deslumbrado com os ares da capital, foi lá que se deu meu aprendizado mais significativo para a vida, afora os momentos enriquecedores entre livros, amigos, bebericagem & bons papos. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.


DITOS & DESDITOSO dinheiro deve existir antes que possa ser transformado em capital. A acumulação de capital e miséria andam de mãos dadas, concentradas no espaço. Revoluções perpétuas na tecnologia podem significar a desvalorização do capital fixo em larga escala. Pensamento do geógrafo e professor britânico David Harvey, autor de obra como Explanation in Geography (1969), The Limits to Capital (1982), A Justiça Social e a Cidade (1980), Condição Pós-moderna (1993), Espaços de Esperança (2004), entre outros.

ALGUÉM FALOU: O que resta das pessoas é o que a mídia pode armazenar e comunicar. Pensamento do teórico de mídia e literatura alemão Friedrich Kittler (1943–2011).

O BAÚ E A SERPENTE – [...] Agora recém-amanhecia. Acompanhei o visitante até a porta. Ao abri0la, um sopro de antemanhã nos acolheu. Tomei o caminho até o portão. Num dos canteiros da direita, rente ao muro, um beija-flor sugava, elétrico, o pólen de uma papoula. Vi o padre ganhar a estrada, integrado à manhã. Seu corpo ia curvado, a cabeça negra semi-encoberta pelo hábito branco. Retomei á casa, considerei mais uma vez a desarrumação que daria trabalho [...]. As sombras já se entinguiam pelo ângulos da peça, encabuladas. Notei que minhas mãos estavam frias e trêmulas. [...]. Trechos extraídos da obra O baú e a serpente (Comunicarte, 1991), do escritor, advogado e jornalista Amilcar Dória Matos (1938-2010). Veja mais aqui.

NO LIMITE DA ALEGRIA – I - Entre a morte e eu erigi seu corpo: / que suas ondas fatais batem em você sem me tocar / e escorreguei na espuma esfarrapada e humilhada. / Corpo de amor, de realização, de celebração, / palavras que os ventos dispensam como pétalas, / sinos ilusórios no crepúsculo. / Tudo que a terra voa para os pássaros, / tudo o que os lagos valorizam no céu / mais a floresta e a pedra e as colmeias. / (Coalhada de culturas eu danço nas eiras / enquanto o tempo chora por suas foices quebradas). / Cidade murada aventureira, / cingido com milagres, descanse no complexo / desse corpo que começa onde termina o meu. II - Convulsionar entre braços como o mar entre rochas, / quebrando à beira da alegria ou humildemente / lambendo as areias ensolaradas. / Sob seu toque eu tremo / como um arco em tensão pulsante de flechas / e de assobios agudos iminentes. / Meu sangue está queimando como um pacote / farejando presas e estragos / mas sob sua voz meu coração se rende / em pombos devotos e afundados. III - Seu gosto antecipa entre as uvas / que lentamente dão lugar à língua / comunicar açúcares íntimos e selecionados. / Sua presença é alegria. / Quando você sai, você destrói jardins e transforma / a sonolência feliz da rola / na feroz expectativa de galgo. / E adoro quando você voltar / o humor perturbado sente você / como os jovens servos nas proximidades da água. Poema da escritora mexicana Rosario Castellanos (1925-1974).


PROEZAS DO BIRITOALDO



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