EU & ELA A
FESTA DO AMOR - I - Toda sexta-feira, meio-dia em ponto, eu bato meu ponto
pro que der e vier. Meio dia em ponto, toda sexta-feira eu chego já pronto e o
que é o que é. E ela vem de viés com toda surpresa, rompendo a represa de
querer mais. É tudo demais e ela só me fascina, jóia excepcional, uma real
mina, bailarina de Degas. Ou nua vestal, dançarina de fuá. E eu sentimental com
toda destreza arrasto essa presa, astuta indefesa do pito voar. E para empenar
tomo a pele e o pulso, a deixo em soluço a gemer de manhar. A se espernear no
corpo rendido, eu domino o seu urânio enriquecido pronto pra explodir e eu só
pra acudir num bote certeiro, quando vou de matreiro adornar seus quadris. E se
faz bela atriz ensaiando sem medo a me ter entre os dedos, a me lamber num
enredo de São Paulo a Paris. O que eu sempre quis e me morde abusada, se entope
e se engasga entornando o seu mel. Eu adoço seu fel e vou de gandaia com minha
azagaia no seu beleléu. Já sou réu condenado a morrer um bocado no meio do céu.
Onde ela faz escarcéu, reluta e se esgana, ela goza sacana no maior pitéu. Ao
léu a valer, ela não satisfez. E vem tudo de novo pra glória de um rei, ela
sabe e eu não sei, o que importa é viver e venha tudo outra vez. II – Toda sexta-feira, meio dia em ponto, dá-se o
confronto e eu estou nu front de nossa guerra armada. Nua abastada na soberba
do seu trono não sabe do pandemônio que vou armar por buruçú com manobras de
Sun Tzu num Guevara ressuscitado, pelejando revoltado a revolução libertadora. Ave
canora tão linda e indiferente vai saber no de repente com quantos paus se faz
canoa. E não à toa no meu solfejo zapatista, meu propósito reformista no seu
corpo que é Chiapas. Numa bravata sem acordo de Genebra nem de quebra o de
Bogotá, muito menos haverá quem que nos detenha nessa dança tão portenha. E que
venha o combinado de Lacandona, pois assim, minha madona, saquearei seu fausto
na peleja porque toda riqueza traz um encoberto crime, tudo impune, tudo se
exime na maior das sem-gracezas. E com firmeza vou impor minhas vontades
devassando a sua propriedade, o seu reino e barricadas, seus motins, suas
brigadas, até deixá-la indefesa. E assim seja, com meus mísseis, os meus
beijos; e o meu desejo é a munição de peso que agirá sobre tudo o que é defeso,
tudo além do bem e do mal. Vou sublevar sua cabeça paraguaia quando suas mãos
uruguaias acenderem o meu braseiro. Sou brasileiro com rajadas de jeitinho,
bombardeio com carinho e ternura incendiária pra na reforma agrária me apossar
da sua mina, toda alma feminina, seu encanto e seu poder. Nada a esconder, não
haverá um só esconderijo que o meu membro todo rijo não venha reconhecer. E por
vencer com valor e com denodo, aceitarei ser seu todo poderoso, ser seu rei e
seu oxossi, tomando a minha posse sobre tudo do vencido. E pro seu castigo vai
festejar minha vitória que por ser tão meritória, se renda aos caprichos meus e
dê graças a deus no prazer da minha glória. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui, aqui e aqui.DITOS & DESDITOS - A ideia de superioridade do homem
morreu quando Darwin investigou a origem das espécies. A esperteza humana é
apenas uma estratégia particular de sobrevivência, não o degrau supremo de uma
escala. Cada espécie dispõe das habilidades de que necessita para sua
sobrevivência. Só o homem se considera uma criatura distinta, especial, sem se
dar conta de que outros seres estão vivos por aí há muito mais tempo. As baratas,
por exemplo. Pensamento do cientista e
jornalista galês Alun Anderson, que
foi diretor e editor-chefe da revista New Scientist e autor da obra After
the Ice: Life, Death, and Geopolitics in the New Arctic (Smithsonian, 2009).
ALGUÉM FALOU: Como pôde Noé recolher à sua arca
todas as espécies de animais e plantas sobre a face da Terra? Questionamento do escritor estadunidense Cliff Pickover.
OUTROS DITOS – O escritor não pode ser um mero contador de histórias. Ele não pode ser
um mero professor, ou narrador que faz um raio X das fraquezas da sociedade seus
males, seus perigos. Ele ou ela deve estar ativamente envolvido em moldar seu
presente e seu futuro. Eu vou te dizer isso, eu posso estar morto, mas minhas
idéias não morrerão. Pensamento do escritor, produtor e ativista ambiental
nigeriano Ken
Saro-Wiwa (1941-1995).
EDUCAÇÃO
– É preciso romper com a gramática da escola,
romper os tempos, os espaços, os livros didáticos, as avaliações e outros
rituais do século XIX. O melhor livro didático é o ambiente, e a biblioteca,
entendida como um espaço multifuncional. Modernar não é inovar. Não basta
encher as salas de aula de computadores, sem mudar as metodologias. O tempo e a
lógica da inovação não são o tempo ou a lógica da gestão. Ativismo não é
inovação, não é fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Não confunda reforma com
inovação. Muitas reformas dificilmente são inovadoras. A inovação educacional
nasce de um desejo individual ou coletivo, nunca de uma imposição. Provoca
mudanças na relação professor-aluno, ensina a pensar. A relação educativa deve
ser uma conversa, um diálogo permanente, seja presencial ou virtualmente. As
novas tecnologias nos dão a oportunidade de nos comunicarmos melhor do que
nunca. Temos que encontrar tempo para reflexão: O que fazemos? Estamos fazendo
bem? O que nossos alunos aprendem? O que aprendemos? Precisamos de uma cultura
de avaliação. Pensamento do jornalista e pedagogo espanhol Jaume Carbonell.
Veja mais aqui e aqui.
APRECIAR
A NATUREZA – [...] Em nossa
interação cotidiana e normal com um objeto utilitário, o estético e o prático
são experienciados de forma totalmente integrada, e perdemos um pouco a
dimensão de seu valor estético se removemos cirurgicamente seu valor funcional. [...] De fato, eu
acredito ser um erro encontrar valor estético em objetos e atividades
cotidianas somente se momentaneamente nós os isolarmos de seu uso diário e os contemplarmos
se fossem objetos criados para exibição. [...] Mesmo que a dimensão estética de nossa vida, profundamente enraizada em
nossos assuntos cotidianos, possa ser influenciada pela arte, ela opera muito
independente de nossa experiência da arte. [...]. Trechos extraídos do
ensaio Apreciar a natureza nos seus próprios termos (2004), da filósofa, professora e pesquisadora japonesa Yuriko Saito, autora
da obra Everyday
Aesthetics (Oxford University Press, 2007), com a qual se tornou expressiva
pela abordagem acerca da exploração da natureza e o significado das
dimensões estéticas da vida cotidiana das pessoas, argumentando que a estética
cotidiana pode ser um instrumento eficaz para direcionar o projeto coletivo e
cumulativo de construção do mundo da humanidade.
A BALADA DE IZA – [...] Ele acredita que o passado não é hostil, e não entendeu que é uma explicação,
uma referência, uma chave para o enigma que o presente nos apresenta. [...] Para ele, todas as estações do ano se
traduziam em estilos pictóricos: o inverno era um esboço de giz; Primavera uma
aquarela; O verão um óleo; Outono, uma gravura ou um linóleo. [...] Amei-te como nunca amei nem amarei ninguém,
amei-te sem condições, sem qualquer reprovação. Eu sempre fui seu e você nunca
foi meu, você estava longe de mim mesmo quando eu te segurava em meus braços.
[...]. Trechos extraídos da obra Iza's Ballad (1963), da escritora húngara Magda Szabó
(1917-2007). Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
TRÊS POEMAS
- DEPOIS DO AMOR: O suco da noite pinga / em meu rosto com
aglomerados de estrelas, / e minha testa amadurece sua luz triste, / como uma
fruta sozinha sem seu galho. / Perdi meu baú; ardentemente / ele cortou o amor
em suas entranhas / com um machado sombrio. Em outro corpo / as cinzas
avermelham da minha seiva. / Sozinho com a noite que fiquei, / com a minha
carne esticada, fruto amargo. / e o coração soa, sob meu peito, / com um rude
sino tocando./ Agora que estou sozinho
eu te chamo baixinho / Agora que estou só te chamo baixinho / e você
desce à minha boca como um fruto maduro / da árvore eterna onde você existe e
velas, / com os galhos escovados pelas estrelas nuas. / Agora que estou
sozinho, posso morrer. Você sabe / que devemos ir para a morte sem que ninguém
chore por nós, / escondendo as rosas de amor que acendemos / e aquela que era
apenas uma sombra com a qual sonhamos à noite. / É por isso que a fruta já está
tremendo entre meus dentes, / mas não quero mordê-la sem você me dizer. FOGUEIRA DO AMOR: Este dia que chega
aos meus lábios / brandindo seu suco dourado, / embebe a alma em sua triste
beleza / e a intoxica com sonhos remotos. / Tudo termina em sua luz amarela. / As
memórias se apagam, e de outro / me parecem as mãos que tocam, / me parecem as
coisas que choro. / Não pense nas folhas que sofrem /e esqueça a dor de seus
troncos. / Sem saber se as nuvens que nascem / já voltam de um escuro
retorno... / Mais para sentir no peito, iluminado / pelo vento que traz o
outono, / uma fogueira de fogo que, felizmente, / queima o mundo com um amor
louco. EU SOU O CENTRO - Já não
é possível deter-me / para saber o que retorna./ E vem comigo a terra larga,/ e
o mar profundo vem comigo, / e comigo vêm os rebanhos / de vagas nuvens que o
sol doura,/ e vêm as árvores do bosque/ que se despertam pela sombra./ Vou
desnudo, não digo nada. / Passo entre as rochas devagar. / Meus pés descalços,
gravemente, / roçam as águas silenciosas./ Por trás dos montes impassíveis / na
aurora pouso minhas solas... / Caminho à frente, e eles seguem / minhas pegadas
e as apagam. / Vêm comigo, porque compreendem / que algo celeste me coroa / e
que em meu peito Deus plantou / uma semente misteriosa. / Sou o centro – o
centro onde tudo / há de voltar em cada coisa. Poemas do poeta e pintor
espanhol José Luis Hidalgo
(1919-1947).
PROGRAMA
DOMINGO ROMÂNTICO – O programa Domingo
Romântico que vai ao ar todos os domingos, a partir das 10hs (horário
de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio
Cidade, em Minas Gerais. Confira a programação deste domingo aqui. Na edição deste 28/10 do programa Domingo Romântico,
apresentação da radialista e poeta Meimei Correa e produção de Luiz Alberto Machado, conta na sua
programação as atrações: Sylvia Plath,
Ryan Teague, Mané Garrincha, Ana Cristina César, Chico Anysio,Nelson Cavaquinho
& Beth Carvalho, Djavan, Gilberto Gil, Zélia Duncan, Shakira & Ivete
Sangalo, Antonio Adolfo & Tibério Gaspar, Os 3 Morais, Claudio Nucci &
Felipe Cerquize, Mano Melo & Mu Chebadi, Elza Soares & Chico Buarque,
Bruno Vinci, Trovadores Urbanos, Carlos Silva, Jessier Quirino, Nei Duclós
& Muts Weyrauch, Simone Spoladore, Fidélia Cassandra, Rosana Simpson,
Ava Araujo, Tulipa Ruiz, Artur Gomes e Reubes Pess, Cambada Mineira,
Moacir Franco, Bonny, Ozi dos Palmares, Paulynho Duarte, Jorge Medeiros, Carlos
Pitanga, Ju Mota, Ney Moraes, TV Pirata, Ghostworkers, Humor Mix, tudo isso muito mais!! Veja mais aqui. 






