RESTA SOBREVIVER... – Rascunhei a primeira frase... Os
fogos de artifícios são a guerra do Natal, a chama e as labaredas, quantos se
queimaram e eu quase incólume... Logo
a segunda e teibei!... O menino chorão só queria um soldadinho de chumbo
daquele suposto Papai Noel que nunca deu as caras, só de pensar nas crianças de
Gaza, quem o algoz senão o próprio, os destroços e quem comemora, as botas
marchando na desolação, nem sobraram as fotos do álbum de recordações
totalmente destruído, um tijolo na parede apenas e nenhuma memória por socorro.
- Corrigi esta elocução umas três
vezes para ficar com essa feitura ainda defeituosa. Na parede, os tijolos
empilhados com argamassa, algum engenho a mantê-lo de pé, os meus desabaram ao
primeiro olhar. Saco do violão o primeiro acorde, capturo outros e se eu disser
assim, não direi assado. Tento disfarçar o nó na garganta, o buraco no peito,
as dores da alma. Quem dormiria sossegado se na calçada da praça da matriz
alguém estirado cochila com cobertor de nuvens e céu estrelado, enquantoutro ronca
com seus lençóis de papelão embaixo da marquise daquela loja chique. Quase
desabo ao pé do poste mal iluminado, a vertigem das ideias nas garatujas de
poças vítreas encharcando meus sapatos. Descalço reescrevo tudo. De ponta à
cabeça, versos soltos na página, rasuras, indignações. E o que é mais
importante é muito menos no Beco do Mijo, quem se importa o próprio opróbrio. Entre tantas apenas uma possibilidade: sobreviver como puder. Terá
título ou não. Ah, dane-se! Hehehehehe! Veja mais aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - É fácil cair na armadilha de
pensar que você não é bom o suficiente ou que não tem o que é preciso para
atingir seus objetivos. Mas a dúvida é uma mentirosa. Somos capazes de grandes
coisas. Você pode se defender e aguentar tudo o que a vida joga em você. Você
sempre descobrirá as coisas, mesmo que pareça um desafio impossível. Com o
passar do tempo, aprendi que sou mais forte do que pensava e posso enfrentar
meus desafios com confiança. Pensamento da atriz e diretora de teatro
armênia Marine Galstyan, que estreou na televisão com Parnas (Armenia,
2000–2003), depois vieram os filmes Bella (2003), T'amo
e t'amerò (2004), Il caso di Amati Malik (2008), Miradas
(2013) e Coupe Fatale (2013), bem como no teatro: Uma casa de bonecas
(2006), Mateo Falcone (2006), Antigone (2007), Il
rischio (2009), Tio Vania (2010) A gaivota (2011) e La strana
notte di Vico Renica d'Igiaba Scego (2011).
ALGUÉM FALOU: No amor existem duas coisas – corpos e
palavras... Pensamento da escritora estadunidense Joyce Carol
Oates (também conhecida por "JCO"), que no livro Faithless:
Tales of Transgression (Ecco, 2002) diz que: [...] A solidão é como a
fome: você não percebe o quanto está com fome até começar a comer...[...]. Veja mais
aqui e aqui.
A ELEGÂNCIA DO OURIÇO - [...] Quando o chá se torna um ritual, ele ocupa
o seu lugar no centro da nossa capacidade de ver a grandeza nas pequenas
coisas. Onde a beleza pode ser encontrada? Nas grandes coisas que, como tudo o mais,
estão fadadas à morte, ou nas pequenas coisas que não aspiram a nada, mas sabem
engastar uma joia do infinito num só momento? [...] As pessoas
miram nas estrelas e acabam como peixinhos dourados em um aquário. Eu me pergunto se
não seria mais simples ensinar às crianças desde o início que a vida é absurda. [...] Finalmente
concluí, talvez seja disso que se trata a vida: há muito desespero, mas também
aquele momento ímpar de beleza, onde o tempo já não é o mesmo. É como se esses
acordes musicais criassem uma espécie de interlúdio no tempo, algo suspenso, um
outro lugar que chegou até nós, um sempre dentro do nunca. Sim, é isso, um
sempre dentro nunca [...] Pessoalmente penso que a gramática é uma
forma de alcançar a beleza [...] Se você tem apenas uma amiga, certifique-se
de escolhê-la bem. [...].
Trechos extraídos da obra The Elegance of the Hedgehog (Europa, 2008), da escritora e professora francesa Muriel
Barbery, que no seu livro Gourmet Rhapsody (Europa, 2000) expressa
que: […] A
verdadeira provação não é deixar quem você ama, mas aprender a viver sem quem
não te ama. [...] As pessoas pensam que as crianças não sabem de nada. É o suficiente para
fazer você se perguntar se os adultos já foram crianças. [...] Eu sei que
eles estão todos infelizes porque ninguém ama a pessoa certa como deveriam e
porque eles não entendem que é realmente com eles mesmos que estão bravos. [...].
DOIS POEMAS
- ANÁLISE DA SOMBRA - Analisa-se da
sombra \ seu caráter permanente: \ pela manhã retraindo \ a imagem, à tarde
crescente. \ E aquele instante em que a sombra \ adelgaça o corpo fino \ como
se no chão entrasse \ quando o sol se encontra a pino. \ Quem a esse instante
mira \ em oposição ao lado \ onde o sol era luz antes \ logo vê o passo vago \ da
sombra que agora cresce \ o corpo de onde se filtra \ até fundir-se no limbo \ que
em torno dela gravita. \ Forma esse limbo a coroa \ que as sombras traz
federadas: \ soma de todas as sombras \ num só nó à noite atadas. CARTA
AOS RINOCERONTES - Não sei se estou mais presente na Terra \ do que estariam
uma rosa e uma dália.\ Nem um milésimo das coisas que vejo diariamente\ está
contido em meus poemas...\ Sei que o leitor poderá dizer isso agora: \ "—
Você não é um bom poeta! Castro Alves \ é mais participante, mais exato, \ transporta
o mundo — ou pelo menos sua metade \ no Navio Negreiro.\ Mas você — que leio
agora —\ não me acende nenhuma luz,\ agarra-se demasiadamente aos anjos,\ a uma
forma estéril\ que não fala ao tempo,\ aos pássaros,\ e menos ainda ao meu
coração".\ Ouço-te e repito\ que sou apenas pequena parte das coisas\ que
estão no mundo\ com certeza não sou a menor parte\ e, por isso, tens que me
aceitar\ se és um leitor e não apenas um crítico.\ Se minha poesia te cansa, \ peço-te:
come as saladas de Souzândrade; bebe\ lentamente as gotas de orvalho que fluem
dos Caligramas\ de Apollinaire...\ Elas satisfarão tua fome e tua sede,\ ou
terás uma sede e uma fome tão estranhas\ que suportarias ainda Maiakovski,\ Evtuchenko,
Voznessenki, Pound\ e toda a galeria dos participantes\ que ficam à tua direita
e à tua esquerda?\ Quanto a mim, pouco te posso oferecer:\ não escrevo para los
muchos \ arranco de mi corazón el capitán del inferno,\ establezco cláusulas
indefinidamente tristes\ Esgotados os estábulos aonde os teus donos\ guardaram
para ti alimentos tão nobres,\ ainda restariam os membros do Clube dos
Ultraistas,\ Tzara e todos os que, à semelhança dos empregados domésticos\ sopram
trombetas das 6 às 6,\ repetindo eternamente a contínua canção:\ "somos os
que andam na vanguarda do Tempo".\ Quanto a mim continuarei sozinho,\ solitário
como um estranho rio\ de um território ainda não visitado pelos geógrafos,\ abrindo
sem descanso a minha estrada\ certo de que alguém um dia\ — anjo ou demônio —\ caminhará
por ela até a porta do meu nome. Poemas do jornalista, poeta e crítico literário
César Leal (1924-2013). Veja mais aqui e aqui.
HUMOROUTROS & DICAS MAIS
ESTUPIDOLOGIA –
Einstein costumava afirmar que para ele apenas duas coisas eram infinitas: o
universo e a estupidez humana. Isso levou Manfred Max-Neef, premio Nobel, a
desenvolver o estudo da estupidologia, ciência que considera que a estupidez
humana é o fator básico determinante da megracrise em que vivemos. Tal
estupidez caracteriza-se pela racionalidade lógica, exercida principalmente
através da linguagem – o que a distingue da idiotice. Para o psicólogo e
antropólogo Roberto Crema, a devastação suicida do ecossistema planetário, por
exemplo, pode ser justificada ou racionalizada estupidamente através de uma
lógica desenvolvimentista. Eis a desveladora imagem correspondente a esta
atitude: um homem serrando um galho da
árvore, exatamente onde se encontra sentado (Roberto Crema, Novos desafios, nova liderança: o
facilitador holocentrado). Veja mais aqui e aqui.
AS FEZES
DA CABRITA – O PhD em Psicologia Transpessoal, doutor em Teologia e
professor de Filosofia, Jean-Yves Leloup: “[...] O Ser fala a cada um a linguagem que ele compreende. Às pessoas
bizarras, ele às vezes fala bizarramente. Eu sempre me lembrarei de Filomena, a
cabrita que gostava de subir na minha mesa e que, um dia, recitou no meu prato
o rosário de seus excrementos impecáveis. Foi para mim, realmente, uma
experiência do “numinoso”. Eu não acreditava em Deus, nem no Diabo, mas a
consideração atenta desses excrementos despertou em mim um espanto – não ouso
dizer êxtase – que hoje me leva não só a sorrir mas também a pensar. Um excremento de cabra é “quase
perfeito”. A perfeição em um excremento. Se nos detivemos a contemplar isto,
não estamos longe do “nirvana no Samsara” de que falam os budas: o infinito no
finito, o sem-forma na forma. Foi-me preciso esperar por muito tempo a leitura
de Mestre Eckhart e de certos sábios do Mahayana, para re-entender – em uma
linguagem sem dúvida mais adequada – a lição de Filomena... o olhar da criança
ou do recém-nascido é também uma experiência possível do numinoso. Os olhos das
crianças são grandes catedrais, “as antecâmaras do mistério”, a diferença entre
Deus e a natureza não é a diferença entre o azul do céu e o azul de um olhar?
Há também a beleza pungente de uma criança que dorme... “Só os santos sabem
orar como as crianças sabem dormir...” O numinoso aparece naquela qualidade de
abandono e de entrega que frequentemente só encontramos no rosto dos mortos,
naquele famoso rosto que precede o nascimento, do qual falam os mestres zen –
nosso rosto de eternidade”. (Jean-Yves Leloup, Três orientações maiores de uma psicoterapia iniciática). Veja mais aqui.
HUMOR: “A seriedade
é uma séria patologia. Levar-se muito a sério pode ser grave sintoma neurótico;
levar o mundo demasiado a sério pode ser enlouquecedor. Pouco riso, muito siso,
além de ser um provérbio invertido, é uma triste situação. Rir é um santo
remédio. Uma boa gargalhada desfaz muitos nós, revitaliza e oxigena o organismo
inteiro. É estético, rejuvenesce e sempre é um presente que é dado a si e aos
vizinhos; é anuncio de celebração, é a música da alegria. Leela é um bonito
conceito do hinduísmo que significa brincadeira de Deus. O mundo é leela, é um
divertimento da Totalidade; é mais parecido com uma dança do que com um
quebra-cabeça. Brincar de nascer, de viver, de morrer, é pura arte das crianças
e dos iluminados. Conta-se que, numa ocasião em que Sidarta, o Buda, deveria
fazer um discurso, ele apenas olhou pra um flor, em silêncio. E, no meio da multidão
confusa e inquieta, um discípulo sorriu. Este foi o mais belo discurso de Buda
e apenas Mahakasyapa, o discípulo que sorriu, pôde compreendê-lo e levar
adianta a mensagem indizível. Buda olha para a flor, o discípulo sorri e o
mundo se ilumina. O facilitador holocentrado é, definitivamente, bem-humorado.
Bom humor é a arte de sorrir de tudo e, pricipalmente de si próprio. Não é
preciso ter motivos para sorrir. O sorriso deveria ser gratuido, uma forma
natural de reverenciar a vida e um convite para que o outro também sorria,
assim, inventando, do nada, a sua felicidade” (Roberto
Crema, Novos desafios, nova liderança: o facilitador holocentrado). Veja mais aqui e aqui.











