
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do pianista, compositor e arranjador André Mehmari: Lacrimae, Angelus & Al we needs is Beatle; da
pianista clássica sul-coreana Yeol
Eum Son: Songs Stravinsky,
Concerto nº 2 Prokofiev & Concerto nº 2 Chopin; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao blog
& nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Se
a Arte consegue produzir obras que estejam conformes a sua essência
constitutiva [...] ela ainda tem,
pela posse da beleza que lhe é essencial, uma beleza maior e mais verdadeira
que aquela que passa nos objetos exteriores. [...] Todo princípio criador é sempre superior à coisa criada: é não a
privação da música mas a própria música que cria o musicista; é a música
inteligível que cria a música sensível. [...]. Pensamento extraído da obra Enéadas
(Polar, 2000), do filósofo grego Plotino (204-270). Veja mais aqui.
REFLEXÕES PARA ONTEM - [...] O
coito é principalmente coisa do homem; a gravidez, inteiramente da mulher. Do
pai, o filho adquire a vontade, o caráter; da mãe, o intelecto. Este é o
princípio da redenção; a vontade é o elemento de ligação. A evidência da
constante existência do querer-viver no tempo, apesar de todo incremento da
iluminação através do intelecto, é o coito: a evidência da luz do conhecimento
novamente associada àquela vontade, mantendo em aberto a possibilidade da
redenção, e isto no grau mais elevado da clareza, é o renovado tornar-se humano
do querer-viver. Seu sinal é a gravidez, que por isto se apresenta franca e
livremente, mesmo orgulhosamente, enquanto o coito se oculta como um criminoso.
[...] Quem, mediante tais considerações,
torna presente quão necessários para nossa salvação são na maior parte das
vezes a necessidade e o sofrimento, reconhecerá que nós outros não deveríamos
invejar a sorte, mas a desgraça. [...]. Como
poderia este ser melhorado por meio dos sofrimentos, se, envolto numa grossa
casca pétrea, seque os percebe? [...]. Trecho extraído da obra Paregma e Paralipomena, do filósofo
alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860). Veja mais aqui.
ABISMO DE ROSA – [...] Velha
conhecida minha, essa minissaia xadrez. – Teu vulcão está aí. Não quer
despertá-lo? Defendeu-se, agarrando-lhe a mão com força. – Que mão fria... –
Teu beijinho, hum, gostinho de bolacha Maria e geleia de uva. – Não gostei da
última vez. Como você me tratou. [...] Quero
você nuazinha. A blusa pela cabeça sempre despenteia. – Vire para lá. Senão não
tiro. Menos uma pecinha. A blusa. A saia. O sutiã. – A calcinha não. – Coisinha
mais linda. – Para combinar com o colar. O riso furtivo do colar vermelho. –
Tire, amor. De costas, sem olhar. – Parece um menino. Só que cabeludo. Toda
nua, de salto alto. – Correntinha também é roupa? Sem poder cobrir os três
seios com duas mãos. – Essa cruzinha o que é? O crucifixo barato, presente do
noivo. – É enfeite. O velho Jesus, quem diria, piedosamente virou-lhe o rosto.
[...] um corpo nu de mocinha. Tão aflito
não sabia onde agarrar. – Veja como é quentinho. Pegue. Ela pegou sem
entusiasmo. – Relaxe, meu bem. Não fique de pescoço duro. – Ai, meus ossos.
Você me machuca. Arre, que tanto. – Dê um beijinho. Só um. – Ah, não. Ah, não.
– Por um beijo eu dou o dobro. – Olhe que sou cigana. – Também sou. – Se eu
der, você quer mais. [...] – Agora um
beijinho. Ela deu. – Mais um. Mais outro. Já aos gritos. – Só mais este. Ai,
amor. Agora no tapete. [...] Ela,
quieta. – Eu dou o dobro. – O doutor é atiçadinho. – Agora sente-se. Abra a
perna. É aqui, amor. Aqui é o bom. Sem ele pedir: - Ai, que é bom. [...] Ela pôs só a pontinha: entrar a uma virgem é
perder-se no abismo de rosas. [...]. Extraído da obra Continhos galantes (L&PM, 2007), do escritor Dalton
Trevisan. Veja mais aqui.
AMÔ DE CABÔCO - Seu
moço. Não vale a pena, / eu alembrá as paxão, / qui eu tive pelas morena / das
terra do meu sertão. / Era uma históra cumprida / qui eu tinha de insminhunçá.
/ E dessas coisas da vida / nunca se deve alembrá. / Pruquê a gente alembrando,
/ dessas antiga amizade, / o passado qui tá morto, / cá dento im nós,
invivésse, / se ajunta cum a sodade, / e o peito é quem padece. / Abasta só le
conta, / é o pruquê da razão, / da históra duma caboca / das terra do meu
sertão, / que me butou freio na na boca / e peia dos pés pras mão: / vá
ouvindo, meu patrão: / caboco disingonçado / sambado de profissão, / eu sempre
fui condado / pra toda festa e fonção. / Fui mestre daqueles samba! / dansei
tanto cum as caboca, / qui fiquei de perna bamba! / E ainda digo ao sinhô, /
qui outro dote eu piçuía: / - Fui o maió marcado, / dos marcado de quadrilha! /
Quando nos samba eu chegava, / uvía o batê-de-boca, / das morena, das caboca, /
num cuxixo, num zunzun, / ta-li-qua cumo uns bizouro, / qui dizia umas pras
outra: - Lá chegou o mestre-sala, / lá chegou o pé-de-ouro! / Entoce, pruvia
disso / nos samaba qui eu sambavam / as increnca, os principiço, / pra riba
d’eu avuava! / Vi munto a morte na frente, / mas porem, não recuava! / Quando
eu já carregava / nas costa, uns trinta janero, / cum uns quinze de sambado, /
dois oinho traiçuêro, / fizero eu dansá o samba, / fizero meu coração / dansá o
samba do amô! / Eu vou conta prô sinhô: / Duma feita, num pagode, / no Riacho
da Priguiça, / o caboco Xico Hanoro, / ruendo paxão, prumode / a Quinoia e a
Simpiliça, / só cum eu querê dansá, / me instranhou, e foi preciso, / nós
imendá os bigode / e brigá pra se acabá! / O samba virou um frege, / numa
bagunça inferná! / Adispois do aquéta-arreda, / o caboco Xico Hanoro, / tinha
levado três queda, / tava de venta quebrada! / Mas isso não vale nada. / O
cabra tinha razão. / Pruquê as duas morena, / era duas tentação! / Era as fulô
mais bonita / qui infeitava esse salão! / Adispois da ingrizia, / Quinoia, qui
cunhicia / quanto eu gostava dela, / quage chorando, pedia, / qui eu dexasse de
sambá! / Qui essas coisa só dizia, / pruquê me tinha amizade; / qui era munto
mais mió, / qui eu precurásse u’a moça, / pra cum ela me casá! / Eu maginei...
maginei / na preposta da muié! / Dispois eu considerei: / - Concêio toma quem
qué! / Manginando nessas coisa, / andei pra traz quinze ano!.../ dansei no
premero samba / qui eu sambei – lá no Ingano! / Meu juízo foi sambando, / im
todo samba, patrão, / qui eu sambei na minha vida! / E a Quinoia, imbibida, /
oiava pra eu, oiando / cumo quem tá isperando / a Santa Bença da missa! / Oiava
pra Simpilíça, / qui tomem me oiava munto, / ta-li-quá cumo um parente / oia a
cara de um difunto! / Eu entonce, arrisurvi / dá um adeus à pagodera! / Dos
samba me adispidi, / pro resto da vida intera! / Garrei na mão de Quinoia, / qui
ainda tava amarela / cum as mão tremendo e suando / qui nem tampa de panela /
quando o feijão tá frevendo, / e falei assim pra ela: / - Quinoia. Eu te
premeto, / pelo nome do meu pai, / qui meus pé e minhas perna, / pra sambá numa
baderna, / de sua casa não sai! / - E agora, pra compretá / a minha felicidade,
/ tu que sê minha muié, / tu me dá tua amizade? / E ali, naquele momento, / cum
as jura de amô na boca, / eu e Quinoia – a caboca, / contratemo casamento! / Hoje
eu vivo satisfeito. / E quando as vez, su sujeito, / passa lá pelo meu rancho /
e cum falta de arrespeito, / me pregunta todo ancho: / - Tem hoje uma padadera,
/ um samba, na Pitombera, / você não vai dansá, não? / - É esse aqui o meu
samba, / é essa a minha fonção. / Eu orguioso arrespondo, / ao cujo dito
amostrando, / deitadinha na tipoia, / um batorezinho sambudo, / um caboquinho
barrigudo, / paricido cum a Quinoia!!! Poema extraído da obra Brasi caboco e Sertão em carne e osso
(Litoral,1999), do poeta Zé da Luz
(Severino de Andrade Silva, 1904-1965). Veja mais aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE JULIETTE BELMONTE
A arte
da artista plástica porto-riquenha Juliette
Belmonte.
&
Uma
vez & todas as vezes, o pensamento
de Jacques Rancière, a música de Adriana Calcanhoto, a arte de Zorávia
Bettiol, o cinema de Betse
de Paula & Dira Paz aqui.