A arte do escultor, gravurista,
fotógrafo, artista gráfico, gestor cultural e chargista austríaco Francisco
Stockinger (1919-2009), dito Xico Stockinger.
ROL DAS
PAIXÕES - ANIVERSÁRIO DELA, A PROTAGONISTA - A gente
era ainda criança quando o amor passou a conviver fagueira e inquietantemente
no meu coração. Tinha eu
lá a idade dos 10 anos amparado pelo bigodinho ralo embaixo da venta,
magricela, inquieto e com muita meninice no coração, quando ela surgiu lépida
com suas sardas encantadoras, seu olhar agudamente vivo e o sorriso duma
sedução envolvente. Eu já
era um precoce presepeiro licencioso dado às trêfegas libidinosas sucumbindo às
tentações da carne diante da voluptuosidade das deidades fêmeas que me
desafiava o sexo pela antecipada busca em desvelar os mistérios ocultos que as
saias escondiam, esfomeado pelos seios mais generosos, achegado às ajeitadas
mais safadas entre as coxas roliças das pernas femininas e com uma azáfama
constante que me levava a amolegar o pingolin a todo momento nas tocas mais
recônditas das minhas querências. Ela
surgiu num dia ensolarado como um impacto sideral de colisão das galáxias,
paralisando o tempo e todas as coisas para me deixar num estupor de perder a
noção de tudo. Ao mesmo
tempo ela se mostrou pra mim como uma dádiva além do meu quinhão, um repasto
suntuoso além do mérito para indigno reles atarantado, já que ela brilhou nos
meus olhos como uma Tália fazendo festa na minha idéia, uma Euterpe que me
deleitava a alma, uma apaixonante Erato que me envolvia num idílio impetuoso,
uma Clio que celebrava todos os meus prazeres, uma ninfa que me enfeitiçava pra
loucura juvenil, uma piéride que me encantava rodopiante e virava numa urraca
para grasnar no futuro com seu gozo no meu mastro, uma sereia saltitante na
minha libido, uma Energeia para minha adoração D´Annunzio, uma pitonisa que me
realizaria homem acima das expectativas, uma sibila que me faria rei do seu
reinado, uma amazona que me faria superior sobre todas as mulheres. Só conseguia
eu recobrar meus sentidos quando ela dobrava a esquina para encher o mundo de
pernas às gargalhadas. E mesmo sumida, ela permanecia incólume povoando todos
os meus pensamentos. Por isso, doravante eu seria o lunático quixotesco
entregue à fortuna das vicissitudes, mergulhado no amor que nunca morre de Bram
Stoker. Na verdade, foi aí que eu endoidei. A coisa pegou. Eu só queria estar
com ela, falar com ela, escrever versos para ela, construir um universo só pra
ela. Ela a princesa eternamente assentada no trono idílico do meu coração e no
pedestal de ser a minha exclusiva rainha. Era que eu respirava ela, eu vivia e
a minha vida era ela. Éramos
partícipes de uma infância muito buliçosa. Eu com 10 anos turbulentos precoces
e amostrados; ela com 9, linda, risonha e espalhafatosa. Eu, um geminiano
insaciável perdido na curiosidade e querendo sempre muito mais; ela, uma ariana
inatingível e serelepe aguçada emanando vida. Brincávamos
de tudo: ciranda, cirandinha, pega-esconde, adivinhas, queimado e academia
pelas salas, quartos, quintais. Eu cantava me esgoelando canções apaixonadas
pra ela ao solo de uma guitarra invisível no bucho e uma vontade imensa de
impressioná-la. Ela só se ria de mim, enquanto eu me achava abafando. De certa
forma ela correspondia no jeito menina de sempre. Muitas
vezes embolamos na cama, riso solto, inocência viva. Mas ela era atirada e eu,
perto dela, era só timidez. Afinal, ela era minha deusa. E por isso muitas
noites amanheci em claro só pensando como eu teria coragem de agarrá-la,
sapecar-lhe os muitos beijos mais arrebatados, apertá-la com meus braços para
gritar-lhe a plenos pulmões o quanto a amava com toda a força da minha vida. E
me doía ter que deflorá-la na hora ardente de nossos desejos, não isso eu não
podia fazer porque ela era a minha princesa. Mas eu ardia de volúpia e não me
permitia enfiar-lhe toda a força do meu sexo, isso eu não podia fazer na minha
exaltada veneração. Eu podia arrancar qualquer cabaço, invadir qualquer vagina
e me envolver na safadeza com qualquer mulher, ela não, ela era a minha rainha,
a minha santa, a minha devoção. E nisso foi até o tempo de 3 anos depois,
quando ela cansou da minha timidez. Morri mil vezes a cada segundo com a sua
ausência. Renascia e tornava a falecer mais de mil vezes a cada lembrança dela.
Assim foram e persegui essa dor por 18 anos de uma paixão que insistia em morar
atormentadamente nos meus sentimentos. Foram 18 anos de angústia. Até que um
dia tudo dá uma reviravolta e eu sou jogado de novo no meio de um revertério
com a vida de pernas pro ar. Foi quando o rumor da infância entrou com força de
bramido no mar revolto da minha adulteza que virou adolescência despranaviada,
e o seu olhar pousou no meu depois de todo esse tempo suspenso e o que estava
na mentira da dormência e que teimava insistir vigente virou insone. Deu-se o
flerte dos olhares. Eu cada vez mais arrastado pela provocação do seu jeito
mais que desejado, da sua boca sedutora e do seu ar menina que me enlevava no
meio de um redemoinho que eu me deixava levar para não sei onde. Tinha eu a
impressão que tudo isso fazia parte de uma dívida solidária que tínhamos um com
o outro. Tudo me levava a crer que precisávamos prestar contas daquele feitiço
que nos envolveu na infância e que amaldiçoadamente atravessou a adolescência e
nos atingia em cheio em plena maturidade. E eis que numa tarde mormaçada levado
pela urgência insensata da paixão indômita, dei de cara com a circunstância,
coloquei a timidez na regra três e encarei a horagá das instruções procedimentais
de quem está com todas as obrigações vencidas, todas as exigências não
cumpridas, todas as impugnações indevidas, todas as gestões insatisfeitas e
todas as razões injustificadas para resolver uma pendência de muito requerida.
Era tudo muito adiado na fome era de anos. Era tudo muito evitado e a atração
incendiando nossas interações. Era tudo muito mal resolvido e o amor dominando
no pedaço. Nisso os prós e os contras não resistiram aos desejos, arrebentando
barreiras, intrigas e suscetibilidades, ao se meter num turbilhão que nasceu no
meio de olhares, bocas, desejos, beijos, pernas e paixão. Não havia como
evitar, estava iminente. Não havia como conter, tudo se derramou esborrando com
o apetite das nossas ambições de usurparmos todos os nossos limites e sobrepujarmos
todas as nossas mais vorazes necessidades de satisfação. Essa foi
a hora em que cobramos mutuamente uma dívida que jamais seria satisfeita ou
quitada por nós dois porque o saldo devedor sempre se renovava mais e se
avolumava com a força da inflação de todos os reajustes que careciam de novas
prestações de contas e cumprimento na escala de zilhões de beijos não dados, de
afagos pedintes, de abraços necessários, de fodas requerentes e de gozos que
não provados concorriam para enriquecer o nosso endividamento recíproco. Éramos
inadimplentes do amor, insolventes na paixão e que carecíamos de uma vida além
de tantas e muitas re-encarnações para se poder mensurar o tamanho do débito a
ser pago por nós dois, um ao outro. Foi aí que descobrimos que essa nossa
dívida era uma maldição: a de termos de querer um ao outro para todo o sempre.
E isso me fez arrastar por seus pés para escalar suas pernas e alcançar o
relicário da sua intimidade mais deliciosa que eu lambi, chupei e me enfiei
zilhões de vezes e que jamais poderei abdicar dessa gostosura imensa que me
contaminou com uma doença incurável: o amor eterno. E flagrei seus olhos ávidos
de vida e de prazer que me levaram aos beijos na sua boca ardente e poderosa
que me dei aos ósculos desmedidos e que gozei e jamais poderei renunciar de
beijar os seus lábios apetitosos do mais agradável gosto de todos os sabores
porque sou sedento de sua faminta luxúria, sou caudatário da sua atirada e
gulosa forma de querer inteiramente até a última gota espremida do meu sangue e
suor, sou refém de sua determinada forma de se dar por inteiro e com a urgência
dos enfermos terminais que anseiam estertorar na última gota de prazer. E me
deitei nos seus seios que se fizeram mãe e puta para me fartar de todas as
fomes e sedes de séculos e milênios de amor adiado que me atormentava a alma e
que nunca foi suficiente ainda os tantos gozos vindouros, as tantas trepadas
extravagantes, as tantas entregas mais enlouquecidas que já nos possuímos e que
ainda exigimos possuir e eu ainda quero tudo de novo e outra vez e muito mais e
sempre possuí-la poderosamente no jardim, no carro, no quarto, na sala, no
chão, no canto da vida ou na beira da morte porque ainda não fui feliz, nem
gozei o tanto do que preciso na sua carne apetitosa, nem tudo chegou ao ponto
da satisfação plena da alma. Tudo foi escandalosamente revivido. E eu cantando Desejo
no nosso aniversário. E os nossos prazeres atravessaram o dia e a noite, todo o
tempo e todo espaço, e ainda ardo a todo momento incendiado pela requerência de
tê-la aos meus braços, nua, linda, inteira e pronta pra ser devorada pela gula
da reintegração de posse da minha louca ejaculação que preencherá os meus e os
seus vazios, que transbordará os meus e os seus gozos e que premiará as minhas
e as suas necessidades como o presente de aniversário que precisamos ambos
ganhar um do outro. © Luiz Alberto Machado.. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS – Penso que o amor é uma
porta de entrada para o mundo, não uma fuga dele. Pensamento do poeta
estadunidense Mark Doty. Veja
mais aqui.
VARIÁVEIS DE REFERÊNCIA – [...] Os estados informacionais que um sujeito adquire
pela percepção são não conceituais, ou não-conceitualizados. Juízos baseados em tais estados necessariamente envolvem conceitualização: movendo-se de uma
experiência perceptiva para um juízo sobre o mundo (usualmente exprimível em
alguma forma verbal), o que se estará fazendo é exercer habilidades conceituais
básicas; O sujeito concebe a si mesmo como estando no centro de um espaço (em
seu ponto de origem), com suas coordenadas dadas pelos conceitos ‘cima’ e ‘baixo’,
‘esquerda’ e ‘direita’, e ‘na frente’ e ‘atrás’. Podemos chamar isso de ‘espaço
egocêntrico’, e pensar sobre posições espaciais nessa estrutura [framework] centralizante no corpo do
sujeito pode ser chamado de ‘pensar egocentricamente sobre o espaço’. Os
pensamentos-do-‘aqui’ [‘here’-thoughts] de um sujeito pertencem a
este sistema: ‘aqui’ denotará uma área mais ou menos extensiva que se
centraliza no sujeito; O sujeito deve conceber a si próprio como estando em algum lugar – num ponto no
centro de um espaço egocêntrico capaz de ser alargado de modo a encompassar
todos os objetos; A essência do ‘eu’ é a auto-referência [self-reference]. Isso significa que pensamentos-do-‘eu’ [‘I ’-thoughts] são pensamentos em que um
sujeito de pensamento e ação está pensando sobre si mesmo – i.e. sobre um sujeito de pensamento e ação. É
verdade que eu manifesto um pensamento consciente de-si [self-conscious], assim como um
pensamento-do-‘aqui’, em ação; mas eu o manifesto, não ao saber em que objeto
agir, mas agindo. (Eu não movo a mim mesmo; eu mesmo me movo). Igualmente, eu
não meramente tenho conhecimento de mim, como poderia ter conhecimento de um
lugar: eu tenho conhecimento de mim como alguém que tem conhecimento e que faz juízos, inclusive os juízos que
faço sobre mim [...]. Trechos extraídos de The Varieties of Reference (John McDowell/Oxford, 1982), do filósofo
britânico Gareth Evans (1946-1980).
A MORTE DIFÍCIL – [...] anda sempre por montes e
vales — entenda-se por isto o cinema, o teatro, a casa de amigos e Deus sabe que
outros lugares [...] Diane sabe tudo, pelo menos tudo o que
Pierre deve fazer, ver, ouvir, ler para se sentir feliz. Diane é o bom senso de
Pierre, que se enternece e pensa ter acabado por encontrar nela a felicidade
[...] Agradeçamos portanto aos senhores
nossos pais. Ao teu o suicídio, ao meu a loucura. [...]. Trechos extraídos
da obra La Mort difficile - L'Esprit contre la raison (A morte difícil seguido de o espírito conta a
razão - Éditions du Sagittaire/ Marseille, 1926-28), do escritor francês René Crevel (1900-1935) que suicidou-se quando ainda não tinha
completado 35 anos de vida. Em outra de suas obras, O meu corpo e eu (Sistema
Solar, 2014), ele expressa: [...] Na
nossa família suicidamo-nos muito [...] a
obsessão do suicídio permanecerá [...] como
a melhor e a pior garantia contra o suicídio.
ROMEO E GIULIETTA EM VERONA - Em Verona, onde o ar familiar de algo que não
vivi / sussurra na sombra dos que passam, / Um segredo me seguia / E eu não
sabia... / Me falava de confissões que não fiz / do meu orgulho que esqueci / e
de amores que abandonei / Que nunca amei... / Romeo desiludido - de passos
perdidos / E lembrança firmemente posta nela - / Amarga e desesperançosa
Giulietta - / Quella maledetta! Poema do pianista, regente, compositor e
poeta Raul Passos, que é diplomado em Composição e Regência pela Escola
de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), cursou Letras na Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Posteriormente, aprimorou-se na Universidade Nacional
de Música de Bucareste (UNMB). Ele é autor de obras musicais como Música da
Morte (canto e piano, poema de Cruz e Souza, 2001), 4 Prelúdios (piano,
2002); Novellette (clarinete e piano, 2002); Il Manque des Mots Qui
S'Écroulent (canto e piano, 2002); Estudo de Concerto em Re Bemol Maior
(piano, 2002); Aos Teus Pés (canto e piano, 2004); A Música das
Almas (coro a capella, poema de Vinicius de Morais, 2005), Papillon (clarinete
e piano, 2007); Noturno (piano, 2008); Perpetuum Mobile (clarone
solo, 2008) e Cartas Romenas (piano a 4 mãos, 2009), além de editar
o blog Raul Passos dedicado ao
estreitamento das relações Brasil-Romênia, à cultura desses países e a tudo que
represente a evolução e o crescimento interior do ser humano. Veja mais aqui.
A arte
do escultor, gravurista, fotógrafo, artista gráfico, gestor cultural e
chargista austríaco Francisco Stockinger (1919-2009), dito Xico
Stockinger.
Veja
mais sobre:
Vamos
aprumar a conversa, Ariano
Suassuna, Elomar Figueira de Mello & Camerata Kaleidoscópio, Luís da Câmara
Cascudo, Leandro Gomes de Barros, Cantadores de Leonardo Mota, Lauro Palhano, Sylvie Debs, Mariana Pabst Martins & Ciro Fernandes aqui.
E mais:
Vade-mécum – enquirídio: um preâmbulo
para o amor aqui.
Ao redor
da pira onde queima o amor aqui.
Por você
aqui.
Moto
perpétuo aqui.
O uivo
da loba aqui.
Ária da
danação aqui.
Possessão
Insana aqui.
Close, Albert Einstein, Turíbio Santos & Silvio Barbato, Alcides
Nogueira, Takeshi Kitano, Dahlia Thomas, Alain Bonnefoit, Neurociência, Enaura
Quixabeira Rosa e Silva, Kayoko Kishimoto, Raul Longo, & Todo dia é dia da mulher aqui.
Ânsia
do prazer, Educação Sexual, Gustave Charpentier, Paulo Cesar Sandler, Beth Goular, Hironobu
Sakaguchi, Ming-Na Wen, Jeremy A. Engleman, Existencialismo
& Alienação na Literatura, Linguistica & Poética, Masturbação & auto-erotismo,
Neuroanatomia, Voluntarismo & Ringue dos Bancos aqui.
Responsabilidade
social aqui.
A teoria
política do individualismo possessivo de Hobbes a Locke aqui.
Direito:
teorias, interpretação e aplicação aqui.
A qualidade
na gestão escolar aqui.
Inclusão
social pelo trabalho, Pitágoras,
José Louzeiro, Samir Yazbek, Jacques
Rivette, Xue Yanqun, Ednalva Tavares, Lisa Lyon, Música
Folclórica Pernambucana & A imprensa na atualidade aqui.
Literatura
de Cordel: Quadrilha junina, de Francisco Diniz aqui.
Literatura
de Cordel: Sidrião e Maristela ou A
goiaba da discórdia, de José Honório aqui.
Velta, a
heroína brasileira aqui.
Método
Científico aqui.
História
& Literatura do Teatro aqui.
Literatura
de Cordel: As flô de puxinanã, de Zé da Luz aqui.
Papel do
professor na aprendizagem aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Leitoras comemorando a festa Tataritaritatá!
Arte Ísis
Nefelibata
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
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Musical Tataritaritatá - Fanpage.