quarta-feira, outubro 17, 2012

INGRID JONKER, ESTHER VILAR, JULOS BEAUCARNE, GEORGE ELIOT, AGOSTINHO NETO & POBRE


POBREZA – A pobreza é definida de diversas formas, desde o castigo divino até ser tida como resultante da desigualdade social. A pobreza aparece como um sigma, daí que os sociólogos afirmam que a pobreza evoca uma condição humana humilhante. Distingue–se, pois, três níveis de pobreza, que formam ciclos concêntricos: o maior inclui todos os pobres, qualificados em relação ao seu baixo nível de renda; o segundo, menor, reagrupa os pobres que se beneficiam de certa alocação social, mas ao mesmo tempo são considerados como pessoas depravadas e mal formadas. O terceiro reúne os que recebem ocasionalmente uma alocação. O estigma da degradação, de maneira tradicional, confunde a pobreza com a pratica de atos ilícitos. Retrocede–se à ideia medieval dos bons e maus pobres. Neste sentido, destacam–se, também os reflexos de condenação que surge do espetáculo da pobreza. Essas atitudes e representações são interiorizadas pelos próprios pobres. Uma vida fundada sobre a exclusão social, constitui a verdadeira definição da pobreza. Enfim, há que se entender que a pobreza é um mundo complexo e a descoberta de todas as suas dimensões exige uma análise clara. Ou seja, ser pobre não significa apenas viver abaixo de uma linha imaginaria de pobreza, mas é ter um nível de rendimento insuficiente para desenvolver determinadas funções básicas, levando em conta as circunstâncias e requisitos sociais circundantes, sem esquecer a interconexão de muitos fatores. Vejamos algumas opiniões a respeito da pobreza:

RALPH WALDO EMERSON, ESCRITOR E FILÓSOFO  - A pobreza consiste em nos sentirmos pobres.

ANATOLE FRANCE, ESCRITOR E JORNALISTA - A pobreza é indispensável à riqueza, a riqueza é necessária à pobreza. Esses dois males engendram-se um ao outro e sustentam-se um ao outro. O que é preciso não é melhorar a condições dos pobres, mas acabar com ela.

ALFREDO BRUTO DA COSTA, SOCIÓLOGO PORTUGUÊS – A pobreza é uma situação de privação resultante de falta de recursos.

AMARTYA SEN, PRÊMIO NOBEL DE ECONOMIA – A pobreza é a privação das capacidades básicas de um indivíduo e não apenas como uma renda inferior a um patamar pré-estabelecido.

DEEPA NARAYAN, CONSELHEIRO DE DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL – Os pobres entendem que pobreza é renda baixa, falta de alimentos, propensão a doenças, pouco acesso a bens, discriminação, ausência de apoio institucional e de infraestrutura básica, entre outras. Na perspectiva multicultural da pobreza ela é entendida como a falta do que é necessário para o bem-estar material, especialmente alimentos, moradia, terra e outros ativos; é a falta de recursos múltiplos que leva à fome e à privação física. É fome, é falta de abrigo, é estar doente e não poder ir ao médico, é não poder ir à escola e não saber ler; é não ter emprego, é temer o futuro, é viver um dia de cada vez; é perder o seu filho para uma doença trazida pela água não tratada; é falta de poder, falta de representação e liberdade.

ARUN GANDHI, HERDEIRO DO LEGADO DE GANDHI - A pobreza é o pior tipo de violência.

ALDI HAGENAARS E KLASS DE VOS – A pobreza é ter menos do que um mínimo objetivamente definido (pobreza absoluta); a pobreza é ter menos do que outros na sociedade (pobreza relativa); a pobreza é sentir que não se tem o suficiente para seguir adiante (pobreza subjetiva).

PEDRO DEMO, SOCIÓLOGO – A pobreza é a exclusão, desassistência e expropriação da dignidade e dos direitos conferiros por lei e a condição ao qual aliena o individuo no sentido de transformá-lo em seu próprio inimigo íntimo. Ser pobre é o indivíduo que é privado de tudo e as oportunidades que lhes são negadas, são consideradas insuficientes, mal distribuídas e restritas.

ANGELA KAGEYAMA E RODOLFO HOFFMAN – A pobreza tem uma dupla natureza: de um lado, deve-se ao subdesenvolvimento regional e local, que impõe privações em condições básicas de existência, como luz elétrica, água encanada e instalações sanitárias, e dificuldade de acesso aos serviços de saúde e educação; de outro lado, a pobreza tem raízes nas características demográficas e nas limitações do capital humano e financeiro das famílias, que prejudicam a capacidade de elevar a renda familiar.

MARY ROBINSON – A pobreza é, por si só, uma violação de vários direitos humanos fundamentais.

MILLÔR FERNANDES, ESCRITOR E DRAMATURGO – A pobreza não é, necessariamente, vergonhosa. Há muito pobre sem vergonha.

A TEORIA DO PADRE BIDIÃO - A terra é um bolo! Se uma dúzia de sabidos come tudo, só sobra farelos pra maioria.

DOUTOR ZÉ GULU, O FILÓSOFO BIRITEIRO – Pobreza é cada um por si e ninguém por todos.

DORO, AQUELE QUE SE DIZ O FUTURO PRESIDENTE DO BRASIL – Pobreza é uma desgraça!

O POBRE ZÉ-CORNINHO – Pobreza é mundiça. 

Veja mais sobre a pobreza aqui, aquiaqui e aqui

 

DITOS & DESDITOS - Neste mundo, são aqueles que aproveitam a oportunidade que têm as oportunidades. Ninguém pode ser sábio de estômago vazio. Aquilo a que chamamos o nosso desespero é frequentemente a dolorosa avidez de uma esperança insatisfeita. A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa nem medir o que se diz. Os animais são amigos tão agradáveis: não fazem perguntas, não criticam. Abençoado o homem que, não tendo nada a dizer, abstém-se de dar provas do fato com palavras. O caráter não é esculpido em mármore, não é algo sólido e inalterável. É algo vivo e mutável, e pode tornar-se doente, como se torna doente o nosso corpo. Abençoada é a influência de uma verdade: uma alma humana apaixonada por outra. Pensamento da escritora britânica George Eliot (1819-1880). Veja mais aqui e aqui.

 

ALGUÉM FALOU: É também a expressão mais vasta do desejo comum do Homem sobre a terra, de se considerar livre, capaz de se desligar das amarras de uma sociedade em que estiola e morre, como ser humano. Pensamento do escritor angolano António Agostinho Neto (1922-1979), autor do poema A noite: Eu vivo / nos bairros escuros do mundo / sem luz, nem vida. / Vou pelas ruas / às apalpadelas / encostado aos meus informes sonhos / tropeçando na escravidão / ao meu desejo de ser. / — Bairros escuros / mundos de miséria / onde as vontades se diluíram / e os homens se fundiram / com as coisas. / Ando aos trambolhões / pelas ruas sem luz / desconhecidas / pejadas de mística e terror / de braço dado com fantasmas. / Também a noite é escura.

 

EDUCAÇÃO - [...] O ato de comparar tem muito pouco de certeza, não se constitui em um procedimento de rigorosa análise estatística. A comparação resulta de um julgamento humano, sujeito, dessa forma, à falibilidade, considerando, também, que o conceito de comparar é extremamente vago. Apesar de tudo, comparar tornou-se um ato obsessivo na prática de algumas avaliações [...] chegando a um lamentável e absurdo exercício, por ignorar o fato de que qualquer avaliação de um ser humano é feita por um outro ser humano e os escores resultantes nunca se revestem de uma precisão absoluta, que demandaria instrumentos perfeitos isentos de erros de medida, o que é impossível na prática, mesmo que utilizadas tecnologias de ponta e processos estatísticos sofisticados. [...]. Trechos extraídos da obra Avaliações Nacionais em Larga Escala: análises e propostas (Estudos em Avaliação Educacional, 2003), do educador e pesquisador Heraldo Marelim Vianna (1927- 2013). Já em sua obra Análise crítica de abordagens do rendimento escolar: o caso da Matemática (Estudos em Avaliação Educacional, 1993), assinala que: [...] É preciso lembrar que a construção do conhecimento faz-se através da ruptura de paradigmas e sua substituição por outros, que, mais tarde, serão igualmente substituídos, inexoravelmente. Esse é o caminho a seguir na construção do conhecimento, inclusive da área educacional, e sem um conjunto de novos conceitos não será possível vencer o atual impasse na educação, com as consequentes implicações no campo da avaliação [...]. Veja mais aqui e aqui.

 

O PODER DA MULHER – [...] O poder da mulher é a infraestrutura de todos os edifícios sociais, de todas as relações de forças. Um sistema social onde o domínio não se apoie sobre a satisfação dos nossos instintos primordiais, nunca poderá ser mais que uma superestrutura, e os seus chefes não poderão exercer mais que um domínio limitado ao qual os parceiros sexuais e objetos biológicos não dão qualquer valor. [...] Sem o assentimento da mulher, o fascismo, o imperialismo ou a inquisição nunca teriam sido possíveis. Se não dependessem das mulheres, nunca os homens se tornariam instrumentos de tais sistemas. Para sofrer a violência de um destes sistemas secundários e ver-se obrigado a aceitar o terror, a hipocrisia e a traição, a condição prévia está em um ser humano estar ligado a outro pelos seus instintos mais primordiais. O poder da mulher faz o jogo da violência universal [...] Padres da Igreja, políticos e ditadores, todos conhecem esta lei não escrita. O ato político mais importante de um déspota é sempre o de lisonjear a mulher, bajulá-la. Todos os ditadores o sabem: se por eles tiverem a mulher, o homem automaticamente enfileirará do seu lado. Assim, enquanto a Igreja recomendar a mulher como objeto a proteger, o homem aceitará que os seus filhos sejam educados nesta fé por criaturas invisíveis, necessárias à perpetuação do culto. Enquanto os políticos prometerem à mulher facilidades de ordem social, poderão com inteira tranquilidade de consciência nada alterar no serviço militar nem nas reformas dos homens. Enquanto os ditadores renunciarem a exércitos de mulheres, não terão qualquer dificuldade em enviar para guerra os homens jovens. [...]. Trechos extraídos da obra Sexo Polígamo (Editorial Futura/Carlos & Reis, 1978), da escritora argentina Esther Vilar (pseudônimo de Esther Margareta Katzen). Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS: A FACE DO AMOR - Seu rosto é o rosto de todos os outros antes de você e depois de você e seus olhos calmos como um azul amanhecer na hora certa pastor das nuvens sentinela da beleza branca iridescente a paisagem da boca da tua condessa que eu tenha explorado guarda o segredo de um sorriso como pequenas aldeias brancas além do montanhas e seus batimentos cardíacos a medida de seu êxtase Não há questão de começar não há questão de posse não há questão de morte cara da minha amada a cara do amor. A CRIANÇA QUE FOI MORTA A TIROS POR SOLDADOS EM NYANGA - A criança não está morta! / Ela levanta os punhos junto à sua mãe. / Quem grita África ! brada o anseio da liberdade e da estepe, / dos corações entre cordões de isolamento. / A criança levanta os punhos junto ao seu pai. / Na marcha das gerações. / Quem grita África! brada o anseio da justiça e do sangue, / nas ruas, com o orgulho em prontidão para luta. / A criança não está morta! / Não em Langa, nem em Nyanga / Não em Orlando, nem em Sharpeville / Nem na delegacia de polícia em Filipos, / Onde jaz com uma bala no cérebro. / A criança é a sombra escura dos soldados / em prontidão com fuzis sarracenos e cassetetes / A criança está presente em todas as assembleias e tribunais / Surge aos pares, nas janelas das casas e nos corações das mães / Aquela criança, que só queria brincar sob o sol de Nyanga, está em toda parte! / Tornou-se um homem que marcha por toda a África / O filho crescido, um gigante que atravessa o mundo / Sem dar um só passo. Poemas da poeta sul-africana Ingrid Jonker (1933-1965).

 

OUTROS POEMAS - LES TEMPS A FUE - O tempo acabou / Março acabou / Você não é mais jovem, mas velho. / - Que pena, disse ele, e tanto melhor! / Março acabou / Também em novembro / Onde estão seus olhos e suas pernas? / - Que pena, disse ele, e tanto melhor! / Acabou o amor / Pobre surdo velho. / Não há mais festas e jogos / - Que pena, disse ele, e tanto melhor! / a estrada é difícil / a morte é certa / Cada curva é perigosa. / - Que pena, disse ele, e tanto melhor! / Nota: um verso diferente e mais uma estrofe no poema de Claudel: / O tempo acabou / tudo está acabado / Ele ainda é Deus! / - Que pena, disse ele, e tanto melhor! FEMMES ET HOMMES DE LA TEXTURE - Mulheres e homens de textura / Da fala e do vento, você que tecem tecidos de palavras / Na ponta dos dentes, não se deixe prender / Não se permita ser selado / Com sonhos impossíveis / Você é amado / Contanto que você se encaixe no sonho feito de você / Então o grande rio do Amor flui suavemente sobre você / Seus dias são felizes sob as castanheiras malvas / Mas se acontecer de você não estar mais / A pessoa que habitou o sonho / Então você encontra ventos contrários / A bota lista, a vela se rasga / Os botes salva-vidas são colocados no mar / Palavras de amor se tornam facas / Que estão mergulhados em seu coração / A pessoa que ontem te amou / te odeia hoje / A pessoa que foi tão atencioso / Para o seu riso e lágrimas / Já não pode suportar o som da sua voz / Nada está mais aberto à discussão / Sua mala é jogada da janela / Está chovendo, e você anda pela rua / Em seu sobretudo preto / É amor querer o outro / Abandonar seu próprio caminho e sua própria jornada? / É amor trancar o outro / Na prisão do seu próprio sonho? / Mulheres e homens de textura de fala e de vento / Você que tecem tecidos com palavras / Na ponta dos dentes / Não aceite ser objeto de sonhos / Sonhado por qualquer outro que não você mesmo / Cada um tem seu próprio caminho / Que às vezes só ele pode entender / Mulheres e homens de textura, / Da fala e do vento / Se todos nós pudéssemos em primeiro lugar / E acima de tudo / Sejam amantes da vida / Então não seríamos mais esses eternos questionadores, / Esses eternos mendigos / Que desperdiçam tanta energia e tempo / Esperando que outros lhes dêem sinais, / Beijos, reconhecimento / Se ao menos fôssemos, acima de tudo e em primeiro lugar, / Amantes da vida / Tudo seria um presente para nós / Nós nunca ficaríamos desapontados. / Não se deve permitir-se sonhar com os outros / Só eu conheço o caminho que me leva / Para o destino da minha viagem / Todo mundo está em sua própria vida e sua própria pele / A cada um sua textura, sua tecelagem e suas palavras. Poemas do poeta, contador de histórias, escultor e cantor belga Julos Beaucarne (1936-2021).

 


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