Um dia Zé-Corninho aparece
fazendo umas caretas esquisitas.
- Qué qui tá acuntecendo,
Zé-Corninho? -, perguntou o Doro.
- Tô cum dô aqui no pé do
estômbo!
- Vixe! Tá prenho, desgraçado?
- Tô morreno! Tôo morrenuuuuuuuuu!
-, e começou a berrar feito bicho ferido se contorcendo todo.
Doro amuntou-lo na cacunda e
carregou-lo pro posto de saúde. E ele só: - Ôi, ôi, ôi. Tô morrenu.
Enquanto ele gemia, no posto não
havia médico.
- Ué! E o cabra vai batê as botas
aí agora, é? -, reclamou Doro.
- Leve pro hospital, oxe -,
respondeu a atendente desaforada.
Lá vai Doro carregando o agonizante
ladeira arriba até chegar na emergência do hospital e começar o teitei.
- Adonde qui boto esse muribundo?
-, perguntou pela primeira enfermeira que viu.
- Tem maca não!
- Oxe! E fico como? Cum esse
morrente pindurado no pescoço, é?
- Bote ele no chão ou procure
outro hospital.
- Vôte!
Doro rodou, rodopiou e achou um
canto pra despejá-lo no chão.
Aí foi procurar médico,
enfermeiro o que tivesse.
Nada.
Eis que surge um zarolho que lhe aplica
uma injeção no braço e ele berra na hora:
- Eita! Tá doido, tá? Sou eu que tô
morreno não, é aquele ali!
- Adisculpa, moço.
E seguiu para aplicar o analgésico
no inquieto Zé-Corninho que não se aguentava mais de tanta dor.
Doro ficou com o braço dormente
com a picada da injeção.
- Pronto, não posso ajudá mais o
rapaiz. Ocê mim lascou seu zaroio. Cadê o médico?
- Tem médico não.
- Aí, lascou.
Uma enfermeira franzina puxa o
Doro e confidencia aos cochichos:
- Si quisé cuidá do seu amigo,
leve pra outra cidade. Aqui num tem médico nem enfermeira. A gente é tudo só ajudante
e aprendiz. Os médico da pediatria já fugiru tudo doido. É qui só tem 10 leito
na UTI de lá e tem 30 criança morre-mas-num-morre. Eles tavam apostano no
cara-coroa pra vê quem se salva, o resto tudo morri. Ficaru tudo di depressão,
inchendo a cara na cachaça e endoidaru tudo de ficá só brincano de bru-bru nos
beiços...
- Vixe, minha santa disgraça!
- A coisa tá tão abirutada aqui
qui operaru mulé de fimose e homi de cesariana.
- Aí, tá certo!
- Além do maisi num tem remediu, os
leito tudo se desmanchano, tão acusano a genti de uma tá di infecxação hospitalá,
é pingueira pru todo lado, os equipamentu tá tudo arrebentado, as maca si
arriano de véia cum peso do povo, uma lástima!
- Valei-me, meu padim Pade Ciuço!
- Se avie, ora, pegue uma banda
da bunda e saia rebatendo ca outra cum seu amigo na cacunda e arribe proutro
hospitá na ridondeza qui aqui o negóço tá feiím dimai. Aqui ele só vai murrer e
mai nada.
Assim foi. Zé-Corninho passou
horas se debatendo até que arriou num sono brabo. Desconfiaram que ele tinha
morrido. Aí quando roncou, viram que estava só dormindo.
Lá pras tantas Doro não aguenta e
acorda o parceiro que se levanta com dificuldade. Já era de tarde e ele estava
morrendo de fome. Compraram uns mata-fome com caldo de cana e encheram a pança,
sob os reclamos do adoentado que ainda se ressentia de muitas dores, agora
suportáveis.
Dali foram prum consultório médico.
Consultas só daqui mais três meses.
- Vixe, eu morru e num sô
atendido!
Por via de dúvidas, deixaram
registrada sua consulta na data marcada. E foram encher o mundo de perna vendo
se davam conta de algum atendimento. Nada. Findaram na farmácia se automedicando
com um vendedor do balcão.
Dali mais adiante, chegou o dia
da consulta. O médico não veio porque está fazendo um congresso lá não sei
onde. Remarcaram mais 2 meses depois.
Quando foi pra atendê-lo,
perguntaram-no:
- Qual seu plano?
- Suisi.
- Cuma?
- Suisi, suisi, do guvêrno!
- Ah, SUS. Só daqui 20 dias.
Mais dias, finalmente, a vez
dele. Meio mundo de exames. Como não tinha dinheiro para tudo, lá se foram
quase um semestre. E mais 90 dias depois foi atendido com o diagnóstico de
apendicite. Cirurgia encaminhada pra dali mais 180 dias.
No dia aprazado chega ele no
hospital. Volta, não tem leito. Mais 45 dias: faltou o médico. Mais 6 meses: o
equipamento tá quebrado. E 90 dias depois, ele já saiu de casa pensando: - Qual
vai ser a bronca hoje? -, não deu outra, avisaram: os anestesistas estão de
greve.
Nessa brincadeira lá se vão mais
de 3 anos e o Zé-Corninho abatido, cambaleando e choramingando com tudo.
Outro dia mesmo avistei o
coitado:
- Como vai, Zé?
- Sou um morto-vivo, já mandei
fazê o tistamentu das poicarias qui tenho, insperando só a hora di mim interrá.
- E a cirurgia, ficou pra quando?
- Pru dia de são nunca.
E tudo continua, a história se
repete todo santo dia. Isso é o Big Shit Bôbras do Fecamepa!
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