A REPÓRTER GRACINAURA (Imagem: Silêncio, do artista plástico Pedro
Moreira)– Graciosa, destemida e justiceira, Gracinaura nasceu contemplada
com a mais caprichosa engenhosidade de Deus: linda, bem feita e inteligente.
Ela rivalizava com todas as maravilhas do planeta, chamando atenção para si de
todos os olhares. Não bastasse ter um par de pernas bem torneados e um corpo
para lá de exuberante, possuía uma belíssima voz, logo capturada para ser
locutora na emissora local. Não era o que queria, na verdade, porém aceitou na
condição de apresentar um programa jornalístico de meio dia, apresentando
problemas da população e crônica policial. Estava concluindo o segundo grau e
sonhava entrar pra faculdade de jornalismo. E agora empregada na emissora,
poderia bancar seus estudos na capital, vez que na sua localidade não possuía o
desejado, apenas cursos noutras áreas fora do seu interesse. Assim dedicou-se a
apresentar o programa, amealhando fazer seu pé de meia. Não faltou quem
patrocinasse o programa e logo ela fora chamada para fazer inserções comerciais
e apresentações de eventos. Folgava, radiante e promissora. Denunciava no
programa os descasos da cidade, como problemas de saneamento básico,
reclamações comunitárias, até dar de cara com duas broncas sérias: a
malversação do erário público com práticas de nepotismo do prefeito, e roubo de
cargas, direcionada aos empresários da região com seus armazéns de atacado. Inexorável
nas suas denúncias, não arredava o pé de seus propósitos e senso de justiça,
arranjando com isso uma legião de desafetos. Não poupava o microfone para todos
os envolvidos que, na horagá, encarados de frente nas entrevistas, recebiam-na
apenas para ver-lhe a formosura e, com respostas evasivas, tentavam dissuadi-la
dos seus intentos e granjear-lhe a simpatia. Trabalho perdido, vez que ela
mantinha-se firme nas suas intenções e, consequentemente, prestígio popular.
Tornando-se uma espinha na garganta dos seus algozes, logo viu-se em apuros,
sem, no entanto, ceder um mínimo de milímetro nas suas denúncias. Uma rede de
envolvidos logo entrou em conluio e às escondidas, proporcionando que, numa
certa madrugada, quase amanhecendo, seu corpo fosse encontrado: estuprada,
seminua, cravejada de balas e irreconhecível. E aquelas belas pernas ficaram vivas
para sempre na memória de todos que presenciaram aquela horrível cena. Virou manchete
de jornais no Brasil afora, foto de capa destacando as pernas que escondiam a
brutalidade. A população protestou por dias seguidos. Pouco mais de um mês, contudo,
o inquérito policial fora arquivado por insuficiência de provas, nem
identificação de autoria. Mais um crime impune nas páginas policiais do Brasil
(Luiz Alberto Machado).
Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Alvorada
na Folia Tataritaritatá, Pablo
Neruda, João Ubaldo Ribeiro, Egberto Gismonti, Capiba, Ricardo
Palma, Tsai Ming-liang, Cristiane Campos, Fernanda
Torres, Chen Shiang-Chyi, Revista Germina, Digerson
Araújo, Asta Vonzodas & O cérebro autista aqui.
E mais:
Georg
Trakl, Paul Auster, Sarah Kane, Gertrude Stein, Felix Mendelssohn, Woody Allen,
Gil Elvgren, Marion Cotillard & Big Shit Bôbras aqui.
Ginofagia
& as travessuras do desejo na manhã aqui.
Rio São
Francisco: Velho Chico, Turíbio Santos,
Cláudio Manuel da Costa, Lampião de Isabel Lustosa, Ítala Nandi, Hugo Carvana, Paulette Goddard, Natalia
Goncharova, Música & Saúde aqui.
Simone Weil, Simone de
Beauvoir, Emma Goldman, Clara Lemlich, Clara
Zetkin & Tereza Costa Rego aqui.
O homem
ao quadrado de Leon Eliachar aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA;
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.