segunda-feira, junho 30, 2025

DIANA AURENQUE, LINA MERUANE, MAYRA OYUELA & MITSY QUEIROZ

 

Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som da Suíte para piano Cinco danças (1960), de Três Peças para fagote solo (2018-2019), Multisarabanda (2023) & do álbum O piano de Kilza Setti (Minas de Som – Escola de Música da UFMG, 2023), da premiada musicista, compositora, professora doutora e antropóloga Kilza Setti (Kilza Setti de Castro Lima), fundadora da Associação Brasileira de Folclore.

 

Agora vai!... - Sabe aquela do melhor que não deu certo? Pois é, na minha vida as coisas sempre andaram fora do riscado. Posso até assegurar: me custaram mesmo o couro e os olhos da cara. Foram lapadas nas costelas, punhaladas nos costados, camas de gato pra quebrar as ventas, aprendia? Ora, se. No fim das contas: melhor assim, pelo pior. Até me animei para escrever um livro: Zilhões maneiras de não fazer para que dê certo (um dia que seja, sabe-se lá!). Seria o maior best-seller, apostei convicto mais de uma vez. Simancol na área, iiiih, pensei melhor: não. Não fiquei quieto, zanzei por aí e descobri o stand-up! Ah, é isso! Por que não fiz antes? Agora vai! Botei na cabeça todo tipo de situação atrapalhada e, depois de muita empolgação, o riso amarelava com a bola murcha: não levava o menor jeito. Hummmm... Devia fazer teatro, vai que é isso! Encorajado pela ideia fiz cursos, queimei as pestanas, botei a vergonha nas costas, dediquei-me mesmo. Tá. Queria começar por cima, pensando o quê? Topete, meu! Agora vai! Não deu. Faltava o texto. Ah, sim! Li cronistas de cepa, humoristas dos bons, ensaiei que só. Escrevi, rasguei; reescrevi mais trocentas vezes e, todo ancho, me endeusei. Aprumei a conversa e tropecei nos meus solecismos, leituras da muita sobre narrativa, estilística, o significado das coisas, cada tijolão de não sei quantas páginas! Agora vai! Não foi, de novo. Enganar a quem? Estava um aranzel parnasiano, arrazoado do escambau. E parece que auto-endoideci: a gramática portuguesa é uma hipérbole metafórica que na horagá só tem puxa-encolhe! Como assim? Auto-enlouquecimento! Melhor: síndrome do impostor. Vôte! Tinha remédio? Peraí! Tô fazendo papel de besta! Isso foi um jato de vapor gelado na lata: até quando queria ajudar atrapalhava, sacou? Era o sinal. Se arrependimento matasse estaria salvo. Mas, não. Só me dei conta de dois detalhes por enquanto ínfimos: o primeiro, sempre estragava a piada com o pé na jaca: matando a charada antes da hora! Não tinha a menor graça. E quando decorava uma das boas, o pior: na hora de contá-la, caía na maior gaitada de engasgar e não conseguir nem sequer iniciá-la. Como é? A minha completa inaptidão deixou escapulir um módico e imprescindível terceiro motivo: a minha mais completa falta de talento, assumidamente um verdadeiro perna de pau! Ah, se tivesse dado certo seria outra a hestória, né não? Até mais ver.

 

Nancy Farmer: É sempre uma batalha permanecer do lado do bem... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Sophie Oluwole: Não há nada que seja absolutamente material. Não há nada absolutamente imaterial. E em todos os fenômenos do mundo, os dois estão juntos... Veja mais aqui.

Tanella Boni: só a palavra nos serve de passaporte para abrir o caminho... Veja mais aqui & aqui.

 

PROIBIDO ESQUECER

Imagem: Acervo ArtLAM.

Depois de cruzar certos agulheiros \ atravessei a nostalgia \ como se atravessa um suspiro \ em meio de qualquer semáforo. \ Meus sapatos têm clavículas, \ Bocas que se engasgam com passos. \ Primogênita me apresso, \ pela primeira vez nos lábios \ do homem que jamais beijei. \ A nostalgia é cozida à mão \ como esse avental guardado no armário de minha mãe. \ Em silêncio começo uma oração \ com a frase "proibido esquecer". \ A noite é uma cortina molhada, \ um abraço a mais a oferecer, \ um persuasivo de adeuses que não são definitivos. \ Concluo: \ que os beijos são para os que amam \ sem promessas ou esperanças.

Poema da poeta, radialista e gestora cultural hondurenha Mayra Oyuela, fundadora do coletivo Paíspoesible e autora do livro Escrevendo uma casa para o barco (l II Miglior Fabbro, 2006).

 

SISTEMA NERVOSO – [...] Eu nunca esqueceria, mesmo que não conseguisse lembrar. [...] Provavelmente sempre estamos enfermos e não nos separamos. E mesmo que a menina pensasse que ela havia se assutado com todas essas histórias que poderiam ter padecido um corpo, só depois ela percebeu que essas histórias eram apenas um resumo. Porque o raro é viver. Há tantas coisas boas que você pode sair mal [...]. Trechos da obra Sistema nervioso (Cadencia, 2018), da premiada escritora e professora chilena Lina Meruane (Lina Meruane Boza), que na sua obra Contra Los Hijos / Against the Kids: Una Diatriba Contra Los Hijos Versus Round 14 (Literatura Random House, 2018), expressa que: […] Antes, quem detinha o poder era o pai e a mãe, agora são os filhos que mandam, exigindo, como nunca antes, submissão e apoio absoluto e incondicional dos pais. [...]. Já no seu Sangre en el ojo (Caballo de Troya, 2012), ela expressa que: […] Eu não sou nada além de um animal que quer deixar de ser um [...] Mas é isso que somos, dois estranhos reunidos por acidente no enigma impossível da doença. [...] O preço da minha vaidade seria tropeçar na vida. [...].

 

FILOSOFIA TERAPÊUTICA - [...] Somos a estranha contradição daqueles que conhecem, sentem e tocam o infinito, mas que morrem um pouco a cada dia [...] Se aceitarmos a estranha e mista contradição que somos, uma nova dimensão existencial emerge: uma possibilidade terapêutica que é sempre profundamente filosófica. [...] Embora possa parecer contraditório à primeira vista, o confinamento proporciona liberdade. Um espaço de soberania para cuidar de quem somos: o que fomos, o que desejamos ser e o que ainda temos a conquistar. [...]. Trechos extraídos da obra Animales enfermos: Filosofía como terapêutica (Fondo de Cultura Económica Chile, 2022), da filósofa e professora chilena Diana Aurenque (Diana del Carmen Aurenque Stephan), autora de obras como Ethosdenken. Auf der Spur einer ethischen Fragestellung in der Philosophie Martin Heideggers (2011), Die medizinische Moralkritik Friedrich Nietzsches: Ihre Genese, Bedeutung und Rezeption, Wiesbaden (2018), Pensar lo público (2023) e Animal ancestral. Hacia una política del amparo (2023).

 

IMAGEM LATENTE CORPO SENSÍVEL, DE MITSY QUEIROZ

[…] Consolado pela sensação de perda infinita que o tempo traz, derramado nos braços do novo e nos lances inaugurais daquilo que devém, sinto que fotografar é escrever no escuro. Tão morte quanto imortalidade, corte na carne, cicatriz e luz, tanto que não foi espantoso nascer outro através desse processo criativo, que bem tentou refletir e incorporar na sua linguagem a densidade dessa experiência. Ao experimentar exaurir e suspender o tempo que antecedia essa ventania, soube que as provocações dessa tempestade de certa forma precipitaram o tempo de grandes mudanças. A percepção desse tempo que se elastece no silêncio e mergulha nas águas calmas de uma imagem latente, enfrenta também o desespero de um temporal sem precedente ou abrigo. Até que inesperadamente o sol iluminou as águas profundas e o percurso lamacento dessa travessia para entender que entre o curto episódio de nascer e morrer, fui ao encontro de uma metamorfose que aproximou a puberdade da menopausa. E mais do que isso, procurava outro nascimento, um começo que não fosse inato, que não estivesse involuntariamente carregado dos projetos coloniais de gênero ou raça, mas que pudesse eu mesmo criar um corpo próprio, com a capacidade de mudar e eleger a imprevisibilidade como doutrina, sendo a cobaia do meu próprio laboratório de pesquisa. Sou a carne e a voz dessa pesquisa política. […].

Trechos extraídos da dissertação de mestrado sobre o tema Imagem Latente Corpo Sensível (UFPE/CAC, 2020), da fotógrafa, videoartista, poeta e artista visual, Mitsy Queiroz. Veja mais aqui.

 

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DIANA AURENQUE, LINA MERUANE, MAYRA OYUELA & MITSY QUEIROZ

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som da Suíte para piano Cinco danças (1960), de Três Peças para fagote solo (2018-2019), Multisarabanda (...