quarta-feira, dezembro 26, 2018

NATSUME SOSEKI, BRUNO LATOUR, AGAMBEN, MAURICIO ARRAES, ALTO DO INGLÊS, XICO BIZERRA & FORROBOXOTE

A arte do artista plástico e cenógrafo Mauricio Arraes.

SEGUNDO POEMA DE AMOR – Imagem: do artista plástico e cenógrafo Mauricio Arraes. - O segundo poema vem como emblema do amor por ela que trago na lapela e no meu coração. É como a canção que canto pra ela todos os dias e em todo momento. É o segundo beijo renovando o desejo. O segundo sobejo de nossas carnes amadas e curtidas. Um segundo afeto de valor descoberto. É a segunda premência de nossas querências. O segundo poema de amor por ela é uma parcela fragmentada de toda expressão da pessoa amada porque eu não sei quando a noite vem, porque seus olhos eternizam o riso do sol em mim. É nela que eu vivo mesmo quando ela faz da gente um dramalhão de tv. Ou quando arenga engrossando o pirão e azedando o pavê. Ou quando embola o meio de campo empancando com tudo pra virar o meu mundo só no empate. Aí ela frisa o capricho revirando a lata do lixo a forçar disparate. Até que ela me tira do lance querendo que eu dance. Catimba na graça fazendo trapaça. E passa recibo mandando rebote. E me faz de inimigo, me dá baixa no estoque. Enfim, não me dá chance, tudo fora do alcance. E me passa calote fazendo pirraça: - Dessa não passa! E arma a desgraça e logo se intriga, piora a cantiga só de reprimenda. E não se emenda, não tem oferenda e revolve o passado, remove montanhas, me larga de lado sem lençol, nem fronha. E eu fico jogado, morto de vergonha. Aí ela me dá a vida dela e exige que eu dê jeito. E me joga despeito na lata sua rispidez insensata. O balde ela chuta: - que filho da puta! E se desengraça quando tudo extravasa na beira do fim. Acabou-se o quindim, acabou-se a doçura. Vira uma pedra ruim na minha ternura. Então já despejado, vou abatumado, coração consternado pra longe dali. Quando menos espero, ela vem me resgata daquela cena trágica. E meu ser arrebata em suas mãos mágicas. E me aquece com seu calor me fazendo a vassoura pro seu vôo. E me aperta tão bem a me fazer de refém de sua bruxaria. Maior ventania. E me abraça com o paraíso na boca quando eu percebo que de amor ela está louca. E eu só sei que a vida passa quando ela cheia de graça vem se despedir eterna nos meus pensamentos como se daquele momento amanhã eu morresse. E dali procedesse nessa urgência no vôo pelo amor que celebra toda ventura da vida, pelo amor que me traz a razão de viver. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

A arte do artista plástico e cenógrafo Mauricio Arraes.

DITOS & DESDITOS - Só há caminhos contínuos para nos transportar do local ao global, do circunstancial ao universal, do contingente ao necessário se pagarmos o preço das baldeações. Pensamento do filósofo, antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour.

ELOGIO DA PROFANAÇÃO – [...] Sagradas ou religiosas eram as coisas que de algum modo pertenciam aos deuses. Como tais, elas eram subtraídas ao livre uso e ao comércio dos homens, não podiam ser vendidas nem dadas como fiança, nem cedidas em usufruto ou gravadas de servidão. [...] Sacrílego era todo ato que violasse ou transgredisse essa sua especial indisponibilidade, que as reservava exclusivamente aos deuses celestes (nesse caso eram denominadas propriamente “sagradas”) ou infernais (nesse caso eram simplesmente chamadas “religiosas”). [...]. Trechos extraídos da obra Profanações (Boitempo, 2007), do filósofo italiano Giorgio Agamben. Veja mais aqui.

OS HUMANOS & O GATO – [...] Quanto mais observo os humanos com os quais convivo sob o mesmo teto, tanto mais me vejo obrigado a concluir que se tratam de seres egoístas. As crianças com as quais às vezes compartilho a mesma cama são particularmente abomináveis. Quando lhes dá na telha, me viram de ponta-cabeça, cobrem minha cabeça com um saco, me atiram para todos os lados, me enfiam dentro do forno. Como se isso não fosse suficiente, basta eu revidar, mesmo de forma leve, e toda a família corre atrás de mim para me molestar. Recentemente, quando eu afiava com delicadeza as garras no tatame, a mulher de meu amo se enfureceu de forma assustadora. A partir desse dia, ela quase nunca permite meu acesso à sala de estar. Pouco se importam se morro de frio entre as tábuas da cozinha. Shiro, a gata branca que mora na casa do outro lado da rua e por quem sinto profundo respeito, comenta sempre que não há neste mundo criatura mais impiedosa do que o ser humano. Pouco tempo atrás, Shiro deu à luz quatro gatinhos, verdadeiros pompons. Porém, mal se passaram três dias, o estudante da casa afogou os filhotes no lago atrás da propriedade. Shiro me contou o fato entre lágrimas, afirmando que, para os de nossa espécie poderem expressar seu amor filial e mante rem uma vida familiar decente, urge lutar contra os humanos até levá-los à completa extinção. Julgo ser uma argumentação válida. Mike, da casa vizinha, diz, imbuído de enorme indignação, que os humanos não entendem o significado de direito de propriedade. Em nossa espé-cie, aquele que encontra primeiro uma cabeça de sardinha ou tripas de sargo tem o direito de comê-las. É permitido o uso de força bruta contra os que infringem essa lei. Contudo, aparentemente inexiste entre os humanos essa noção, e as iguarias que encontramos acabam todas por eles confiscadas. Eles usam sua força para usurpar de nós o que teríamos o direito de comer. Shiro vive na casa de um militar, e o amo de Mike é advogado. Eu simplesmente vivo na residência de um professor, e com relação a isso posso me considerar mais felizardo que meus amigos. Minha vida cotidiana é de total tranqUilidade. Os humanos, por mais humanos que sejam, não prosperarão para sempre. Esperemos pois pacientemente o advento da era dos felinos. Esse pensamento egoísta me lembra um fracasso devido à presunção de meu amo, que gostaria de compartilhar com os leitores. [...]. Trecho extraído da obra Eu sou um gato (Estação Liberdade, 2008), do escritor e filósofo japonês Natsume Soseki (1867-1916).


FORROBOXOTESorver um trago de Poesia, sabor Quintana e esbarrar no infinito da chama dos amores eternos que alegram a alma de Vinícius. É o suficiente para, num passo seguinte, reencontrar as rãs com que sonhava Manoel de Barros. As canções de um certo Buarque, que se guarda como Chico, se insinuam nessa atmosfera de Poesia, entre um canto e outro do passarinho Bandeira, misturando o encanto de suas palavras com as dos distantes Neruda e Dante ou as dos tão próximos Louros, Pintos, Aderaldos e Patativas de nossos sertões. Presentes, todas as manhãs tecidas por João Cabral, os Fernandos e tantas outras Pessoas que sabem o que é o amor e os pinta com os azuis que Carlos Pena Filho coloria seus sonhos e sapatos. E aí não dá para ficar indiferente ao encontro iminente da lua apressada com um sol meio preguiçoso, deixando a todos nós, sob o clarão das estrelas, balançando no improviso de uma cantiga, cochilando na rima de um verso, dormindo nas estrofes de um poema para, feliz, acordarmos de repente num soneto de amor. Esse disco fala disso tudo. De Gullar e de Cecília, também de Cora e Clarice. E dos Poetas da música, como Belchior e Gonzaguinha. E, principalmente, de Dominguinhos, Poeta da Sanfona e Dom Helder Câmara, que nunca precisou escrever um Poema para ser o enorme Poeta que é. Aos dois, Domingos e Helder, dedico este disco. A poesia do poeta Xico Bizerra no Chama infinita – Forroboxote 12 (2017), autor dos livros Bicho, chuva e flor (Bagaço, infantis), Breviário lírico de um amor maior que imenso (Bagaço, crônicas), Pequininas histórias para gente pequenina (CEPE). A sua poesia é interpretada por personalidades musicais, tais como Marinês, Dominguinhos, Amelinha, Elba Ramalho, Xangai, Trio Nordestino, Maria Dapaz, Quinteto Violado, Silvério Pessoa, Cida Moreira, Geraldo Maia, Alaíde Costa, Frank Aguiar, Nena Queiroga, Maciel Melo, Flávio José, Santanna, Irah Caldeira, Cristina Amaral, Nádia Maia, Sevy Nascimento, Petrúcio Amorim, Jorge de Altinho, Adelmário Coelho, Arlindo dos 8 Baixos, Chiquinha Gonzaga, André Rio e Dalva Torres, dentre muitos outros. Veja mais aqui.

 A arte do artista plástico e cenógrafo Mauricio Arraes.

VAMOS SALVAR O CHALÉ DO ALTO DO INGLÊS - O centenário Chalé ou Casarão do Alto do Inglês foi construído nos anos da década de 1870, em Palmares-PE, por conta da criação da Great Western of Brazil Railway Company Limited, em 1872, responsável pelo transporte ferroviário no Nordeste, notadamente em Pernambuco. Muito embora, por força do Decreto Imperial 1030, de 07 de agosto de 1852, 20 anos antes, já estivesse determinada a concessão aos engenheiros ingleses Edward e Alfred de Mornay, o direito à abertura de um caminho de ferro entre Recife e Água Preta e sua exploração por 90 anos, o que deu origem à Recife and São Francisco Railway Co. Ltda. Tanto é que já em 1862, fora inaugurada a estação de Una (hoje Palmares), compreendendo o trecho da ferrovia da qual os ingleses detinham a concessão, até o encontro dos rios Una e Pirangi. Por consequência, a construção desse empreendimento passou a ser residência dos engenheiros ingleses que se encontravam trabalhando desde 1859, em Palmares, sendo, posteriormente, a residência do fidalgo inglês Edmund Cox, que era engenheiro da Great Western Railway, inclusive membro honorário do Clube Literário de Palmares. Nos anos de 1980, por conta da política rodoviária dos governos ditatoriais do período 1964-1985, a casa já amargava o descaso que se arrastava por décadas, encontrando-se abandonada e em estado de deterioração. Por conta disso, na gestão municipal do prefeito Luís Portela de Carvalho, o chalé foi incluído juntamente com o Teatro Cinema Apolo, como patrimônio da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, por ocasião de sua constituição estatutária, devidamente registrada em cartório competente. A partir de então, o projeto era a restauração do patrimônio. Décadas se passaram e do casarão restaram apenas ruínas, fato que, por meio do ofício 165/2011, de 07/12/2011, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), realizou e encaminhou parecer técnico, confirmando a denúncia de demolição do imóvel do Alto do Inglês, invocando a Lei Municipal 1556/2002, referente ao tombamento do patrimônio histórico, e a Lei 1757/2007 que criou o Conselho Municipal de Cultura. A Fundarpe também encaminhou cópia do parecer técnico para a Associação Municipal de Entidades (AME-Palmares) e para o Ministério Público, solicitando providências para o caso. O prefeito dos Palmares foi notificado por meio do Oficio 166/2011, destacando tratar-se de imóvel de interesse cultural e histórico do Estado de Pernambuco, devendo ser dada a devida atenção para concessão e manutenção do mesmo, inclusive pedindo urgência para ações que demandavam à sua preservação. Até o presente momento nenhuma providência foi tomada, no sentido de restaurar esse patrimônio pernambucano que se encontra abandonado e desmoronando. 

REUNIÃO PÚBLICA - 27/02/2019 - As entidades promotoras da campanha  Associação Ação Solidária dos Palmares, Associação dos Artesãos Palmarenses, Escola de Filosofia, Ciência e Política dos Palmares e Instituto Arqueológico, Histórico, Geográfico e Cultural dos Palmares, realizaram reunião na Associação Comercial dos Pakmares (ACP), dias 27 de fevereiro, contando com a presença do arquiteto Juan de Paul, do poeta, professor e acadêmico João de Castro, do presidente da Fundação, Edson Silva, dos escritores da APLE, Socorro Durán & Juarez Carlos, representante do Grucalp, professores e sociedade em geral, ocasião em que foi debatida a questão do estado em que se encontra a edificação, levantando-se o problema, inicialmente os entraves de dívidas tributárias da Fundação de Hermilo que é a proprietária do imóvel, o processo de tombamento estadual, as sugestões de participação da UFPE, IPHAN, Fundarpe e CREA-PE no caso, entre outros debates e discussões. As instituições promotoras do evento ficaram de marcar uma nova data para andamento das atividades. Interessados nas melhorias e restauração necessárias do patrimônio, contatar (81) 9-9795-8721 – Carlos Calheiros (81) 9-9711-9676 - Cícera Silvestre. Veja mais aqui, aqui & aqui.

Arte da poeta & artista visual Luciah Lopez (Curitiba-PR).



KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

  Poemagem – Acervo ArtLAM . Veja mais abaixo & aqui . Ao som de Sonho de magia (1930), do compositor João Pernambuco (1883-1947), ...