SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS - Uma
observação atenta do filme "Sociedade dos poetas mortos", remete,
então, a duas realidades distintas a se analisar: a primeira, aquela
indesejável realidade do estilo educacional tradicionalista, rígida,
burocrática, tradicional; e a segunda, a de um professor que num cenário
adverso e obsoleto, introduz uma atitude participativa, emancipatória,
democrática. Em primeira observação, convém tratar o formato tradicional pedagógico,
notadamente explicitado através da Academia Welton, que apresentava os seus
pricípios básicos pautados na tradição, na honra, na disciplina e na
excelência. Esse modelo pedagógico está identificado na forma de trabalhar a partir dos obstáculos, onde o homem é
apenas adestrado para a produção, não sendo levada em conta as habilidades
intelectuais e nem as condições humanas. Dessa forma, o mundo é visto como algo
pronto que é traduzido pelo conhecimento sistematizado e acumulado ao longo dos
anos e é essencialmente externo ao indivíduo e constituído de verdade
universal. Ademais, a visão de um homem ideal, desvinculado de sua realidade
concreta, e tudo fornecido através de uma tábula rasa onde são impressas as
informações e conteúdos universalmente consagrados. Nesse formato, o
conhecimento é caracterizado pela aquisição de conteúdos culturais transmitidos
de fora, pois são eles que vão conformar a personalidade individual. Dessa
feita, há uma preocupação com os modelos, as grandes obras literárias,
científicas e artísticas, donde, memorizando os modelos, o aluno poderá
recorrer a eles para guiar-se, na vida moral e intelectual, quando for adulto. O
objetivo central desse modelo é conduzir o aluno ao conhecimento da verdade
universal, para a qual ele deve estar disponível. A metodologia preconizada se
compõe da exposição e demonstração feitas pelo professor, os donos da verdade,
onde o aluno atua como receptor das verdades universais que lhe são
transmitidas. Essa relação se dá entre professor e aluno de forma
essencialmente marcada pela verticalização, onde o professor é o detentor de
todo o saber, programa, recursos e controles que partem de si para o aluno que
os recebe passiva e acriticamente. Disso, pode-se apreender dessa realidade,
uma educação centrada na transmissão do conhecimento e no processo de
assimilação do conhecimento hstoricamente acumulado, tendo-se a escola como uma
instituição social encarregada do processo de socialização, transmissão de
informações e da cultura. O ensino-aprendizagem é efetuado através da mera
transmissão e aquisição de informações, subordinando a educação à instrução e
ao verbalismo e memorização. A relação professor-aluno, como visto e constatado
no filme, é desenvolvida de forma autoriária, unilateral, vertical do profesor
para o aluno, professor ser mediador entre cada aluno e os modelos culturais,
não havendo interação entre os alunos. Uma metodologia feita no tipo aula
expositiva e demonstração feita pelo professor, exercício de memorização por
parte do aluno, motivação extrínseca que depende do professor um método para
ensinar a todos. E para avaliação, provas-exame, que visa a exatidão na
reprodução do conteúdo transmitido, exame como fins em si mesmos, e sua
sucessão funcional na sociedade como meio de ascensão social.
DITOS & DESDITOS - Devo
ter algo para absorver meus pensamentos, algum objeto na vida que preencherá
esse vácuo e evitará esse triste desgaste do coração. Minha esperança aumenta
quando descubro que o coração interior de um ser humano pode permanecer puro,
apesar de alguma corrupção de seus invólucros externos. Pensamento da
médica estadunidense Elizabeth Blackwell (1821-1910), que foi a primeira
mulher a se formar e exercer a medicina no seu país, pioneira em promover a
entrada de mais mulheres na área de estudo e uma reformista e abolicionista. Sobre
a profissão ela expressou: Uma parede em
branco de antagonismo social e profissional enfrenta a mulher médica que
configura uma situação de solidão singular e dolorosa, deixando-a sem apoio,
respeito ou conselho profissional. A
medicina é um campo tão amplo, tão intimamente ligado aos interesses gerais,
lidando como o faz com todas as idades, sexos e classes, e ainda de caráter tão
pessoal em suas apreciações individuais, que deve ser considerada como um
daqueles grandes departamentos da trabalho em que a cooperação de homens e
mulheres é necessária para cumprir todas as suas necessidades. Sobre as
mulheres: A clara percepção do chamado
providencial às mulheres para que participem plenamente do progresso humano
sempre nos levou a insistir em uma educação médica completa e idêntica para
nossos alunos. Desde o início na América, e mais tarde na Inglaterra, sempre
nos recusamos a ser tentados por ofertas capciosas que nos estimulavam a nos
satisfazer com uma instrução parcial ou especializada. Veja mais aqui e
aqui.
ALGUÉM FALOU: O
tolo, quando erra, queixa-se dos outros; o sábio queixa-se de si mesmo.
Pensamento do filósofo grego Sócrates (470-399aC). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e
aqui.
A ARTE & O ARTISTA – [...] O artista nunca tem plena consciência de sua
obra: entre as suas intenções e a sua realização, entre o que quer dizer e o
que a obra diz, há uma diferença. Essa “diferença” é realmente a obra. Pois
bem, o espectador não julga o quadro pelas intenções de seu autor, mas pelo que
realmente vê; esta visão nunca é objetiva: o espectador interpreta e “refina” o
que vê. A diferença se transforma em outra diferença, a obra em outra obra.
[...] A obra faz o olho que a contempla –
ou, ao menos, é um ponto de parida: desde ela e por ela o espectador inventa
outra obra. [...]. Trechos extraídos da obra O ato criador/A nova arte (Perspectiva, 2008), do artista
francês Marcel Duchamp (1887-1968). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE, A MEMÓRIA
E O ESQUECIMENTO – [...] Diante do desafio da representação da catástrofe, os artistas vem
utilizando o branco de forma bastante crítica: inferindo ao silêncio, à
indizibilidade, à impossibilidade ou precariedade da fala causadas pelo trauma.
Apoiado na estratégia da fragmentação, o uso do branco assume uma postura
dialética evocando a memória do espectador. Além disso, nesses discursos são
atestados e denunciados os esquecimentos: os brancos e veladuras da história, a
amnésia social. Como poética do desaparecimento, o branco infere ainda aos
desaparecidos políticos, à ausência no espectral. Mas, todas elas ligadas ao
esquecimento, a memória do apagamento, a fragmentação das memórias. Tanto na
escrita ou na imagem possuem a meta semelhante de dar visibilidade ao invisível.
[...]. Trecho extraídos da dissertação de mestrado Imagens
de memória/esquecimento na contemporaneidade (EBA/UFMG, 2012), da professora e pesquisadora Alice Costa Souza, na qual expressa que: A arte, ao misturar-se com a vida, atende ao dever de
memória exigido após a Shoah e desenvolve estratégias diante do desafio da
representação da catástrofe. Para isso, é fundamental compreender a relação
complexa com a temporalidade pela qual passou o século XX até chegar à cultura
de memória e à abertura dos
arquivos proibidos. Se a história recente mostrou grandes apagamentos, a arte demonstra
que a imagem a elaborar-se é a de um par indissociável: memória/esquecimento.
As estratégias que se esboçaram revelam essas negociações tensas com a
história: fragmentação da linguagem, atrair pela angústia, presentificação, e a
inserção da palavra na arte. Destacou-se também o uso frequente da poética do
branco em tais imagens. As obras de Rosângela Rennó e, entre outros artistas,
foram essenciais nessa análise. Veja mais aqui e aqui.
DAS CATÁSTROFES – [...] O evento
catastrófico é um evento singular porque, mais do que qualquer fato histórico,
do ponto de vista das vítimas e das pessoas nele envolvidas, ele não se deixa
reduzir em termos do discurso. Trechos extraídos da obra O Local da diferença: ensaios sobre memória, arte, literatura e
tradução (Ed. 34, 2005), do professor, tradutor,
teórico e crítico literário Márcio Seligmann-Silva.
CASTELOS DE PAPELÃO – [...] Fomos
felizes andando na corda bamba, florescemos em uma infecção de contradições,
nos encontramos em um labirinto de paradoxos sem nunca olhar para o chão, sem
nunca olhar para o céu, sem olhar. [...]. Trecho extraído da obra Castillos de carton (Tusquets, 2009), da escritora
espanhola Almudena Grandes Hernández
(1960-2021), que em outro texto, Do mundo, da vida, extraído das Cartas
peninsulares (Mary S. Vasquez, 2000, vol. 13), assinala que: [...] Acredito que há apenas um mundo, e uma realidade, que cada um de nós
contempla de uma posição única e intransferível dependendo das feridas, e dos
prêmios, com os quais a vida nos marcou. [...]. Ela também é autora do
livro Atlas de geografia humana (Tusquets, 2002).
BERENICE – No teu corpo reacende-se a estrela apagada, / A água dos
mares circula na tua saliva, / O fogo se aquieta nos teus cabelos. / Quando te
abraço estou abraçando a primeira / mulher. / Sol e lua, / Origem berço cova. /
Teu corpo liga o céu e a terra, / Teu corpo é o estandarte da voluptuosa
vitória. / Teu nome reconcilia dois mundos.
Poema extraído da obra Poesia completa e
prosa (Nova Aguiar, 1994), do poeta e prosador
do Surrealismo brasileiro, Murilo Mendes (1901-1975). Veja mais aqui,
aqui e aqui.





.jpg)