[...] O coração de
Ema palpitou, quando o seu cavalheiro lhe pegou a mão, pela ponta dos dedos, e
colocou-se em linha, esperando o sinal de partida [...] logo, desapareceu a
comoção e balouçando-se ao ritmo da orquestra, deslizou para frente com
ligeiros movimentos de pescoço. O sorriso assomava-se aos lábios... [...] Entretanto, como a luz das velas o ofuscava
ele se voltava para a parede e adormecia, ela escapulia então retendo o fôlego,
sorridente, palpitante, nua [...] E
voltaram para se beijar ainda, foi então que ela lhe prometeu a achar um
pretexto qualquer, a ocasião permanente de se verem em liberdade, ao menos uma
vez por semana [...] atraída para o
homem pela ilusão da personagem, ela tentou imaginar a sua vida, essa vida
retumbante, extraordinária, esplêndida, e que poderia ter sido a sua se a sorte
o tivesse querido. Eles ter-se-iam conhecido, ter-se-iam amado! Com ele, por
todos os reinos da Europa, ela teria viajado de capital em capital,
partilhando-lhe as fadigas e os triunfos, colhendo as flores que lhe
arremessavam, bordando-lhe ela própria os seus fatos de cena; depois, todas as
noites, no fundo de um camarote, atrás da grade com a sua rede de ouro, teria
recolhido, boquiaberta, as expansões dessa alma que cantaria só para ela; da
cena, enquanto representava, ele olharia para ela. Mas uma alucinação
apoderou-se de Emma; o cantor estava realmente com os olhos postos nela. Sentiu
ânsias de correr para os seus braços e refugiar-se na sua força, como na
própria encarnação do amor, e de lhe dizer, de lhe gritar: «Arrebata-me,
leva-me, partamos! Para ti, para ti todos os meus ardores e todos os meus
sonhos [...] Ema trinchava, servia-o,
fazendo toda espécie de pieguices, e ria-se com riso sonoro e libertino quando
a espuma do champanhe lhe transbordava do copo para os anéis que lhe enfeitavam
os dedos. Estavam tão completamente perdidos na posse de si mesmos, que se
julgavam já na sua própria casa, onde deveriam viver até a morte, como dois
eternos noivos. Diziam “o nosso quarto, o nosso tapete, as nossas poltronas” e
Ema chegava mesmo a dizer “os meus chinelos”, uma prenda de Léon, uma fantasia
que ela tivera. [...] Quando ela
sentava nos joelhos dele, a perna ficava-lhe batendo e o chinelinho se sustinha
apenas nos dedos do pezinho nu. Léon saboreava pela primeira vez a inexprimível
delicadeza das elegâncias femininas. Nunca encontrara aquela graça de
expressões, aquela reserva de vestuário, aquelas atitudes de pomba meio
adormecida. Admirava-lhe a exaltação da alma e as rendas do vestido. Além
disso, não era ela uma mulher da sociedade, uma mulher casada, uma verdadeira
amante, enfim? Pela diversidade de seu caráter, alternativamente mística ou
alegre, faladora, taciturna, arrebatada, indolente, despertava-lhe mil desejos,
evocando instintos ou reminiscências. Ema era apaixonada de todos os romances,
a heroína de todos os dramas, a vaga ela de todos os volumes de versos. Achava-lhe
nos ombros a cor de âmbar da odalisca no banho; tinha colete pontiagudo das
castelãs feudais; assemelhava-se também à mulher pálida de Barcelona, mas era
sobretudo anjo! [...] Ela se prometia
continuamente, na próxima viagem, uma felicidade profunda; depois se confessava
não sentir nada de extraordinário. Esta decepção voltava para ele – mais
inflamada, mais ávida. Despia-se brutalmente, desatava o fino cordão do colete,
que lhe sibilava como uma cobra rastejando em volta dos quadris. Ia no bico dos
pés nus ver mais uma vez se a porta estava fechada, depois, com um só gesto,
deixava cair ao chão toda a roupa; e, pálida, sem falar, séria, cingia-o ao
peito, com um prolongado estremecimento... [...]
MADAME BOVARY – Na tradução
de Araújo Nabuco, a obra foi inspirada em um caso de adultério seguido do
suicídio da mulher, começando a sair em 1856 na Revue de Paris e foi publicado
em livro em 1857. A obra acarretou ao autor um processo por ofensa à moral
pública e religiosa. No julgamento perguntaram-lhe quem teria sido o modelo,
tal a veracidade da personagem. Sua resposta foi histórica: “Madame Bovary sou
eu”. O romance é considerado o mais importante da literatura francesa. Também
se tornou o primeiro romance realista da história universal. O livro nos conta a
história de Emma, uma jovem simples do interior da França, casada com o Dr.
Carlos Bovary. No casamento, ela se queixava de não sair a lugar algum e também
de nunca ter ido a um baile. Um dia ela conhece o Sr. Leon Dupuis, escrevente
da cidade, que logo no jantar de boas vindas já dava sinais de flerte com ela.
Depois, Rudolfo Boulauger, dono de uma grande propriedade denominada de La
Fouchantte, que era jovem e ostentava uma riqueza e um patrimônio gigantesco.
Após animada conversa, ambos subiram até o primeiro andar da prefeitura, lá
passaram a dialogar e nesse cenário se deu o primeiro beijo. Ema enfim trairia
Carlos. A história prossegue e muitos acontecimentos ocorrem.
GUSTAVE FLAUBERT – Nascido em
Rouen, França, a 12 de dezembro de 1821, faleceu em Croisset, perto de Rouen, a
8 de maio de 1880. Filho de um cirurgião, Flaubert cresceu entre todas as
misérias humanas, delas só se afastando ao ingressar no colégio Real, onde foi
tomado de entusiasmo e encantamento pela poesia, pelas reconstituições históricas
e pelos romances. Aos 15 anos apaixonou-se por Elisa Schlésinger, casada, com
um filho e 15 anos mais velha que ele. A paixão acompanhou-o toda a vida,
inspirando, anos depois, uma literatura romântica, entremeada de confissões
melancólicas. Publicou vários livros, entre eles Salambô, romance histórico
sobre a queda de Cartago, seguindo-se de Educação Sentimental, A Tentação de
Santo Antonio, A Lenda de São Julião Hospitaleiro, Heródias, Um Coração
Simples, entre outros. FONTE: FLAUBERT,
Gustave. Madame Bovary. São Paulo: Abril Cultural, 1979. Veja mais aqui, aqui,
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