CARTA NA PEDRA - Imagem: Pintura
rupestre do beijo no Boqueirão da Pedra Furada, Parque Nacional Serra da
Capivara, Piauí, Brasil (2010) © Palê Zuppani - Rabisco sonhos na face da
pedra, a minha estela e sintonia. Pra que serve, não sei, nem sabe ela às orlas
das passagens ou a ornar jardins floridos. Sei e rola ribanceira como eu nos
meus dias e noites, água que leva e lava, areia pra se esconder, como se fosse
a memória do pedregulho, e o seu desgaste lento enquanto envelheço grão de
areia ao convívio entre seixos e lascas, tanto faz, tanto fez. A pedra sou eu e
ela comigo, horas e ventos. Dela preparo a mim mesmo, aprendizagens. No sapato
incomoda como a culpa assombrosa ou a topada no dedo inflamado, e quase nem sei
seus vagares e cismas, fazem parte da escória de tudo como eu que não lhe sou
alheio. Lá está ela aqui comigo e em qualquer parte ou lugar, como se coração
indiferente de ontem ou amanhã. Ela voa na fúria de quem dela se vale para abrir
o talho na testa do desafeto ou de outrem, destroça vidraça e pingueira na
telha quebrada. Lá está ela pro tombo no meio do caminho, não há quem segure
destronado na vertigem abissal. Nem sei que são da litosfera, se calhau ou
pepita, se água-marinha, topázio, turmalina, nem distingo direito cascalho de
ametista, o que é da fraga pro diamante ou rubi, o que é rebo pra safiras ou
esmeraldas, se esteatita que é a de sabão do artesanato de Ouro Preto, ou a de
Roseta milenar, ou as dimensionadas nos tornos, serras, plainas e polidoras,
como as britadas de granitos, basaltos, mármores, calcários e arenitos,
diabásios e ardósias, o quartzo opalescente ou concreto armado, se é da Lua com
sua energia feminina, ou as que nascem nos rins ou vesícula pra espremer de dor,
ou se de uma estrela que não sei de onde. Não sou lapidário nem sei fundição, muito
menos do corte das gemas; não sei como lavra porque não tenho martelo e
bigorna, só interditos e esconjuros; só sei que delas não há fonte pra brotar,
nem semente, e jazem longe sem sangue heroico, se penedo ou joia, sequer soube,
assim são. Elas são testemunhas, quando não a nossa própria expressão no precipício
da vida e suas comoventes miragens, o seu impreciso destino e até nunca mais. É
nela que faço o poema amanhã apagado pelos ventos do tempo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do cantor, compositor, arranjador,
instrumentista e produtor, Filó
Machado: Origens, Canto Fatal e
álbum solo; da cantora e compositora Maria Dapaz: Brincar de ser feliz, Metade e Ensaio; & muito mais
nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Sempre
a meio-caminho entre o esquema e a anedota, o gênio do pintor consiste em unir
conhecimento interno e externo, ser e devir, produzir, com seu pincel, um
objeto que não existe como objeto e, todavia, sabe criar sobre a tela: síntese
exatamente equilibrada de uma ou várias estruturas artificiais e naturais e de
um ou vários fatos naturais e sociais. [...]. Pensamento extraído da obra O pensamento selvagem (Papirus, 1989), do
antropólogo belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009). Veja mais aqui.
VIOLÊNCIA SIMBÓLICA - [...] Falar
de dominação, ou de violência simbólica, é dizer que, salvo uma revolta
subversiva que conduza à inversão das categorias de percepção e de avaliação, o
dominado tende a assumir a respeito de si mesmo o ponto de vista dominante:
através, principalmente, do efeito de destino que a categorização
estigmatizante produz, e em particular do insulto, real ou potencial, ele pode
ser assim levado a aplicar a si mesmo e a aceitar, constrangido e forçado, as
categorias de percepção direitas (straight, em oposição a crooked, tortas), e a
viver envergonhadamente a experiência sexual que, do ponto de vista das
categorias dominantes, o define, equilibrando-se entre o medo de ser visto,
desmascarado, e o desejo de ser reconhecido pelos demais [...]. Trecho extraído
da obra A dominação masculina
(Bertrand Brasil, 2002), do sociólogo francês Pierre Bourdieu
(1930-2002). Veja mais aqui.
ELENA – [...] Ante esse
reconhecimento de timidez, ela foi imensamente tocada pela ternura, uma ternura
que nunca experimentara antes. A força dele estava se curvando perante ela,
hesitando antes da efetivação do sonho que havia crescido entre eles. A ternura
engolfou-a. foi ela quem se deslocou até ele e ofereceu sua boca. Então ele a
beijou, com as duas mãos sobre os seus seios. Ela sentiu seus dentes. Ele
beijou o pescoço onde as veias palpitavam, e a garganta, com as mãos em voltado
corpo. Ela foi dominada pelo desejo de ser inteiramente possuída. Enquanto a
beijava, ele a despiu. As roupas caíram em volta dela, e eles ainda estavam
juntos de pé se beijando. Então, sem olhar para ela, ele a carregou para a
cama, com a boca ainda em seu rosto, garganta e cabelos. [...] Agora nu, ele estava estirado por cima dela
em todo comprimento. Ela desfrutou o peso dele por cima de si, desfrutou ser
esmagada sob o corpo dele. Queria que ele ficasse grudado nela da boca aos pés.
Arrepios percorriam seu corpo. Ele sussurrava de vez em quando, disse-lhe para
erguer as pernas como ela nunca havia feito, até os joelhos tocarem o queixo;
sussurrou para que ela se virasse, e esparramou as mãos por seu traseiro.
Descansou dentro dela, deitou-se de costas e esperou. [...] Escorregou cama abaixo até a boca alcançar o
pênis. Começou a beijar em volta. O pênis sacudia levemente a cada beijo.
[...] A mão permaneceu sobre Elena
enquanto ela moveu-se para cima e para baixo e depois tombou, tombou com um
suspiro de prazer insuportável, tombou sobre a barriga dele e ali permaneceu,
de olhos fechados saboreado o deleite [...] abriam um novo livro e liam juntos, com as mãos acariciando um ao
outro. Beijavam-se em cima de gravuras eróticas. As bocas coladas juntas caíam
por cima de enormes bundas empinadas de mulheres, pernas abertas como um
compasso, homens acocorados como cachorros, com membros imensos, quase
arrastando no chão. [...] pareceu a
ela que o prazer que sentia com as arremetidas do pênis transmitia-se à boca.
Abriu-a, e a língua projetou-se como na gravura, como se ela quisesse o pênis
na boca ao mesmo tempo. Elena correspondeu loucamente durante dias, quase como
uma mulher a ponto de perder o juízo. [...]. Trechos extraídos da obra Delta
de Vênus (Artenova, 1978), da escritora francesa Anaïs Nin
(1903-1977). Veja mais aqui.
COMENTÁRIOS - Já
escurecera na sacada / junto a nós uma urgência esvoaçava / nos dois corações,
bem aninhada, / uma confissão correspondida. / Vã, murchou a voz. Enxame de
erros / nossos lábios, e nas profundezas / do corpo, Deus, só estava acesa / nossa
espera da benção pedida. / Dentro da casa os sonhos zumbiam / e da luz da tarde
até o ímã / dos cabelos teus, tudo trazia / à memória o anjo inalcançável / de
para com os anéis subitâneos / de chofre caídos, dos abanos / no pensamento
que, o mesmo orando, / líamos, evangelho inefável. / Mulher que na minha alma
te hospedas / tua surpresa é o que me resta / formosa mulher amada, nesta / tarde
que absurdamente definha, / e os teus olhos de círculos negros / e a noite e
seu calafrio ligeiro… / Quimera, espada do meu silêncio, / curva-te e entra
outra vez na bainha. Poema do poeta simbolista grego da geração neogrega de
1930, Giórgos Seferiádhis ou simplesmente Giórgos Seféris (1900-1971).
Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE LOURDES RAMALHO
A professora,
poeta, dramaturga e pesquisadora Lourdes
Ramalho é autora de extensa obra teatral premiada nacional e
internacionalmente. Em 1974 ela lançou a premiada Fogo-fátuo e, em 1975, a
premiada As velhas. Em 1976, foi a vez da premiada peça teatral A Feira. A
partir das década de 1990 ela passou a enfatizar uma dramaturgia pautada na
Literatura de Cordel, entre elas Romance do Conquistador. Em 2005, foi
reinaugurado o Centro Cultural Lourdes Ramalho, em sua homenagem, como, também,
em 2011, foi homenageada com a 2ª Jornada de Estudo Internacional sobre
Poéticas da Oralidade: Lourdes Ramalho e o Teatro Popular, organizada pela
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Ela também é autora de textos
dedicados ao público infantil, alguns deles reunidos na obra Teatro Infantil:
coletânea de textos infanto-juvenis (RG, 2004), da obra Raízes ibéricas, mouras
e judaicas do Nordeste (Ed. Universitária, 2002), Teatro (quase completo) de
Lourdes Ramalho – Vols. I e II (EdUfal, 2011) e do livro de poesias Flor de
cacto: viagem ao ignoto (EdUEPB, 2012).
O Centro
Cultural Vital Corrêa de Araujo informa:
Tarde
Literária da Illuminare na Biblioteca Pública Viriato Corrêa (SP) & muito
mais na Agenda aqui.
&
A arte do artista visual britânico John Silver.
&
&
Elogio
ao contribuinte, Apesar
de tudo de Georges Didi-Huberman, a escultura de Edward Hodges Baily
& a arte de Kênia Bastos aqui.