quinta-feira, fevereiro 25, 2016

QUANDO O SONHO É UMA CANÇÃO DE AMOR


QUANDO O SONHO É UMA CANÇÃO DE AMOR - Imagem: Jeanne Samary in a Low Necked Dress, do artista plástico do Impressionismo francês, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919) – Foi a paz do seu olhar fulgente que amparou a minha vida, como se ela, na janela, à minha espera, se tornasse toda a expressão do amor em sua plenitude. E foi nesse seu olhar cativante que me perdi de mim e mergulhei pros sonhos mais reais que nela encontrei como quem descobre o tesouro do que há de melhor no mundo e em mim. E nela os meus versos se fizeram ecos da paixão em cores, luzes, harmonia e na paisagem do prazer da vertigem de mil anos de querências atormentadoras do meu coração. E ela fez da minha triste existência o devaneio de todas as danças com seus alados pés a me embalar pelas ruas de Limoges, quando ela Diana caçadora, recusada no salão, era inteira e nua nos meus braços requerentes. E fez-se Lise Trèhot, como se estivéssemos ao ar livre em Argenteuil, a brincar nas nuvens que surgiam do chão pelos becos em que eu era acorrentado pela atração de seu ser, a incitar toda garra do guerreiro escondido num dançarino que não era e nunca foi. E me levou aos risos com sua luz fulgurante pelos passeios na vida cotidiana entre parisienses vestidas de argelianas, pelos espetáculos de rua ao camarote do meu coração apaixonado. E os gentis floristas e jardineiros de Montmartre nos ofertavam as flores e rosas para emoldurar o universo azul esverdeado de sua candura e o dourado único que aureolava sua carne endeusada. E ouvimos as meninas ao piano, o vimos o almoço dos remadores e nos envolvemos com as banhistas, quando o rio foi nossa cama e seu torso se esmaecia com clarão da lua e a minha pena empunhada aos pulsos para as pinceladas poéticas e pagãs no sol da Provença panteísta, a lhe restituir o endeusamento de sua pródiga emanação. E me deu o lirismo de suas formas de Ninfa e fez-se Vênus nas minhas quatro mil estrofes desfeitas que compuseram os meus quatro mil poemas disformes em versos livres, a cantar o seu ritmo, forma, alegria e a beleza do seu corpo de mulher. E na noite em que nada se espera além dos abraços nos beijos dados e envolvendo nossos corpos no parapeito da janela do tempo, irradiando as nossas mais profundas formas de amar, os transeuntes curiosos flagravam nossa intimidade para que a cidade fosse pacificada com o amor de nossa felicidade. E nos criamos amantes e recriamos a cena e o ambiente quando ela precisava de um disfarce para a sua tímida forma de se fazer inteira e entregue novamente. E se tornou a atriz Jeanne, a Samary que começou Dorine no Tartuffe de Molière, e meu deu o balanço modelado às minhas mãos sequiosas da delicadeza, a lavrar no ofício de decorador de porcelana, a sua feição macia de seda, o seu corpo de mar a se torcer, contorcer e iluminar a tudo como quem estivesse reaprendendo a amar. Ao meu toque ela se arrepiava como quem descobriu a fórmula do amor e me dava o paraíso ao nos beijarmos tanto e sempre, escondendo na nossa hinterlândia a expectativa da próxima surpresa. E ela me presenteou seus quereres com a avidez de ontem e não havia como medir o impacto de sua sedução, nem eu queria saber de nada a não ser dela com sua altaneira forma de sorrir e se dar, e deixei que ela invadisse meus meandros de alma penada e me redescobrisse outro no élan de todo contentamento fortificante e apaziguador de sua mão salvadora. E sua nudez me levou até Cagnes para desfrutarmos dos alpes marítimos todo ápice do prazer. E quando o dia amanheceu, ela era o Sol sorrindo a vida que jamais tivera. (Luiz Alberto Machado). Veja mais aqui.

 Imagem: a arte do artista plástico do Impressionismo francês, Pierre-Auguste Renoir (1841-1919). Veja mais aqui, aqui e aqui.

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