segunda-feira, julho 07, 2025

DIAGNE MBENGUÉ. SARAH HALL. NATALIA LITVINOVA & MARCELA BARROS

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Standard Stoppages (Cedille, 2025), Montgomery: Rhapsody nº 1 (Rubicon, 2024), Contemporary American Composers (CSO Resound, 2023), Songs for Our Times (Deutsche Grammophon, 2023), Bach / Gould Project (Azica, 2015) e Strum: Music for Strings (Azica, 2015), da violinista, compositora, musicista de câmara e educadora musical estadunidense Jessie Montgomery.

 

Jogral do Quinteto Normótico Neuroticida... - Sabe aquela do como é que é mesmo? Sonsonildo repentinamente adentrou no recinto laboral e de supetão sapecou seu escrutínio como uma cusparada provocadora: - O ser humano é a desgraça da humanidade! Disse e esperou o rastilho dos pipocos aos estilhaços, pronto pro escarcéu. Logo ele um impulsivo peidão hipocondríaco, que arrastava uma mala como se fosse uma farmácia ambulante, com sua imaginária autodiagnosticada doença grave e rara, um abjeto TOC de amolegar seu pênis e depois levar os dedos às ventas para conferir o teor da catinga, e sempre assombrado aos reclamos com o menor zunido de moscas, mosquitos, muriçocas, pernilongo ou inseto que fosse, entre os asquerosos tratados por contagiosos e capaz de acamá-lo até a sepultura! Diante dele, a primeira a dar conta do vitupério e pronta pro bateu-levou, foi a Aviduslina, ressuscitando de suas prolepses como se emergisse avexada assim do nada a dar o seu veredicto: - Taí, dessa vez concordo com você! E se riu com seu ar de arroz de festa, logo empanturrando-se com dois pacotes de salgadinhos e esquecendo por um instante sua guerra contra o relógio. Ao lado dela, o Prostracildo parecia acordar-se do marasmo de sua apatia, pelo sinal milagrosamente alentador que o tirou de sua suicida vida depressiva: - Oxe! E num é que é mesmo, nem havia me dado conta disso! Disse com seu jeito insosso de desânimo, deixando de lado as ruminações do seu caleidoscópio de analepses, para chamar a atenção dos demais presentes: Há dias que deveríamos ter feito isso! Do outro extremo da sala, Curiosaldia calmamente ajeitou os óculos para enxergar direito o que ouvira e obtemperou: - Você, Sonsonildo, pela primeira vez, tem razão! Mas, diga logo aí: Qual é a sua droga? Ponderou ela envolvida na fedentina de sua própria flatulência, esquivando-se à francesa, como quem escapole pra não ver o circo pegar fogo: - Vou ao banheiro! E à porta, como se jogasse mais gasolina no fogaréu: E quem é essa tal de Dias, hem? Das funduras do ambiente despertou Artesildo concentradíssimo com os últimos lançamentos da moda: - E num é que ele está certo! Nossa! Eita! Nem perceberam a unanimidade inaugurada desarmando os encrenqueiros prontos pro embate. Entreolharam-se e o hipocondríaco revoltado deu meia volta e, arrependido com a concórdia, querelou: - Vou-me embora, vocês estão todos infectados pela moléstia, desgraçados! A glutona-que-não-parava-quieta arranchada no seu birô estraçalhava um pacote de biscoito recheado e, às mastigadas, sentenciou: - Esse perebento não aguenta o badalo: arma o gatilho e, na hora do disparo, sai correndo! Frouxo! Por sua vez, o pessimista vicariante amargava a disputa se desvanecendo fugidia, fechou-se em si com desdém: - Ah, tenho mais o que fazer diante da morte, ora! Então a zarolha desentendida voltava do banheiro e sem saber o que se sucedera de fato, demorava para enxergar o que realmente acontecera, soltou um pum e deu de ombros: - Eu, hem? Já com ar de vitorioso, o shopaholic-com-um-cotoco-no-rabo ajeitou a gola da camisa, conferiu o vinco da calça e preferiu voltar pras escolhas de suas novas aquisições da moda, ignorando a situação constrangedora ao destilar, por fim, o seu veneno: - Vôte! Vai pra lá, pé-frio-duma-figa! Assim se entendiam entediados aos desentendimentos, não se tratasse de ocasião tão risível quanto deprimente, tudo seguia naquela esquecida repartição de Psicopatolândia (ou seria Alagoinhanduba?). Ah! Até mais ver.

 

Jhumpa Lahiri: Por que eu escrevo? Investigar o mistério da existência. Para me tolerar. Para chegar mais perto de tudo o que está fora de mim... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Phoebe Waller-Bridge: Eu sempre soube que dizer que o indizível seria uma coisa poderosa... É por isso que colocam borracha na ponta dos lápis... Porque as pessoas cometem erros... Veja mais aqui.

Marianne Williamson: E ninguém nos ouvirá até que nós mesmos nos ouçamos... A prática do perdão é a nossa contribuição mais importante para a cura do mundo... Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

O RISO DELA - é uma explosão \ de alegria \ e nostalgia \ como a minha dança \ diante do espelho \ em seu vestido. \ O que aconteceu com o homem \ que um dia a recebeu \ do outro lado da floresta?

PARA SE ENCONTRAR - Com um homem \ do outro lado da floresta \ é viver o mistério,\ explicou mamãe \ quando perguntei \ para onde ela ia \ à noite. \ O mistério \ é um pombinho cacarejando, \ implorando por comida \ de uma mãe ausente. Desespero \ maravilhoso saciado.

Poemas da escritora, tradutora e editora argentina de origem bielorrussa, Natalia Litvinova.

 

CASACO QUEIMADO - [...] Eu sou a madeira no fogo. Eu experimentei, alterei a natureza. Estou queimado, danificado, mais resiliente. Uma vida é uma gota d'água na superfície negra, tão frágil, tão forte, seu mundo incrivelmente sustentado. [...] Tenho essa sensação de estar desconectado e muito longe da tomada e o que resta é uma barra vermelha de alerta. [...] Há cegueira para novos amantes. Eles existem na atmosfera rara de sua própria colônia, confiando por instinto e tato, criaturas se consumindo, construindo abrigos com suas esperanças. Outros mundos cessam. Eu sei que senti algo quando começou, uma compreensão, um pressentimento, até mesmo uma ordenança. O amor nunca é a história mais antiga. Ele cresce na escuridão intensa. [...]. Trechos extraídos da obra Burntcoat (Faber & Faber, 2021), da escritora inglesa Sarah Hall, autora das obras Mrs Fox (2019), Madame Zero: 9 Stories (2017), The Wolf Border (2015), The Beautiful Indifference (2011), How to Paint a Dead Man (2009), Daughters of the North (2007), The Electric Michelangelo (2004) e Haweswater (2002).

 

FALAR AO MUNDO DA MESMA FORMA QUE OS OUTROS - [...] Além da emoção, além da reação, precisamos ser capazes de sentar juntos, ler o mundo juntos de maneiras diferentes e entender que essas diferentes maneiras de ler o mundo só podem nos enriquecer, em vez de nos tirar algo. E acredito que essa co-construção do mundo, essa coconstrução da humanidade que compartilhamos, é um dos maiores desafios do momento. Este consórcio também busca contribuir para isso. [...] Agora somos um mundo interconectado: os problemas de uma pessoa são problemas globais, e os problemas de outra pessoa são problemas globais. [...]. Trechos da entrevista l’Afrique doit «dire le monde au même titre que les autre (Reseau Scolaire, 2023), concedida pela filósofa senegalesa Diagne Mbengué (Ramatoulaye Diagne Mbengué), que na obra Le modernisme en Islam: Introduction à la pensée de Sayyid Amir Ali (L'Harmattan, 2019), expressou que: [...] A sociedade deve ser uma sociedade aberta, uma sociedade na qual cada pessoa possa se reconhecer. [...].

 

AGRESTE LENTICULAR, DE MARCELA CAMELO BARROS

[...] Escrever sobre o que somos é uma história que não é exclusivamente minha, ela se repete na ancestralidade de milhares de mulheres nordestinas [...] É um reforço para a nossa identidade, constantemente apagada pelo silenciamento da história das mulheres, para entendermos que viemos de mulheres fortes [...] corajosas e transmissoras de conhecimento. Assim como eu recebi esse saber, quem sabe agora não transmito? O lenticular é a ponte para a transmissão da representação de mulheres do Agreste, mas também um fenômeno de ilusão. Teria a comunidade do Trapiá, a partir do fenômeno das rezadeiras, um vestígio de dominância feminina? Acredito que o ideal de sociedade matriarcal nas zonas rurais do Nordeste é como a ambiguidade da imagem lenticularizada: entre pequenos movimentos do olhar, surgem lampejos como as manifestações da religiosidade popular, os encontros das mulheres, da insubordinação às instituições oficiais. Uma árvore tem sua origem na semente. Sem demagogia, há esperança. [...].

Trecho extraído da tese de doutoramento sob a temática Agreste lenticular: pesquisa e criação em suporte artístico (UFPE, 2023), da artista visual e professora Marcela Camelo Barros, que concentra em suas pesquisas recentes autoestereoscopia, imagem lenticular e processos de criação junto às manifestações da religiosidade popular feminina do Agreste de Pernambuco, autora do projeto Agreste lenticular: Pesquisa e Criação em Suporte Artístico. Veja mais aqui.

 

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DIAGNE MBENGUÉ. SARAH HALL. NATALIA LITVINOVA & MARCELA BARROS

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