terça-feira, março 31, 2020

OLIVE SCHRINER, SUZANA AMARAL, ANA MARIA PACHECO, TITINO & GALATEIA DO GOITÁ


GALATEIA DO GOITÁ – Galateia era uma matuta arrumada: boniteza de rosto, bem feita de corpo, tímida, pudica. Mesmo com os olhões chamativos, a dentadura de égua, a pele trigueira e a toda sua assimetria escultural pros ajeitados das mãos insolentes dos sonhadores e desenganados. Mesmo assim, se dizia desajeitada para o amor, por não saber lidar com a macharia obtusa. Era o que dizia: todos os homens só queriam tirar uma casquinha e pinotar fora depois das conchambranças. Ah, se era. Sabida, se precavia: Não vai ser uma conversa mole que vai me derrubar. Daí largava logo uns bregues graves nos pretensos pretendentes todos cheios de lábias e mimos, a ponto de ninguém querer nem mais chegar perto, só morriam na mão. Coitada, impune solitária desejada por muitos e tantos, recolhida na sua clausura. Foi na sua solidão que ela inventou de confeccionar, às escondidas, um boneco com proporções humanas. Com afinco na empreitada e nos mínimos detalhes, dedicada, a forma sonhada por ela. Depois de todo ajeitado, fez-lhe indumentária máscula e viril, adquirindo secretamente uma bimba de plástico, comprada numa loja do ramo, e escondida por baixo das vestimentas dele. Pronto: Quero ver agora precisar de mais macho nenhum, hora! Não havia mais aperreios para ela: na hora da apertura, reclusa, chorava na vela. Dava para o gasto, não falhava e ao dispor quando quisesse. As falações não perdoavam: diziam que ela ficara donzela pronta para o convento, ou sapatão enrustida. Ela morria de rir. A cochichada atrevida cheirava a vida dela com mexericos que ou pendia prum lado ou pro outro. E ela, nem nem. Assim passaram anos e décadas. Foi de uma hora para outra, ela ficou acamada de ser recolhida à emergência hospitalar. Diagnóstico: fora acometida de um vírus letal. Morre mas num morre. Estava lá estendida numa maca, abandonada. Os dias passavam dolorosamente na mesmice, até ser surpreendida por um cantador repentista que, repentinamente, encheu seus olhos: chistes e arroubos, num é que o cabra sapecou-lhe umas juras sentimentais libidinosas, dela ser salva depois duns arrojos aprumados na maior beijação. Pois foi, almas, pernas, sexo, o maior idílio e de verdade. O povo queimou a língua, quem diria. Mal quebrou o resguardo, saiu saltitante nos braços do vate para a alcova do amor: amaram tanto e sem limites de nunca mais perderem a esperança na vida. Para ela, o reencontro real da satisfação carnal, paz de espírito, entrega total. Todavia, depois de muita traquinagem de lábios, cochas e ventres, deu-se o maior bafafá ciumento: a descoberta do Pigmalião pendurado na porta do guarda-roupa. Que é isso? Uma briga sem precedentes, o boneco voou pelos ares todo estraçalhado e, na horagá, ela não pestanejou da escolha: preferiu a peiada real, não escondendo a saudade do totem escondido. Dias e noites, ninguém nunca mais soube dos enamorados. Amavam e muito, além da conta, escondidos no lar. É certo que na vida real não haverá nunca um final feliz, mas os dois vivem lá, trancados, entre beijos e colisões, amando como podem e vivendo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Há muitas reflexões morais na história, mas quando se leva uma vida completamente solitária podemos usar nosso trabalho como Gregory usou suas cartas, como um escape de todos nossos sentimentos mais desmedidos, sem perguntar se este é, artisticamente, o lugar de expressá-los [...] O homem, suas opiniões, sua constituição física e psicológica, as necessidades de sua natureza, sua função no mundo, sua dependência das circunstâncias sociais que o cercam – estas e as questões menores que destas derivam, não são sequer mencionadas! [...] Uma garota ignorante, trabalhando dez horas por dia, sem tempo para pensar ou escrever senão em algumas horas no meio da noite, escreve uma pequena história como An African Farm; um livro que deixa a desejar em muitos aspectos, completamente imaturo e cru, repleto de defeitos; um livro que foi inteiramente escrito para mim, em um momento em que vir para a Inglaterra, assim como publicá-lo, parecia impossível. E apesar disso conquistei algo, quase centenas de cartas comentando o livro, vindas de toda classe de pessoas – do filho de um Conde a uma costureira da Rua Bond, de um estivador a um poeta. [...] É o ritmo em que essas pessoas vivem, vidas pacatas como gado. Parece que as ruas estão todas repletas de vacas e de ovelhas. Todos os homens parados às portas com seus braços cruzados; se estão fazendo alguma coisa é como se nada fizessem, fazem-no tão vagarosamente que você mal vê o movimento [...]. Trechos de Olive Schreiner Letters – 1871-1899 (Oxford - Richard Rive, 1988), da escritora e feminista sul-africana Olive Schriner (1855-1920), que não possuía educação formal e, na Inglaterra, ganhou a vida como governante e escrevendo seus livros. Veja mais aqui.

A CINEMA DE SUZANA AMARAL
Cada vez que se faz um trabalho sem subir um degrau, não se aposta em si. E para subir o degrau é preciso arriscar.
SUZANA AMARAL – A arte da premiada cineasta e roteirista Suzana Amaral, autora de mais de 50 documentários de curta-metragens e que dirigiu, entre outros longas, o filme Hotel Atlântico (2009), contando a história de um ator desempregado que parte da cidade sem bagagens nem planos para o interior, baseado no livro de João Gilberto Noll; o drama A hora da estrela (1985), adaptado do romance homônimo de Clarice Lispector, contando a história da nordestina datilógrafa que sai órfã para São Paulo; a minissérie Procura-se (1992) e a interpretação O regresso do homem que não gostava de sair de casa (1996), entre outros. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE ANA MARIA PACHECO
Manter viva a fonte de origem é fundamental em qualquer processo criativo. Minha infância e juventude são embutidas de imagens, experiências que são únicas. É como um rio profundo onde mergulho e sempre descubro tesouros infindáveis.
ANA MARIA PACHECO – A arte da escultora, pintora, desenhista, professora e gravadora Ana Maria Pacheco, que é bacharel em escultura pela Universidade Católica de Goiás (UCG), e em música pela Universidade Federal de Goiás (UFGO). Ela foi diretora titular de Belas Artes na Norwich School of Art, Norfolk, Inglaterra, além de ter sido professora visitante em universidades na Escócia, Inglaterra e Irlanda do Norte. Em 2000, recebeu o título de doutora honoris causa em Letras pela University of East Anglia, e, em 2002, doutora honoris causa em Filosofia pela Anglia Pulytechnic University, ambas em Norfolk, Inglaterra. Possui obras em importantes acervos no Brasil, Inglaterra, Alemanha, Japão e Estados Unidos. Veja mais aqui.

PERNAMBUCO ART&CULTURAS
A ARTE DE TITINO DE TRACUNHAÉM
A arte de Titino (Ailton Ferreira Brito).
A poesia do poeta, dramaturgo, engenheiro civil, desenhista, professor e editor Joaquim Cardozo (1897-1978) aqui.
A barlavento de Eduardo Diógenes aqui.
A arte de Marsa e Seu Pereira & Coletivo 401 aqui.
A exposição Com os olhos de náufrago ou onde fica o próximo ponto aqui.
Giomar verdureira aqui.
Ibirajuba aqui & aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


segunda-feira, março 30, 2020

MELANIE KLEIN, SABINE MEYER, OLGA GRIGORIEVA-KLIMOVA, MONIQUE ARAGÃO, ALCINEIA MARCUCCI & RAIZA FIGUERÊDO


O REINO DA PATAFÍSICA NÃO SERIA O DO FECAMEPA DE SEMPRE? - Desdantes De Gaule, quantos de quem no meio de tantas pragas seculares? Talqualmente hoje do Fecamepa, em que não só Fabos & Cafos digladiam, outras trepeças parasitárias que mais parecem viróticas pestilências emergem na desgraça dobrada, coisa do tipo clones da porra que são coisominions & coisonárias que se travestem em funcrivãns (homúnculos fundamentalistas evangélicos, os fun-funs de puns e caracus, os que têm grana e nenhum cérebro, e ainda tem os et cétera – desculpe, não deu para catalogar todo tipo de doideira) e outras criaturas horrorosas com suas feiuras e blocos do eu sozinho e outras porras mais, não bastando os estranhíssimos peixe geada da Nova Zelândia, o chupacabra de Rosário, o ET de Cerro Azul do Panamá, o feio canadense e a lampreia-marinha-vampira de Ohio, o gremlim Aye-aye, o Gobi Jerboa, o saiga tatarica do Gobi, o vampírico Elaphodus cephalophus, o Hemicentetes semispinosus de Madagascar, o ocapi do Congo, o diabo espinhoso da Austrália, o peixe papagaio azul, o narval do Ártico, o do batom-vermelho de Galápagos, o pênis anfíbio Atretochoana eiselti, o dumbo pokémon Grimpoteuthis, o porco do mar, a lesma azul, o isópode gigante e outros que nasceram dum sêmen de punheta fecundado no esterco dum pangaré cruzando com vira-lata e por ai afora vai, haja pandemônio. E com um detalhe: tudo aqui! Eita, o negócio é mais que sério, ou não? Peraí! Deu o créu: o Brasil deixou de ser o paraíso - El Dorado, Canaã, éden terrestre dos antiquíssimos – para ser a verdadeira Boceta de Pandora, foi? Desde quando? Acabei de crer: a felicidade de um energúmeno é dar de cara com outro de braços dados pro churrasco. Era e é. Vamos aprumar a conversa, gente! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O impulso de controlar outras pessoas é, como sabemos, um elemento essencial na neurose obsessiva. A necessidade de controlar outras pessoas pode até certo ponto ser explicada por um impulso defletido de controlar partes do self. Quando essas partes foram excessivamente projetadas para dentro de uma outra pessoa, elas só podem ser controladas através do controlar a outra pessoa. Uma raiz dos mecanismos obsessivos pode, então, ser encontrada no tipo particular de identificação que advém dos processos projetivos infantis. Essa conexão pode também lançar alguma luz sobre o elemento obsessivo que tantas vezes entra na tendência à reparação. Pois o sujeito é levado a reparar ou restaurar não apenas um objeto em relação ao qual ele vivencia a culpa, mas também a reparar ou restaurar partes do self. [...] Trechos de Notas sobre alguns mecanismos esquizoides, extraídos das Obras completas de Melanie Klein (Imago, 1946-1997), da psicanalística austríaca Melanie Klein (1882-1960). Veja mais aqui.

A INSEGURANÇA – Águas vêm e vão / O vento passa / O tempo apressado / Tudo leva! / Num efeito dominó / Tudo vira pó! / A dor, / A ambição de domínio, / O ego dos nobres, / A migalha dos pobres. / Só não leve tão afoito / O sorriso do menino / A esperança de dias melhores / Embalada no balanço / De um parque qualquer! / Não leve a semente / Que pairou de repente / Num ventre de mulher! / Os idosos inocentes / Que andam lentamente / Descalços de pressa! / Que no labirinto da vida / O amor encontre a paz / Derrubando muros e fronteiras / E as falsas promessas! / Que os sinônimos do bem / Se espalhem pelos continentes / Na mesma sintonia / Das crianças que não mais acreditam / Em "felizes para sempre" / Mas em dias melhores e diferentes / Sem tanta fome, pandemia e guerra / Para o futuro que as espera / Diante da agitação violenta / Da atmosfera! / Que no futuro o vírus que mais se propague seja o amor! Poema da professora de arte Alcineia Marcucci, que edita o blog Confissões de uma alma e se assim se apresenta: Sou um tiro no escuro das latarias novas ou velhas, variando conforme a lua, despida, coberta ou crua, embaralhada entre os ponteiros que giram na contra mão das linhas do meu destino. Sou o esqueleto que vive e pinta, a alma que se mistura nas tintas liquidificada nas faces que derramo nas telas pálidas que famintas de cores devoram minhas faces e fases num ritmo desenfreado, num vulcão com sede de algo que me dê a ilusão de estar viva. Veja mais aqui.

A MÚSICA DE SABINE MEYER
Curtindo a arte da clarinetista clássica alemã Sabine Meyer. Veja mais aqui & aqui.
&
MONIQUE ARAGÃO
A arte da pianista, compositora e escritora Monique Aragão, professora de música formada pela UFRJ, e que já lançou os álbuns Suíte do Rio (2004), Marcas da Expressão (1999), Os Olhos de Cristal (1997), Ventos do Brasil (1995), Canoas (1993) e Monique Aragão (1991). Veja mais aqui.

A ARTE DE OLGA GRIGORIEVA-KLIMOVA
A arte da pintora russa da Crimeia, Olga Grigorieva-Klimova. Veja mais aqui.

PERNAMBUCO ART&CULTURAS
Eu sou aquela que escreve poesia, mas também há um impulso de cronista em mim. Fui rabiscando histórias na cidade onde nasci, Salgueiro, sertão de Pernambuco, e depois em Recife, onde vim correr atrás de sonhos. Na adolescência, fiz diários, poesias e ganhei um concurso de redação. Minhas turmas do colégio e da faculdade sempre me pediam para escrever mensagens de formatura. Na família, eu também sou aquela que diz umas palavras nos aniversários. Habitam em mim muitos eus: escritora, professora, cientista ('escrevedora' de tese de doutorado), psicóloga e quiçá mais alguns que pretendo desenvolver aqui na Terra. Estou cultivando o gosto por trabalhos manuais e sentir a brisa no meu rosto, andando de bicicleta me traz paz. Viagens, são para mim, experiências de encantamento com paisagens e autoconhecimento. Sou afeiçoada às montanhas, às plantas, aos pássaros e às coisas velhas (discos, livros, objetos, cadernetas, roupas...). Preciso das palavras para estar no mundo.
A poesia da psicóloga, arteterapeuta e escritora Raiza Figuerêdo.
A literatura do escritor e dramaturgo Osman Lins (1924-1978) aqui, aqui, aqui & aqui.
A arte de Romero de Fugueiredo aqui.
A xilogravura de Airt0n Marinho aqui.
Galo da Madrugada, Carnaval & Frevo aqui & aqui.
Pirangi aqui.
Barra de Guabiraba aqui & aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


sexta-feira, março 27, 2020

SUSAN NEIMAN, MARIE UNDER, LAURA ATHAYDE, MARIA LÚCIA PETIT & WANDECKSON WANDERLEY


A VIDA É MUITO MELHOR COM HUMOR - UMA: CONVERSA DE MULHERES – Confinadas num dos salões do Big Shit Bôbras, Xica-Doida sapecou uma de Dorothy Parker: Só exijo três coisas de um homem: que ele seja bonito, insensível e burro. Lesse isso aonde, bestona? Numa revista que eu vi lá no consultório do doutor da mamãe. Mulher, bonito vá lá que seja, tudo bem, mas insensível e burro? Sim, isso mesmo. Apoiada! Homem inteligente serve pra quê? Só para empulhar a gente. E homem delicado, sensível? Vixe! Homem tem que ter pegada, da gente chega arriar murcha, rendida. Agora tem que ser bonitão, parrudo e másculo. Não, não dá, homem tapado, dá não. Tem que dá pra gente mandar. Comigo é assim, ele arrota macheza, mas canta de galo baixinho comigo, porque quem manda sou eu e pronto, está dito e fechado. Ah, mas é muito bom um homem de opinião, com autoridade, mandão. Oxe, mulher, só falta você dizer que gosta de apanhar! Não, apanhar não; mas se ele chegar tarado e aos empurrões para me espragatar na parede, vou adorar e muito! Ah, isso não! Não deu outra, a coisa tomou conta entre prós e contra. Volange mesmo saiu em defesa da amiga, dando uma de Jayne Mansfield: Homens são criaturas com duas pernas e oito mãos! Hem? É. Isso mesmo, uns desgraçados. Aí concordaram: São tudo uns trastes. E rebateram: Homem nenhum presta, todos calçam quarenta! Êêêêê! A gente devia instituir a ginocracia! Vivaaaaaaaa! E agora mesmo, vamos à luta! E saíram para destronar o poderio machista do recinto. Apoiadas! DUAS: CHAMANDO NA GRANDE - Do outro lado e sem saber de nada do enterro voltando, o Doro estava invocado: Esse Coisonário é um desqualificado, tá descendo a ladeira e já se fodeu, nunca mais ganha nada! Cuma? O cara não tem o menor traquejo para governar, só faz merda todo dia e o governo virou o maior bumba-da-bufa! Como é que é? Ele e os ministrecos juntos, nunca vi tanta emboança de inábeis, os caras não têm cintura, tudo enrolado, o reino da burrice! Hem? Esses são da Idade da Pedra, vivem ainda na Terraplana e tudo mais de antanho milênios atrás quando ainda se cagava em pé, só sendo! Ah, eu lá: já tinha resolvido essa crise toda em dois tempos! Como? Ora, ora. Diga, vá, como? Deixa só eu ser eleito que eu digo, ora, sou lá besta de dizer antes pra eles aplicarem, tá doido, tá? Hehehe, sou pobre, mas não sou jumento! Como dizia H. L. Mencken: Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive! TRÊS PARA PARAR DE ENROLAR: VAMOS DAR UMAS GAITADAS, ENTÃO? – Seguinte: pra gente afrouxar mais um pouquinho que a coisa está séria demais nos dias de hoje, melhor a gente se divertir com as doidices das Proezas do Biritoaldo, que já foram publicadas nas revistas Ultra Portal e El Theatro. Uma zona pra maior risadagem. E, também, as maluquices da dupla Tolinho & Bestinha, pense dois caras nó-cego de armar o maior trupé. Ah, vai ser bom para dar umas gaitadas, tomara. Porque já dizia Vladimir Nabokov: Uma boa gargalhada é o melhor pesticida que existe. E vamos aprumar a conversa, gente!!! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] O fato de o mundo não conter nem justiça, nem significado, ameaça nossa capacidade tanto de agir no mundo quanto de entendê-lo. A exigência de que o mundo seja inteligível é uma exigência da razão prática e teórica, o fundamento do pensamento que se espera que a filosofia forneça. [...]. Trecho extraído da obra O mal no pensamento moderno: uma história alternativa da filosofia (Difel, 2003), da filósofa estadunidense Susan Neiman, que com suas reflexões e publicações, expressa que: A maior tarefa da filosofia é ampliar nosso senso de possibilidade. Deveríamos ficar claros que nem impulsos religiosos nem morais genuínos serão expressos em termos que unam os dois essencialmente. Se você considera a religião necessária para a ética, reduziu-nos ao nível ético de crianças de quatro anos. Qualquer ética que precise de religião é má ética, e qualquer religião que tente fazer isso é má religião.

SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA: A única luta que se perde é a que se abandona. Pensamento da professora e militante guerrilheira desaparecida Maria Lúcia Petit (1950-1972), que participou da luta armada contra a ditadura militar vigente entre 1964-1985, integrando a Guerrilha do Araguaia. Foi representante da luta contra a exclusão de mulheres na participação política. Foi assassinada e enterrada em sigilo pelos militares no cemitério de Xambioá, envolta num tecido de pára-quedas e com a cabeça coberta por um plástico. Seus restos mortais foram localizados em 1991 e identificados em 1996, sendo sepultados em Bauru-SP. Sua morte foi reconhecida por força da Lei 9140/95 que, nos anexos, constam 136 nomes. Ela e seus dois irmãos, Jaime e Lúcio, são considerados até hoje como desaparecidos.

A POESIA DE MARIE UNDER
Os pacotes de centeio estão empilhados.
Todo mundo está saindo.
O teto da carruagem está levantado.
O viajante por trás
assim como o motorista na frente
ele é pensativo, silencioso.
Ninguém fica na praia,
não é uma alma.
É melhor assim.
Somente as pedras e a água,
as únicas impressões são feitas pelos meus sapatos.
A gaivota chama.
É duro. Eu sei porque.
O vento rasga a água.
E a abelha tira da última flor,
que faz uma rede,
o mel final.
Então eu vou embora
ao longo da costa branca
até que de repente eu vejo
aos meus exploradores solitários
no oceano infinito. Eu congelo como uma pedra.
E paro, como se estivesse cara a cara com Deus.
MARIE UNDER: SOZINHO COM O MAR - Poema da poeta estoniana Marie Under (1883-1980), que, casada e com filhos, apaixonou-se pelo artista estoniano Ants Laikmaa que a convenceu de traduzir seus poemas em alemão para o estoniano. Depois separou-se do marido e casou-se com Artur Adson que compilou os primeiros volumes de sua poesia publicada. Com a invasão da Estônia pela URSS, ela refugiou-se na Suécia, onde passou a morar até sua morte. Veja mais aqui.

A ARTE DE LAURA ATHAYDE
[...] sempre, sempre, sempre amei desenhar. Isso provavelmente veio do fato de que, desde pequena, eu amava quadrinhos. Aprendi a ler com a turma da Mônica – sim, essa é uma história bem comum entre quadrinistas brasileiros! – e adorava copiar os desenhos e criar minhas próprias histórias. Acontece que nunca vi isso como uma carreira possível; portanto, quando chegou a hora de decidir o que fazer depois da escola, fiquei dividida entre o Design Gráfico e a Advocacia. A pressão familiar venceu e acabei indo cursar Direito, o que me levou a parar de desenhar por alguns anos, apesar de jamais ter abandonado a leitura de quadrinhos. [...].
LAURA ATHAYDE - A arte da ilustradora, quadrinista, designer e advogada Laura Athayde, que começou sua carreira participando de publicações coletivas como Zine XXX e Desnamorados, fazendo ilustrações de capas de livros para editoras e seu principal trabalho é a série de HQs curtas Aconteceu Comigo - Histórias Reais de Mulheres, que apresenta relatos reais de situações discriminatórias enfrentadas diariamente por mulheres a partir de histórias recebidas por ela e por meio de um formulário anônimo. Ela lançou em 2018, a premiada HQ independente Histórias tristes e piadas ruins. Veja mais aqui

PERNAMBUCO ART&CULTURAS
A ARTE DE WANDECKSON WANDERLEY
A arte do pintor Wandeckson Wanderley.
A literatura do escritor Pelópidas Soares (1922-2007) aqui, aqui e aqui.
A música da Orquestra Armorial aqui
Pontes imaginárias sob o céu do manguetown: influências do Mangue Beach sobre as políticas públicas no entorno do Rio Capibaribe – uma análise do circuito da Poesia e do Carnaval Multicultural, do geógrafo doutorando pela UFRJ, David Tavares Barbosa aqui.
A arte de Flaira Ferro aqui e aqui.
A poesia de Vanessa Ferreira aqui. 
A arte de Wilmison Calado, o Wil de Igarapeba aqui & aqui.
Cantochão aqui.
Canhotinho & Costa Porto aqui & aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
 

quinta-feira, março 26, 2020

VIKTOR FRANKL, JUNG CHANG, CARLOS PATRAQUIM, MÓNICA MAYER & ANA VAZ


NÃO ESTOU FAZENDO NADA, VOCÊ TAMBÉM. QUE TAL? - UMA: FAZER O QUÊ DIANTE DA RECLUSÃO SOCIAL? - Ora, ora. Agora é só você com os seus e o espelho. Essa a forma encontrada para que a gente supere e consiga escapar da adversidade do agora. Esse o jeito mais preventivo, inteligente e barato, acho. É só encarar. Já ouviu falar sobre a solidão criativa? Ela existe sim e traz possibilidades de melhoria individual: leituras para refletir, atividades lúdicas criativas e inovadoras, enfim, muitas coisas podem ser feitas sozinho e entre os seus, sobretudo, conhecer-se melhor. Acho mesmo que é uma oportunidade ímpar para fugir do umbigocentrismo social com sua competitividade desumana e cotidiana, descobrindo-se a própria personalidade para aceitação de si mesmo, o que levará, indubitavelmente, a uma melhor condução de convívio com o outro e todos. Acredito nisso. Foi como uma vez ouvi da Erica Jong: Todos são talentosos. Difícil é ter coragem de seguir pelo caminho sombrio através do qual o talento guia. Conduza sua vida com as próprias mãos, e o que acontece? Uma coisa terrível: ninguém para culpar. Desafiador, não? Afinal, somos resultados das nossas escolhas, o que quer dizer que somos os únicos culpados pelo que passamos e vivemos. Num é não? Como não sou o dono da verdade, vamos conversar e aprender melhor juntos, então. Vambora? DUAS: BRINCANDO DE ARENGAR COMIGO MESMO – Sério? Diante do espelho: sou eu mesmo. Tudo o que fiz na vida teve uma motivação. Cada decisão tomada tiveram as razões para tal, acertada ou não, eu decidi. E levado sempre pelo certo e o melhor possíveis, mesmo não fossem esses os entendimentos resultantes entre os outros envolvidos, decidi. Mas, se pelejei, foi buscando o certo e o melhor, pelo menos, para mim, a intenção era essa. Quando errei, aceitei a pena; ao acertar, prosseguia. E fui tentando sempre juntando as ideias para que fosse pelo menos fiel a mim e a todos, como Sarah Bernhardt: desafio todas as superstições e apenas ajo como quero. Devemos odiar muito raramente, pois é muito cansativo; permaneça indiferente a muito, perdoe com frequência e nunca esqueça. Um exercício brabo este. É que nunca fui bom o suficiente para me levar a sério de todo. Tive sempre comigo aquela do Walt Whitiman: Longa é a nossa caminhada, e sempre chegamos todos de volta ao mesmo ponto. Pois é, no final, só sobra comigo mesmo. TRÊS: NO FRIGIR DOS OVOS, SOU EU – Numa quebra-de-braço comigo mesmo, muita coisa me descobri deplorável. Verdade. Teve coisas que demorei muito a me perdoar. Só com o passar dos anos, revendo acontecidos, não conseguia entender como eu fui capaz de passar por situações tão vexatórias. Passou, passei. Assumi o erro. Confessei para mim mesmo e paguei o pato, evidentemente. Quase me tornei um juiz inexorável comigo no banco dos réus. Lavei a culpa espremendo todos os panos. Aliviei um pouco o pé no acelerador, não era bem assim: ou me aceitava, ou me lascava todo. Cortei na carne e me cobri de vergonha. Foi quando li um escrito do Tennessee Williams: Ninguém consegue ver alguém verdadeiramente, senão através das falhas de seus próprios egos. É assim que todos nos vemos uns aos outros, na vida. Vaidade, medo, desejo, competição - todas essas distorções dentro de nosso próprio ego - condicionam nossa visão daqueles com quem nos relacionamos. Fui, então, além disso: estava sozinho na roda, ora, e me encontrei. Prestei contas, dei a cara à tapa e meti os peitos pra vida, como se fosse o meu poema em linha reta. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Minha avó era uma beldade. Tinha um rosto oval, faces róseas e pele acetinada. Os cabelos longos e brilhantes eram entretecidos numa grossa trança que lhe chegava à cintura. Sabia ser recatada quando a ocasião exigia, ou seja, na maior parte do tempo, mas por baixo da aparência impassível estuava de energia reprimida. Era mignon, cerca de um metro e sessenta, com um corpo esguio e ombros arredondados, considerados o ideal. Mas seu grande tesouro eram os pés enfaixados [...] Os pés de minha avó foram enfaixados quando ela completara dois anos. A mãe, que tinha ela própria os pés enfaixados, primeiro enrolou um pedaço de pano branco de uns seis metros de comprimento em torno dos pés dela, dobrando todos os dedos, com exceção do dedão, para dentro, sob as solas. Depois colocou uma grande pedra em cima para esmagar o arco. Minha avó gritava de dor e pedia-lhe que parasse. A mãe teve de amarrar-lhe um pano na boca, para amordaçá-la. Minha avó desmaiou várias vezes de dor. O processo durava vários anos. Mesmo depois de quebrados todos os ossos, os pés tinham de ser enfaixados dia e noite com pano grosso, porque assim que eram soltos tentavam recuperar-se. Durante anos minha avó viveu com dores constantes e excruciantes. Quando implorava à mãe que desamarrasse as faixas, a mãe chorava e dizia-lhe que os pés desatados arruinariam toda a sua vida, e que fazia aquilo para a futura felicidade dela. Naquele tempo, quando uma mulher se casava, a primeira coisa que a família do noivo fazia era examinar seus pés. Achava-se que os grandes, ou seja, normais, traziam vergonha à casa do marido. [...] A prática do enfaixamento fora introduzida originalmente cerca de mil anos atrás, supostamente por uma concubina do imperador. Não apenas se considerava erótica a visão de uma mulher cambaleando sobre pés minúsculos, mas os homens se excitavam com eles, sempre ocultos sob sapatos de seda bordada. As mulheres não podiam retirar as faixas nem quando já estavam adultas, pois os pés recomeçariam a crescer. A faixa só podia ser afrouxada temporariamente à noite na cama, quando elas calçavam sapatos de sola mole. Os homens raramente viam nus os pés enfaixados, em geral cobertos de carne podre e malcheirosos quando se retiravam as faixas. Lembro-me de, quando criança, ver minha avó em sofrimento constante. Quando voltávamos das compras, a primeira coisa que ela fazia era mergulhar os pés numa bacia de água quente, suspirando de alívio. Depois punha-se a cortar os pedaços de pele morta, A dor vinha não apenas dos ossos quebrados, mas também das unhas, que se enterravam nas plantas dos pés. [...]. As meninas da terra tinham de caminhar seis quilômetros na vida e na volta todo dia; as crianças japonesas iam de caminhão. As da terra ganhavam uma papa rala feita de milho mofado, com bichos mortos flutuando dentro; as japonesas recebiam refeições embaladas de carne, legumes e frutas. [...]. Trechos extraídos da obra Cisnes Selvagens, (Companhia das Letras, 2006), , da escritora chinesa Jung Chang, contando sobre as perspectivas das mulheres a história da China, desde os tempos feudais até a Revolução Cultural, por meio de seus antepassados e presente, desde a mutilação dos pés até o interdito da demonstração de emoções por parte das mulheres.

SIM, AFINAL DE CONTAS... – Ninguém tem o direito de praticar injustiça, nem mesmo aquele que sofreu injustiça. Tudo pode ser tirado de uma pessoa, exceto uma coisa: a liberdade de escolher sua atitude em qualquer circunstância da vida. Cada vez mais, as pessoas têm os meios para viver, mas não tem uma razão pela qual viver. Devemos transformar os aspectos negativos da vida em algo construtivo. O amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. Pensamento do neurologista e psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997). Veja mais aqui.

MULHERES DE ÁGUA, DE LUÍS CARLOS PATRAQUIM
[...] É que eu tenho uma história!...Não sei se posso contá-la, abrir-me assim diante deste silêncio...vergastando as vossas sombras...Um mulher não pode utilizar esse verbo...Abrir...A-brir-se!... [...].
MULHERES DE ÁGUA – O monólogo Mulheres de Água, do poeta, autor teatral e jornalista moçambicano, Luís Carlos Patraquim, trata sobre uma jovem mulher que conta sua própria história, acerca do absurdo, da política, do cômico e social, dos dias de hoje, um conflito entre a intelectual e a prostituta. Veja mais aqui.

A ARTE DE MÓNICA MAYER
A arte tem que ser o que precisamos que seja.
MÓNICA MAYER - A arte da premiada artista conceitual, ativista, curadora e crítica de arte mexicana Mónica Mayer, trabalha com fotografia, performance, gráficos digitais, desenho e teoria da arte, tendo participado de inúmeros eventos artísticos em diversos países, tornando-se a pioneira de performances e da arte feminista na América Latina. Participa do projeto De Archivos y Redes, criadora do projeto Pinto mi Raya e do grupo Polvo de Gallina Negra, publicando o Escandalario: los artistas y la distribucion del art (AVJ, 2008) e o livro infantil Juanita, las pochotas y una bolsa de preguntas (Instituto de la Mujar Oaxaqueña, 2008). Atualmente é membro do Conselho do Museo de Mujeres Artistas Mexicanas (MUMA) e do Consorcio Internacional Arte y Escuela AC. Veja mais aqui.

PERNAMBUCO ART&CULTURAS
A ARTE DE ANA VAZ
A arte da premiada pintora Ana Vaz, que possui licenciatura em Artes Plásticas pela UFPE, doutoramento em Letras pela UFPE, e estudou na École Nationale Supérièure des Beaux Arts e na Université de Paris VIII, onde concluiu a sua Licenciatura. Já realizou exposições em países como França, Portugal, Mônaco, Suíça e Espanha, afora diversas capitais e cidades brasileiras.
A música de Vitor Araújo aqui.
A terra pernambucana do professor, jornalista e escritor Mario Sette (1886-1950) aqui & aqui.
As danças populares de Maria Goretti Rocha de Oliveira aqui.
A poesia de Alberto Lins Caldas aqui.
A casa do Alto do Inglês aqui & aqui.
A raposa, o sabiá e o cancão aqui.
O município de São Caetano aqui & aqui.
&
OFICINAS ABI – 2º SEMESTRE 2020
Veja detalhes das oficinas da ABI aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
 

JUDITH BUTLER, EDA AHI, EVA GARCÍA SÁENZ, DAMA DO TEATRO & EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA

  Imagem: Acervo ArtLAM . A música contemporânea possui uma ligação intrínseca com a música do passado; muitas vezes, um passado muito dis...