“(...) Mas a noite é nua, e, nua na noite, palpitam teus mundos e os mundos da noite (...) brilha toda a tua lira abdominal. Teus seios exíguos – como na rijeza do tronco robusto dois frutos pequenos – brilham. Ah teus seios! Teus duros mamilos! Teu dorso! Teus flancos! Ah, tuas espáduas! (...) Baixo até o mais fundo de teu ser, lá onde me sorri tua alma, nua, nua, nua”. (Manuel Bandeira, Nu).
DITOS & DESDITOS - Aqueles que não conhecem as leis privam-se do
prazer de violá-las. Os crimes de que um povo tem vergonha compõem sua verdadeira
história. O mesmo pode-se dizer pelo homem. Uma criação que originalmente não
tem amor é inconcebível. Talento é tudo sobre bondade para a matéria, consiste
em dar uma música para o que era mudo. Temos de rir. Senão a tragédia vai nos fazer
voar pela janela. Eu me fiz uma alma que se encaixa
na minha morada. Pensamento
do escritor e dramaturgo Jean Genet
(1910-1986) Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Metade
do mundo não consegue compreender os prazeres da outra metade. A vaidade e o
orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas
como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho
relaciona-se mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que
desejaríamos que os outros pensassem de nós. Muitas vezes perdemos a
possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que
então não agarrá-la toda de uma vez? Tempo ou oportunidade não determinam a
intimidade, apenas a disposição. O negócio pode trazer dinheiro, mas a amizade
raramente o faz. Em vão tenho lutado comigo mesma; nada consegui. Meus sentimentos
não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e a
amo ardentemente. Sou metade agonia, metade esperança. Pensamento
da escritora britânica Jane Austen (1775—1817). Veja mais
aqui.
A VELA DA CIÊNCIA – [...] O que
uma inteligência mais crítica poderia reconhecer como alucinação ou sonho, uma
inteligência mais crédula interpreta como o vislumbre de uma realidade
impalpável, mas profunda. [...] Trecho da obra O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no
escuro (Companhia das Letras, 1996). do astrônomo e
biólogo estadunidense Carl Sagan (1934-1996). Veja mais aqui.
PERMANÊNCIA E ATUALIDADE DA POÉTICA – Pensar a Poética
é pensar a essência do destino do homem, da verdade e do real, enquanto
conhecer e não-conhecer, ser e não-ser. Poética: real, homem, verdade, destino,
eis o âmbito de sua configuração, permanente e sempre atual. Diante da questão,
se o que se faz é uma pergunta e se dá uma resposta originária, estas trazem
para a experimentação e experienciação concreta a essência originária da
questão da Poética. A Poética, enquanto o poético de toda obra poética, isto é,
em sua essência originária, já é sempre permanente e atual. A Poética é um
universal concreto que diz respeito a todas as culturas, porque diz,
essencialmente, respeito ao humano do homem. E sem o humano como pensar o
sentido e verdade das culturas? Trechos extraídos de Permanência
e atualidade da Poética (Tempo
Brasileiro, 2007), do professor Manuel
Antonio de Castro, que emigrou em 1952 para o Brasil e foi fonte do estudo Permanecer silêncio: Manuel Antonio de
Castro e o humano como obra (Confraria do Vento, 2012), de Igor Fagundes.
EPIDEMIA DE
DANÇA & FRAU TROFFEA – Em 1518
ocorreu uma epidemia de dança na cidade francesa de Estrasburgo,
na Alsácia (então parte do Sacro Império Romano-Germânico). Essa epidemia
começou no mês de julho, com mulher bailando sem parar por 6 dias: Frau
Troffea. O seu transe acabou envolvendo centenas de pessoas e durou até o mês de
setembro, um verdadeiro carnaval epidêmico. Todos se tornaram vítimas de uma febre
da dança e morriam de ataque cardíaco, derrame ou exaustão Quando a febre da
dança completava um mês, havia uns 400 alsacianos rodopiando e pulando sem
parar debaixo do Sol de verão do Hemisfério Norte. Lá para setembro, a maioria
havia morrido de ataque cardíaco, derrame cerebral, exaustão ou pura e
simplesmente por causa do calor. Reza a lenda que se tratava de um bloco
carnavaleso involuntário: na realidade ninguém queria dançar, mas ninguém
conseguia parar. Os enlutados que sobraram ficaram perplexos para o resto da
vida. O historiador John Waller lançou, 490 anos depois, um livro sobre o
frenesi mortal: “A Time to Dance, A Time
to Die: The Extraordinary Story of the Dancing Plague of 1518”, no qual
traz registros históricos que documentam as mortes pela fúria dançante:
anotações de médicos, sermões, crônicas locais e atas do conselho de
Estrasburgo. Esse historiador recuperou documentos da época atestando as mortes
pela fúria dançante. Um outro especialista, Eugene Backman, já havia escrito em
1952 o livro “Religious Dances in the Christian
Church and in Popular Medicine”, com a tese de que os alsacianos ingeriram
um tipo de fungo (Ergot fungi), um mofo que cresce nos talos úmidos de centeio,
e ficaram doidões. (Tartarato de ergotamina é componente do ácido lisérgico, o
LSD.). Waller, contudo, contesta Backman: intoxicação por pão embolorado
poderia sim desencadear convulsões violentas e alucinações, mas não movimentos
coordenados que duraram dias. O sociólogo Robert Bartholomew propôs a teoria de
que o povo estava na verdade cumprindo o ritual de uma seita herética. Mas
Waller repete: há evidência de que os dançarinos não queriam dançar
(expressavam medo e desespero, segundo os relatos antigos). O ambiente era
propício para superstições e uma delas era que se alguém causasse a ira de São
Vito (também conhecido por São Guido), ele enviaria sobre os pecadores a praga
da dança compulsiva. A conclusão de Waller é que o carnaval epidêmico foi uma
“enfermidade psicogênica de massa”, uma histeria coletiva precedida por
estresse psicológico intolerável.
MEU PÉ DE LARANJA LIMA – [...] A dor
era menor que a minha raiva. A gente mata no coração. Vai deixando de querer
bem. E um a dia a pessoa morre. Alegria é um sol brilhante dentro do coração. Às
vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que é mais comum. Dor
não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar
pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente
tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. [...]
Frases extraídas da obra O meu pé de laranja lima (Melhoramentos, 2005), do escritor José Mauro de Vasconcelos (1920-1984). Veja mais aqui.
INFÂNCIA – [...] A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias. A
infância é quando ainda não é demasiado tarde. É quando estamos disponíveis
para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar [...].
Trecho extraído da obra Tradutor de chuvas (Caminho,
2015), do escritor e biólogo moçambicano Mia Couto. Veja mais aqui.
UM DIA DE INVERNO: MEIO-DIA E TARDE - Esgueirar-se para fora e para dentro e tremer
o dia todo. / Mas pegue o país inteiro, conquiste o frio, / E em seu fluxo de
sangue alimentado pela geada desfrute / O brilhante triunfo da saúde consumada:
/ De coração animado, quando brilha o sol do meio-dia, / Suando a testa úmida
da geada enrugada / Em pontos mais suaves , para pisar as saias farfalhantes / Dos
bosques altos pendurados na colina do sul. / Fique nesta altura e ouça. O amplo
meio-dia / Quão mansamente quieto; mas quantos sons / distintos você pega — o
galo da fazenda remota / Para a fazenda respondente; o louro de boca profunda
do cão doméstico; / A petulância petulante do cur da cabana; / O som cortante
das rodas do transportador lento,/ Ouviu de longe; o barulho mais próximo das
crianças / Do esporte deslizante; o machado de derrubada de lenha; / E,
intermitentemente, do outro lado da granja / O duplo mangual: da porta do
celeiro, veja, / Uma poeira fina e leve paira no sol amarelo. / Essa vibração
fraca longe! para trás, nivelado baixo, / Yon serpentina esfumaçada! — é o trem
da ferrovia: / Está perto — está enterrado no corte aterrado, / E escondido da
vista; mas baforadas de fumaça branca e gorda, / Ainda em frente jorrando do
chão, / Diga onde está - está fora - já passou - se foi! / Descemos pela
granja. Segue cantando / a moça da fazenda, levando do estábulo suas vacas / Para
regar no poço gelado e fedorento,/ Farrow, mal-cabeluda e magra, mas loucamente
louca, / Embriagada de liberdade: através do ar / estridente Ela ressoa sua
cantiga com um retinir nasal. / Ei! chanticler, suas pernas amarelas bem
esporas, / conduz suas damas ao longo dos caminhos de palha. / Ele bate as
asas; Ele estica sua garganta de clarim, / Seu pente vermelho-sangue inflamado
com vida mais feroz, / E canta triunfante: Som angustiante, / Quando na cidade
reprimida, inquieto, / Seu espírito aguçado e nervoso não pode dormir, / Ouvindo-o
todas as noites de algum tribunal vizinho! / Muitas vezes desejamos que a tribo
galinácea / tivesse apenas um pescoço, e isso estava em nossas mãos / Para
torcer e desenhar: o sol da manhã havia nascido / Sobre um mundo sem galo e sem
galinha. / E, no entanto, o sujeito lá, tão ousado de explosão / Para soar a
manhã, para convocar o Trabalhismo, / É uma grande força social: vamos deixá-lo
viver. / Quão realista agora, pois ele encontrou um grão, / Ele abaixa e
levanta seu peito e garganta inchados, / E abaixa novamente, com um cacarejo
peculiar; em linha reta, / Seus pescoços estendidos, em uma pressa de balanço,
com asas ajudadas, / Suas damas desgarradas vêm correndo para ele, / Na
afetação de algum prêmio esperado / Grande além da medida; mais verdadeiro no
orgulho / Da esposa amorosa. Ele, auto-dignificado / Que porções para suas
partes assim ele dá, / Tudo para si mesmo negado, canta, e em volta / Perseguindo
em sua majestade uxoriosa,/ As pontas dos dedos dos pés mal tocam a terra. / O
sol se põe no início da tarde, / E logo se põe. Uma borda de neblina fumegante /
Acima do horizonte, mais profunda em sua coloração / Do que o laranja claro do
oeste geral, / Recebe seu orbe avermelhado. Como através de suas clareiras para
o /oeste você vai, um pó de ouro peneirado / Preenche todos os topos de madeira
de abeto; avermelhado abaixo / Seus caules de casca áspera; e sim as asas dos
pássaros / Brilham com a iluminação, enquanto voam / De árvore em árvore
através de seus olhos assustados. / Aquele homem curvado cinza viu cem anos! / Com
lascas e lascas das raízes da floresta, / Para fazer sua fogueira da noite, ele
cambaleia para casa, / Embaralhando as folhas murchas. Que maravilhoso,/ Com
tubos e válvulas tão múltiplos e belos, / Cordões, nós sangrentos e fios
emaranhados de vida, / E membranas finas e finas, que nos transportam / Do
grande oceano da Eternidade, / Rugindo ao nosso redor, com peso incumbente / Em
nós pressionando, - oh , que maravilha / Este caco de barro deve durar cem
anos! / Para casa vai o pobre velho; se for o lar, / Onde antes havia esposa e
filhos, mas onde agora / Estão desamparados e fantasmas de dias felizes. / Ainda
bem contigo, velho! humilde e frágil / Aos olhos da terra, mas ao sair / os
anjos olham e ao entrar; / E treinado por ti, não perdido, mas ido antes, / Tua
família espera por ti nos céus./ Yon planalto devastado, sulcado obscuro dos
velhos tempos, / Day gosta de ficar com a Tradição lá. / É um solo sagrado. Por
Edward curvou-se e curvou-se, / Nossos pais lá da charneca azeda torceram / Seu
pão escasso; mas sim, homens fervorosos de sangue, / Para a liberdade subiram
eles: Certo, eles fizeram isso Poderoso. / O dia desaparece. Mas resta mais do
que tudo: / A véspera social, seja o inverno abençoado por isso... / Amigo
enfrentando amigo, fala suave e rápida pungente / Os ângulos nítidos e claros
do sal ático. / Então para a hora, a hora meditativa, / Querida à Musa. Lança o
verdadeiro pensamento-semente, / ó Filho da Canção: o campo-semente do mundo, /
Grande campo de função, orvalhado com lágrimas e sangue,/ É rápido de ventre:
semeie: confie que nenhum grão morrerá; / Solo adequado que sempre encontra,
enraíza, cresce / colheitas ásperas de ação, artes e esquemas de vida, / colheitas
de tempo e depósitos nos céus. Poema do poeta britânico Thomas Aird (1802-1876).