A LUTA DO RESGATE, OU:
EITA, ATÉ QUE ENFIM! – (Prefácio do livro Cantos, contos, crônicas. Palmares/PE: Fundação Casa da Cultura
Hermilo Borba Filho/Bagaço, 1988). - Quando conheci a obra de Artur Griz, de
sopetão me deparei com um volume enciclopédico que mal se conseguia apalpar,
anunciando-se outros volumes à referida pesquisa. Era a famigerada Enciclopédia
Griz. Afora isto, alguns poemas publicados n´A Notícia, artigos avulsos,
crônicas. Depois o Zé Ripe, cantor das modas mais brejeiras, compôs uma canção
próxima da beleza real, sobre o poema “Resto de Caminho”. Foi a partir de então
que se sentiu a necessidade de conhecer melhor a obra deste poeta, escritor,
enciclopedista, etc. Artur Griz, pessoa que não tive oportunidade de conhecer
mais de perto, exceto quando passava apressado pela praça Maurity onde eu
residia, ou quando caiu rebentadamente e armado de um penico e escova de dentes
da escadaria fatídica de sua residência. Só foi mesmo por meio de Jessiva
Savino, nobre madrinha da atividade cultural jovem da cidade dos Palmares, que
se conhecia algo mais. Mas o bolo grosso estava entulhado entre roupas, detritos,
traças e abandono, num recanto amaldiçoado da casa. Amigo próximo da família
herdeira do poeta, é que tive oportunidade de vasculhar mais algumas obras de
Artur, além de conhecer livros que até então sequer havia colocado a vista. De
imediato me deparei com a primeira edição do livro “Caminhos da solidão”, de
Hermilo Borba Filho, além de livros de Juan Ramon Jimenez, Otto Maria Carpeaux,
Aldous Huxley, edições primárias de Erico Veríssimo, livros raros e traduções
antigas. Nessa época estávamos editando a Revista A Região que fez publicar um
artigo na procura inicial de resgatar e fazer sensibilizar as autoridades
competentes para a necessidade de se publicar sua obra, a exemplo do que deve
ser feito com o Fenelon Barreto, ainda longe de se conhecer sua obra teatral,
poética e prosaica. Quando tomei nas mãos este volume, um compromisso assumido
entre as Edições Bagaço e o prefeito de então, Luis Portela de Carvalho havia
sido firmado no sentido de resgatar, antes que o tempo o consumisse, fiquei
deveras surpreso. Passando a vista em artigos como “Hermilo Borba Filho”,
“Palmares do Passado”, Um jornal para Palmares” e “A condição adversa do
escritor pobre” e poemas como “Saudação a Palmares”, Decreptude” próximo do
“Resto de Caminho” e o poemeto “Estrofe”, entre outros poemas já apresentados
na edição dos Poetas dos Palmares, organizada pelo poeta Juarez Correya, havia,
sim, constatado o valor literário do poeta em questão. Por fim, prosa e verso
reunidos num só volume, dando conta parcialmente da obra deste autor que fez
parte da história dos tempos do Clube Literário, trazendo a lembrança do tempo
em que Palmares fervilhava na desenvoltura artística. De certa forma traduz-se
uma dor: a dor da reminiscência. Mas é com satisfação que tais páginas possam revelar
o talento literário do autor. No mais, com a palavra: Artur Griz. Palmares/PE,
junho de 1987. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música do violonista e compositor Celso Machado: Brasil Violão, Violão & Jongo Lê; da cantora e
compositora britânica Katie Melua: On te road again, Avo Session & com a The Stuttgart
Philharmonic Orchestra; & muito mais nos mais de 2 milhões de acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir.
PENSAMENTO DO DIA – [...] O
que hoje mais nos comove talvez em seu tempo tenha parecido apenas mais uma
devastação. [...] É o tempo que os
faz olhar essas paisagens da mesma maneira que olhamos as obras de arte: como
configurações de outros mundos dos quais apenas podemos imitar interiormente o
porvir. [...]. Pensamento extraído da obra A estética da bela natureza:
problemas de uma estética da paisagem (CFUL, 2011), do filósofo francês Nicolas Grimaldi.
EDUCAÇÃO & PESQUISA - [...] Por
que existem atividades docentes? Por que a pedagogia é uma atribuição e uma
preocupação do homem? O ser humano se ocupa e se preocupa com o ensino por uma
razão tão simples quanto severa e tão severa quanto lamentável. Para viver com
firmeza, desenvoltura e honestidade é preciso saber enorme quantidade de
coisas. E o fato é que a criança e o jovem têm uma capacidade limitadíssima de
aprender [...] hoje mais do que nunca
o próprio excesso de riqueza cultural e técnica ameaça converter-se em uma
catástrofe para a humanidade, porquanto a cada nova geração lhe é mais difícil
ou impossível de absorvê-lo. Urge, pois, instaurar a ciência do ensinar, seus
métodos, suas instituições, partindo deste humilde e esmirrado princípio: a criança
ou o jovem é um discípulo, um aprendiz, e isto quer dizer que um ou outro não
pode aprender tudo o que teria de ser-lhe ensinado – Princípio da economia do ensino [...] não é ciência
aprender uma ciência nem ensiná-la,
nem tampouco usá-la ou aplicá-la [...].
Saber não é pesquisar. Pesquisar é descobrir uma verdade ou seu oposto:
demonstrar um erro [...]. A ciência é
criação, e a ação pedagógica se propõe apenas ensinar essa criação,
transmiti-la, injetá-la e digeri-la [...] é preciso, portanto, sacudir a árvore das profissões de um excesso de
ciência, a fim de que dela reste o estritamente necessário e se possa cuidar
das próprias profissões, cujo ensino
se acha por completo em estado silvestre. Neste ponto está tudo por
começar [...] o homem que não vive à
altura de seu tempo, vive debaixo daquilo que seria sua autêntica vida, ou
seja, falsifica ou rouba sua própria vida, ele a desvive. Hoje atravessamos –
indo de encontro a certas presunções e aparências – uma época de terrível
incultura [...] Urge que o homem de
ciência deixe de ser o que hoje é com deplorável frequência: um bárbaro que
sabe muito a respeito de uma determinada coisa [...]. Tudo preme para que se torne uma nova integração do saber, que hoje
anda em pedaços pelo mundo [...]. Trechos extraídos da obra Missão
da universidade (EDUERJ, 1999), do filósofo e ativista político
espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955). Veja mais aqui.
A MENINA DOS BRINCOS DE OURO - Uma
Mãe, que era muito severa para os filhos, deu de presente a sua filhinha um par
de brincos de ouro. Quando a menina ia à fonte buscar água e tomar banho,
costumava tirar os brincos e botá-los em cima de uma pedra. Um dia ela foi à
fonte, tomou banho, encheu o pote e voltou para casa, esquecendo-se dos
brincos. Chegando em casa, deu por falta deles e com medo da mãe brigar com ela
e castigá-la correu à fonte para buscar os brincos. Chegando lá, encontrou um
velho muito feio que a agarrou, botou-a nas costas e levou consigo. O velho
pegou a menina, meteu ela dentro de um surrão (um saco de couro), coseu o
surrão e disse à menina que ia sair com ela de porta em porta para ganhar a
vida e que, quando ele ordenasse, ela cantasse dentro do surrão senão ele
bateria com o bordão. Em todo lugar
que chegava, botava o surrão no chão e dizia: Canta, canta meu surrão, Senão te
meto este bordão. E o surrão cantava: Neste surrão me meteram, Neste surrão hei
de morrer, Por causa de uns brincos de ouro Que na fonte eu deixei. Todo mundo
ficava admirado e dava dinheiro ao velho. Quando foi um dia, ele chegou à casa
da mãe da menina que reconheceu logo a voz da filha. Então convidaram Ele para
comer e beber e, como já era tarde, insistiram muito com ele para dormir. De
noite, já bêbado, ele ferrou num sono muito pesado. As moças foram, abriram o surrão e tiraram a menina que já estava muito
fraca, quase para morrer. Em lugar da menina, encheram o surrão de excrementos.
No dia seguinte, o velho acordou, pegou no surrão, botou às costas e foi-se embora.
Adiante em uma casa, perguntou se queriam ouvir um surrão cantar. Botou o
surrão no chão e disse: Canta,canta meu surrão, Senão te meto este bordão.
Nada. O surrão calado. Repetiu ainda. Nada. Então o velho meteu o cacete no
surrão que se arrebentou todo e lhe mostrou a peça que as moças tinham pregado.
Extraído da obra Contos tradicionais do
Brasil para jovens (Global, 2006), do historiador, antropólogo, advogado e
jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986). Veja mais aqui.
A GENTE TERRÍVEL – Gente
que tem o de que necessita gosta muito de dizer às pessoas / que não têm o de
que necessitam que estas realmente de nada necessitam. / Eu queria poder juntar
toda essa gente num Castelo sombrio no Danúbio e contratar meia dúzia de
Dráculas eficientes para aterrorizá-la. / Não me importa que tenham muito
dinheiro e não me importa como o empregam. / Mas penso que deviam admitir que
gozam do seu dinheiro. / Entretanto insistem em ser dissimulados acerca dos
prazeres da riqueza. / E a posse de uma boa renda anual lhes fazem pensar em que
dizer duro é / fazer os extremos se tocarem e isto é o seu sagrado dever. / Não
se concebe uma ocasião / em que se encontrem sem alguma evasiva apropriada. /
Sim, sem dúvida em argumentos são fecundos. / O primeiro ponto é que o dinheiro
não é tudo, / e que, de qualquer maneira, não possuem dinheiro, é o segundo. /
O dinheiro de alguns foi merecido / o de outros foi herdado. / Mas, venha donde
vier, / falam dele como se fosse alguma coisa junto com a qual contraíssem uma
doença. / Pode ser isso certo. / Mas se for assim por que não se livram / eles
desse peso, transferindo-o para os pobres necessitados, ou para mim? / Talvez a
posse de riquezas seja uma tristeza constante, / mas quase desejaria receber
toda a maldição da riqueza se pudesse ao mesmo / tempo receber todas as suas bênçãos.
/ Os únicos males incuráveis do rico são os males que o dinheiro não pode curar
/ e estes são males ainda mais maléficos para os que são pobres. / Certamente
já muitas coisas na vida que o dinheiro não compra, mas, é engraçado... / já
tentou alguém comprá-las sem dinheiro? Poema do poeta estadunidense Ogden Nash (1902-1971).
A ARTE DE ALESSANDRA FERRI
A arte da bailarina prima italiana Alessandra Ferri.
&
Vou
danado com Ascenso com vontade de voar!,
A escola, Eduardo Galeano, Oscar Niemeyer
& a fotografia de Ilona Shevchishina aqui.