DITOS & DESDITOS - As favelas fazem parte do tecido urbano
principalmente nas áreas mais pobres da cidade. Com as intervenções realizadas
na favela-bairro não há mais diferenças entre o asfalto e a favela. Em alguns
subúrbios, as favelas são até melhores que o asfalto, porque o subúrbio está
muito deteriorado. A favela continua sendo o espaço onde as pessoas não são
proprietárias. Portanto, ali podem ser expulsas e perder os imóveis onde moram.
São lugares onde não houve ainda efetivação do título de propriedade. É um
processo extremamente lento, com muitas complicações legais. Da última vez que
tomei conhecimento eram 5% de habitações legalizadas. Por isso a milícia e o
tráfico podem participar dos negócios imobiliários. Certas associações de
moradores levam uma parte de todos os negócios imobiliários. Há também
loteamentos, em geral irregulares, mas que não são considerados favelas pelo
IBGE. Mas, esta ausência de infra-estrutura urbana não é o maior problema da
favela. O problema é a falta de título, que fragiliza o poder do morador sobre
sua habitação, podendo ser muito facilmente expulso. Então, só se consegue
entrar pela rede de poder que se estabeleceu. Temos que parar de falar que
favela é solução. A favela só está aumentando os problemas dos pobres na
cidade. O favelado é muito prejudicado por estas estruturas de poder. Está
pagando cada vez mais caro pela moradia, tendo que se submeter a estes poderes. Pensamento da antropóloga Alba
Zaluar (1942-2019). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU - Amigo, o mundo inteiro está cheio de problemas: a terra é fácil de
mudar, mas não ventura... Aquele que não atende aos seus, convida outros esperando por você, e muitas
vezes sofre o que ele quer fazer, e mau nasce mau. Pensamento do escritor e dramaturgo italiano Scipione Maffei (1675-1755).
ANDAR DO BÊBADO - [...] Também usamos nossa imaginação e pegamos atalhos para preencher lacunas em
padrões de dados não visuais. Tal como acontece com a
entrada visual, tiramos conclusões e fazemos julgamentos com base em
informações incertas e incompletas e concluímos, quando terminamos de analisar
os padrões, que nossa “imagem” é clara e precisa. Mas é?
[...] A corda que liga a habilidade ao sucesso é frouxa e elástica. É fácil ver boas
qualidades em livros de sucesso ou ver manuscritos inéditos, vodcas baratas ou
pessoas que lutam em qualquer campo como de alguma forma deficientes. É fácil acreditar que
ideias que funcionaram foram boas ideias, que planos bem-sucedidos foram bem
elaborados e que ideias e planos que não deram certo foram mal concebidos. E é fácil transformar os
mais bem-sucedidos em heróis e, no mínimo, olhar com desdém. Mas a habilidade não
garante a realização, nem a realização é proporcional à habilidade. Portanto, é importante
ter sempre em mente o outro termo da equação - o papel do acaso... O que
aprendi, acima de tudo, é seguir em frente porque a melhor notícia é que, como
o acaso desempenha um papel, um fator importante para o
sucesso está sob nosso controle: o número de rebatidas, o número de chances
aproveitadas, o número de oportunidades aproveitadas [...] Outra noção
equivocada ligada à lei dos grandes números é a ideia de que um evento é mais
ou menos provável de ocorrer porque aconteceu ou não recentemente. A ideia de que as
probabilidades de um evento com uma probabilidade fixa aumentam ou diminuem
dependendo das ocorrências recentes do evento é chamada de falácia do apostador. Por exemplo, se Kerrich
acertou, digamos, 44 caras nas primeiras 100 jogadas, a moeda não desenvolveria
um viés em direção às coroas para alcançá-la! É isso que está na raiz
de ideias como "a sorte dela acabou" e "Ele está para
nascer". Isso não acontece. Por que vale a pena, uma
boa seqüência não azara você, e uma má, infelizmente, não significa que a sorte
está reservada. [...] O primeiro passo
para lutar contra a ilusão de controle é estar ciente de si. Mas mesmo assim é
difícil, uma vez que pensamos que vemos um padrão, não abandonamos facilmente
nossa percepção. [...] Todos nós entendemos que a genialidade não garante o sucesso, mas é sedutor
supor que o sucesso deve vir da genialidade. [...]
A pesquisa sugere que, quando se trata de entender nossos sentimentos, nós,
humanos, temos uma estranha mistura de baixa habilidade e alta confiança. [...]
A ciência revelou um universo vasto, antigo, violento, estranho e belo, um
universo de variedade e possibilidades quase infinitas, no qual o tempo pode
terminar em um buraco negro e os seres conscientes podem evoluir de uma sopa de
minerais. [...]. Trechos extraídos da obra The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives (Vintage, 2009), do físico e matemático
estadunidense Leonard Mlodinow.
O REFLEXO DO ESCURO - [...] Você sabe no que eu acredito? Que a vida é uma moeda
no ar. As vezes você ganha, as
vezes você perde. É tudo. Aguardo a oportunidade
de relançá-lo. [...]. Trecho extraído da
obra El reflejo de lo oscuro (Fondo de Cultura Económica, 2006), do escritor e jornalista mexicano Javier Sicilia Zardain, que com seu
ativismo expressa: Comprar
água é pecado. Estamos fartos porque só lhes interessa, além de um poder
impotente que só serve para gerir a desgraça, é o dinheiro, a promoção da
concorrência, a porra da sua “competitividade” e o consumo excessivo, que são
outros nomes da violência... Vocês, “senhores” políticos, e vocês, “senhores”
criminosos –coloco entre aspas porque esse epíteto é dado apenas a pessoas
honradas–, vocês estão com suas omissões, seus processos e seus atos aviltando
a nação. No entanto, não temos escolha; nenhuma outra opção. Se não tivermos
policiais, juízes, advogados, promotores honestos, corajosos e eficientes; se
cedem ao crime e à corrupção, estão condenando o país à mais desesperada e
atroz ignomínia. Estamos aqui para nos dizer e vocês nos dizem que
esta dor da alma em nossos corpos não vai transformar o ódio em mais violência,
mas sim uma ajuda que nos ajude a restaurar o amor, a paz, a justiça, a
dignidade e a grande democracia que estamos perdendo... Estamos, pois, numa encruzilhada sem
saída fácil, porque se desfaz o solo em que floresce uma nação e o tecido em
que se expressa a sua alma...
DOIS POEMAS - OS SEIOS -
São duas plácidas colinas \ que apenas \ são
dois frutos delicados\ de pálidas enervações\ foram duas taças cheias\ providentes
e nutritivas\ em plena estação\ e seguem alimentando\ duas flores em botão. O SEXO - Oculta rosa palpitante\ no sulco escuro,\ poço de estremecida alegria\ que
incendeia em um instante\ o turvo curso de minha vida,\ secreto, sempre
inviolado,\ ferida fecunda. Poemas da professora, poeta
e tradutora espanhola Alaíde Foppa (1914-1980), ativista feminista que
desapareceu por problemas políticos, depois de um sequestro quando se
encontrava radicada na Guatemala.