BREVE HISTÓRIA DA ARTE EM PALMARES - Tudo
começa com o Club Litterario, em 1882, em conformidade com o narrado no livro Letrados
& Ufanos (Bagaço, 2011), escrito pelo poeta e historiador Vilmar Antônio Carvalho. Entre os nomes dessa legendária instituição surge o de Miguel Jasseli (1902 - 1964), personagem que emerge na
província e se torna responsável pelo desenvolvimento não só da atividade
teatral, como de toda a vida cultural palmares. É dele que surgem nomes do
teatro palmarense, como Hermilo Borba Filho, Lelé Corrêa (José de
Barros Corrêa) e Fenelon Barreto. Outra celebridade nacional na área é
também a do compositor,
radialista, humorista e ator Aguinaldo Batista (1930-1980), que atuou
com figuras como a do Chico Anísio e no cinema nacional. É no Club Litterario
que surgem as figuras de Ascenso Ferreira, com a sua poesia parnaso-simbolista e modernista, bem como a poesia de Jayme Griz que prossegue seus
passos. Outra figura de relevo na vida cultural local é a do poeta e
enciclopedista Artur Griz. Estes poetas e muitos outros do território palmarense foram descatados na publicação Poetas de Palmares (1972), organizada pelo poeta Juareiz Correya. Nas artes Visuais destacam-se nomes como o de
Murillo La Greca, Darel Valença Lins e Tunga (Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão). Na poesia popular o
destaque vai pro poeta Manoel
Bentevi (1911-1999), que
desmanchou o nordeste em poesia, a exemplo da premiada obra do escritor Luiz Berto, que entre outras obras e ações, também levou o grupo teatral
palmarense Terra, para encenação da sua peça Pei Bufe Etc & Tal. Na
música a tradição herdada pelo maestro José da Justa possibilitou eclosão de
nomes como o de Manoel Carvalho – Mancini, afora os nomes de
compositores como Ozi dos Palmares e Zé Ripe, bem como a
emergência do ilustre Santanna O Cantador. Nas últimas décadas
destacam-se o aparecimento do Instituto de Belas Artes Vale do Una, um
projeto do poeta e artista plástico Paulo Profeta e a poesia do poeta Picapau
(José Maria Sales). Veja mais aqui.
DITOS &
DESDITOS - Dois ou três milhões de anos atrás, a Terra era uma bola
de fogo, girando em torno de seu próprio eixo. Demorou milhões de anos para esfriar
sob o aguaceiro constante da chuva. O Processo foi lento, imperceptível,
mas a mudança gradual - a transição - aconteceu. O mesmo para geração após geração de
evolução na Terra. A natureza nunca pula. Ela trabalha de forma descontraída,
experimentando continuamente. A mesma transição natural pode ser
vista no homem. Essa mudança gradual, transição,
funciona em todos os lugares, construindo silenciosamente tempestades e
destruindo sistemas solores. Existe apenas um domínio em
que os personagens desafiam as leis naturais e permanecem os mesmos - o domínio
da escrita ruim. E é a natureza fixa dos personagens
que torna a escrita ruim. Pensamento do escritor e dramaturgo húngaro Lajos
Egri (1888-1967). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU - Há três categorias de homens: os que contam a
sua história; os que não a contam; e os que não a têm.
Pensamento do escritor espanhol Max Aub (1903-1972), que em Manuscrito cuervo: Historia de Jacobo (Cuadernos del Vigía, 2011), considera sobre o boato: [...]
O boato é o principal alimento dos homens. Aumenta com inaudita rapidez.
Basta uma frase, e pronto: corre, envolve, gira, domestica, cresce, baralha,
mistura notícias e configurações, procura apoios, dá explicações, resolve
qualquer contradição: é panaceia. São diversos os seus progenitores: velhos,
guardas, cartas, rádio, externos, viajantes, fugitivos, camponeses dos
arredores, vestíbulos, esperas, filas. Abala os mais cépticos, exalta os
abatidos, corre, voa e agita-se, desconhecido. De onde parte? Do ar e sempre
com um saborzinho de verdade escondida. Cada boato tem o seu pequeno grão
minúsculo, a questão é dar com ele, o sabor está na interpretação. Disseca-se e
desdobra-se como uma célula qualquer, mais parideiro do que uma coelha. Forma
grupos, desfaz reuniões, indo cada qual formar um novo centro, rede nervosa,
rapidez de luz, toque de imaginação, vanguarda de desejos, fruto natural do
sonho, pimenta da reclusão, erupção das noites, desgosto dos íntegros, calafrio
de tolos, sonho incarnado de fracos. Desvanece-se com outro, e de boato em
boato passa o tempo, boato de boatos. Faz-se noite, chega o sono e a morte:
outro boato. [...]
O NOME DO
VENTO - [...] Depois que descobri o que estava me
incomodando, a maior parte do meu mal-estar desapareceu. O medo costuma provir
da ignorância. Uma vez que eu soube qual era o problema, ele se tornou apenas
um problema, nada a temer. [...] Porque o orgulho é uma coisa estranha,
e porque a generosidade merece ser retribuída com generosidade. Mas foi
sobretudo por me parecer a coisa certa, e essa é uma razão suficiente. […].
A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar
com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e
cada um cruza de acordo com sua necessidade. Primeiro, existe a porta do sono.
O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele.
Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos
magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo
modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece.
É a maneira de a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta. Segundo,
existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para
cicatrizar, ou profundas de mais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas
lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O
provérbio 'O tempo cura todas as feridas' é falso. O tempo cura a maioria das
feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta. Terceiro, existe a porta
da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se
esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões
em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente
precisa deixá-la para trás. Por último, existe a porta da morte. O último
recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram. […].
Trechos extraídos da obra The Name of the Wind (DAW,
2008), do escritor estadunidense Patrick Rothfuss, autor de frases
célebres como: Eu sempre leio. Você sabe como os tubarões têm que
continuar nadando ou morrem? Eu sou assim. Se eu parar de ler, eu morro...
Também esta pérola: Amamos aquilo que amamos. A razão não entra nisso. Sob
muitos aspectos, o amor insensato é o mais verdadeiro. Qualquer um pode amar
uma coisa por causa de. É tão fácil quanto pôr um vintém no bolso. Mas amar
algo apesar de, conhecer suas falhas e amá-las também, isso é raro, puro e
perfeito.
SOU - Sou única no firmamento \ e
múltipla dentro do abismo. \ Do fundo rio me contempla\ a imagem refletida. \ Sou
a verdade no firmamento,\ sou o imaginário abismo.\ Do fundo do rio me
contempla\ a minha imagem, no seu enganoso destino.\ Lá no alto estou rodeada
de silêncio;\ no abismo sussurro e canto.\ No firmamento sou um deus,\ no rio
sou uma oração. Poema da escritora e tradutora israelense Lea
Goldberg (1911-1970). Veja mais aqui.