TRÍPTICO DQP:
Eclosão do canto, memória viva!... - Ao som de Uirapuru, da
pianista, compositora e musicoterapeuta Gisele
Mallon, na interpretação da instrumentista Talita Passoni e pássaros do Espaço Musicoterapia, Salto –SP. - Um piado
e o espanto; depois do som, um tom: silvos e assovios, trinados e gorjeios,
quantos estalidos & Néstogas: o verbo canta. Tudo pulsa - fusas, mínimas e
colcheias nas águas da correnteza, no vento das folhas, chuva na relva, poeira
da brisa nas pedras, no desabrochar colorido das flores, nas ondas dos mares e
marés, tudo respira buliçoso, seres e coisas dançam. São pisadas e passos de todas
as feras e mansas nos quintais de todas as frutas e infâncias, nos braços de
todas as raças e crenças, várzeas e campos, naus dos brejos, lagos e lagoas. Tudo é céu no meu solfejo para Tupã dormir. Tudo o mais é
o espetáculo do amor, o sumo da existência. Não há como olvidar de nada, porque
ali é como se ouvisse a escritora estadunidense Nancy Farmer segredar: As almas
das pessoas são como jardins. Você não pode virar as costas para alguém porque
seu jardim está cheio de ervas daninhas. Você tem que dar a ele água e muita
luz do sol. É como se ouvisse tudo isso na canora expressão do
Xexéu à minha janela. Toda manhazinha e ele lá como se me dissesse Jurandir Freire Costa: Sem amor estamos amputados de nossa melhor parte. A vida pode até ser
mais tranquila e livre de dores quando não amamos. Mas trata-se de uma paz de
cinzas. O amor não é fácil, a gente sabe disso. Para conseguir, para manter,
para conservar, para renovar, é pedido da gente que exista um trabalho
psíquico, que exista um trabalho mental. A pergunta é saber como a gente
começou a imaginar que o amor ia ser essa coisa fácil, ao alcance de todo mundo
e ao alcance de um sujeito muito tempo na vida ou várias vezes na vida. Convém
lembrar: a vida nos olhos de todas as manhãs, o direito de viver e deixar
viver.
O
que é de céu senão da Terra... – Imagem:
A arte do artista espanhol multimídia
pós-conceitual Antoni Muntadas. - Aqui
dentro eu posso tudo até o céu. Lá fora irrespirável inferno dantesco, porque
do átrio da civilização saíram todos
direto pra caquistocracia da esgotosfera coisonária!
É vigente o poetar d’O íntimo
dado (A senha) do Éle Semog: Cada vez que gritam: pobre! /
me assusto. Recuo ao canto / mais perto do rés do chão. / Negro, fico sem cor.
/ Fúria, fico sem fala. / Pois sei que as balas dos patrões, / que as balas dos
políticos, da polícia / correm atrás de mim sem-terra, / correm atrás de mim
sem-teto, / correm atrás das minhas razões / por esses labirintos finitos /
enredados de justiça e democracia, / só para eu sair nos jornais, / morto na
foto, / sangue vazando pelos ouvidos. / Toda vez que eles gritam: pobre! / é a
tortura, é o estampido, é a vala. / É a nossa dor que tranquiliza os ricos. /
Alô rapaziada... tem de antenar o dia: / o vento que venta lá, venta cá. Lá
fora tudo se parece andar para trás e eu teimo seguir adiante com a dor de Lídia Jorge: Os
olhos frios da história precisam das lágrimas ardentes da literatura... Se não sei mais o que fazer, opto
pela vida, reitero teimar seguir em frente, sempre adiante.
O
que é da vida senão amor... - Imagem: a
arte da fotógrafa e artista conceitual holandesa Laura Zalenga. - Não tenho asas e nem sei onde estou. Ela me
abre os braços Boadicea por alento
para que eu não me sinta recusado Manet
no Le Havre et Guadaloupe, pelos
mares tenebrosos de Conrad: Não há linhas na natureza, apenas áreas de
cor, uma contra outra. Seu abraço Susanne Leenhof - a amante de meu pai -, é
o apoio que eu não tive quando precisei e como prêmio se fez a Ninfa surpresa que junta meus pedaços
como cacos de vidro às mãos: Não há
simetria na natureza. Um olho nunca é exatamente o mesmo que o outro. Há sempre
uma diferença. Todos nós temos um nariz mais ou menos torto e uma boca
irregular. Ela me chama à câmara fotográfica e é lá que a sua nudez me
ilumina ao toque do piano de suas mãos divinas. E se faz mais que amante Victorine
Maurent para escândalo do Almoço na Relva
na pele da controversa Olímpia: Em uma face, procure a luz principal e a
sombra principal; O resto virá naturalmente - muitas vezes não é importante. E
então você deve cultivar sua memória, porque a natureza lhe fornecerá
referências. A natureza é como um diretor em um asilo lunático. Ele impede que
você se torne banal. Não fossem a infecção na perna e a insuficiência
circulatória eu teria mais para que ela feita Berthe Morisot, elegante e refinada entre as violetas com seus
olhos escuros, feições marcantes, seu leque e suas cartas: Toda vez que pinto, me lembro na água para aprender a nadar. Era
ela a pujança da jovem estudante Eva Gonzales, o que me fez saber qual o meu
lugar. E mesmo que eu não tenha para onde ir nem o que fazer é nela que eu sei
que a vida vale o amor, isso é o que me basta. Até mais ver.
A educação
é uma das coisas deste mundo em que acredito de maneira inabalável. Hoje
desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender...
Pensamento da escritora,
pintora, professora e jornalista Cecília Meireles (1901-1964). Veja mais
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Conrad