quinta-feira, fevereiro 18, 2016

TONI MORRISON & A FILOSOFIA DE SCHELLING



TONI MORRISON – No livro Amada (Companhia das Letras, 2007), da escritora estadunidense e ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 1993, Toni Morrison, conta a história de uma ex-escrava que foge duma fazenda para refugiar-se numa cidade, na qual ela se vê envolvida com o fantasma de uma filha morta dezoito anos atrás. Da obra destaco o trecho: [...] Dez minutos para cinco letras. Com mais dez ela podia ter conseguido “Bem” também? Não tinha pensado em perguntar a ele e ainda a incomodava aquilo ter sido possível — que em troca de vinte minutos, meia hora digamos, ela podia ter conseguido a coisa toda, todas as palavras que tinha ouvido o pregador dizer no enterro (e tudo o que havia para dizer, com certeza) entalhado na lápide: Bem-Amada. Mas o que ela havia conseguido, que escolhera, era a única palavra que importava. Ela achou que podia bastar, copular entre as lápides com o entalhador, o filho dele, menino, olhando, tão velho o ódio em seu rosto; bem novo o apetite nesse rosto. Aquilo com certeza devia bastar. Bastar para responder a mais um pregador, a mais um abolicionista e a uma cidade cheia de aversão. Contando com a quietude de sua própria alma, ela esquecera a outra: a alma de sua filha bebê. Quem haveria de dizer que um velho bebezinho pudesse abrigar tanta raiva? Copular entre as lápides sob os olhos do filho do entalhador não bastou. Não só ela teve de viver seus anos numa casa paralisada pela fúria do bebê por lhe terem cortado a garganta, como aqueles dez minutos que passou esmagada contra a pedra cor de amanhecer salpicada de lascas de estrelas, os joelhos tão abertos como o túmulo, foram os mais longos de sua vida, mais vivos e mais pulsantes que o sangue do bebê que encharcaram seus dedos como óleo. [...]. Veja mais aqui.


A FILOSOFIA DE SCHELLING – O volume Obras escolhidas, do filósofo do Idealismo alemão, Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775-1854), reúne na primeira, as dez cartas filosóficas sobre o dogmatismo e o criticismo em que se opõe à chamada moral da existência de Deus e mostrando que para o criticismo que se contrapõe ao dogmatismo a destinação do homem é o esforço pela autonomia inalterável pela liberdade incondicionada, o programa sistemático que marca o surgimento do idealismo alemão e do movimento romântico, a exposição da ideia universal da filosofia em geral e da filosofia da natureza como parte integrante da primeira, a Divina Comédia e a Filosofia na qual o autor mostra como a obra de Dante é o modelo exemplar da poesia moderna, Bruno ou do principio divino e natural das coisas no qual o autor desenvolve um diálogo que caminha para a discussão das noções de unidade, absoluto, infinito ideal e real, e, por fim, a História da Filosofia Moderna em que o autor aborda sobra Hegel interpretando a relação existente entre a lógica hegeliana e o Absoluto. O filósofo em estudo partiu de sua adesão aos escritos do sistema fichtiano, libertando-se em seguida do seu mestre por constatar insuficiente a tese de que a natureza é apenas uma resistência oposta à atividade infinita do eu e produzida por essa atividade. Schelling passa a defender a ideia de que a natureza é tão real e tão importante quanto o eu, afirmando ser tanto a natureza como a objetividade, aquilo que fornece à consciência material para reproduzir. Para ele, a essência do eu é espírito, a da natureza é matéria e a da matéria é força. Com isso ele apresenta uma espécie de naturalismo organicista procurando resolver os problemas colocados pelas ciências físicas, acreditando que o objetivo fundamental das ciências fosse a interpretação da natureza como um todo unificado. A partir da valorização da natureza, ele transita coerentemente através da ideia de desenvolvimento dialético, chegando a uma concepção mais ampla que denominou de Sistema de Idealismo Transcendental, expondo o desdobramento da consciência absoluta em suas relações com a dialética da filosofia da natureza e apresentando as ideias sobre o desenvolvimento da consciência no curso da história. A estética elaborada nesse sistema sustenta que, na obr de arte, a inteligência se torna totalmente autoconsciência, enquanto que na filosofia a inteligência é abstrata e limitada em suas tentativas de exprimir uma potencialidade infinita. Na obra de arte a inteligência realiza toda a sua potencialidade, porque está livre da abstração. Dessa forma, a arte seria o objetivo último para o qual tende toda a inteligência. A arte seria a verdadeira filosofia, na medida em que, nela se reconciliam a natureza e a história. Veja mais aqui.

REFERÊNCIA
SCHELLING, Friedrich; Obras escolhidas. São Paulo: Abril Cultural, 1979.


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