domingo, fevereiro 07, 2016

AIJUNA, O MURAL DOS DESEJOS FLORESCIDOS



 Imagem: arte de Ísis Nefelibata

AIJUNA, O MURAL DOS DESEJOS FLORESCIDOS

"A rosa: tua nudez feita graça. A fonte: Tua nudez feita água. A estrela: Tua nudez feita alma". (Juan Ramón Jiménez)

Luiz Alberto Machado

Aquela morena escorreita causava arrepios nos marmanjos quando passava sorrateira pela calçada do ambulatório rumo ao seu trabalho. Era nessa hora que ela exibia uma fatuidade rebolativa graciosamente exuberante, num shortinho que lhe delineava as dimensões apetitosas, numa camiseta sensualíssima pregada no corpo, denunciando-lhe os contornos que apeteciam a gregos e troianos, ou quem fosse privilegiado de tal desfile. Que cardan provocando sórdidas apostas entre os intrépidos paqueradores, amostrados conquistadores, exultando aquele, entre eles, pretenso que seria escolhido a ter, entre as suas posses, aquela magnífica figura inupta e cobiçada. Nego pintava o sete, dava cambalhota, cavalo-de-pau, rabissaca, plantava bananeira, se exaltava, deitava galanteios, tudo que pudesse chamar-lhe atenção.

Era ela disputada nos palitinhos, nas cartas, nos dominós, nos baralhos, na porrinha, quem vencesse, cortejaria exclusivamente aquela beldade, sem adversário nem obstáculo. Restava saber se ela que se mostrara sempre receptiva acolheria o tal ganhador. Pelo que demonstrava, ela não estava nem aí. Impune, nem, nem.

Eu mesmo que não me intrometeria em cima de tanta areia para minha pequena carroceria, sabia. Mesmo podendo dar várias viagens para cumprir aquela grandiosa missão, assim mesmo, ficava na minha, tímido, cônscio de que não seria nunca, jamais para o meu bico.

Os outros, não, mais audaciosos, adorariam ter aquele patrimônio corporal entre os seus quereres e posses.

Ah! Ela que falava manhosamente com uma acuidade no olhar de ler-me a alma, de desnudar-me por inteiro, causando-me furor nas entranhas, prospectando-me aos seus aposentos nas zonas remotas do prazer extremo, um recurso utilizado pela sua caça, provendo-se do seu faro amestrado ao preparo da vítima para a emboscada dos seus caprichos sexuais, mais parecendo ter total conhecimento da cinegética de Xenofante.

Era, de caça ela entendia, vi-lhe muitas vezes apalpando um livro, um volume contendo uma grande variedade com tipos de caças, alçapões, armadilhas, tocaias, giraus, arapucas. Numa das páginas uma foto de uma gazela, outras, um safari; uma imagem de Santo Humberto; de um perdigueiro vigilante como um cão de corso que persegue corredores. Vi-lhe quando escapuliu de uma de suas mãos no chão e eu, gentil cavalheiro, devolvi-lhe daquele descuido.

- Brigada!

Agradeceu-me, como uma verdadeira onça domesticada e ferina, carniceira, maligna, acuada, mexendo com as minhas emoções, minha lucidez. Uma docilidade de potranca zen, uma finura de pele, um risinho sensual no canto dos lábios.

Ainda embasbacado flagrei sua mira na minha azagaia. Um olhar hipnótico, imantado. Viu-me modesto caçador e com isso, todo intrometido e sem esperar, minha chuça deu sinal de vida, remexeu-se por dentro do calção, pejado, saliência ficando à mostra. Ela notou, que luxúria, concupiscência. Foi-se, assim sem menos. Bombardeou meus pensamentos acendendo a minha libido a ponto de, numa tarde, dias depois daquele envolvente encontro, procurar-lhe a presença onde quer que seja, perseguindo seus dotes, enlouquecido, até, depois de muitas andanças sedentas e invadir o salão a solicitar de seus serviços.

Ao chegar naquele ambiente do seu labor, fui recepcionado com o seu riso lindo. Mandou-me sentar aguardando na fila de espera. Lá havia muitos: mulheres, meninos e eu, todos usando do corte de cabelos, manicura ou pedicura, uma podóloga que ainda ministrava cursos intensivos de estética cosmológica nos dias sem movimento.

Era ela detentora de um conhecimento profundo, realizando tratamentos especiais em tuins, unheiras, extração de calos, das encravadas ao solado rachado, além de prescrever cremes específicos e técnicas da reflexologia podal.

Era bom demais estar ali, vê-la embelezando os outros, dando forma nas cabeleiras, escarnando unhas para torná-las vistosas, modelando rostos em maquiagens finas, tudo muito bem feito como ela mesma era, de muito bom gosto.

Para evitar o olhar à sua presença, cada vez que ela via-me a conferir-lhe as formas, tirava a vista rapidamente percebendo na parede uma reprodução de Jane Avril Dansant de Toulouse-Lautrec. Ao lado uma foto reproduzindo a praia de Boa Viagem, do Recife, numa frevança solta. Outra de um boto branco da Amazônia. Mais abaixo uma televisão e um vídeo desligados, num rack que exibia um aparelho de som, de onde se ouvia canções de Marina, de Adriana Calcanhoto, de Fátima Guedes, de Gal Costa, de Joyce, de Elis, de Maysa, de Maria Bethania, com as caixinhas dos organizadas e enfileirados.

Vez por outra suspendia o trabalho para dirigir-se a uma bombonierezinha vitral de onde recolhia um bombom de chocolate.

Ah! Aquela pele de caju, da cor do pendúculo sumarento do fruto de cajueiro. Eu ficava excitado com a sua presença.

Havia oito ou dez pessoas na minha frente, esqueci de contar. O que mais me importava era a sua figura altaneira.

Sabia que ela se estabelecera há anos ali, já lhe vira várias e muitas vezes no cooper manhãzinha cedo pelas ruas. Eu morava nas imediações. Imaginava sua solidão, ninguém a dividir sua vida. Trabalhadeira, o dia inteiro no salão.

Não lembro de tê-la visto assídua a efemérides, exceto uma vez encontrei sua exuberante figura num baile no centro social, numa dessas festas dos anos setenta. Ou mesmo no carnaval, quando solta, marcava o passo certo no calçamento, com uma blusinha de seda fina e de alça, mostrando-se os peitinhos miudinhos soltos na frevança, uma saínha curtinha rodada de ver-se a calcinha estufando seus guardados e uma sombrinha miúda em verde, vermelho, azul e amarelo, numa das mãos, a gestos largos, mexendo dum lado pro outro em plena folia.

Era só tocar Vassourinhas, a famosa levanta-defunto, hino inconteste do carnaval, ou mesmo a Evocação do Nélson, ou sucessos do Capiba, ou qualquer outro frevo de rua, de vê-se a menina a volteios, pulos, capoeiras, a dar tesourões, serrotes, rojões, ponta de pé e calcanhar, folha seca, faz-que-vai-mas-não-vai, carrossel, tapiando a emoção da gente naqueles passos exímios da liberdade.

Ela se perdia nos três dias anteriores ao início da quaresma, emendando quinta e sexta do pré-carnaval, indo direto pela terça-feira gorda, atravessando a quarta-feira de cinzas, atirando contra os outros água e pós, maizena, esguichando líquidos de uma bexiga improvisada, confetes, serpentinas e lança-perfume.

No bloco do bairro todo ano ela saía de porta-bandeira, seminua, com uma coreografia de endoidar cristão, num bailado de reavivar esquife, pulando o sincopado e frenético som do frevo, passista da minha atenção que jurava, um dia, abatê-la, ela e sua máscara púnica usada para enganar os bestas.

Um dia saía desfilando na Nação do Maracatu de Baque Virado das Caqueiras, venerando calunga, cantando loas para seus eguns no meio do batuque de gonguês, taróis, caixa e zabumbas.

Ou, então, quando era dia dos Caboclinhos do Rabeca ao som dos pífanos, surdos, maracás, reco-recos e ganzás, ela vinha toda enfeitada com um saiote, cocar na cabeça e ataca nos punhos e tornozelos, todos de pena de pavão, um colar de dente de animal no pescoço e uma cabaça presa na cintura, um bustiê ornado com lantejoulas, o rosto pintado todo de vermelho e com purpurinas, a exibir sua preaca de guerreira curumim como toré ataque de guerra de toda pajelança.

Afora o carnaval e aquele baile, vivia recôndita, guardada em seus mistérios.

Outra que eu já tinha ciência a seu respeito era a litispendência mantida por pendenga com o ex-marido na justiça. Soubera que fora uma separação dolorosa e que vivia dos alimentos judiciais.

Os clientes presentes, um a um e todos eram atendidos pela sua competência de cabeleireira notória, já noitinha, - a noite bole com a alma - eu lá, embevecido testemunhando sua habilidade.

Aijuna! Que nome! Desde o baile que este nome preenchia totalmente a minha cabeça. O nome e aquele rostinho de Maria Callas quase balzaqueana. Era mais velha que eu, uns seis ou oito anos. Mas eu não podia me adiantar pras bandas dela porque eu ainda era adolescente, perto dos meus dezesseis anos.

Primeiro que eu não dispunha de recursos suficientes para emplacá-la, apenas uns trocados furtados do cinzeiro do automóvel do meu pai, que eu juntava na ânsia de poder pagá-la, querência impotente de um púbere que ansiava virar adulto logo, com responsabilidade, dinheiro, vitalidade, carro e muita simpatia para cima das mulheres.

- Querem beber alguma coisa? Tem ali cerveja no freezer; vermute, gin, uísque, rum, tudo ali naquele barzinho embaixo do rack da tv. Tem gelo no congelador, é só pegar quem quiser. Fiquem à vontade.

Aproveitei da ocasião, eu que já me inveterava na bebida desde que o Brasil ganhara pelo placar apertado de um a zero para a Inglaterra, na copa do mundo de setenta, fui até o barzinho, passei a vista, escolhi um uísque qualquer, apanhei o copo, coloquei uma dose dupla e tasquei caubói goela adentro. Queimou minhas entranhas.

Recolhi-me no assento e folheei algumas revistas do momento, meio que desencontrado.

Ela, vez por outra, me investigava as intenções. Eu sabia. Era trabalhando e, de vez em quando, seu olhar repousava no meu. Ficava eletrocutado, fugindo daquele flagra. Parece que ela simpatizara comigo, uma aventura intuitiva que dera, ao que parece, certo. Risonha, fazia tudo para me agradar. Aliás, agradava a todos, simpaticíssima, cordial. Não havia nenhum mimo exclusivo para mim, mas que eu achava, achava. Podia estar enganado, entretanto eu seguia aquela pontinha longínqua de cumplicidade. Eu já possuía quase a certeza de que lhe caíra nas graças, dando-me um alvoroço de sortudo, razão pela qual não arredara dali antes.

A noite seguia, restavam, ainda, duas ou três pessoas, eu lá, já quase nove horas da noite, insistente. Ela ofereceu coxinhas, pastéis, bombons. Mastiguei uns já que a fome me atormentava, tapiando a barriga. Eu queria mesmo era estar ali com ela, mais nada.

Tomei outra dose do uísque, as orelhas esquentaram, o juízo produziu milhões de ideias sem nexo na cabeça, estava perdido, desencontrado e com medo que adivinhassem minha insegurança.

Dez e tanta da noite o penúltimo cliente já estava sendo atendido, eu esperava, irredutível.

- Não quer vir amanhã? -, perguntou-me.

- Não, tudo bem, eu espero, preciso cortar o cabelo, já estão pegando no meu pé em casa. -, respondi atônito.

- Tudo bem, já, já eu termino e lhe atendo, tá? Tome um uísquezinho, tem coxinha, pastéis, são tudo de hoje e ainda estão bons.

- Ok!

Tomei mais uma talagada boa, tonteei, ingeri um pastel de queijo e voltei a aboletar-me na poltrona de espera.

Alguns livros estavam acomodados numa pequena estante e fui até lá vê-los de perto: Clarice Lispector, Nélida Piñon, Vinícius de Morais, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Ascenso Ferreira, Hermilo Borba Filho, Luiz Berto, outros poetas, alguns que nunca vira o nome; uma coleção de educação sexual, outra de Érico Veríssimo igualzinha a que meu pai possuía na sua biblioteca particular.

Eu já andava achegado a livros, havia lido alguns deles nas noites compridas da minha solidão. Lia mais por curiosidade porque achava estranho meu pai debruçado sobre eles. Desde que aprendera a ler que eu estreitara o convívio com os livros, principalmente os mais picantes que meu pai escondia por trás das fileiras ou as coleções de artes plásticas que continham reproduções de mulheres nuas. Já tinha lido até Marquês de Sade, Casanova, o Kama Sutra, a lenda de Don Juan de Marco, quanto mais a coleção de Jorge Amado que meu pai detestava.

Nisso ela me chamara, exausta. Quase onze horas da noite, não havia mais um pé de gente na rua.

Ela largou as sandálias sobre o tapete e descalça veio à minha direção.

- Como é que você quer?

- Só arrumar o cabelo, não tenho preferência.

- Tudo bem.

Saiu na pontinha do pé pelo assoalho. Ingeriu um copo d'água, depois um gole do uísque no copo que eu bebera, bufou, buscou forças e veio até mim, alisando meus cabelos, lavando-os depois, passando shampoo, remexendo minha juba.

A cada toque seu eu levava um choque ativando meus nervos, dinamizando minhas células, esquentando-me a alma. O meu membro acordou-se com a supercondutividade que aquele contato de prazer me assistia. Ela parou, olhou-me intrigada, sabia que o termômetro denunciaria que eu estava febril além dos quarenta e dois graus centígrados, pegando fogo.

- Você está se sentido bem? -, inquiriu-me.

- Bem demais. -, respondi-lhe com voz trêmula.

- Estou achando você muito tenso!

- E você acha que é pra menos?

- Por que?

Enrubesci mais. O que dizer agora? Ela deu-me um xeque mate. A febre era a volúpia louca. Eu escondia-lhe o meu ventre com as duas mãos, se descoberto veria que já estava babando. Fiquei calado, olhos baixos, sério. Ela tocou-me o braço, não sei como não foi carbonizada com a minha alta voltagem. Levantei a vista e ela, cabeça pendendo para o lado, interrogativa, paralisada, fitava-me atenta para descobrir-me intenções. Assustei-me, baixei a vista, o sangue parecia que ia estourar todas as veias de tão fervente. A testa suada, as mãos trêmulas.

- Você está se sentindo bem?

- Estou.

- Não é o que parece!

- Você está muito exausta?

- Estou cansadíssima.

- Quer que eu deixe para amanhã?

- Você que sabe!

- Eu vou-me embora!

- Não, fique, eu termino logo. É melhor, nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje.

Ainda bem que ela pediu-me para ficar, eu não poderia me levantar naquele estado.

Foi aí, meu Deus, que ela jogou a cabeça para trás, respirou fundo e, novamente, colocou sua mão sobre o meu braço, fitando-me implacavelmente. A frigideira do meu corpo estalou de fervura. Uma corrente elétrica aos saltos quânticos dos eletróns, numa radiação além da frequência possível, percorreu todas as minhas proporções, ativando meus nervos à exaustão. Estava a ponto de uma combustão.

Ela notou que eu segurava à força meu pênis. Foi aí que se afastou até a porta, examinando lá fora a noite, encostando o postigo e, se dirigindo ao interruptor, apagou a luz. Tremi mais.

Percebi a sua presença pela respiração perto da minha nuca, quase encostando o nariz. Era um estratagema. Que fazer, meu Deus? Girou a minha volta, perscrutou todos os meus sentidos, diligenciou-me louco cheio de fantasmas luxuriosos acercando-se da minha presença, mil loucuras na cabeça e um rol de giros imperceptíveis de coisas invisíveis a me atormentar naquele instante frenético.

Sabia eu lá de nada, não conseguia pensar, sequer. Ela escorregou sua mão sedosa pelo meu braço até as mãos. Aquele toque mágico de inebriar estadia imutável. Apertou meus dedos e a mão dela nas minhas, com a pontinha de um de seus dedos friccionando o rego entre os meus dedos, a minha glande rija no contato, tremulando de emoção. Percebeu naquele movimento a rigidez oriunda do meu excessivo dilatar e depois colocou o polegar entre a palma da minha mão e meu bastão ululante.

Respirei fundo enquanto ela encostava seus lábios nos meus, rente aos meus, captando o eflúvio de sua pele, aquela pele de terra fértil.

Era a empáfia de uma naja lúbrica se transformando em minha frente, descrevendo órbitas manuais de um cometa inatingível em meu sexo, carinho excêntrico na minha puberdade. Era a minha condecoração.

Beijei-lhe timidamente. Era o vácuo, o precipício, o caos. Eu usurpava o tempo, rompia convenções, liberto no meio do abstrato dédalo sideral.

Encorajado pelo fervor fui buscar na sua abóbada palatina as estrelas do querer ardente, chantageando meus sentidos cauterizados pelo fogo abrasador do seu aflogístico.

No afã da captura ela deu sua investida pelo impulso, agora com as duas mãos segurando minha lança, a ponto de estrangulá-la. Eu desfalecia de volúpia. Lambeu devagar os meus lábios, percorreu meu pescoço, roçou-me o tronco torácico, o umbigo e com a ponta de sua língua assassina, rolou um bailado de cores inominadas na minha glande. Eu arfava. Ela, magistralmente sugava, lambia, abocanhava, estourando-me o frenesi.

Devagarzinho e sob o efeito cáustico, ela foi lambendo minha virilha, minhas coxas, meu ventre, meu tórax, minha jugular até encontrar meus lábios sedentos.

Puxou-me lentamente da cadeira e levou-me até a alcatifa onde rolamos pelo apogeu desordenado de vales, abismos, ribanceiras, alfombra, baixelas, vazantes, redemoinhos pélvicos, a pirotecnia dos desejos estouvados, tostando os seres em dia em que os diabos se soltam, conduzindo o gozo, o êxtase.

Deliberadamente apalpei seu flancos dissolutos, arranquei-lhe as vestes, alcancei seu tesouro, me apoderei de sua presa, sua peçonha e investi diligente e insano sua gruta adentro, numa investida bruta.

Senti suas profundezas, suas latitudes, variações altimétricas, a sua fossa Mariana, a curva hipsográfica do seu corpo e a sua corrente de convecção no nosso abalo sísmico do prazer. E ela uivando esganiçada, possuída, exalando seu cheiro doce de incenso, ah! Flor de açafrão, que se contorcia mágica, flor do meu prazer, esporrando violentamente. Sôfrega, buscou todo oxigênio do ambiente para se refazer daquela entrega mágica. Resfolegava. Eu arriado sobre o seu tegumento. Que iniciação! Exauridos, adormecemos.

O raio de Sol pela fresta da janela me trouxe de volta. Ela estava sentada no chão, encostada na parede com uma carinha n'água dum regozijo visível, lambendo os dedos, prolongando a delícia do derradeiro vestígio naquela aventura tresloucada. Não aliviava os olhos pidões me comendo, debochada, e eu alardeando vitória com o sabor na boca de calda doce de amora.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. In: Rol da Paixão, um livro inédito.

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