sexta-feira, julho 12, 2013

DOROTHY SAYERS, BESSIE PARKES, JOYCE OATES, BRIAN JACQUES, HARRIET STOWE, CASTRO ALVES & JOHN MILTON

 

A SOLIDÃO DE MILTON – A EPOPEIA DE JOHN MILTON (1608-1674) – Ato 1 – Nascido num lar de sofisticados leitores, ali estava a ponte esplêndida entre o velho e o novo mundo. Dese cedo com a vista fraca e as dores de cabeça, emergia um radical de ideias ousadas. Sua insubordinação levou-o a ser expulso do colégio. Lá se foi de Cambridge, seguiu para Horton, a aldeia dos rouxinois no regato: pensava na solidão dos bosques. Enfrentou a tirânia e inquisidora estupidez dos opressores da humanidade: Estou deixando crescer minhas asas e preparando-me para voar, mas meu Pégaso não possui ainda penas suficientes para ascender aos ares. Foi para Itália para que sua poesia se elevasse ao Sol. Mas veio a guerra da pátria. Ato 2 – Ao retornar enfrentou a todos tornando a sua vida em um poema épico. E não hesitou quando o parlamento aprovou uma lei contra a liberdade da palavra. Para tanto compôs sua Areopagítica desafiando censores e mais se opôs ao rei. Neste meio termo nasce o redemoinho doméstico: a infelicidade com Mary Powell, foi abandonado por ela. O motivo da separação é desconhecido, embora talvez ela tenha aderido às inclinações monarquistas de sua família, enquanto seu marido foi progressivamente rebelde. Não demorou muito e de joelhos suplicou que a perdossa. Era o cúmulo da discórdia, pois o poeta proeminente tornou-se um panfletário desprezado por conta da Doutrina e Disciplina do Divórcio, O Julgamento de Martin Bucer Relativo ao Divórcio, o Tetrachordon e. posteriormente, o Colasterion. Da Educação: para cumprir “todos os ofícios, privados e públicos, de paz e guerra”. Vieram os tratados antimonárquicos: exorta a abolição da realeza tirânica e execução de tiranos. O escárnio pelas ideias revolucionárias, a cegueira por Cromwell: um velho desiludido para prisão: Se o meu mal é incurável, eu me preparei para suportá-lo. O dia transformou-se em noite. Os livros queimados, a propriedade confiscada e, no cárcere, pode entoar: Minha ambição é viver e morrer como homem honesto. Ato 3 – Posto em liberdade, a vida manteve-se cheia de tristeza. A esposa falece no parto e casa-se com com Katherine Woodcock e logo enviuvara. Foi a vez então de Elizabeth Minshull, que, junto com as filhas de seu primeiro casamento, o ajudou em suas necessidades pessoais, leu livros a seu pedido e serviu como amanuense para registrar os seus versos. Era, enfim, um sujeito feito para solidão. Com o tempo as filhas o achavam insuportavel, manteve sua inquebrantável determinação: o semideus ferido perdera de vez o paraíso. A estupidez humana o repugnava. Refugiou-se na poesia: paraíso perdido. Foram as pedras da perseguição: a vida escura em meio à luz, exposta à fraude, ao desprezo, ao abuso e ao mal. Velho, enfermo e desanimado, o nome como motivo de escárnio e completamente abandonado: a tragédia de Sansão. E assim desfalecera. Veja mais aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Quando você entra em uma situação tensa, e tudo vem contra você parece até que você não conseguiria aguentar nem mais um minuto sequer, não desista, pois esta é justamente a situação e momento em que a maré irá virar. Ser realmente grande nas pequenas coisas, ser verdadeiramente nobre e heróico nos detalhes insípidos da vida cotidiana, é uma virtude tão rara que merece ser canonizada. Mães são filósofos instintivos... Pensamento da novelista e abolicionista estadunidense Harriet Beecher Stowe (1811-1896). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU - A leitura é o único meio pelo qual deslizamos, involuntariamente, muitas vezes impotentes, para a pele do outro, a voz do outro, a alma do outro. Minha teoria é que a literatura é essencial para a sociedade da mesma forma que os sonhos são essenciais para nossas vidas. Pensamento da escritora estadunidense Joyce Carol Oates (também conhecida por "JCO").

 

O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE - [...] Em reação ao velho slogan “a mulher é o vaso mais fraco” ou ao ainda mais ofensivo “a mulher é uma criatura divina”, nós nos permitimos, penso eu, divagar ao afirmar que “uma mulher é tão boa como homem", sem sempre parar para pensar o que exatamente queremos dizer com isso. O que, eu sinto, devemos dizer é algo tão óbvio que é capaz de escapar completamente da atenção [...] que uma mulher é tanto um ser humano comum quanto um homem, com as mesmas preferências individuais, e com o mesmo direito aos gostos e preferências de um indivíduo. O que repugna a todo ser humano é ser considerado sempre como membro de uma classe e não como pessoa individual. [...] Um homem uma vez me perguntou... como eu conseguia em meus livros escrever uma conversa tão natural entre homens quando eles estavam sozinhos. Eu era, por acaso, membro de uma família grande e mista com muitos amigos homens? Respondi que, ao contrário, eu era filha única e praticamente nunca tinha visto ou falado com nenhum homem da minha idade até os vinte e cinco anos. "Bem", disse o homem, "eu não deveria ter esperado que uma mulher (ou seja, eu) fosse capaz de torná-lo tão convincente." Respondi que tinha lidado com esse difícil problema fazendo meus homens falarem, tanto quanto possível, como seres humanos comuns. Este aspecto da questão pareceu surpreender o outro orador; ele não disse mais nada, mas o pegou para mastigar. Um dia desses pode muito bem ocorrer a ele que as mulheres, assim como os homens, quando deixados a si mesmos, falam muito como seres humanos também. [...] Talvez não seja de admirar que as mulheres estivessem primeiro no berço e por último na cruz. Eles nunca conheceram um homem como este Homem - nunca houve outro. Um profeta e professor que nunca os importunou, nunca os lisonjeou, persuadiu ou patrocinou; que nunca fez piadas sobre eles, nunca os tratou como "As mulheres, Deus nos ajude!" ou "As senhoras, Deus as abençoe!"; que repreendeu sem queixa e elogiou sem condescendência; que levavam a sério suas perguntas e argumentos; que nunca mapeou sua esfera para eles, nunca os incentivou a serem femininos ou zombou deles por serem mulheres; que não tinha machado para moer e nenhuma dignidade masculina incômoda para defender; que os pegou como os encontrou e estava completamente inconsciente. Não há nenhum ato, nenhum sermão, nenhuma parábola em todo o Evangelho que empreste sua pungência da perversidade feminina; ninguém poderia adivinhar pelas palavras e ações de Jesus que havia algo "estranho" na natureza da mulher. [...] É extraordinariamente divertido observar os historiadores do passado... se envolvendo no que eles chamavam de "problema" da rainha Elizabeth. Eles inventaram as razões mais complicadas e surpreendentes tanto para seu sucesso como soberana quanto para sua tortuosa política matrimonial. Ela era a ferramenta de Burleigh, ela era a ferramenta de Leicester, ela era a tola de Essex; ela estava doente, ela era deformada, ela era um homem disfarçado. Ela era um mistério e devia ter alguma solução extraordinária. Apenas recentemente ocorreu a algumas pessoas iluminadas que a solução pode ser bastante simples, afinal. Ela pode ser uma das raras pessoas que nasceu no emprego certo e colocou esse trabalho em primeiro lugar [...]. Trechos extraídos da obra Are Women Human? Astute and Witty Essays on the Role of Women in Society (Eerdmans, 2005), da escritora britânica Dorothy Leigh Sayers (1893-1957).

 

UM CONTO DE REDWALLS – [...] Mesmo os mais fortes e corajosos às vezes devem chorar. Isso mostra que eles têm um grande coração, que pode sentir compaixão pelos outros. [...]. Trecho extraído da obra Redwalls (Penguin Putnam, 2002), do escritor britânico Brian Jacques (1939-2011), autor da célebre frase: Você encontrará alegria, frustração e sofrimento durante a sua busca. Nunca se esqueça que a amizade e a lealdade são mais preciosas do que qualquer riqueza. A felicidade pode ser breve, mas não existe tempo na terra dos sonhos.

 

SÍMBOLOS - Não é a rosa, embora a rosa seja vermelha, \ E tão cheia de amor quanto uma flor pode ser, \ E o lírio ela inclina sua cabeça majestosa \ Com certa graça, mas não é como você! \ E o amor-perfeito púrpura escancara \ Seus olhos claros e brilhantes para quem quer que veja, \ Então sua flor aveludada e seu orgulho de joias, \ Eles não têm a aparência que me é cara! \ A jasmim, ela é muito pálida e muito esguia, \ A violeta querida é muito tímida; \ A ervilha-de-cheiro nascida no verão, embora grudenta e tenra, \ Não é mais semelhante a ti do que a terra a uma estrela \ De quem os poetas afirmam que a distância lhe emprestaria \ Aquele belo esplendor que adoramos ao longe; \ Mas eu procuro uma flor cujo esplendor imaculado \ É imutavelmente verdadeiro como os espíritos das chamas são. \ A pequena flor azul que os verdadeiros amantes adoram, \ Que desabrocha nas margens do riacho murmurante, \ Poderia pavimentar delicadamente teu luxuoso chão, \ Mas não é a flor que vi em meu sonho. \ Cada profundidade da floresta selvagem está florescendo \ Com riquezas delicadas, mas sempre parecem \ Muito razoavelmente vagabundo na criação, quanto mais \ procuro um repouso cortês em meu tema. \ Esta é a época em que o ano está no auge, \ E a rica madressilva se mistura com o trevo, \ Quando a Natureza anseia pela rima do poeta, \ E o sweetbrier se espalha em beijos; \ Quando os jovens filhotes saltam ao suave carrilhão \ Dos sinos de suas mães, e olhos rápidos descobrem \ Como os coelhos correm e os esquilos sobem, \ E nós olhamos para a terra com um sorriso de amante. \ Mas espere um pouco até que o verão passe, \ E os bosques têm um rumor que profetiza a morte – \ Um presságio sombrio trazido pela explosão, \ Que vem em um momento e morre em um sopro; – \ Um algo, um nada, que toca as folhas, \ E assombra os prados quentes ao meio-dia como um espectro, \ E quebra os amplos milharais apenas nus de seus feixes-- \ E eu mostrarei a você minha flor e direi o que ela diz. \ A flor que amo é ao mesmo tempo solene e rara, \ A púrpura profunda que usa com desdém; \ Quando outras flores alegres são ostentadas e belas, \ Ela espalha suas pétalas como uma dor triunfante. \ Seu branco é para pureza, seu verde é para esperança, \ Todo dourado seu fruto no ar suave e frio;-- \ O sonho que ele sugere é de alcance infinito, \ Pois a Cruz e a Paixão são simbolizadas lá! Poema da escritora e ativista feminista inglesa Bessie Rayner Parkes (1829-1925). Veja mais aqui.

 


O NAVIO NEGREIRO
(Tragédia no mar)

VI

Existe um povo que a bandeira empresta 
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa 
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!...
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo 
O trilho que Colombo abriu na vaga,
Como um íris no pélago profundo!...
...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga 
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...
Andrada! arranca este pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta de teus mares!


CASTRO ALVES - Antônio Frederico de Castro Alves nasceu em Muritiba (BA), no dia 14 de março de 1847 e faleceu no dia 06 de julho de 1871, em Salvador (BA). É o patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras. É considerado o maior romântico brasileiro e, com Tobias Barreto, um dos fundadores da escola condoreira, inspirada em Vítor Hugo. Nativista, revelador da paisagem brasileira, republicano e abolicionista — o cantor do Navio negreiro é o nosso grande poeta social e nacional. Obras: Espumas flutuantes (1870), Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875), A cachoeira de Paulo Afonso (1876), Vozes d`África. Navio Negreiro (1880),  Os escravos, obra dividida em duas partes: 1. A cachoeira de Paulo Afonso; 2. Manuscritos de Stênio (1883).

BIBLIOGRAFIA:
ALVES, Castro. Poesias completas. Rio de Janeiro: Spiker, s/d.


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