Não vi, não
testemunhei. Só que dizem por força dos boatos que o Papa Francisco veio
visitar o Padre Bidião. Um alvoroço. Cá comigo, será que procede? Sei não. Pra tirar
as dúvidas, eis que ontem o Padre Bidião invadiu meu escritório pedindo para
que eu não permitir a entrada da imprensa. Avexado, foi logo se escondendo no
banheiro. É que ele estava sendo caçado pelos jornalistas para dar seu parecer
a respeito do toque de arrodeio que o Papa Francisco deu em todos para,
furtivamente, visitar o clérigo de nossa convivência. Atendi seu pedido e tranquei
bem a porta para aproveitar o ensejo e indagar a respeito desse acontecido.
- A que devo a
honra da visita do padre?
Ele estava
diferente sem a calmaria e sobriedade que lhe são peculiares. Senti-lo afobado,
impando e acossado, procurou se aboletar na poltrona sem me responder nadinha.
- Como foi a
visita do Papa Francisco, padre?
- Borgoglio? -,
indagou-me, enquanto reproduzia o vício feio do próprio pai: amolegando a peia
e coçando o saco insistentemente.
- Quem?
Foi aí que ele
desatou num blablablá infindo. Liguei o desconfiômetro e dediquei-lhe toda
minha atenção.
Tudo começou com
sua mãe marcando presença na missa dominical. Agarrado ao cós da saia dela, ele
acompanhava tudo do ritual, dizendo para si: - Quando eu crescer, eu vou ser
padre. E foi. Não fosse alguns desafetos atrapalhando sua vida, ele bem que
poderia ser hoje o papa, segundo seu próprio parecer.
O primeiro dos
chatos da sua vida foi o padre Quiba que, ao substituir o venerando e
indefectível padre Abílio, manifestou-lhe antipatia ao apelidá-lo de marido das
pinguins. Atribui-se a inimizade porque Bidião flagrou o padre louvando, lambendo
e acarinhando as partes pudendas de Jesus na cruz. O menino contou pra madre
superiora que logo foi ter com o vigário que passou a odiá-lo pela
inconfidência. O pior foi quando passando da última infância para a
adolescência, o sacerdote vingou-se negando a primeira comunhão pela razão de
seus pais não serem casados. Ele então fugiu dali todo paramentado a recorrer
do pai, quando ao se aproximar da porta, ouvia um papo dele com o casal de filhos
mais velho.
- Pai, por que eu
e ela somos morenos e o Bidião e os demais são brancos?
- Filhos, a
morenice de vocês é de valia, a brancura deles é nojenta e bastarda, são filhos
da babá.
Quando ouviu
isso, disse para si: - Sou filho da puta! Tudo porque o seu pai Beliar era
casado com uma granfina de nariz empinado que se cansou dele, zarpou pra Europa
e deixou-lhe com um par de filhos na bagagem esquecida. A mãe de Bidião era a
babá desses meninos e o Beliar aproveitou-se e crau na empregada. Sua revolta
só aumentou a ponto dele juntar os mijados e todos os cacarecos, pé na bunda
pro Vaticano. Chegando lá, foi barrado. Entretanto, surge um simpático, amável
e sorridente senhor que ao perceber a desfaçatez, ameniza: - Uma criança não
pode ser privada de ver o Santo Padre. E o levou até o Papa João XXIII, que na
ocasião lhe revelou:
- Você é um
menino-deus. Pra você, eu sou Angelo Roncali.
Ele exultou de
alegria, abraçou o papa e ficou aos cuidados do seu padrinho, Albino Luciani,
que ele não soube dizer se era bispo ou cardeal. A amizade cresceu e quando
Bidião voltou para sua terra, falava freneticamente sobre a sua adoção ao
Ecumenismo, alardeando o aggiornamento
que serviu para o rompimento das tendências e políticas eclesiásticas da
Igreja, só para matar o padre Quiba de raiva. Vivia recitando de cor as
encíclicas Mater et magistra e a Pacem in terris, chamando a atenção para
o concílio ecumênico Vaticano II, só para ingresiar com o da batina. Tudo isso
desceu por água abaixo quando o Papa João XXIII faleceu e ele teve de botar o
rabinho entre as pernas. Com a consagração de Gionanni Battista Montini ao
papado, como Papa Paulo VI, o padre Quiba viu-se fortalecido pela forma como o
Sumo Pontífice passou a adotar sem catingar, nem cheirar: ora progressista, ora
conservador. Contudo, Bidião não se rendeu e combateu a encíclica Humane vitae e danou-se a fazer apologia
ao concubinato e à pílula anticoncepcional. A briga estava comprada. Pra sua
felicidade, anos mais tarde, Albino Luciani assume o Vaticano e manda um
convite nominal e especial pra ele comparecer à posse. Arrumou as tranqueiras,
vestiu-se da domingueira e lá estava ele testemunhando tudo: a recusa da
coroação formal e de ser carregado numa liteira. O Papa João Paulo I foi até a
sacada íntimo e abraçado com Padre Bidião, ocasião em que teve a oportunidade
de conhecer e conviver com Jorge Mario Borgoglio.
Pouco mais de um
mês depois, voltou pra estaca zero. Seu amigo faleceu e uma penca de rumores
dava conta de uma conspiração, ao que ele fez coro ao David Yallop. Pra seu
desprazer, Karol Jozef Wojtyla, o poeta, fabricante de santo e cardeal polonês
assumia a chefia católica no Vaticano. Foram longos anos amargando a
discriminação, mesmo com a menção pública do Papa João Paulo II em seu favor.
Para ele, a Igreja não era a mesma. E piorou mais quando Joseph Ratzinger
assumiu o governo da Barca de Pedro. Aí o padre Bidião engrossou o caldo da
campanha Papa Papa Papa do Papa Berto I da ICAS, armou suas baterias para
protestar contra as maracutaias da Crimen
sollicitationis acobertando a pedofilia dos padres – um tiro certeiro no
que ele chama de viadagem do padre Quiba com os garotos. Não satisfeito, foi a
público manifestar seu irrestrito apoio aos homossexuais, às mulheres, às
pesquisas com células estaminais embrionárias, ao aborto e ao uso de
preservativos, aos gritos de: - Abaixo o panzerkardinal! Foi aí que ele me
contou que uma sua ex-namorada, a Suzana Maiolo, se propôs a vingá-lo com papa
Bento XVI. E foi. Maior corre-corre. Felizmente, disse-me ele, o cabra de peia
repetiu o gesto de Ponciano em 235, do Celestino V em 1294 e do Gregório XII em
1415, abdicando e se escafedendo enclausurado num mosteiro dentro dos muros do
Vaticano. – Já foi tarde! -, desabafou com ar de vitória.
- Agora é o Papa
Chico! -, disse-me não muito satisfeito. Falava agitado enquanto a sua perereca
se precipitava na minha direção. Aí, me livrei da assassina que foi se infincar
destruindo um livro na estante. Eita!
- E aí?
- Apenas
disse-lhe, por ser o meu amigo Borgoglio, não por ser papa que pra mim não é
nada, asseverei mesmo assim: Papa Chico, meu fio, vamos aprumar a conversa: você
é o maior marketeiro de todos. Mas olhe bem, faça o certo!
E mais disse que
ele deveria não ser o conservador que foi como no bispado da sua terra, que não
fosse contrário ao aborto, nem à eutanásia nem ao casamento gay; que deixasse
clara a acusação do Horacio Verbtisky de uma vez por todas, esclarecendo seu
envolvimento com a ditadura argentina e com o sumiço dos padres jesuítas
Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics; e que, enfim, fosse simpático à
evolução do planeta e do ser humano, afora uns pequeninos conselhos para
conduzir o pontificado e tataritaritatá.
É mole? Ou quer
mais? Nada mais disse nem lhe foi perguntado, escafedeu-se do mesmo jeito que
chegou: sem dizer nadica de nada. Esse o padre Bidião.
Veja mais Padre Bidião.
Veja
mais sobre:
Cikó Macedo & Santa Folia, James
Joyce, Marilena Chauí, Charles Darwin,
Auguste Rodin, Henri Matisse, Arto
Lindsay, Frank Capra, Mademoiselle George, Donna Reed, Revista Acervum, Graça Graúna
& Irina Costa aqui.
E mais:
James
Joyce, Ayn Rand, Enrique Simonet, Lenine, Alina Zenon, Elisa Lucinda, Paula
Burlamaqui & O sonho de Orungan aqui.
Platão,
Literatura Pernambucana, As várias vidas da alma, Padre Bidião & Oração do
Justo Juiz, Serpente de Asas, Educação, Psicologia & Sociologia,
Responsabilidade Civil & Crimes Ambientais aqui.
As
mulheres soltam o verso: Joyce
Mansour, Elizabeth Barret Browning, Lya Luft, Laura Amélia Damous, Ana Terra,
Gerusa Leal, Rosa Pena, Lilian Maial, Clevane Pessoa, Branca Tirollo, Mariza
Lourenço, Xênia Antunes, Soninha Porto, Aíla Sampaio & muito mais aqui.
Psicologia
no Brasil, Armélia Sueli Santos, Carmen Queiroz, Bárbara Rodrix, Verônica
Ferriani, Paula Moreno & Liz Rosa aqui.
Mesmer
& o mesmerismo, Nara Salles, Mirianês Zabot, Elaine Gudes, Eleonora
Falcone, Juliana Farina & Dani Gurgel aqui.
Martin
Buber & Elisabeth Carvalho Nascimento, Celia Maria, Adryana BB, Ivete
Souza, Sandra Vianna & Elisete aqui.
Ayn Rand
& Teca Calazans, Danny Reis, Tatiana Rocha, Valéria Oliveira, Natalia Mallo
& Dani Lasalvia aqui.
István
Meszaros & Tetê Espíndola, Luciana Melo, Fhátima Santos, Thaís Fraga, Ana
Diniz & Patty Ascher aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA;
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.