quinta-feira, maio 10, 2018

UNAMUNO, MEREDITH, BOFF, REGINA SILVEIRA, EHRENZWEIG, DIEGO RIBEIRO & GABRIELA MONTERO

ZÉ GULU & A TRUPE DOS COSCUVILEIROS – Imagem: Encuentro, da artista plástica e arte-educadora Regina Silveira. - A trupe dos coscuvilheiros não se entendia, nem havia jeito no meio de tanta leseira. O que tinha de mutreta, tinha de pacutia. É que a patota reunida – respeite o time: Doro, Zé-Corninho, Robimagaiver, Afredo, Mamão, Biritoaldo e Zé Bilola -, discutia como ganhar umas bufunfas a mais no pé do cipa e, cada qual, com suas mirabolantes ideias inúteis: nenhuma delas proveitosas, nem serventia pro que queriam, muito menos. Só se ouvia o estrupício: Ah, vai lamber sabão, fi-duma-égua. Xô pra lá, ranheta! Lubrifica a gaia que é melhor, corno! Vamos organizar essa zona, comboio de fresco! E por aí vai. Pelo visto, como não se entendiam, foram ter com quem? O doutor Zé Gulu, naturalmente. E lá estava ele debruçado sobre aquele calhamaço da coleção desaparecida, quando os intrépidos arrodearam a mesa dele, cheios de interrogações. Nessa hora, assim que viram os intrigantes se aproximarem do sabichão, Tomé e Zé Peiúdo engrossaram o caldo pra pegar carona na coisa. Doutor Zé Gulu, como vai o senhor? O que vocês querem? A gente quer ser, assim, tipo especialista, sabe? Assim sabido e todo taful feito o senhor, ganhando uns cascaios pra nossa salvação, sacumé? Não, não sei. Assim, graduado feito o senhor. Como assim? Oxe, doutor, o senhor sabe. Sei não. Assim tipo machucho, bargado e posudo bacharel, cheio das granas. Ah, vão arrumar o que fazer! Ah, doutor, só o senhor pode nos ajudar! Não sei não. Sabe, doutor, a gente quer ser assim sábio como o senhor. Sábio? Sim! O senhor sabe de tudo! Ah, sei não, muitos anos de universidade, com mestrado e doutoramento no exterior, mais de quarenta e cinco anos de banca de estudo e, ainda hoje, não sei de nada. Sabe, sim, doutor, ajude a gente, com isso que o senhor disse, mas sem escola. Como? Veja só, explico, doutor, olhe pra gente: o Zé-Corninho mesmo, o nome já diz: faz uma tuia de coisa imprestável, mas só sabe mesmo é ser corneado. O Robimagaiver, valha-me, só tem faro e só faz merda! O Afredo, coitado, só sabe queimar o toba. O Mãmão é um ré-pra-trás. Zé Bilola é um jumento pau mandado! O Birito, uma lástima. Esses outros, nem se fala. Eu sou o único: a bola que ninguém nunca chutou. Então, a gente quer folgar cheio das gaitas feito os especialistas diplomados. Ah, tá. Ora, é só ir pra escola, fazer o madureza – ou Artigo 99, sei lá mais como se chama! Ah, tipo Educação de Jovens e Adultos (EJA) -, depois fazer o vestibular, entrar numa faculdade, se graduar, se especializar, fazer um mestrado e, no fim, um doutoramento, se preparando mesmo para ler muitos livros e participar de muitos debates e seminários. Eita, doutor! A gente quer ser especialista sem ter que ler nada, doutor! Assim, na moleza, sabe? Não, não sei. Assim... Olhem, não conheço nenhum gênio que tenha chegado a tal, sem passar por tudo isso, queimando as pestanas nos livros por noites e dias, pesquisando, anotando, virando a noite pelo dia. Sim, sei, doutor, mas veja... Ninguém ganha competência e sabedoria assim do nada. Sei, doutor. Não há como ser de forma diferente, tem que passar por tudo isso. Sei, doutor. Ah, num tem onde comprar isso não? Tem ghost writer pra tudo! O quê? Ah, deixa pra lá, esqueci a impressão digital de vocês. Sabe, doutor, a gente quer assim tipo nariz empinado, rei na barriga, metido a falar difícil, essas coisas. Ah, tem tanto doutor marca bosta por aí, só sabe ganhar dinheiro engalobando e enchendo os outros de nó pelas costas, e vocês ainda querem empiorar o negócio, é? Isso, doutor, daquele tipo que aprendeu sem se ensinar! É isso que vocês querem, é? Se não tiver esse negócio de estudo, a gente topa! Ah, meus amigos, já dizia Habermas: Não pode haver intelectuais se não há leitores! Quem? Ele saiu arretado e deixou todos falando sozinho. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e guitarrista Diego Ribeiro: Live in Cyprus, Copenhagen Jazz Festival & Take Five; da pianista venezuelana Gabriela Montero: Latin Concert, Improvisation Bach & Summertime; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. 

PENSAMENTO DO DIA – [...] O conhecimento está a serviço da necessidade de viver. E essa necessidade criou no homem os órgãos do conhecimento... O homem vê, ouve, apalpa, saboreia e cheira aquilo que precisa ver, ouvir, apalpar, saborear ou cheirar.. [...]. Pensamento extraído da obra O sentimento trágico da vida (Educação Nacional, 1953), do filósofo, escritor e dramaturgo espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936). Veja mais aqui.

O CAOS DA ARTE CONTEMPORÂNEA – [...] O pensamento consciente é estreitamente focalizado e bastante diferenciado nos seus elementos; quanto mais penetramos nas imagens e nos fantasmas subterrâneos, mais a pista única divide-se e se ramifica em direções ilimitadas para finalmente dar a sua estrutura um aspecto caótico. Um pensamento criador é capaz de oscilar entre seus modos diferenciados e indiferenciados e atrelá-los juntos para lhes confiar tarefas bem determinadas. [...] Até certo ponto, todo trabalho verdadeiramente criador implica o descarte das cristalizações agudas do pensamento racional e a fabricação de imagens. Dessa forma, a criatividade implica a autodestruição – o que talvez explique por que a arte tantas vezes se ateve à tragédia. [...]. Trechos extraídos da obra A ordem oculta da arte (Zahar, 1969), do teórico austríaco de arte e música modernas, Anton Ehrenzweig (1908-1966).

O CANTO DA FLAUTA MÁGICA: O UIRAPURU - Havia na tribo um jovem que tocava maravilhosamente flauta. Não era bonito e não tinha nada de especial, apelidaram-no de Catuboré, que na língua dos índios significa “flauta mágica”. Por causa dos sons melodiosos de sua flauta era cobiçado pelas meninas da aldeia. No entanto, somente a simpática Mainá conseguiu conquistar seu coração. Marcaram o casamento para a primavera. Mas aconteceu uma tragédia. Certo dia, Catuboré saiu para pescar num lago distante da maloca, escureceu e nada de ele chegar. Mainá procurou durante um dia inteiro, com o coração apertado e com maus pressentimentos. No dia seguinte, a tribo inteira procurou o índio por todos os caminhos, e finalmente o encontrou. Estava morto, ao pé de uma grande árvore. Logo entenderam: uma serpente venenosa lhe havia picado mortalmente a perna. Todos choraram, de modo especial Mainá. Como estavam distantes da aldeia resolveram enterrar Catuboré ali mesmo, ao pé da árvore que assistira à sua morte. Mainá, quando a saudade batia mais forte, chorava aos pés da árvore, onde estava enterrado o seu amado. A alma de Catuboré, vendo a tristeza da namorada, não conseguia ficar em paz. Pediu, então, ao espírito da mata que o transformasse em um pássaro, mesmo que fosse pequeno e feio, contando que fosse cantador, seria capaz de consolar Mainá. E foi transformado, então, no irapuru. O irapuru é parecido com Catuboré, não possui nada especial, mas canta como ninguém na floresta, num som semelhante ao da flauta. Conta-se, que ocasionalmente o irapuru canta e, todos os animais sentem-se atraídos uns pelos outros, começando a namorar e a se beijar. Os outros pássaros se calam completamente em respeito ao canto do irapuru à sua amada. Lenda extraída da obra O casamento entre o céu e a terra: contos dos povos indígenas do Brasil (Salamandra, 2001), escritor, teólogo e professor universitário Leonardo Boff. Veja mais aqui.

AMOR MODERNO - Assim o piedoso amor encerrou o que idealizara: / a união desse par tão diferente! / Lembravam dois ágeis falcões numa armadilha / condenados a imitar o voo do morcego. / Armando-se, sob o céu de maio, / caminhavam sem rumo, puros como o orvalho nas flores. / E não cuidavam das horas que avançavam: / seus corações ansiavam pelo dia que se extinguira. / Então um cravou no outro o punhal implacável, / indagação profunda que sonda uma angustia infinita. / Ah, que resposta rude a alma encerra / quanto à vida das certezas dessa nova vida! / Qual a trágica lembrança, vede o que se move eternamente / nas trevas, como a força do oceano, à meia noite, soando como o tropel trepidante dos cavalos das hostes guerreiras, / e lança uma linha esmorecida e tênue sobre a praia. Poema do poeta, romancista e ensaísta inglês George Meredith (1828-1909).

A ARTE DE REGINA SILVEIRA
A arte da artista plástica e arte-educadora Regina Silveira. Veja mais aqui e aqui.


Colóquio Internacional Memória e Identidade Insular: Religiosidade, Festividades e Turismo nos arquipélagos da Madeira e Açores & muito mais na Agenda aqui.
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Palavra, palavrinha & palavrão!, o pensamento de Norman Fairclought, a arte de Edwin IJpeij, o cinema de Maurizio Ponzi & Maria Grazia Cucinotta aqui.
 

ALICIA PULEO, CRISTINA GÁLVEZ MARTOS, TATYANA TOLSTAYA & BARRO DE DONA NICE

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Britten Piano Concerto (1990), MacGregor on Broadway (1991), Outside in Pianist (1998), D...