A arte da fotógrafa, jornalista e
anarquista alemã Gerda Taro (1910-1937), a primeira mulher
fotojornalista que morreu enquanto fazia cobertura de guerra, documentando o
cotidiano e as batalhas do front em vários momentos perigosos e, ao ficar sem
filme para sua câmera, arrumou carona no carro de um general que estava sendo
usado para transportar os feridos, um tanque desgovernado do exército
republicano colidiu com eles e Gerda foi mortalmente ferida no estômago.
LITERÓTICA:
VADE-MÉCUM-ENQUIRÍDIO, UM PREÂMBULO PARA O AMOR -(Imagem: arte de Tara
McPherson). - Uma vez e ela apareceu. Primeiro como a
indomável Lilith que saiu irada e nunca mais voltou. Depois, como a servil Eva,
que emergiu da minha costela para roubar da maçã o pecado original e causar
todos os males humanos. Uma vez e outra, ela decaída Madalena e
ao mesmo tempo a serpente Nachásh. Ou ela uma das nove musas, ou como a
sanguinária Anath, em Canaã. Ou como a cantada na Ars Amatória de Ovídio. Ou
mesmo como uma das ninfas, ou a paciente Isis no Egito, ou Ishtar, a sagaz
deusa do amor na Babilônia. Ela a mãe da terra como Dêmeter, bela e cruel como
Semíramis, ou como uma serva de Afrodite. Nem outra vez se dera, ela já hetaira,
exímia cortesã bem-sucedida e influente na Grécia. Ou ela a sabotadora Messalina,
a auianime no México, harimtu na Babilônia ou a jovem dos aposentos verdes da
China. Uma outra vez e de outra vez ela, a
Esfinge que devora quem não decifra. Ela praticante da arte da Câmara de Dormir
ou mesmo dama da corte, ou adúltera descarada. Vez e outra ela a giyán em Bagdá ou como
madona bizantina na mariolatria. Ou mesmo como tríbade, ou eríneas, ou parcas,
moiras, harpias, prostituta do templo ou filha do prazer. Outra de outra vez, ela a virgem
descarnada e amedrontada ou uma daquelas vingativas femmes fatales. Ela, como a
fuga de Helena de Tróia, como o sacrifício de Ifigênia, como o suicídio de
Fedra, como a tragédia de Medeia, desejada Barbarela, ousada Norma Benguel,
desencantada Maysa, leve e linda Joyce, filósofa Marilena Chauí, ou Claudia
Bomtempo no devaneio da minha loucura noturna, ou Íris Bustamante na miragem da
minha ilha deserta, ou mesmo como uma dessas celebridades efêmeras das bundas
fugazes do reality show. Uma vez, outra e mais outra ela a
trabalhadora insone com todas as horas de batente extrapolando a vida. Ou mesmo
como uma desolada pra titia se espremendo em rezas pro Santo Antonio. Ela, a
resignada esposa cristã reclusa e privada de gozar. Ou aquela que se cansou de
ser apenas objeto para reprodução. Ela, a concubina maldita com o sexo
disponível na mancebia pro amante, destruindo lares e famílias. Ou aquela
adolescente privada de afeto seduzida pelo primeiro carinho. Ela que sangra, ri
e chora e que no seio aplaca a fome do menino. Nas coxas, segura o prazer do
homem. No corpo, carrega o açúcar e o fel do que é. Na alma, a premonição e a
compreensão superior. Ela que traz a vida e por ela se deixa levar. De outra, ela comprada na feira,
abominada por misóginos, propriedade paterna, do marido e dos filhos,
subjugada, cantada, cuspida, adorada. Ela ninfomaníaca acendendo a vida, ela
viúva ardendo na noite. Ela, Mata-Hari, ela Evita Perón. Ela a mais singular
pedinte da esquina, ela rainha na Inglaterra. E de vez outra ela, caça do macho adorada
como estatueta de Vênus. Ela que já foi o mar parindo céu e terra, semeando
ventres e heroína de todos os encômios. Ela vítima de crimes passionais, tal
lâmina que depila como a navalha nos pulsos, o fogo no ventre, a dor de parir,
o vir a menstruar. É ela. E digo que é ela a minha vida e o meu amor. É ela.
Cuidado. Muito cuidado. Todo cuidado é pouco. Primeira advertência: se não bate um
coração (o amor é via de mão dupla), não use. Por favor, não abuse: é frágil.
Não é descartável, nem vem com manual de instrução. Atente para as exigências, ela encanta
pela maravilha que é: mulher com toda pujança divina nas linhas do rosto, todo
fausto e glória da beleza na sua herança de deusa que eu venero com a minha
língua em riste no seu corpo nu espalmado no meu desejo, como espetáculo da natureza
que faço versos com meu sexo na sua alma assaltada, onde tudo é belo, tudo é
verdadeiro e me acrescenta e em dobro vive no meu canto: mulher. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - A
liberdade é mais vezes destruída pelos seus excessos do que pelos seus
inimigos. Os homens sentem mais a necessidade de curar as suas doenças do que
os seus erros. A história é uma apelação dos erros contemporâneos para os
juízes da posteridade. O império da beleza não conhece rebeldes. Pensamento
da escritora russa condessa Sophie de Ségur (1799-1874).
ALGUÉM FALOU: Existem
coisas em que se tem de ser especialista para as não compreender. Eu acredito
no prazer da carne e na solidão irremediável da alma. Pensamento do
escritor sueco Hjalmar Söderberg
(1869-1941).
DA VIDA & O VIVER – Não
podemos viver apenas para nós mesmos. Mil fibras nos conectam com outras
pessoas; e por essas fibras nossas ações vão como causas e voltam pra nós como
efeitos. Ninguém pode salvar ninguém. Temos de nos salvar a nós próprios.
Aprendi que amigos a gente ganha mostrando quem somos. Eu não sei tudo o que
está chegando, mas seja o que for, eu vou até lá rindo. Pensamento do
escritor estadunidense Herman Melville
(1819-1891). Veja mais aqui.
SEU SONHO - Ela dorme. Ou derrame seu sonho, asas / vida suave através do seu coração
gentil! / Fonte sem nuvens do Éden / Colher de sopa de branco,
krystallnen a cair! / E deixá-lo na bochecha, ele fugiu do Röth / Há
hinthaun perfumado! E você, ou melhor, / A virtude
e o amor da paz, / Grazie suas capas Olympus, / Com seu Fittig
Cidli. Como latente, / Como silencioso! Fique em silêncio, oh cadeia silenciosa! / Ele mostra que seu
Lorbersprößling, / Se eu sussurrar para você da letargia Cidli! Poema do poeta alemão Friedrich
Gottlieb Klopstock (1724-1803).
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