DITOS & DESDITOS - Comecei a perceber o quanto era importante
ser um entusiasta da vida. Se você estiver interessado em algo, não importa o
que seja, vá a toda velocidade. Abrace-o com os dois braços, abrace-o, ame-o e,
acima de tudo, torne-se apaixonado por ele. Morno não é bom. Quente também não
é bom. Branco quente e apaixonado é a única coisa a ser. Pensamento do
escritor britânico Roald Dahl
(1916-1990). Veja mais aqui.
ENNAZIN
– Ennasin, ou ilha das Alianças, é uma ilha
triangular, aproximadamente do mesmo formato e mesma localização da Sicília.
Seu povo se parece com os pictos (antigos habitantes celtas da Escócia), mas
tem nariz em forma de ás de paus. Todos os ilhéus são parentes de sangue ou por
casamento, fato de que são extremamente orgulhosos. Os graus de parentesco são
tão complexos e as uniões consaguineas tão frequentes que é impossível
encontrar alguém que não seja mãe, pai, genro, tia, primo ou sobrinho de
outrem. Os visitantes ficarão surpresos, por exemplo, ao ouvir um velho chamar
uma menina de três ou quatro anos de pai, enquanto ela o chama de filha. Os
casais chamam-se por uma ampla variedade de nomes carinhosos: meu toucinho,
minha escrivaninha, meu borzeguim, e minha omelete, são exemplos típicos. O
casamento entre os parceiros mais improváveis parece ser o principal passatempo
e diversão desse povo, mas os visitantes raramente são convidados a participar.
Trecho extraído de Le quart livre des
faicts et dicts du bom Pantagruel, da obra Gargântua e Pantagruel (Garnier, 2009), do escritor francês François de Rabelais
(1494-1553). Veja mais aqui e aqui.
BOADICEA
- Boudicca, conhecida pelos romanos como Boadicea, foi uma rainha celta
que liderou os icenos, juntamente com outras tribos bretãs, em levantes contra
as forças romanas que ocupavam a Grã-Bretanha em 60 a.D., durante o reinado do
imperador Nero. Esta lendária guerreira celta uniu as várias tribos, que
constantemente lutavam entre si, em um objetivo comum, usando lanças e machados
contra os disciplinados e super equipados exércitos romanos. A fama desta
rainha, como a de algumas outras mulheres celtas, assumiu a dimensão de mito em
toda a Grã-Bretanha. Como visto, Boadicea era apenas a rainha de uma tribo
celta em um canto da Grã-Bretanha. Mas – após a morte de seu marido e de ver
sua tribo ser invadida, suas terras tomadas e testemunhar o estupro de suas
filhas – ela entrou para a história. A rainha celta liderou a maior revolta
contra os romanos em 400 anos de domínio da Britânia. A rainha furiosa colocou
abaixo 3 das mais importantes cidades da ilha, incluindo Londres, e massacrou
70 mil romanos. Ainda fez o imperador Nero considerar a possibilidade de
recolher as tropas e desistir da região. Boadicea seguia sua marcha e os
romanos se posicionaram no caminho para esperar a chegada dos celtas para a
batalha final. Apesar de estarem em desvantagem numérica, os romanos tinham a
seu favor armamentos melhores, além de disciplina e estratégia militar
superiores. Os eventos sobre a atuação da rainha Boudicca, foram relatados pelos
historiadores romanos Tácito e Dião Cássio em História Romana. Uma estátua de
Boudicca, representada segundo a concepção da memória popular, é encontrada em
Londres, ao lado do rio Thames, próximo das casas do Parlamento. Veja mais aqui e aqui.
CONVERSANDO COM DEUS – [...]
A religião era muito vaga. Deus era diferente. Ele era algo real, algo
que eu podia sentir. Mas havia apenas certos momentos em que eu podia sentir
isso. Eu costumava deitar
entre lençóis frescos e limpos à noite depois de tomar banho, depois de lavar o
cabelo e esfregar os dedos, unhas e dentes. Então eu poderia ficar quieto no escuro com o rosto
voltado para a janela com as árvores e conversar com Deus. "Estou limpo agora.
Nunca estive tão limpo. Nunca estarei mais limpo. [...] Eu me perguntei um pouco por que Deus era uma coisa tão inútil. Parecia uma perda de
tempo tê-lo. Depois disso ele se tornou cada vez menos, até que ele
era... nada. [...]. Trechos extraídos do ensaio God Dies (1931), da atriz estadunidense Frances Farmer
(1913-1970), também autora da frase: Chega um momento em que
um sonho se torna realidade e a realidade se torna um sonho. Veja mais aqui.
DOIS POEMAS
– PERFIL - você é como um poema. /sem passado e futuro.
/ trilha de pólvora. / cego jogo em chamas: palavras. / você é como uma
surpresa / para cada tempo. com detalhes / em todas as letras. AMOR DO FRUTO
DEFORMADO - eu sangro e choro / sou quase capaz de ser refeito. / falo às
pedras que um dia / elas serão instrumento / para eu conseguir o nosso pão. / falo
o meu silêncio / no vácuo das emoções que me arrancaram. / só os escorpiões não
sabem / quantas vezes me ferrei de solidão. / eu, maldito nós, sempre feito de
pedra / que não se dá jamais ao absurdo / que nunca se vê fora do próprio útero
/ mas que finge ser vida da vida. / te encontrei semente estéril / flor de
todas as culpas e sem mistério / sendo por dentro um só vazio / peito amargo,
cheio de feridas. / te vi transformada num lugar / que ninguém ousaria se
esconder / que nem mesmo um verme habitaria. / mas raspei da mente o medo / a
hipocrisia, os sonhos pretendidos / ensanguentei minha cultura e mitos / até
que por fim juntei-me a ti. / agora o tempo é um / amontoado de horas sórdidas
/ e o ódio se tempera com angústia / e a frustração remenda trapos / e as
cinzas do amor já são do vento / eu me vejo por dentro dos momentos / tramando
sinais esquizofrênicas / te suicidando num caso ao acaso / utilizando a morte
pra te ver morta / e ter com isto / um sofrimento só pra mim. / amores...busquei-os
feito tolo / e em desamores desaguei. / bebi a seiva das dores / na fonte dos
sonhos. venenos / embriagar-embriaguei: embrionei-me / sinas inesperadas / tristezas
somente imaginadas / nos versos de ocasionais poetas / e nas verdades contidas
/ no coração da gente simples / que o cotidiano esmaga e oculta / sem que
ninguém veja / o desespero exposto nos varais. / não encontrei minha cria, meu
rebento. / o silêncio do teu corpo / posso traduzir agora / com meu próprio
silêncio / pois o passado nos deixou apenas / esta ausência da nossa carne / entre
os fatos da vida. / por amor mata-se as ilusões / cega-se o coração, vende-se a
alma / e, ainda, por amor perde-se a calma / de esperar que o amor se faça amor. Poemas
do poeta, ativista e agitador cultural, Ele Semog
(Luiz Carlos Amaral Gomes) que integrou os grupos ativistas “Garra Suburbana” e
“Bate-Boca”, fundador do grupo Negrícia – Poesia e Arte de Criolo.
ADEUS AO
SÉCULO XX - Cruzo a
rua Marx, a rua Freud; / ando por uma margem deste século, / devagar, insone,
caviloso, / espia ad honorem de algum reino gótico, / recolhendo vogais caídas,
pequenos calhaus / tatuados de rumor infinito. / A linha de Mondrian frente a
meus olhos / vai cortando a noite em sombras retas / agora que já não cabe mais
solidão / nas paredes de vidro. / Cruzo a rua Mao, a rua Stalin; / olho o
instante onde morre um milênio / e outro desponta seu terrestre domínio./ Meu
século vertical e cheio de teorias… / Meu século com suas guerras, seus
pós-guerras / e seu tambor de Hitler lá longe, / entre sangue e abismo. /
Prossigo entre as pedras dos velhos subúrbios / por um trago, por um pouco de
jazz, / contemplando os deuses que dormem dissolvidos / na serradura dos bares,
/ enquanto decifro seus nomes a cada passo / e sigo meu caminho. Poema
do poeta venezuelano Eugenio Montejo (1938-2008). Veja mais aqui.