CONTRIBUIÇÕES
DA FILOSOFIA GRECO-ROMANA PARA A PSICOLOGIA: INTRODUÇÃO - Foi na Grécia antiga que ocorreram os primeiros passos
sobre a questão psicológica, a partir das investigações filosóficas que levaram
o homem a observar a si próprio, buscando a compreensão do seu próprio ser e
sua relação com o mundo. Mais precisamente, as primeiras incursões nas questões
psicológicas ocorreram com o nascimento da Filosofia ocidental por volta do
início do séc. V A.C., com o significado de amizade pelo saber e definindo o
pensamento racional por característica. Tal fato se prende ao trabalho de
sistematização e consolidação do pensamento primitivo e antigo da humanidade,
efetuado, inicialmente pelos pré-socráticos e, posteriormente pela condução
filosófica socrática e pós-socrática. Historicamente, o surgimento da Filosofia
na Grécia antiga foi motivado pelas descobertas marítimas, pelo registro
abstrato das ideias com a invenção da escrita alfabética, pela abstração do
tempo com a invenção do calendário, pela forma de troca surgida com a invenção
da moeda, com a ambientação estabelecida com o surgimento da vida urbana. Com a
ética da Polis que propiciou a invenção da política surgindo às leis, o espaço
público e a estimulação das ideias num pensamento coletivo. É com essa
filosofia que se define as bases e fundamentos conceituais acerca da ética, da
pedagogia, da racionalidade, da técnica, da ciência, da arte, da cronologia, da
política e da física e, inclusive, da psicologia. É em razão dessa contribuição
da Filosofia antiga, notadamente a greco-romana, que o presente estudo se
realiza, procurando destacar de que forma os pensadores e filósofos da
antiguidade, propuseram, por meio de suas investigações, as bases para a
ciência psicológica. Justifica-se a realização do presente trabalho a necessidade
de se encontrar as raízes do pensamento humano, especificamente das questões
psicológicas que transitam na existência humana, bem como pela determinação de
pensadores que buscando respostas para as questões mais íntimas do indivíduo,
se voltaram para a necessidade da compreensão da vida e do mundo. Objetiva,
portanto, por meio de uma revisão da literatura destacar as contribuições
formuladas pelos filósofos da antiguidade grega e helenística para a formação
da ciência psicológica. A metodologia aplicada no desenvolvimento da presente
pesquisa de natureza exploratória, qualitativa e descritiva, embasada numa
revisão bibliográfica e documental para alcance da dimensão da temática
proposta. Na primeira parte do trabalho procurou-se evidenciar a fonte do
pensamento psicológico por meio da identificação de como se processou o
processo instaurador da filosofia, procedendo a uma revisão que sinalize os
antecedentes ocorridos na antiguidade até o florescimento dos primeiros
pensamentos filosóficos destinados às questões psicológicas. Em abordar-se-á a
filosofia pré-socrática, socrática e pós-socrática até o advento da filosofia
helenística e pagã com a penetração do Cristianismo. A PSICOLOGIA NA FILOSOFIA GREGA: Antecedentes históricos - O começo
da filosofia e da ciência teórica no mundo, conforme registrado por Souza
(1978), Russel (2002) e Aranha e Martins (1994), é marcado pelo confronto de
duas correntes de pensamento sinalizadas pela oposição Oriente-Grécia. De um
lado, o pensamento orientalista reivindicando para si a criação da sabedoria
que foi herdada e desenvolvida posteriormente pelos gregos; de outro, o
pensamento ocidentalista propondo o nascimento da filosofia e da ciência
teórica entre os gregos. Registram Padovani e Castagnola (1978, p. 26) que: É
comum, pois, que os historiadores da Filosofia iniciem sua História sempre por
Tales de Mileto. Não que eles ignorem a longa pré-história, o extensíssimo
período pré-filosófico no qual germinava a Filosofia para empós abrolhar,
depois de lenta fermentação intelectual, que vem desde o fundo dos séculos. Mas
é que os documentos epigráficos das civilizações mesopotâmicas v. g. são mui
raros e de acesso mui difícil. E porque a documentação sobre os povos selvagem
nada nos dizem sobre o que tenha sido a Grécia primitiva. Sob esse aspecto, os
autores designam nos contextos históricos como antecedentes filosóficos o
pensamento indiano e bramânico e suas ligações religiosas com o jainismo,
budismo, até a introdução do pensamento grego. Também Myers (2006), Chauí (2002) e Chauí
(2002b) admitem a existência de conduções filosóficas e de sabedoria entre os
chineses, hindus, japoneses, árabes, persas, hebreus, africanos e índios. No
dizer de Myers
(2006), Buda na Índia observou como as sensações e percepções se uniam para
formar ideias; Confúcio na China destacou o poder das ideias e de uma mente
esclarecida; as escrituras hebraicas de Israel antigo já falavam da relação
mente e emoção ao corpo e que sentiam com as entranhas e pensavam com o
coração, entre outras. Tais conduções dão conta que havia antes dos gregos um
pensamento filosófico, porém disperso, fato esse registrado por Reali e
Anteseri (1990) e Marcondes (1998), assinalando que foram os gregos quem
consolidaram o que havia de pulverizado entre os eventos míticos e poéticos. Discussões
à parte, o que se pode retirar das controvérsias da pesquisa histórica, fica
registrado que para o Ocidente a Filosofia e a Ciência teórica surgem na Grécia
antiga no período alexandrino ou helenístico por volta dos séculos V e IV a. C.
Noutra observação, Bock (1991) registra que no período compreendido a partir do
século VII A.C., deu-se o momento áureo do pensamento humano entre os gregos.
Tal fato se deu com o desenvolvimento ocorrido na Grécia, possibilitando que
esse povo tivesse entre as suas ocupações, as discussões filosóficas e
artísticas. É o que reforça Souza (1978, p, 6) ao mencionar que: Embora o
início histórico da filosofia e da ciência teórica ainda contenha pontos
controversos e continue um problema aberto – na dependência inclusive de novas
descobertas arqueológicas -, a grande maioria dos historiadores tende hoje a
admitir que somente com os gregos começa a audácia e a aventura expressas numa
teoria. Às conquistas esparsas e assistemáticas da ciência empírica e pragmática
dos orientais, os gregos do séc. VI a. C., contrapõem a busca de uma unidade de
compreensão racional, que organiza, integra e dinamiza os conhecimentos. Em
conformidade com o autor mencionado, é exatamente nesse período que se
desenvolve unidade de uma compreensão racional, resultado de um longo processo
cultural que convergiu com o desenvolvimento social, econômico, político e
geográfico que proporcionaram o nascimento do que se convenciona chamar de
milagre grego. Assim sendo, assinala Chauí (2002, p. 20) que: “A Filosofia,
entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da
realidade natural e humana, da origem das coisas do mundo e de suas
transformações e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego”.Também
assinalam Castro e Landeira-Fernandez (2011, p. 8) que: “[...] a cultura grega
antiga serve como um marco na fundação do pensamento ocidental. É a partir
desta civilização que surgem observações mais sistemáticas sobre estrutura e
funcionamento do corpo, da mente e a relação entre estas duas entidades”. O
cenário desse período era envolto num clima de predominância politeísta com
vigência da mitologia grega. E é exatamente aí que se posiciona por uma
consolidação do pensamento filosófico e científico teórico pelos grandes
pensadores gregos. Além disso, é nesse período que aparece o termo grego psyché embasando a significação da
Psicologia, como razão da alma, permitindo o entendimento do seu significado
como estudo da alma. Merece, então, destacar com base em Hirschberger (1965),
Bock (1991), Frias (2004) e Gusmão (2014) que, entre os gregos, o termo alma
traduzia a concepção da parte interior e imaterial do homem, abarcando seus
sentimentos, pensamentos, emoções, percepções, sensações, racionalidade,
desejo, entre outras. Com isso, há de se registrar que a mitologia grega,
conforme Cotrim (2006) vai contribuir com a Psicologia de diversas formas,
entre elas, a saga de Édipo, encenada pelo dramaturgo grego Sófocles (496-406
A.C.), embasando, por exemplo, a ideia de Complexo de Édipo do psicanalista
austríaco Sigmund Freud (1856-1939), ao reelaborar o mito grego ao
transformá-lo em elemento fundamental de sua teoria. Cortes (2014) vai
encontrar o mesmo embasamento nessa mitologia nas fontes simbólicas da
Psicologia Analítica de Carl Jung, bem como Berbel (2014) vai desenvolver
estudos psicológicos acerca dos mitos gregos como arquetípicos. Já Braz (2005)
vai desenvolver estudos psicológicos acerca do amor efetuando uma releitura da
mitologia greco-romana. Na literatura se encontra inumeráveis estudos
acadêmicos voltados para a identificação de conduções psicológicas flagradas
nas narrativas oriundas da mitologia grega. A esse respeito acrescenta Chauí
(2002, p. 27) que: [...] os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os
poetas Homero e Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões dos povos
orientais, bem como nas culturas que precederam a grega, os elementos para
elaborar a mitologia grega, que, depois, seria transformada racionalmente pelos
filósofos. Com isso, observa a autora que o poeta era tido na época como um
escolhido dos deuses, criando mitos como o de Eros, Prometeu, Pandora, entre
outros, que vão metaforizar a realidade e perdurar por milênios até o presente,
por denotarem os anseios e desejos humanos. Também registra Souza (1978, p. 8)
que: [...] em poesia o homem grego canta o declínio das arcaicas formas de
viver ou pensar, enquanto prepara o futuro advento da era científica e
filosófica que a Grécia conhecerá a partir do séc. VI a. C.”. Contudo, numa
revisão aprofundada da literatura encontram-se registros de que os temas que
envolvem a mente e o corpo surgem no cenário antigo por meio do pensamento
filosófico que emergiu entre os gregos antigos por volta de 1.200 e 800 A.C., a
partir da obra homérica. Foi com o conhecimento das obras A Ilíada e A Odisseia
do poeta grego Homero (928 A.C.-898 A.C.), datadas entre o final do século VIII
A.C., e inicio do século VII A.C., que se sabe acerca dos costumes religiosos,
práticas políticas, hábitos sociais e crenças por meio das narrativas que
envolvem a estrutura cultural e social daquela época, definindo os conceitos de
saúde e enfermidade, bem como da relação da alma, mente e corpo. Nesse sentido,
para Silva (2007, p. 122), a literatura homérica representa: A voz de Homero
não é a voz particular de um poeta, mas a voz de uma cultura, de uma sociedade,
diferente da voz do Deus cristão apreendida como única e definitiva, logo
inalterável. Enfim, nesse aspecto, consideramos Homero como o inaugurador
da tradição épica da qual participamos. Falar dele corresponde a tentar
demonstrar, em palavras, o que vem a ser o momento inaugural da nossa
literatura. Em vista disso, a Ilíada, segundo Schuler (2004), além de ser um
poema épico, narrando os acontecimentos que se sucederam durante a Guerra de
Tróia, bem como os relatos acerca do comportamento, da vida cotidiana e da
cultura grega. Já a Odisseia, no dizer de Carlier (2008), retrata o retorno dos
gregos de Tróia para a Grécia, narrando às emoções, comportamento, pensamentos,
atitudes e ações de Odisseu no enfrentamento dos revezes por vários anos de
luta para retornar à sua cidade natal. Além de Homero, conforme Chauí (2002) e
Chauí (2002b), outros poetas contribuíram para o desenvolvimento do pensamento
filosófico grego, a exemplo de Arquíloco, Teógnis e Píndaro, exprimindo
sentimentos de que o mundo é tecido por repetições e mudanças intermináveis. Merece
destaque a observação de Souza (1978) e Castro e Landeira-Fernandez (2011) de
que o corpo era visto nessa época como um aglomerado de membros que se
representavam pelo ritmo dos seus movimentos e pela força da musculatura. Em
virtude disso, observa-se que os gregos desse período não possuíam uma
concepção unitária da vida psíquica, contudo, a obra homérica está permeada de
sinalizações da vida mental humana, por meio dos afetos e sentimentos,
pensamentos, ânimos, emoções, comportamentos, intuições, suposições,
conhecimentos, inteligência, ímpetos e arrebatamentos, sem distinção entre os
órgãos humanos e o processo psíquico. Dessa forma, em conformidade com Castro e
Landeira-Fernandez (2011, p. 7): as questões que envolviam os debates acerca de
corpo-mente ocorreram desde a antiguidade, assinalando que: Essas questões,
fundamentais nas ciências da mente contemporâneas, estiveram também presentes
nas primeiras organizações antigas humanas. Desde os primórdios da humanidade e
em diferentes civilizações antigas, como Egito, Mesopotâmia, Índia e China,
observa-se a construção de diversas perspectivas acerca da relação mente-corpo,
contemporâneas entre si e que refletem uma preocupação fundamental em
compreender como ocorre a relação entre nossos corpos e os fenômenos mentais.E
de maneira similar às civilizações supracitadas, nota-se também na Grécia
antiga a existência de tais preocupações. Na verdade, nenhuma outra cultura
antiga deixou marcas ainda tão presentes como a civilização grega. Pode-se
afirmar que a base de todo pensamento ocidental moderno encontra suas origens
nesta civilização. Tem-se, pois, que a preocupação com o corpo e a mente não
era privilégios dos pensadores gregos, mas de outras regiões do planeta.
Entretanto, assinala Bock (1991, p. 22) que “É entre os filósofos gregos que
surge a primeira tentativa de sistematizar uma Psicologia”, sendo tal fato reiterado
por Atkinson et al (2011). A PSICOLOGIA
NA FILOSOFIA GREGA: A filosofia pré-socrática - O primeiro período do
pensamento grego, segundo Padovani e Castagnola (1978, p. 99), é identificado
como aquele denominado por período naturalista que compreende as escolas jônica
e eleata, sendo este período o de “[...] nascente especulação dos filósofos é
instintivamente voltada para o mundo exterior, julgando-se encontrar aí também
o período unitário de todas as coisas; e toma, outrossim, a denominação
cronológica de período pré-socrático [...]”. ESCOLA JÔNICA - A primeira escola que se tem notícia, conforme
Banes (2003), é a que se encontrava na cidade de Mileto, na Ásia Menor,
denominada de escola Jônica. Cotrim (2006), Gomes (2014) e Machado (2014)
assinalam que os Jônios foram os primeiros filósofos gregos. Surgiram eles nas
florescentes colônias gregas do litoral da Ásia Menor, a Jônia, e, em seguida,
da Itália meridional, a Magna Grécia, quando surgiu o denominado milagre grego
com o desenvolvimento das artes e política, a exemplo da democracia e da
ciência, bem como do teatro, da música, da literatura e aperfeiçoamento das
artes plásticas. No dizer de Banes (2003) e Bunet (1994), que foi com essa
escola que surgiu a exigência racional, embasada na doutrina filosófica do
Hilozoísmo que defendia a ideia de que toda matéria universal é viva,
identificando o cosmo como um organismo integrado material que possui as
características da consciência, sensibilidade ou animação. Foi nessa escola que
surge o nome de Tales de Mileto (640 a 584 A.C.), considerado como o primeiro
filósofo ocidental, fundador da Escola Jônica e considerado um dos sete sábios
da Grécia, além de filósofo, astrônomo, matemático, político e comerciante.
Ele, segundo Hirschberger (1965), é reconhecido como o herdeiro das
inquietações e conhecimento dos antigos egípcios e babilônios. A filosofia de
Tales de Mileto, segundo Marcondes (1998), tentou corrigir as incorreções e
falhas das filosofias anteriores, quando procurou realizar estudos sobre as funções
dos órgãos sensoriais, os processos cerebrais e perturbações nos casos de
lesões do cérebro. Foi ele, conforme Pessanha (1978), quem admitiu ser a água a
origem do universo, a substância primordial, trazendo por consequência a
primeira visão de distanciamento entre as percepções e o pensamento racional. O
seu teorema e a sua cosmologia está baseado no arché, ou seja, um só princípio, uma só coisa fundamental. Inaugurando
o período naturalista entre os jônios, Weate (1999), surge Anaximandro de
Mileto (610 A.C.- 547 A.C.), defendendo a infinitude dos
mundos numa perpétua inter-relação, identificando apeíron como o infinito em movimento perpétuo. Defendia também que
os opostos são reciprocamente pagadores das injustiças cometidas, garantindo o
processo de compensação dos excessos. O pensar para esse filósofo grego é
poematizar, sendo o ser a maneira originária precedente da poesia, quando a
linguagem se forma e atinge sua essência, uma vez que, para ele, a linguagem
pode expressar tudo que se pensa claramente. Também participou do período
naturalista dos jônios, o filósofo Anaxímenes (588-524 A.C.), que era discípulo
de Tales e defendia ser o ar a substância primária, o elemento básico físico e
psíquico. Ele, segundo Bunet (1994), atribuiu vida à matéria e identificando a
divindade com o elemento primitivo gerador dos seres, refutando ao mesmo tempo
Tales e Anaximandro, afirmando que todas as coisas seriam produzidas através do
duplo processo mecânico de rarefação e condensação do ar infinito, entendendo que
a natureza do ar originário era antes determinada de maneira estranha,
negativa, com relação à consciência. Tanto sua realidade, a água, ou também o
ar, enquanto o infinito é um alem da consciência. Tanto Anaximandro quanto
Anaxímenes atuaram como doxógrafos, ou seja, eles recolhiam e transcreviam as
opiniões dos filósofos precedentes. A
ESCOLA PITAGÓRICA - A escola
pitagórica foi fundada pelo filósofo Pitágoras de Samos (571 A.C. – 497 A.C.),
na colônia grega de Crotona, na Itália, Magna Grécia, depois transferida para
Metaponto. Foi vista, no dizer de Spinelli (2014), como uma associação que
reunia ciência, ética e política, com base nas ideias órficas e na concepção de
que tudo é regulado segundo relações numéricas, fazendo conexão com práticas
ascéticas e abstinências na sua confraria. Ele criou um sistema global de
doutrinas, cuja finalidade era a de descobrir a harmonia que preside à
constituição do cosmos e traçar, de acordo com ela, as regras da vida
individual e do governo das cidades. No seu entendimento, as categorias
biológicas (macho/fêmea), as oposições cosmológicas (à direita/ à esquerda –
relativas ao movimento das estrelas fixas e ao dos astros errantes), as éticas
(bem/mal), entre outras, seriam, na verdade, variações da oposição fundamental
que determinaria a própria existência das unidades numéricas: a oposição do
limite (peras) e do ilimitado (apeíron). O pensamento pitagórico
exerceu profunda influência no platonismo e persiste no tempo até os dias
atuais com tendências místico-religiosas e científico-racionais. Atribui-se ao
filósofo grego Pitágoras a invenção da palavra filosofia e, segundo Chauí
(2002, p. 19) ele: “[...] teria afirmado que a sabedoria plena e completa
pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se
filósofos”, sendo, então, aquele que é movido pelo desejo de observar,
contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida, pelo desejo de saber.
A MEDICINA GREGA - A medicina na Grécia
era sacerdotal e, conforme Gomes (2014), “[...] Procurava-se a cura para a
doença através da magia, poções benfazejas, feitiços, e vários tipos de
aplicações e cirurgias”. É nesse período que surge o filósofo e médico Alcmeón
de Crotona (500 A.C. – 450 A.C.) que foi o primeiro a considerar que o cérebro
era o centro de todas as sensações e sede da razão, da cognição e da sensação. A
esse respeito, assinala Gomes (2014, p. 18) que: Foi Alcméon de Crotona, na Itália, em torno do
século V a. C., o primeiro médico a basear seus conhecimentos sobre o corpo em
observações objetivas. Ele organizou uma escola de medicina em sua cidade para
substituir a medicina religiosa e mística por uma medicina racional. Alcméon
acreditava que a relação entre saúde e doença estava no equilíbrio ou
desequilíbrio dos sistemas corporais. Em virtude disso, em conformidade com os
estudos realizados por Reale (2002) e Frias (2004), foi esse médico e filósofo
que influenciou Hipócrates, ao defender que o cérebro era o criador da mente
humana, fazendo distinções entre os seres humanos e os animais, atribuindo ao
homem ser o único animal a compreender, uma vez que os outros animais apenas
percebiam. Além disso, registra Reale (2002) que Alcmeón foi responsável pela
suposição de que a percepção e a compreensão são processos distintos, propondo a
existência de canais sensoriais que proporcionavam que as sensações chegassem
até o cérebro, bem como foi ele quem apresentou os nervos ópticos como
conectando os olhos ao cérebro e propôs a primeira doutrina médica do ocidente
na relação entre doença e saúde. O sucessor de Alcmeón foi Hipócrates (460- 377
a. C.) que, segundo Gomes (2014), iniciou suas atividades médicas na tradição
religiosa, contudo as substituiu, posteriormente, por uma medicina racional,
influenciado pelos filósofos de então, ou seja, dos jônios e pitagóricos. A
medicina de Hipócrates, segundo Gomes (2014, p. 23): [...] baseava-se numa
teoria dos humores, na qual o ser humano era descrito como formando um todo
composto de quatro partes independentes que eram os quatro humores: o sangue, a
fleuma (chamada também linfa ou pituíta), a bílis amarela, a bílis negra ou
atrabílis, cada uma das quais relacionada a um órgão particular: o coração, o
cérebro, o fígado e o baço. A saúde seria o resultado do equilíbrio dos
humores. A medicina de Hipócrates assinalou o desempenho do cérebro no
organismo e o reconheceu como a sede da inteligência. Também descreve as
ramificações do cérebro com toda s as partes do corpo e o modo como recebe as
informações dos diversos canais dos sentidos Tem-se, portanto, que Hipócrates desenvolveu a arte da medicina, considerando o cérebro o centro da
razão, afora outras especulações sobre a relação entre o corpo e a mente.
Registram Castro e Landeira-Fernandez (2011) que o conhecimento do Corpus
Hippocraticum reuniu um conjunto de textos médicos, traziam as formas de
pensar, além de discorrer sobre embriologia, fisiologia, patologia geral e
ginecologia. Trata, também, acerca de distúrbios de movimento, incluindo tipos
de paralisias, distúrbios na fala, uso de trepanação no tratamento de lesões
cranianas, apresentando a doutrina humoral, segundo a qual, o corpo é composto
por quatro humores: sangue, flegma, bile amarela e bile negra. Observa-se, conforme
anotado por Atkinson et al (2011, p. 5) que Hipócrates [...] tinha profundo
interesse na psicologia, o estudo das funções do organismo vivo e suas partes.
Ele fez muitas observações importantes sobre como o cérebro controla vários
órgãos do corpo. Essas observações prepararam as bases para o se tornou a
perspectiva biológica na psicologia. Tem-se, portanto, que para Hipócrates o
cérebro é a sede do julgamento, das emoções e de todas as atividades do
intelecto, assim como a causa dos transtornos neurológicos, tais como espasmos,
convulsões e desordem da inteligência. Para ele a saúde estaria associada com a
perfeita justa proporção destes humores, tanto qualitativa quanto
quantitativamente, sendo resultado do isolamento de um dos humores em
alguma região do corpo, desequilibrando seu funcionamento. A ESCOLA DE ÉFESO –
A escola de Éfeso surge com Heráclito (576-480 A.C.), cognominado Skoteinós, o
Obscuro, com a concepção do mundo em movimento e considerando o fogo a essência
do mundo e agente de mudanças. No dizer de Marcondes (1998), por seu caráter
altivo, desdenhoso e misantropo o fez desprezar a plebe, os filósofos do seu
tempo, poetas e religiões, tornando-se um crítico implacável do seu tempo
contra todas as ideias. Todavia, tratou em suas investigações acerca da
percepção do sono, a lucidez, pensamento e conhecimento, bem como de aspectos
biológicos, físicos, psicológicos, políticos e morais, além da astronomia.
Registra Banes (2003) que para ele a razão era tida como logos, ou seja, a unidade profunda que as oposições aparentes
ocultam e sugerem por meio dos contrários, em todos os níveis da realidade, e
que seriam aspectos inerentes a essa unidade, sendo, pois o vir a ser o
elemento primordial, o perpétuo fluxo, a continuidade, tornando-se o precursor
da dialética. Assim, defendia que as mudanças são a essência das coisas, sendo,
para ele, a vida cambiante e que o movimento é a essência da evolução. ESCOLA
ATOMISTA - Essa escola foi influenciada pela escola naturalista desenvolvida
pelo filósofo, poeta e médico Empédocles de Agrigento (495 - 435 A.C.) que foi
um dos que estudaram os processos cognitivos no corpo. Para ele a água, a
terra, o fogo e o ar eram os quatro elementos primordiais, defendendo o amor e
o ódio como os princípios cosmogônicos, influenciando sobremaneira a visão
médica a respeito dos entendimentos acerca da saúde e da enfermidade.
Encontra-se em Russel (2002) que ele também se debruçou sobre a fisiologia dos
fenômenos sensoriais, entendendo que a percepção se deve à capacidade dos poros
sensoriais captarem as emanações dos elementos primordiais identificados pelos
objetos. A percepção visual se dava pela capacidade de seleção dos poros da
visão, causando sensações de cores e luzes para percepção dos objetos,
influenciando, assim, o pensamento da fisiologia sensorial. Para ele o sangue
era sumamente importante para a produção dos pensamentos, uma vez que estes
dependem da similaridade, identificando o pensar com o mesmo sentido de
perceber. Para ele o pensamento se produz com a sensação, bem como todos os
animais têm pensamentos, além de considerar que a inteligência cresce de acordo
com os dados sensoriais do tempo presente. Sua filosofia estabeleceu um
compromisso entre a doutrina eleática e o mundo dos sentidos, substituindo a
busca dos jônicos de um único princípio das coisas para a totalidade da interpretação
do universo nos quatro elementos. Entretanto, assinala Russel que a escola
atomista surgiu no Iluminismo grego e teve como principal representante o
filósofo e escritor Demócrito de Abdera (430-370 a. C.), que possuía o
pensamento a partir da generalidade física de Leucipo, restabelecendo a
importância do particular, que influenciou o indutivismo de Francis Bacon,
defendendo a ideia das partículas indivisíveis, denominada por ele de átomos,
explicando as percepções sensoriais ao postular que todas as variedades de
matéria resultam da combinação de átomos de quatro elementos: terra, ar, fogo e
água. É com Demócrito que, segundo Souza (1978), surge o mecanicismo que
distinguia dois tipos de conhecimento: o bastardo, que seria o conhecimento
sensível a exprimir as disposições do sujeito antes da realidade objetiva; e o
conhecimento legítimo, aquele que é a compreensão racional da organização
interna das coisas. Assim, sua obra trata desde a Filosofia, passando por
problemas da matemática, medicina, arte e estudos linguísticos, psicologia,
metafísica e religião, embasando-se na intuição e na lógica, sendo, pois, o
continuador dos antigos fisiocratas, contudo admitia um conhecimento da
realidade absoluta, por meio da intelecção, refutando assim o relativismo
cético de Protágoras. Pela sensação, o Homem obtinha o conhecimento relativo da
realidade, sempre imperfeito e muitas vezes pessoal; mas, pela intelecção, e
portanto, pelo pensamento, podia obter o conhecimento completo e perfeito. Sua
teoria da percepção, ou melhor, sua gnosiologia, pois na realidade se trata de
todo o mecanismo do conhecimento, não deixa dúvidas a respeito dessa posição.
Para ele tudo se constitui de átomos, de maneira que o próprio pensamento não é
outra coisa senão movimento atômico. ELEATISMO OU ESCOLA DE ELEIA - O poeta,
matemático e filósofo Parmênides de Eléia (530 A.C. - 460 A.C.),
inaugura no período pré-socrático o pensamento metafísico, entendendo o mundo
dos sentidos como ilusório. Segundo anotado por Weate (1999), defendia ele que
os sentidos são limitados não revelando o mundo imutável, distinguindo dois
tipos de conhecimento: o epistemológico, racional ou verdadeiro, e da opinião,
ou doxa. Com isso, ele distingue o
inteligível do sensível, opondo-se aos princípios numéricos dos pitagóricos, o
imobilismo heracliteano e toda a filosofia jônica. Foi ele quem primeiro expôs
o princípio de identidade e que para conhecer e entender os conteúdos das
coisas se faz necessário pensar, considerando que conhecer o ser é conhecer a
verdade, distinguindo a ciência como aquela construída na razão e que o ser
depende do sentido, entendendo que para alcançar a verdade deverá se recorrer à
razão, nunca aos dados empíricos. Considerava que a realidade só podia ser
entendida através do pensamento e que o verdadeiro conhecimento requer que se
desvencilhe dos sentidos, uma vez que, para ele, o verdadeiro não é percebido
sensorialmente, mas pela razão e pensamento. Enfim, a sua teoria enfatiza que
só existe o que pode ser pensado, a mente é a criadora de todas as coisas.
Zenão de Eleia (495 A.C. - 430 A.C.) foi discípulo de
Parmênides e criou a dialética com o sentido de argumentação erística ou
combativa, cultuando um raciocínio metafísico, especulativo, sob o aspecto
dialético objetivo. Com isso aborda acerca do pensamento, raciocínio e
inteligência, para formar o amálgama das suas ideias e por meio dos seus
argumentos. A ESCOLA SOFISTA - A sofística, conforme Padovani e Castagnola
(1978), inaugura o segundo período do pensamento grego conhecido como sistemático,
ocorrido por volta do séc. IV a. C., caracterizando-se como o aquele em que o
espírito e o homem, a moral e a gnosiologia passam a vigorar pelas ideias dos
pensadores. Segundo Cotrim (2006, p. 91): As lições dos sofistas tinham como
objetivo, portanto, o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade
retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiram, enfim,
todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte
de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. A figura mais
importante dessa escola é Protágoras de Abdera (490 - 415 A.C.),
que se dedicou à descoberta do fundamento de todas as coisas, por meio
de uma justificativa lógica e pelo questionamento da capacidade humana de conhecer
a verdade e a lei moral. Desenvolveu estudos sobre a sensação e suas variações,
bem como a relatividade do conhecimento. É a partir do pensamento dos filósofos
do Sofismo que se tem a mais ampla concepção da educação, tida como Paidéia, modelando a educação humana com
a finalidade superando os privilégios de acessibilidade somente aos que
possuíam sangue divino, como também a educação profissional que era vitalícia
de pai pra filho, procurando impor a concepção total do homem, colocando o
saber como a poderosa força espiritual para a formação dos homens. Estava
embasada no poder da persuasão, da eloquência, da retórica, ensinando-se
conteúdo enciclopédico que envolvia todo saber e a cultura com fins práticos.
Encontra-se, portanto, que o objetivo da educação sofista era a formação do
espírito, encerrando uma extraordinária multiplicidade de processos e de
métodos, tornando-se, com isso, fundadores da ciência da educação, ao
estabelecerem os fundamentos da pedagogia. Merece, assim, registrar que o sistema
pedagógico estruturado pelos sofistas para a educação superior é seguida até a
atualidade no mundo civilizado. Por todo exposto, observou que a filosofia
pré-socrática, conforme Atkinson et al (2011), Castro e Landeira-Fernandez
(2011) e Gomes (2014b), discutiu a forma como o homem percebe e ver o mundo,
sendo, pois, seus ensinamentos usados pela medicina baseada nas observações
acerca da saúde, enfermidade e fisiologia humana, sistematizando um
conhecimento sobre o corpo e sua relação com a mente, explorando ao mesmo tempo
os aspectos biológicos, psicológicos por meio da filosofia que abordava
questões sobre a localização do corpo e a atividade cognitiva. Foram esses
filósofos que contribuíram para romper com a visão religiosa e mítica
predominante na época, adotando uma forma de pensar racional e científica. Tem-se,
portanto, que os filósofos pré-socráticos demonstraram sua preocupação em
efetivamente tratar acerca da definição do relacionamento entre o homem e o
mundo por meio da percepção, este identificado como um dos processos
psicológicos básicos. Além disso, foi nesse período que se deu a especulação
sobre os processos cerebrais, as funções sensoriais e as perturbações
acarretadas por lesões cerebrais. O PENSAMENTO SOCRÁTICO - A Psicologia ganhou
consistência com o filósofo grego Sócrates (469-399 A.C.), quando passou a se
preocupar com a relação entre o homem e os animais, postulando ser a razão a
principal característica humana, permitindo a sua sobreposição sobre os
instintos e a irracionalidade. Foi com isso, segundo Aristófanes (1980),
Xenofonte (1980) e Pessanha (1980), que ocorreu a sistematização filosófica que
permitiu que surgissem as primeiras teorias da consciência. Com isso, ao
valorizar o pensamento sofista, Sócrates definiu que a razão é a peculiaridade
ou essência do ser humano, abrindo assim o caminho para exploração da
investigação psicológica. Daí, segundo Gomes (2014), esse filosofo destacou que
a principal característica do ser humano é a razão, uma vez que por ela é que
se pode sobrepor ao instinto. O método socrático, segundo Pessanha (1980),
mantinha as mutações corroboradas pelo fluxo perpétuo das coisas e nas
variações sensitivas nos indivíduos que se transformam ao longo da vida,
substituindo o objeto da ciência do sensível para o inteligível por meio de um
processo dialético indutivo que comparava a espécie, as diferenças, as
qualidades e peculiaridades humanas, remontando o individuo à noção universal.
Adotou o diálogo como forma de instrução, recorrendo-se à indução párea definição
geral do objeto em estudo, denominando esse processo pedagógico de maiêutica
com o significado de parturição das ideias por meio de engenhosa obstetrícia do
espírito. A sua filosofia é caracterizada pela introspecção e a sua psicologia
foi professada ao distinguir as ordens do conhecimento em intelectual e
sensitivo, identificando a vontade com a inteligência. Com isso é considerado o
fundador da ciência em geral, limitando-se a sua filosofia à gnosiologia e à
ética. O PENSAMENTO DE PLATÃO E ARISTÓTELES-
Com o filósofo grego Platão (427-347 A.C.), então discípulo de Sócrates,
ocorreu à definição da razão localizada no próprio corpo humano, mais
precisamente na cabeça onde se localiza a alma humana e que a medula
corresponderia à ligação do corpo à alma, sendo esta, portanto, separada do
corpo. Entendia esse filósofo, segundo Zingano (2014), que a matéria ou corpo
humano quando morria, ocorria o seu desaparecimento, enquanto a alma se
tornaria livre e ocuparia outro corpo. Ele estudou os estados caracterizados
como mania e sua discussão
sobre as doenças da alma, entendendo
que alma era imortal e concebida separadamente do corpo. Em sua obra Timeu,
Platão demonstrou em sua obra possuir conhecimento das obras hipocráticas,
adotando o modelo da medicina para o desenvolvimento de certas ideias
filosóficas. É, no dizer de Zingano (2014), a obra responsável por levar até a
Idade Média as principais ideias pré-socráticas e hipocráticas referentes ao
cérebro, ao corpo e, de forma geral, ao universo. Ao tomar posição claramente
cefalocentrista, Platão favoreceu a divulgação de tal visão com seu prestígio. Tanto
Sócrates como Platão, segundo Myers (2006), viam a mente como algo separado do corpo e que continuava
existindo após a morte, contudo enfatizavam as predisposições genéticas inatas
e a gramática intuitiva como o conhecimento já existente em cada um dos seres
humanos, contribuindo para a visão psicológica. Já o filósofo grego
Aristóteles (384-322 A.C.), era discípulo de Platão e contribuiu de forma
inovadora para a Psicologia com suas postulações acerca da alma e do corpo,
defendendo que os mesmos estavam ligados e não poderiam ser dissociados. Para
ele, a psyché deve ser entendida como
o princípio ativo da vida. Posicionando-se cardiocentrista, considerava o
coração a sede da alma, do intelecto e das emoções. Estudioso da biologia,
Aristóteles, segundo Zingano (2014), advogava a ideia de todos os seres que
crescem, se alimentam e se reproduzem são possuidores da alma, incluindo nessa
condição tanto o homem como os animais e vegetais. Nesse caso, o homem possuía
uma alma com racionalidade e com a função pensante, diferenciando a razão da
sensação e da percepção. Assim, ele entendia que a alma era mortal e pertencia
ao corpo humano. Vê-se, portanto que Aristóteles é o autor do primeiro tratado
acerca do tema psicológico e é considerado o pai da anatomia comparada, tendo
sido o primeiro taxonomista e embriologista. . No seu tratado Da Alma,
Aristóteles distinguiu as diferentes faculdades desta alma: a faculdade vegetativa,
a sensitiva e a intelectual, defendendo que os vegetais teriam apenas a alma
vegetativa, princípio elementar da vida que envolvia as funções biológicas como
nutrição, crescimento e geração. Os animais irracionais possuíam a capacidade
do movimento e dotados de alma sensitiva, responsável pelo movimento do corpo e
pelas sensações. A respeito dessa obra, Bock (1991, 31) assinala que “Esse
filósofo chegou a estudar as diferenças entre a razão, a percepção e as
sensações. Esse estudo está sistematizado no Da alma que pode ser considerado o
primeiro tratado em Psicologia”. Concernente à alma sensitiva, assinala Myers
(2006) que ele expôs cada um dos cinco sentidos o que diferenciava o ser humano
dos demais animais por ser dotado da faculdade intelectual, ou seja, a
capacidade e o desejo de conhecer. Com isso, ele caracterizou o intelecto como
a faculdade de pensar e que o objeto alcançado pelos sentidos, seria
reconhecido pela inteligência, significando que o ser humano possuía todas as
faculdades da alma que residiam no coração, o qual possui papel importante por
se encontrar centralmente posicionado no corpo, sendo responsável pela produção
de calor corporal, além de ser a fonte do sangue e a origem dos vasos
sanguíneos. Assim, tanto o cérebro como o coração formariam uma unidade a qual
permitiria o funcionamento normal do corpo. Foi ele, ainda, quem fez
considerações anatômicas da região cerebral, observando as meninges, o
cerebelo, o encéfalo, entre outras. Segundo Machado (2014), foi Aristóteles que argumentou que é a razão que
controla os atos humanos e nela há o raciocínio a partir dos dados dos
sentidos. Uma das suas contribuições para a ciência psicológica, conforme Myers (2006), é o ato de recordar por meio de
uma rede de associações existentes entre as experiências armazenadas pelo ser
humano. Em suma, tanto Platão quanto Aristóteles, ambos se
dedicaram à especulação sobre o homem e sua interioridade. Há que se observar
que, segundo Machado (2014), com o neoplatonismo finda, mesmo oficialmente, o pensamento
grego – mais ou menos no tempo da queda do império romano após doze séculos de
vida – mandando Justiniano, imperador do Oriente, fechar a escola neoplatonica
de Atenas (529 D.C.). Entretanto, os valores eternos de verdade, descobertos
por esta tradição filosófica, que é a maior da humanidade, não podiam perecer:
serão eles conservados e valorizados no pensamento cristão, bem como os grandes
valores práticos, jurídicos, descobertos pela civilização romana. A FILOSOFIA HELENISTICA - O período
helenístico ou greco-romano, segundo Chauí (2002), compreende o final do séc.
III A.C, até o séc. VI d. C., quando alcança Roma e o pensamento dos primeiros
padres da Igreja, se ocupando a filosofia com as questões da ética do
conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza, bem como de
ambos com Deus. A sistematização ocorrida com a escola sofista, segundo
Padovani e Castagnola (1978), proporcionou o nascimento de escolas socráticas
menores, iniciadas pelas escolas cínicas e cirenaicas que foram precursoras do
estoicismo e do epicurismo, possibilitando o surgimento da Academia e do Liceu,
bem como da Gnosiologia, a Cosmologia, a Teologia, a Moral, a Política e a
Metafísica geral. Assim, conforme registrado por Toynbee (1975) e Joyay e
Ribbeck (1980), o período helenístico tem inicio por volta de 322 A.C com a
conquista da Grécia pelos macedônios. A filosofia desse período é conduzida
pelos discípulos de Platão e Aristóteles. Surgem então diversas escolas, como a
estoicista, a epicurista, a pirronista, entre outras. O estoicismo, segundo
Padovani e Castagnola (1978), fundado por Zenão de Citium (334-262 A.C.),
dividiu a filosofia em lógica, física e ética, dando primazia à ética e unindo
a vida à filosofia. Foi exatamente Zenão que deu destaque à apatia no sentido
aristotélico, ao considerar sua significação como a permissão da liberdade com
ausência de paixão, mesmo que quem tenha esses sentimentos seja um escravo, uma
vez que para essa escola a felicidade só é alcançada por meio de uma alma
disposta a ter indiferença emocional com os eventos que possam ocorrer na vida.
Inclusive, merece registro que a definição estoica para a apatia é seguida até
a atualidade. A doutrina do epicurismo foi criada pelo filósofo grego Epicuro
(341-270 a. C.), embasada no conceito atômico de Demócrito, defendendo que o
conhecimento ocorre por meio das sensações, de modo que as informações
sensoriais são apreendidas pela memória. Essa doutrina, segundo Padovani e
Castagnola (1978), foi fundada com base num materialismo teórico e num ateísmo
prático. Pelas observações efetuadas por Mueller (1968) e Brugger (1987), foi
Epicuro quem tratou mais densamente acerca da imaginação ao designar como
função filosófica o ensino da interpretação correta do domínio dos impulsos
físicos, pleiteando a prática da concentração via imaginação visando o
prolongamento da vida. Para esse pensador, a imaginação é a força que leva à
superação dos sofrimentos e tristezas, incluindo-se a cura das enfermidades
humanas. A escola cética, segundo Gomes (2014b), impunha a dúvida radical sobre
o conhecimento verdadeiro. Dessa doutrina surgiu o ceticismo metodológico
reconhecido como procedimento necessário para legitimação do conhecimento, e o
ceticismo universal voltado para a relatividade do conhecimento sensorial, as
contradições do conhecimento a falta de critério suficiente de verdade. Essa
doutrina foi desenvolvida por Sexto, o Empírico. Padovani e Castagnola (1978)
ainda acrescentam a escola eclética que se apresentou como um sistema afim ao
cetisicmo, apresentando-se como síntese prática dos elementos estoicos,
acadêmicos e peripatéticos. Outras escolas, segundo Mueller (1968) aconteceram
sem maiores destaques como o, a escola cínica fundada por Antístenes e a escola
cirenaica ou hedonista Aristipo, entre outras. Nesse período, conforme Cotrim
(2006, p. 107) surgem pensadores como Sêneca, Cícero, Plotino e Plutarco que,
“[...] dedicaram-se muito mais à tarefa de assimilar e desenvolver as
contribuições culturais herdadas principalmente da Grécia clássica do que criar
novos caminhos para a filosofia”. Entre esses, segundo Melo e Silva (2014), o
filosofo e tragediógrafo Lucius Annaeus Sêneca (4 A.C. – 65 D.C) que
desenvolveu a filosofia estoica em Roma, tendo como ponto culminante a sua obra
As troianas com cenas da angústia humana e da crueldade, encenando as vivências
e situações humanas. Marco Túlio Cícero (106-43 a. C.) foi influenciado pelas
ideias platônicas e estoicas, que segundo Gomes (2014b), passava pelo
reconhecimento do conjunto de doenças da alma (animi medicina) correspondentes à deficiência mental, a insanidade
e a demência que deveriam ser curadas pela alma, considerando que a razão e a
vontade são poderes inerentes à alma. Plotino (204-270 D.C.) recebeu
influências platônicas e aristotélicas, tornando-se o último filósofo de relevo
da antiguidade, intermediando o pensamento cristão e grego ao defender que o
ser humano pertence ao mundo dos sentidos e da inteligência, fazendo distinção
entre o que é sensorial e a impressão. É considerado por Padovani e Castagnola
(1978) como neoplatonista, corrente inaugurada em Alexandria do Egito por
Amônio Saca, mas tida como fundada por Plotino. Merece registro o fato de que
na escola da Alexandria Ptolomaica que existiu entre o séc. III A.C., até o
séc. VII D.C., vários estudos foram desenvolvidos sobre estruturas anatômicas
do corpo humano, nervos cranianos, ventrículos cerebrais e o sistema vascular,
realizadas por Herófilo sob a influência de Hipócrates. O seu sucessor,
Erasístrato fundou a fisiologia e diferenciou os nervos sensitivos e motores.
Depois deles, surgiu Cláudio Galeno no sec. II A.C., tornando-se o pai da
medicina, com estudos nessa área, além da fisiologia e da anatomia,
reorganizando o conhecimento médico acerca das funções mentais e do cérebro.
Observa Bock (1991, p. 52) que “[...] falar de psicologia nesse período é
relacioná-la ao conhecimento religioso, já que, ao lado do poder econômico e
político, a Igreja Católica também monopolizava o saber e, consequentemente, o
estudo do psiquismo”. Por todo exposto, é de fundamental necessidade explicitar
o entendimento de Castro e Landeira-Fernandez (2011, p. 8) acerca de que o
pensamento da antiguidade contribuiu sobremaneira com o desenvolvimento da
Psicologia, ao consideraram que: As propostas feitas por esses pensadores a
respeito de questões centrais - relacionadas com a fonte do pensamento humano,
o mecanismo da atividade cognitiva e a natureza das emoções, percepção e
movimento voluntário - ainda nos fascinam e contribuem pela originalidade e
pela riqueza de suas implicações, marcando de maneira fundamental o pensamento
científico e filosófico da Idade Moderna. Tal condução leva ao entendimento
desenvolvido pelos autores de que a contribuição dos filósofos e médicos gregos
da antiguidade possibilitaram as especulações que alicerçaram os conceitos da
neurociência moderna. Além disso, destaca Chauí (2002, p. 22) que a
contribuição da filosofia grega antiga também se notabilizou porque “A ideia de
que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras e normas universais
e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso. Em
outras palavras, a ideia de que nosso pensamento é lógica ou segue lógicas de
funcionamento”. Também Myers (2006) assinala de grande importância à contribuição para a
psicologia do pensamento pré-científico da Grécia antiga, que conseguiu
oferecer muitas percepções duradouras sobre a natureza humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS - Com a realização
do estudo ora realizado, tomou-se conhecimento de que foi na Grécia antiga que
se deram os primeiros passos acerca da psicologia, notadamente quando o ser
humano passou a observar e compreender a si próprio e ao mundo. Na verdade o
termo psicologia só viria aparecer mesmo apenas no final do século XVI, mais
exatamente em 1590, oriunda dos estudos filosóficos realizados desde a Grécia
antiga até então. Tal fato dá-se em virtude do surgimento da Ciência por meio
do filósofo inglês Francis Bacon, sendo, assim, denominada por Rudolph
Goclenius, com o significado de tratado ou ciência da alma. Contudo, o presente
trabalho compreendeu o período do século 700 A.C., até às vésperas da era
cristã na dominação romana. Em vista disso, faz-se necessário considerar que o
nascimento da Psicologia surge desde a Grécia antiga, quando os filósofos
pré-socráticos começaram as investigações filosóficas que possibilitaram a
eclosão de diversos ramos científicos. Nesse período foi possível identificar o
papel da filosofia da Grécia antiga como o nascedouro para questionamentos a
respeito das mais diversas atividades humanas e, especificamente, mentais,
elaborando especulações sobre o funcionamento e desenvolvimento de estruturas
corporais, bem com a relação do corpo com a mente ou a alma, a divisão da alma
de Platão apontando para as emoções, desejos, intelecto, entre outras áreas; na
medicina de Alcmeón e Hipócrates, nas investigações pré-socráticas sobre a
mente e o corpo; no pensamento aristotélico que embasou o desenvolvimento da
ciência psicológica; na investigação neuroanatômico de Herófilo e Erasístrato,
na localização do centro das atividades e funções mentais notadamente pelo
desenvolvimento das teorias cardiocentristas e cefalocentrista, a relação entre
o coração e o cérebro com a alma ou mente, enfim, dos conjuntos de pensamentos que
contribuíram para a neurociência e, por consequência, para a psicologia. Há que
se levar em consideração, por conclusão, que tais fatos proporcionaram a
ocorrência da consolidação e autonomia da Psicologia no final do séc. XIX, por
meio dos trabalhos psicofísicos de Weber, do fisiologista e psicólogo alemão
Gustav Fechener, até dar-se a sua fundação por meio da criação do primeiro
laboratório por Wilhelm Wundt, em 1879, em Leipzig, Alemanha, quando passou a
ter a significação do estudo do organismo humano e animal, além de se voltar
para os fenômenos psicológicos em sua completa variedade e complexidade, bem
como da finalidade de ser capaz de efetuar as predições mais adequadas acerca
desses fenômenos. Por fim, reconhece-se que foram esses filósofos da antiguidade que se debruçaram sobre questões
psicológicas como a memória, a aprendizagem, a percepção, a motivação, os
sonhos e principalmente o comportamento anormal, tentando explicá-las para
fazer a base do conhecimento da área na atualidade.
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Acesso em 07 fev 2014.
TOYNBEE, A. J. Helenismo, história de uma civilização.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1975.
XENOFONTE. Ditos e feitos memoráveis de Sócrates. In:
PESSANHA, José Américo Motta (Org). Sócrates. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
WEATE, Jeremy. Filosofia para jovens. São Paulo - Callis,
1999.
ZINGANO, Marco Antonio. Filosofia grega clássica: Platão, Aristóteles
e sua influência na Antiguidade. FAPESP. Disponível em
http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/7226/filosofia-grega-classica-platao-aristoteles-e-sua-influencia-na-antiguidade/.
Acesso em 07 fev 2014.
FEIRA LITERÁRIA DE CAMBUQUIRA – Acontecerá
entre os dias 14 e 16 de novembro, a I Feira Literária de Cambuquira, Minas
Gerais. Programação: 14 de novembro 12h: Abertura com a presença de autoridades
locais e representantes dos homenageados. Local: Anfiteatro da Escola Georgina
Bacha. 14h: Apresentação de crianças das Escolas Municipais de Cambuquira,
mostrando o trabalho do “Baú de Leitura” Local: Em frente ao Parque das Águas. 15h
às 17h: Mesa Literária: Cambuquira e região como “Polo Turístico- Cultural” –
Desafios Participantes: Antônio Almeida, Celso Simões, Flávia Lemes, Gustavo
Valin, Judith Souza, Thais Lemes, Marcelo Lemes, Magali Oliveira, Márcia Lemos,
Paulo César de Barros. Mediadora: Magali Oliveira. Local: Anfiteatro Georgina
Bacha. 17h às 20h: Música na Feira com o grupo: Antonio Carlos, Marquinhos,
Guilherme, Wander Local: em frente ao Parque das Águas 15 de novembro 12 h às
13h30m: João Signorelli – Ghandi Local: Em frente ao Parque das Águas 13h30m:
Relançamento do Livro: Dr Hilton Rocha o Humanista. Autor: Itapuan Botto
Targino. Lançamento do livro: A Forma da Sombra – Fernando de Abreu Lançamento
Literatura de Cordel: Poesias de Hilda 13h às 15h: Poesia e música: Passeando
pela Feira –Grupo Curtisso. Local: Em frente ao Parque das Águas, Georgina
Bacha e Biblioteca Marta Antierio. 15h às 17h: Mesa Literária: Redes Sociais e
Hábito de Leitura, influindo na (re)construção de um mundo melhor. Participantes:
Rafaela Carvalho, Ana Paula Lemes, Fernando de Abreu, Margareth Assis Marinho e
Maria Cecília Santos Carvalho. Mediadora: Maria Cecília Santos Carvalho. Local:
Anfiteatro Georgina Bacha 16h às 20h: Cantando na Feira com vários músicos de
Cambuquira. Lançamento do CD de Roberto Matias. 16 de Novembro: 13 h: Grupo
Consciência Negra – dança- Zumbi dos Palmares Local: em frente ao Parque das
Águas 14h: Balé com as alunas da professora Michelle Local: em frente ao Parque
das Águas 15h às 17h: Mesa Literária: Falando sobre nossos homenageados: Dr.
Manuel Brandão, Dr. Hilton Rocha e Martha Antierio. Participantes: Dr. Astênio
Cesar Fernandes, Itapuan Botto Targino, Áurea Souza, Lívia Antierio Siqueira,
Clara Mariza Fratine Renaut, Fernanda Brandão. Mediadora: Áurea Souza. Local:
Anfiteatro Georgina Bacha. 16h às 17h30m: Violeiros na Feira: duplas de
Cambuquira e Campanha. 17h30m às 19h: Estação do Samba de Três Corações. 19h às
20h: Encerramento: Seresta na Feira, com vários músicos de Cambuquira e região.
Hino de Cambuquira e outras músicas sobre Cambuquira Cantores: Fátima de Paula
e Álvaro da Silva (Barrica) Todos os dias Poetando na Feira: Catulé. Corais Histórias
contadas pela escritora infantil Margareth Assis Marinho Filmes no Anfiteatro
Georgina Bacha – A partir das 17h 30m Exposições: Memória das Águas Virtuosas
de Cambuquira - Vanessa Manes. Quadros dos Artistas Plásticos: Milevo, Felipe
Lemos, Divina Lemes.
CURSO - Curso de restauração de
livros, na Biblioteca Municipal Martha Antierio,Magali Oliveira, Áurea Souza e
Maria Cecilia Santos Carvalho, que estarão também na Feira Literária, dias 14,
15 e 16 de novembro. Visita a Biblioteca Municipal Marta Antierio. Haverá três
monitores e Vanessa Manes, que farão visitas guiadas.
OFICINA DE PALHAÇO
- Oficina de Palhaço.. Com Edson José Ferreira e
Grupo dos Drs. da Alegria de Três Corações/MG. Neste sábado 15/11/2014 na avenida
Deputado Renato Azeredo n° 417 - Peró (em frente ao Fermentão). De 13 as 17h.
Inscrições no local. Contado: (335) 8701-0901 Silmara ou (35)9252-7168 Barbara
Andrade 9122-2823 Rachid. A Oficina é aberta ao público em geral.
GRUPO BORNÁ DE XEPA - A Prefeitura
Municipal de Três Corações, por meio da Seltc e Seduc apresenta: Grupo Borná de
Xepa (Ronildo Prudente, Luciana Sant'anna, Monica Furtado, Luciano Neder Dall'
Stella e Mestre Claudião) com o espetáculo Bota Fé no Patuá no VII Seminário de
Educação Inclusiva. Na quarta-feira, dia 19 de novembro, às 20h, na praça
Odilon Resende Andrade, em Três Corações - MG. Uma noite para celebrar a
cultura mineira com muita cantoria e alegria.
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O que semeei pro que será colhido, Elbert Hubbard, Débora
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Rostand & Cyrano de Bergerac, Elizabeth Barrett Browning, Flora Purim,
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