segunda-feira, maio 21, 2018

PROUST, FRIDA KAHLO, RICOEUR, NIKI DE SAINT PHALLE, MISES, MILLA JOVOVICH, ANTÔNIO MADUREIRA & TAMAR HALPERIN


FALSA MISSIVA DESENDEREÇADA -Imagem: Long Live Love (Vive l'Amour - 1990), da multiartista francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002) - Sou estrangeiro há décadas nesse fluxo de volatilidades e o meu semblante perdeu a fisionomia com o cheiro da terra de maio, o gosto ondulante do canavial flechado e a boiada de nuvens insistentes nos meus olhos outonais. De resto, pedaços de lembranças perdidas em pensamentos nessa falsa carta inspirada numa de Frida e como não tenho Caros Amigos ou amigas, fiquei órfão muito antes da minha irmã jogar no lixo meus rabiscos solitários e exasperados de anos atrás. Ademais, o Brasil continua aquela anomalia imprevisível em que tudo que se espera de real é só equívoco ribanceira abaixo do minimamente considerável. Tenho comigo os acordes israelitas da bela Tamar Halperin rondando minhas ideias, como se fosse a doméstica inflada a passar tão sedutora quão reboladeira num verso sem nome do Magma de Olga Savary, tão reboladeira nas estrelas estonteantes da minha libido descendo a ladeira como se fosse a Milady de Winter, e eu boquiaberto nem dando conta que o tempo passa e eu sequer tenho pensado em acerto de contas, porque tudo se espalha e não há como juntar nada no malogro das minhas mãos falíveis. Estou prestes a fechar o ciclo vigente e nada é mais insignificante do que falar sozinho ou pras paredes, às vezes me pego falando grego, nada demais, é que, apesar de tudo, o Recife continua me encantando por noites e dias infindos do que não sei. Tirante o Rio Una pra onde volto, em geral tudo é varejo de ignominia; no particular, nada a declarar. A rigor, não tenho mesmo nem a dizer da terra e razões erodidas, pelas ruas e suas encruzilhadas e mata-burros, esgotos e sensos transbordados de imundícies na profusão do capim, nos bueiros e alto-falantes das orações exaltadas aos escancaros da felicidade inexistente, enquanto a esperança fruteira que resiste da monocultura industrializada, nada mais é que mecenas com suas esmolas pras festivas idiossincrasias de quem pensa que sabe o que quer e não sabe, que acha que sabe o que fez e sequer se lembra, e se acha maior quando nem o menor do seu próprio tamanho: a cidade cresceu e não passa de um arruado na ironia do pseudo-elogio que subjaz todas as incursões da estupidez a bater no peito patriótico de quem só sabe hipocrisia. Ah, como sou estrangeiro no fluxo dessas veleidades. Até já que já fui, sabe-se lá se volto, nem sei. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do músico, maestro, violonista e compositor Antônio Madureira: Violão, Revisitação dos Santos Reis & Romançário; da pianista israelita Tamar Halperin: Jazz Baltica, German Jazz Meeting & Gymnopedie nº 3 de Eric Satie & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.

PENSAMENTO DO DIA – [...] Ação humana é comportamento propositado. Também podemos dizer: ação é a vontade posta em funcionamento, transformada em força motriz; é procurar alcançar fins e objetivos; é a significativa resposta do ego aos estímulos e as condições do seu meio ambiente; é o ajustamento consciente do estado do universo que lhe determina a vida. Estas paráfrases podem esclarecer a definição dada e prevenir possíveis equívocos. Mas a própria definição é adequada e não necessita de complemento ou comentário. [...]. Pensamento extraído da obra Ação humana (ILMBrasil, 2010), do economista austríaco Ludwingvon Mises (1881-1973).

COMUNICAÇÃO & EXPERIÊNCIA - [...] A experiência experienciada, como vivida, permanece privada, mas o seu sentido, a sua significação torna-se pública. A comunicação é, deste modo, a superação da radical não comunicabilidade da experiência vivida enquanto vivida. [...] A exteriorização e a comunicabilidade são uma só e mesma coisa, porque nada mais são do que a elevação de uma parte de nossa vida ao logos do discurso. De qualquer modo, a solidão da vida é aí iluminada, por um momento, pela luz comum do discurso [...] O paradoxo é que a comunicação é uma transgressão, no sentido próprio do ultrapassamento de um limite, ou melhor, de uma distância num sentido inultrapassável [...] Ora, o nexo entre as três figuras da intenção é de grande interesse para nosso problema da comunicabilidade. Nós passamos, com efeito, de uma acepção na qual a intenção está ainda muito próxima da simples implicação (aquele que promete quer dizer – implica – que ele se coloca sobre a obrigação de fazer) à intenção como desejo ou crença, que é propriamente a intenção noética. Daí, nós passamos à intenção como espera do reconhecimento pelo outro da intenção do locutor. Este último obtém propriamente o nome de intenção da comunicabilidade. [...] é esta parte não intencional da vida, esta maneira de o vivido se incrustar em si mesmo, esta sequência de acontecimentos transversalmente ligados à mesma série, à mesma esfera, a mesma clausura. O psíquico, em uma palavra, é a solidão da vida que, por intermitência, acaba assegurando o milagre do discurso [...] Trechos extraídos da obra Sobre a tradução (Cotovia, 2005), do filósofo francês Paul Ricoeur (1913-2005). Veja mais aqui e aqui.

CAMINHO DE GUERNANTES - [...] Para conseguir ser assim reconhecidos, o pintor e o artista original procedem à maneira dos ocultistas. O tratamento para sua pintura e para sua prosa nem sempre é agradável. Quando terminam, o prático nos diz: agora olhe. E eis que o mundo (que não foi criado uma vez mas tantas quantas vezes surgiu um artista original) afigura-se-nos inteiramente diverso do antigo mas perfeitamente claro. Mulheres passam pela rua, diferentes daquelas de outrora, pois são Renoir, esses Renoires em que outrora nos recusávamos a ver mulheres. [...] Trecho extraído da obra O caminho de Guernantes (Globo, 2007), do escritor francês Marcel Proust (1871 - 1922), o terceiro volume da série Em busca do tempo perdido, marcando uma inflexão no caminho existencial, atravessando um longo período de vida com uma larga sucessão de escolhas e cadeias de associações imagéticas, até chegar a novo lugar e poder, acompanhando o dia a dia dos acontecimentos. Veja mais aqui.

TRÊS POEMAS - LEMBRANÇA: Eu sorria. Nada mais. De repente, porém, eu soube / na profundeza do meu silêncio / que ele me seguia. / Como minha sombra, leve e sem culpa. / Na noite uma canção soluçou... / Os índios se estendiam, como serpentes, pelas vielas da cidade. / Uma harpa e uma jarana eram a música, e as morenas sorridentes / eram a felicidade. / Ao fundo, atrás do Zócalo, o rio cintilava / e escurecia, como / os momentos de minha vida. / Ele me seguia. / Acabei chorando, isolada no pórtico da / igreja paroquial, / protegida por meu xale de bolita, encharcado por minhas lágrimas. POEMA PARA LINA E ARCADY BOYTILER: Deixo-lhes meu retrato / para que me tenham à sua frente / todos os dias e todas as noites / em que eu estiver longe de vocês. / A tristeza se espelha / em todo o meu trabalho, / mas este é meu estado; / sinto-me desamparada. / Ainda assim, trago a felicidade / no coração, / por saber que Arcady e Lina / amam-me como sou. / Aceitem este quadrinho / pintado com minha ternura / em troca de sua afeição / e sua imensa doçura. POEMA: na saliva. / no papel. / no eclipse. / em todas as linhas / em todas as cores / em meu peito / fora. dentro. / no tinteiro – nas dificuldades de escrever / no assombro de meus olhos, nas últimas / linhas do Sol (o Sol não tem nenhuma linha) em / tudo. Dizer “em tudo” é idiota e magnifico.  Diego em minha urina Diego em minha boca – em meu / coração e minha loucura. Em meu sono – no / papel mata-borrão – na ponta da caneta / nos lápis – nas paisagens – na / comida – no metal – na imaginação. / nas doenças – nas vitrines - / em suas lapelas – em meus olhos – em sua boca. / em sua mentira. Poemas da pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954). Veja mais  aquiaqui.

A ARTE DE NIKI DE SAINT PHALLE
A arte da multiartista francesa Niki de Saint Phalle (1930-2002). Veja mais aqui.


Só às paredes confesso, de Vital Corrêa de Araújo & muito mais na Agenda aqui.
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A poesia de Olga Savary aqui
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A arte da atriz, modelo, cantora e designer de moda servo-croata Milla Jovovich que estrelou o filme Os três mosqueteiros (2011), baseado na obra homônima do romancista francês Alexandre Dumas (Dumas Davy de la Pailleterie – 1802-1870. Veja mais aqui.
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Missiva de esconjurado aqui
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A carta do barbeiro aqui
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Das coisas que vão & voltam, a infância de Neil Postman, a literatura de Philip Roth & a fotografia Ralph Gibson aqui.
 

MARIA RAKHMANINOVA, ELENA DE ROO, TATIANA LEVY, ABELARDO DA HORA & ABYA YALA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Triphase (2008), Empreintes (2010), Yôkaï (2012), Circles (2016), Fables of Shwedagon (2018)...